Atendimento #044: Registro

Qualquer um que trabalha com um sistema informatizado, ou seja, senta a bunda de frente para um computador ou fica em pé diante dele, precisa fazer algum registro. Se não acredita em mim pare analisar friamente o que você faz. Planilhas, dados, documentos. Viu? Isso tudo é registro.

Agora que você já sabe de sua importância, imagine o que aconteceria se um atendente não registrasse uma ligação?

— Mas eu não disse que não iria fazer o que você solicitou senhor Armando. — Ezequiel, sentado em sua cadeira apoiado nos joelhos, atendia o cliente sem esboçar reação alguma. parecia um robô humanizado. — Eu preciso de alguns dados para fazer seu registro, se do contrário não vou poder te ajudar.

— O seu fi de nois todos, — Sim, o cliente tinha um sotaque nordestino, mas não uma pronuncia qualquer. Ele estava muito fulo da vida. — Oia, oia… mar mínino o cabra que que eu realmente vá passá meus dados aqui via telefone. Tu num sabe que isso é pirigoso miníno?

— Mas senhor, os dados são puramente para registro, ninguém mais têm acesso a eles. Não é como se alguém fosse pegar suas informações e contratasse um assassino pra te pegar.— A posição enque o atendente estava dava certo incomodo, mas era a unica que ele conseguia permanecer naquele dia.

O cliente Armando já não queria passar os dados, depois de uma dessa, só não desligou o telefone por algum milagre.

— Seu fresco eu quero só que me passe a porcaria do endereço da autorizada, vamos logo.

— Senhor, cliente, magnânimo, excelentíssimo e nobre engenheiro Armando. — Nosso herói tentou se ajeitar na cadeira, mas a dor nas lombas era demais e portanto permaneceu ajoelhado. Ajustou o head — Eu vou explicar como funciona rapidamente o meu atendimento.

— Eu não quero ouvir.

— Foda-se eu não perguntei, eu disse que vou explicar quer queira, quer não.— O jeito do atendente ainda não era o normal, tinha algo triste em sua forma de falar, mas ainda assim ele permanecia com o poder na chamada. — Primeiro alguém liga, no caso você. Depois eu atendo e faço o registro desse “alguém”— Enfatizou as aspas deixado claro a quem ele se referia. — Em seguida eu vejo se eu consigo resolver o problema em linha, se não puder, aí sim eu falo o endereço de autorizada.

— Nãm, não vou fazer esse seu registro e ponto, nem ligo se teu encarregado vai de ferrar, não vou e ponto. I i sabe que é má legal? Se eu desligar a gora você não vai ter registro.

— Pois é... e você não vai ter o endereço de sua autorizada.

Amanda passou ao lado de Ezequiel, percebendo que ele estava em ligação a garota foi até sua mesa e escreveu algo em um papel branco. Enquanto escrevia seu marido demonstrava seu poder diante do cliente.

— Se é fresco é? O seu pirobo* fi de uma égua, que manda aqui é o cliente. O cliente sempre têm razão, nunca ouvi isso não é?

— Claro que eu ouvi, mas pensa comigo senhor: Se um passageiro manda o funcionário da empresa aérea jogar o avião em uma montanha, o piloto vai fazer o que ele manda só por que “O cliente têm sempre razão”? — A analogia emudeceu o cliente que tentava compreender a lógica. — Sendo mais simples meu amigo, eu mando na minha ligação, eu sou o piloto desse voo, entendeu? Eu domino o que acontece e deixa de acontecer em uma ligação.

Amanda abriu um sorriso. Aproximou-se do ouvido dele e mordeu levemente.

Arrepiado nosso herói leu o que tinha escrito no papel.

“Você tá uma gracinha agindo como dominador, nem parece o mesmo de ontem.”

A dor nas lombas aumentaram bruscamente como se fosse um choque elétrico. Ele forçou um sorriso para a mulher.

— E...— O atendente, desconcertado gaguejou fora do mute — Vamos fazer assim senhor, me passa seu CEP e eu vejo se têm alguma autorizada.