Lembranças de uma Saudade escrita por Bia Flor Escritora


Capítulo 2
Todo o Azul do Mar


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer às meninas que deixaram comentário, favoritaram e marcaram acompanhamento. Muito obrigada! A partir do próximo capítulo começaremos a ver como tudo começou.
Espero que gostem!
Capítulo inspirado na música Todo o Azul do Mar de 14 Bis



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Parada diante da janela do meu quarto - lugar que guarda tantas lembranças - mal me dou conta da chuva torrencial que cai pela cidade e de que eu não me encontro sozinha. Meu olhar vaga perdido por algum lugar à espera de alguém que eu sei no meu íntimo, embora tenha esperanças de que eu esteja enganada, que não retornará.

                — Você não pode ficar assim para sempre – minha amiga me alertou, envolvendo carinhosamente meus ombros com seus braços – Já faz dois anos! Você devia superar... Você é tão bonita! Bola para frente mulher!

Virei-me para a mulher de cabelo louro avermelhado liso, na altura dos ombros, dona de lindos olhos azuis cintilantes, de corpo esguio e bem vestida que se encontrava em meu quarto me fazendo companhia. Como ela era linda! Se ela quisesse poderia ter qualquer homem aos seus pés. E ela tinha razão. Eu precisava superar essa fase, essa maldita fase negra da minha vida. Eu poderia dizer que minha vida sempre foi uma coleção de fases negras. Continuei a olhar a bela mulher que estava ali comigo, lembrando-me com tristeza de que nem sempre as coisas haviam sido sempre assim entre a gente. Nem sempre fomos amigas. Também não posso dizer que antes éramos inimigas. Não é assim. Durante algum tempo fomos indiferentes uma a outra. Acho que de certa forma a culpa foi minha porque quando a conheci senti ciúmes e um pouco de inveja  - hoje eu consigo confessar isso - dela, e em razão disso acabei me fechando, não permitindo que ela se aproximasse de mim. Pelo contrário, tudo o que eu fiz foi fazer com que ela se afastasse. Como me arrependo! Se eu pudesse voltar no tempo, faria muitas coisas diferentes do que fiz. Mas não posso então paciência!

— Você está péssima – ela me disse sem pudor algum. Sem remorso. Apenas falou o que qualquer um poderia perceber.

Eu não precisava olhar-me no espelho para saber que minha aparência estava péssima. Certamente meus olhos estavam inchados e meu nariz vermelho como um pimentão devido ao choro - coisa que eu mais vinha fazendo nesses últimos vinte e quatro meses.

— Bom, se precisar de mim já sabe onde me encontrar. Preciso ir. Tenho uma filha que embora seja uma jovem universitária praticamente independente, veio visitar a mãe e cobra sua presença. E não é justo deixá-la sozinha depois de deslocar-se por tantos quilômetros. Cuide-se!

Vejo-a deixar meu quarto, não sem antes dar-me um beijo carinhoso no topo da cabeça com o qual me desejava boa sorte e juízo.

Sozinha em meu castelo de vidro deito-me na cama de casal que tantas vezes foi palco de um amor sem medida, flexiono minhas pernas e abraço meus joelhos, como se dessa forma eu pudesse sentir uma espécie abraço, como se dessa forma eu pudesse senti-lo me envolvendo em seu corpo de homem maduro. Meus amigos me disseram que não era bom que eu permanecesse na casa que dividi com meu ex-marido. Ex-marido! Ainda não me acostumei com essa palavra. Acho que nunca vou me acostumar. Não dei ouvidos. Esse lugar guarda tantas lembranças! Hoje desconfio que teria sido melhor ter arranjado outro lugar para ficar.

Estou destruída por dentro, devastada. Sinto que levarei séculos para me erguer novamente. É sempre assim: quando penso que tudo está bem, sempre acontece algo para acabar com minha alegria. Eu tinha um marido maravilhoso, um homem que todas as mulheres sonhavam ter. Eu era feliz apesar de vivermos grande parte do tempo separados por quilômetros de distância. Meu mundo ruiu quando ele me deixou com uma desculpa esfarrapada de que seria melhor para nós dois, de que aquilo era para o meu bem. Meu bem? Olha como me encontro agora! Pareço um zumbi, um farrapo humano. Não tenho vontade de fazer nada, apenas de sumir desse mundo. Desaparecer de vez. Meus amigos, que também são meus colegas de trabalho, sempre aparecem por aqui para ver como estou. Quando olho em seus olhos vejo pena. Odeio que sintam pena de mim. Não preciso que sintam pena de mim.

Mesmo sem querer a imagem do homem que jurei amar até que a morte nos separasse surge em minha mente tal qual um ladrão que surge à surdina. Tento afastar a imagem, mas é em vão. Ele não me sai do pensamento.

Arrependo-me do dia, do maldito dia em que o conheci. Porque foi naquele fatídico momento que eu me perdi. Me apaixonei pelo homem mais charmoso que eu havia conhecido. Eu que até então nunca tinha tido um relacionamento de verdade, apenas uns flertes, quando o conheci me apaixonei quase que à primeira vista. A diferença de idade pouco me importava. Ainda me lembro daquele tempo e das sensações deliciosas que senti. Foi como ver o mar quando os meus olhos se viram naquele olhar pela primeira vez. Não tive a intenção de me apaixonar. Foi mera distração e já era momento de se gostar. Quando eu dei por mim nem tentei fugir do visgo que me prendeu dentro daquele olhar. Quando eu mergulhei no azul do mar daqueles lindos olhos, sabia que era amor e que vinha para ficar. E ficou. Ficou impregnado em mim como uma tatuagem sobre a pele.

Não me arrependo dos momentos encantadores que tivemos, mas como tudo acabou. Por ele mudei a minha vida. A pedido dele mudei de cidade e permaneci sonhando que retomaríamos o que tínhamos começado em outra época. Tudo o que eu fiz foi me confessar, escrava de meu amor, todo meu por ele, livre para amar. Entretanto tudo o que recebi em troca foi desprezo, negativa aos meus inúmeros convites para sairmos. Ele me afastava como se eu fosse uma pessoa com uma doença contagiosa, alguém de quem não se quer estar perto.

É certo que algum tempo depois engatamos em um relacionamento secreto cheio de percalços. Quando eu mergulhei fundo nesse olhar, fui dona do mar azul, de todo azul do mar. Fomos felizes. Separamo-nos. Casamo-nos. E agora nos separamos novamente. E parece que dessa vez é para valer. Você pode até pensar: “Ah! Mas se se separaram e voltaram uma vez, pode ser que isso aconteça novamente!” Pode até ser! E é a isso que me apego todos os dias: que um dia possamos reatar.

Por hora tudo o que me resta são as lembranças. Recordações de momentos felizes e de outros não tão felizes assim. Mas assim é a vida. Composta de momentos alegres e tristes. Olho para minha mão esquerda e vejo o aro dourado que comprovou nossa união a qual ainda não tive coragem de tirar, e deixo-me levar pelas memórias da minha vida e da dele, da nossa vida. A minha história. A nossa história.

Meu nome é Sara Sidle e essa é minha história. A história de uma mulher determinada a qual lutou para conseguir conquistar o amor do homem que amava. Talvez você não vá gostar da história que irei relatar porque ela não é como as histórias de contos de fadas que sempre têm finais felizes. Essa é uma história de verdade, de pessoas reais. Essa é a explicação para a condição a qual me encontro atualmente. Preparado? Recomendo que se sente porque essa é uma longa história...


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Por favor preciso saber o que estão achando...
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=6B1Vc_UPmXk



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