Atendimento #060: Elogio

Ser reconhecido pelo nosso esforço é algo tão bom que chega até a ser emocionante. Com os atendentes não é diferente, na realidade é muito mais amplificado. Se por alguma razão você quiser, sei lá, um dia talvez, fazer um atendente chorar, o melhor caminho é o elogiando. Enalteça muito, mas muito mesmo!

Esse pobres infelizes, miseráveis, lascados quase nunca recebem uma palavra carinhosa de seus clientes. Isso faz sua rotina ser muito maçante e triste. Tendo em vista que muitos dos operadores ficam xoxos com suas vidas depois de um tempo, algumas empresas tem o costume de presenteá-los com alguns agradinhos.

— É mesmo senhora? — Questionou é nosso protagonista com uma voz chorosa.— Foi o melhor atendimento que já teve em sua vida inteira? — Ezequiel secava as lágrimas com as mangas da camisa.

— Claro que sim. Você foi excepcional, para ser sincera eu nunca tive a esperança de ter meu problema solucionado, mas você é um rapaz muito abençoado. Se não fosse você eu teria ido até o PROCOM buscar meus direitos. — A cliente Zuleica era uma idosa de uns cinquenta anos muito simpática. Sua voz era carregada de sorriso e felicidade, os elogios soavam como abraços para Ezequiel que, sem nem perceber ficava mais e mais abalado emocionalmente a cada frase.  — Meus parabens meu anjo, têm alguém que eu possa falar bem de você?

— Têm sim.  — Falou ele enquanto enxugava o nariz escorrente. — Eu vou transferir a senhora para o responsável.

Com o pressionar de botões em sequencia a ligação foi transferida para a mesa da supervisão.

— Igor?  — Chamou o operador.

— Que foi, moleque.  — Seu tom jocoso se desfez ao escutar o choramingar do subordinado.  — Por que você está chorando Ezequiel?

— Relaxa. — o sorriso na voz acalmou o superior imediato.  — Isso é de alegria, eu quero passar um elogio para promoção.

Eu disse que a empresa presenteia os funcionários não é? Pois é claro que nada vêm de graça. No caso o setor de Ezequiel participava do evento “Doce Elogio”, era uma espécie de promoção que dava uma barra de chocolate para cada elogio que o atendente escutasse ao seu respeito em ligações.

— Vem aqui na minha mesa se ela elogiar eu te dou a barra. — O encarregado fez sinal para ele se aproxima.

Ao lado de Igor repousava uma caixa aberta, dentro desta existiam várias unidades de alguma barra de chocolate que não pagou nenhum dinheiro para ser mencionada, portanto vocês não vão saber de que marca eles eram.

— Supervisor Igor Alastor, bom dia com quem eu falo?

— Zuleica. — Respondeu a cliente.

— Eca. Nome feio da poxa. — Anunciou Igor no mudo. — Senhora meu camarada aqui está em uma promoção, cada elogio que ele recebe é uma barra de chocolate que ele ganha. Ele me disse que foi elogiado e que a senhora adorou o atendimento dele.

— Sim, é verdade ele é extremamente prestativo, carinhoso e dedicado. Sinceramente eu acho que ele deveria estar em um cargo maior do que este que ele se encontra. A forma com que ele me atendeu impediu a empresa de ganhar um belo de um prejuizo. Se ele vai ganhar uma barra para cada elogio que eu tiver então eu vou pegar o dicionário inteirinho e  começar a recitar ela para você. Dez, vinte barras ainda não pagam ele. Talvez a caixa toda pague, mas ainda seria muito pouco.

Igor continuou escutando os elogios que a cliente proferia enquanto ele conferia os dados da mesma, verificou a chamada e tudo aparentemente estava nos conformes. Ele não sabia dizer ao certo o porquê mas sentia que algo estava errado com aquela empolgação toda.  

— Ou ela tá querendo o corpo dele nú. — imaginou o supervisor  encarando seu encarregado. — Ou é só uma pobre senhora carente que quer fazer alguém feliz. Então tá. — Tirou do mudo. — Senhora do nome estranho, eu vou ter de interromper a senhora por que eu vou entrar em reunião. — Era mentira. — Mas assim, eu vou me certificar que meu camarada aqui receba o prêmio devido está bem?

— Claro meu filho, espero que Deus dê a ele a você tudo de bom. — A cliente encerrou a chamada.

O encarregado virou-se em direção ao nosso herói. Entregou-lhe a caixa de barras de chocolate retirando uma unidade de dentro. Abriu e começou a morder.

— Se me disser qual é o esquema eu fico calado. — Sorriu com os dentes marrons.

Ezequiel sorriu desfazendo a expressão de emoção.

— Quando a promoção acabar eu te conto. — Respondeu entregando-he outra barra desta vez de chocolate branco.

Ao voltar para sua mesa Amanda arregalara os olhos,, teria gritado de felicidade, mas isso teria estragado todo o teatro. Abriu uma barra e começou a comer com toda a alegria.

— Humm que delicia. — Ela o puxou para junto de sí. — Me lembra de agradecer minha mãe por ter cumprido com o acordo…