Atendimento #058: Frio

A...o frio. Que clima maravilhoso que nos faz querer ficar em casa, coberto por nossos lençóis. Particularmente falando, eu amo ficar errolado, nú enquanto durmo agarradinho com meu travesseiro de unicórnio. Sabe, as vezes quero morar no polosul.

Como vimos anteriormente os nossos amados operadores sempre trabalham em um lugar abarrotado de gente, portanto qualquer problema no ar-condicionado é motivo para um pandemônio. Era mais ou menos aquilo que acontecia naquele dia, porém, diferentemente de antes o clima não era infernal como o castelo de belzebul a fazer um chrrasco, mas sim gelado.

— Por-por-por que mano? — Amanda encolhia-se na cadeira enquanto tremelicava. — Sério que é in-inverno e os ca-caras não ligaram essa joças no aquecedor? — A operadora estava em atendimento, porém o frio era tamanho que teve de dar uma parada para aquecer os braços. A roupa era de manga comprida, mas a finura do tecido era ridícula.

Já percebeu o quão sensível são as mulheres? Quer dizer...em relação ao clima. Sei lá, talvez a pele delas seja mais fina  e por isso o corpo sinta mais o frio e o calor,  ou quem sabe a quantidade reduzida de pelos. Enfim, o caso e que Amanda estava lascada, com uma roupa fina em um dia gelado de inverno onde o aquecedor estava ligado em seu modo reverso.

— Sen-sen-senhor basta realizar o pa-pagamento de seu boleto-to e o a-a-acesso a seus canais será liberado. Meus sistema é-é-é.

— Tá gaguejando por que? — O cliente já tinha aquela dúvida desde o principo da chamada, entretanto só ali ele tivera a coragem de perguntar. — Assim eu não sei se você tá bem, mas se estiver fica sabendo que é complicados acreditar em alguem que tá gaguejando…

— Me-me meu… cala a bo-boca. — O queixo tremia de frio, os dentes superiores e inferiores batiam. uns nos outros. — Tá-tá com medo de não conseguir ver sua po-po-pornagrafia na televisão assim que pagar a conta é? Se eu to gaguejando é pelo gelo do caceta aque tá aqui.

— Entendi. — O cliente respondeu incredulo. — Se você ta falando eu vou acreditar em você então. A ligação é gravada mesmo, se não for verdade vou mandar puxar o áudio.

— Be-belezinha. Agora até mais. — O contato foi encerrado pela parte do cliente que saiu correndo para pagar a conta.

Ezequiel atendia calmamente o cliente Reginaldo, o frio não o afetava nenhum pouco.  O curioso era que a roupa que ele usava era muito mais casual e leve que a de Amanda. Tomava um chocolate quente que, pela temperatura, esfumaçava muito mais que o normal.

— Sim senhor pode confiar se o senhor clicar. —  O atendente parou de falar. O cliente fez o que ele disse antes mesmo dele completar a frase. — Viu? agora espera um momento por que minha colega tá morrendo de frio aqui. — Ezequiel colocou a chamada no mudo e ofereceu a bebida para Amanda. — Tá parecendo que tem parkinson pô.

— Deixa de ser troxão. — No head da garota uma nova chamada soou. — Amanda bom dia com quem eu falo.

— Oi eu estou com um problema no meu ar-condicionado

— Jura? — Sorveu um pouco da bebida quente. — Só você? Espera ai deixa eu tomar meu café.

Meio chocado e talvez também travado pelo frio o cliente ficara quieto.

Mais ao fundo Igor vinha com uma xícara de café fumegante.  Por ter sangue de um carioca genuíno ele era o que mais sofria com a baixa temperatura. Suas roupas pareciam com as dos alpinistas que tentam escalar o Everest. Ninguém sabia ao certo de onde ele tirara tanto tecido.

— Isso vai dar MUITO ERRADO. — Anunciou Ezequiel ao notar seu superior andando com a caneca esfumaçante erguida a cima da cabeça.

Amanda olhou para caneca, ergueu os olhos e viu um detector de fumaça no caminho onde o encarregado passaria. A expressão de surpresa foi correspondida pelo colega do lado que já previa o que estava prestes a acontecer.

— Reiniciem a luz, reiniciem a luz. — Falava Amanda enquanto se escondia em baixo das cadeiras. Os olhos apertados mostravam o nervosismo, ela sabia que os detectores de fumaça estavam ligados aos sprinclers do andar.

— Isso vai dar MUITO ERRADO. — Repetiu nosso herói abaixando-se junto da garota.

As luzes se apagaram e assim permaneceram por um tempo. Os sprincles não se acionaram. Os colegas dos dois passaram a observá-los com certa curiosidade, se perguntavam por que diabos esconderam.