Perdas e promessas

“As lágrimas mais amargas derramadas sobre as sepulturas são palavras que não foram ditas e escrituras deixadas de lado.” Harriet Beecher Stowe.

Ouvi o discurso, dei uma última olhada no caixão, mas a verdade é que minha mente estava em outro lugar, ainda pensava se teria tido alguma forma de evitar aquilo. Sinto Emily apertar minha mão, sem observar seu rosto tenho a certeza que ela está encarando a lapide, com certeza deve estar pensando que poderia ser qualquer um de nós ali.

Eu havia acabado de abrir os olhos e encontrei ela me observando “Até que você é fofo quando dorme” ela disse e eu sorri “Fofo?” eu disse me movendo para cima dela e ela riu. Comecei então a beijar seu pescoço, ela murmurou algo como “Isso sim é um bom dia adequado”, mas fomos interrompidos pelo toque do meu celular “Acho melhor você atender” Ela disse e depois completou “Garcia me paga por esta interrupção”. Peguei me celular e atendi, de repente o sorriso que eu estampava se desfez, Emily notou. Quando encerrei a chamada, ela me olhava atentamente “Um caso?” Fiz que sim com a cabeça e me levantei.

Vesti minha roupa no automático, até mesmo dirigi a uma cafeteria no automático. Como iria enfrentar essa situação? Não era apenas mais um caso, era o pior tipo de caso que poderia acontecer.

Dirigi até a cabana e encontrei Rossi lá, o legista havia chegado junto comigo, o corpo estava cobrido com um lençol em sinal de respeito. Em mais alguns minutos o restante da equipe foi chegando e logo faltava apenas Reid, sabíamos que ele estava lá fora, ele precisava de um tempo para processar tudo isso, Gideon foi uma figura paterna para ele.

Quando Reid entrou ele parecia abatido, na verdade toda a equipe estava assim, até mesmo Tara. Tratei logo de dar instruções do que fazer a equipe, precisávamos encontrar o culpado que fez isso e colocá-lo atrás das grades.

Estava no carro com Rossi, ele dirigia quando meu celular tocou. Era a terceira ligação dela e mais uma vez eu deixei tocar. “Você não vai contar a ela?” Ouvi meu amigo de longa data perguntar “Quando tivermos um fechamento” “Você nunca filtrou informações dela Aaron, você nunca ignorou as ligações dela” “Quero contar a ela quando o culpado estiver preso David. Se contar antes ela vai passar tempo demais pensando que ela poderia ter sido encontrada daquele jeito. Eu estou...” “Protegendo ela” ele completou.

E assim só contei a ela o que havia acontecido quando cheguei em casa e o caso estava fechado. Após o enterro saímos do cemitério juntos, ela ao meu lado e o restante da equipe também.

Quando chegamos em casa a primeira coisa que ela disse foi “Eu pego os copos” e seguiu rumo a cozinha. Fui até o armário de bebidas e peguei o Jack Daniel's, enquanto eu servia perguntei “Beber a essa hora da manhã?” Ela apenas me lançou um olhar que isso não estava em discursão.

Observei ela tomar o primeiro gole, como sempre não houve reação. Embora seja uma mulher que aprecie vinho, ela não se intimida por bebidas mais fortes. “Era por isso que você estava me evitando?” fiz que sim com a cabeça. “Você achou que eu não poderia lidar com isso Aaron?” Ela me encarava ferozmente “Eu sei que você poderia lidar com isso Emily, mas eu queria ter respostas antes de lhe contar” “Você estava com medo da minha reação ao ver um membro da equipe morto. Há alguns dias vocês poderiam ter me encontrado morta” “Mas não encontramos” eu disse. “A questão Aaron, é que não é nisso que eu estou pensando. Eu estou pensando no fato em que nem se nós nos aposentássemos ficaríamos quietos, esse trabalho faz parte de nós” observei ela dizer isso e encarar o copo de whisky “E do que você tem medo?” “Nos tornarmos obcecados com isso, nos perdemos, perdemos nossa família” Suspirei e me aproximei dela “Emily já trabalhamos nisso há muito tempo, não vamos nos perder nesse trabalho, ele é parte de quem somos, mas não é tudo o que somos.” Ela assentiu “Eu sei, é só que as vezes eu tenho medo” “Eu sei” disse puxando ela para um abraço.

Após alguns minutos abraçados, nos separamos e sentamos no sofá, embora ela ainda estivesse bem próxima a mim. “Você se lembra do meu primeiro caso com a equipe?” Ela perguntou e eu assenti, “Quando estávamos voltando de Guantánamo, eu e ele jogamos xadrez. Em algum ponto Reid acabou dormindo e foi quando ele me disse” Franzi o cenho, ela nunca havia falado sobre isso antes “Ele disse que eu era talentosa demais e seja lá qual a mentira que eu disse a você um dia você descobriria a verdade e nós terminaríamos” Eu a observei “Em partes ele estava certo, quando você descobriu sobre Doyle, nós nos divorciamos, mas é agora que você conhece toda a verdade a respeito do meu passado” Ela esperava minha resposta “Emily eu não vou me divorciar de você, eu prometo. Uma vez já foi um grande erro” ela me lançou um sorriso aguado. Foi então que fiz um movimento ousado: fiz cocegas nela. “Para... Você sabe que eu não gosto disso... Aaron!” ela disse rindo. Eu parei e ela cruzou os braços, um bico bem similar ao de Anne “Relaxe Em, você sabe que eu não largaria você por nada nesse mundo” Ela me encarou seriamente “Eu não sou tão bobo ao ponto de cometer o mesmo erro duas vezes” Ela me abraçou e disse “Eu espero”.