Do outro lado da linha escrita por LcsMestre


Capítulo 43
Atendimento #043: Ameaça


Notas iniciais do capítulo

O supervisor pode ser o cara mais amigo que existe ou o demônio mais assustador, isso vai variar do quão ofensivo o cliente for :D

Aproveite e ria um pouco deste atendimento.
PS: Atendimentos adicionados todos os dias as 14:05(OBS: SAIU MAIS CEDO HOJE !!!!)



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Atendimento #043: Ameaça

A muito tempo o povo mais branco que a neve se achou superior aos mais pretos que chocolate meio amargo queimado. Essa foi uma época tensa, não foi a pior de todas, mas realmente foi uma bosta; mas depois que o povo se tocou que todo mundo é igual na perspectiva de um vaso sanitário, isso mudou.

Quando alguém liga para o suporte não têm como adivinhar se o atendente do outro lado é branquelão azedo, negão ou mesmo azul, aliás se você não vê muitas pessoas azuis por ai é por que elas trabalham quase que vinte quatro horas dentro das centras, é sério! Por essas e outras que muitos consideram essa uma profissão de igualdade, pois todos os que colocam o headphone na cabeça estão igualmente ferrados.

— Você sabe por acaso com quem você está falando? — A cliente baixava o tom como se estivesse falando com um asno retardado.

— Na verdade eu sei sim. — Retrucou Ezequiel cínico. Tinha todo o cadastro da cliente bem diante de seus olhos. — Seu nome é Valentina Jussara da Costa, tem trinta e nove anos e têm…

— Não nesse sentido que eu quis dizer seu imprestável. Eu não sou suas “nêgas” que você fica saindo na balada não tá? Eu quero respeito o seu preto inútil.

Ezequiel parou tudo o que fazia e escrevia em seu sistema para continuar ouvindo o que a cliente esbravejava. Era bem constrangedor ver alguém se portar daquela maneira com um atendente. A mulher vivia em um país miscigenado, cercada por pessoas de todas as etnias e ainda assim agia como se estivesse no século XVII. Eu fico incomodado só de imaginar uma pessoa se preocupando com a cor da pele do abiguinho do lado.

— Por que vocês não ficaram nas fazendas? Nem para ser atendentes vocês prestam, por que não chama alguém de verdade para me ajudar? — A cliente continuava com todo seu nojo e veneno.— E depois vou solicitar a gravação dessa ligação por que você nem tem que ser considerado um ser humano sabia? Espero que coloquem alguem de verdade para me atender. — Ezequiel olhou a cor da própria pele e sentiu repulsa das palavras da mulher.—  E sabe por que você continua caladinho ai como um bebê?

— Por que ele não é retardado igual você sua vadia imbecil!

A resposta veio no próprio telefone, porém a voz não era nem do lado do cliente e nem do atendente. Uma terceira pessoa entrara na chamada e ela não estava nada satisfeita com o que estava ouvindo.

— Quem é que está falando? — A cliente se surpreendeu com a intromissão em sua chamada. Para ela era novidade falar com dois atendentes ao mesmo tempo.— Alo?

— Não precisa se meter Igor, eu me garanto com ela.

O supervisor deu uma risada no telefone, a cliente confusa não conseguia entender por que os ouvia. Sentado em sua mesa com um headphone grande e profissional Igor os escutara, o mesmo não conseguiu se conter quando o cliente perdeu as estribeiras.

— Eu estava fazendo a monitoria ao vivo do meu agente na boa, mas você é tão ridícula que eu não consegui me conter. — Fez uma pausa. Bufou ao telefone.— Já que o cérebro da senhora é menor que o de uma lombriga infectada com o vírus da moquisse, eu vou explicar. — O supervisor começou a mascar um chiclete de menta fazendo bolhas grandes. — Aqui é um lugar sério saca? Desrespeitar funcionário meu gera problemas que vão muito além de só registros. Se você não maneirar esse teu racismo e tom de Barbie do gueto princesinha, você vai conhecer o que Igor Alastor pode fazer.

— Igor ela só uma racista qualquer, não vale a pena nem gastar a saliva com esse tipo. Relaxa, deixa que eu resolvo. — Ezequiel tentava amenizar os ânimos,  sabia que seu supervisor era completamente intolerante a ao clientes que desrespeitavam seus subordinados, vide o atendimento #011.

—Cala tua boa Ezequiel, aqui dentro vocês são meus filhos e se alguém meche com você o pau come e come sem cuspe!

— Eu quero a gravação dessa ligação agora! Vou processar vocês dois por desrespeito ao cliente. E esse tal de Igor vai pra cadeia por ameaça. Vamos ver se você é macho depois que eu levar isso pra policia.

— DESRESPEITO? AMEAÇA? SERIO? — Igor elevou o tom. — Fia presta atenção no que tu falou, tu ta batendo bem dessa cachola mesmo ou só finge pra não ter de ir pro hospício? O parceiro tava tentando te ajudar e tu lança uma onda de bosta e palavrões pra cima dele, sorte a do leitor que o atendimento começou depois porque eu fiquei enjoado só de escutar.

— Mas seu bandido infeliz, macaco de bosta.

— Valentina, percebeu que desde que a senhora não escutou o que queria suas atitude foram a de uma pivete mimada que não sabe respeitar ninguém? Até parece uma dona de escravos maluca.

A cliente respirava junto ao microfone de seu aparelho, o barulho era similar a uma panela de pressão que está prestes a explodir. Ezequiel viu seu supervisor preparando-se para atacar a cliente com sua metralhadora de insultos regrada a carioquês da tijuca.

— Ao menos a senhora se lembra do que estávamos tratando antes de isso acontecer?

— Você me destratou, chamou o supervisor como se fosse um cãozinho assustado e ainda quer eu finja que não aconteceu nada? Não sou otária, não quero mais ser atendida por você, eu vou agora buscar meus direitos.

— Vai, vai lá. — Igor falou sério. — Só que pra fazer isso vai ter de deixar seu pivete em casa, aliás muito interessante saber que você mora no número quatrocentos e vinte da rua camindés olivas herdy. Faz o favor e manda teu filho mais velho parar de procurar por pornografia com ratos no celular dele, isso não é coisa que um molecote de quatorze anos tenha de ver.

Ezequiel ergueu-se com os olhos arregalados, observou o superior em sua mesa. Vidrado e lendo tudo o que podia nos protocolos anteriores e registros da cliente, ele provocava medo nela. Porém, a ameaça final ainda estava guardada.

— Fique a vontade para ir até o PROCOM, ou mesmo a polícia. Eles estão a menos de um quilômetro da sua casa mesmo. Só não posso garantir que seus filhos e sua casa vão estar inteiras quando você voltar…

A cliente travou estática. A arma final estava pronta para ser disparada.

— Como você sabe dessas coisas?

— A... senhora Valeria, não subestime os míseros atendentes. Temos muitos contatos com as pessoas certas sabia? Não é difícil para qualquer um de nós pegar seus dados e lançá-los como proposta para um assassino de aluguel. Então sempre que for falar com um atendente, ou qualquer pessoa que seja, é bom não julgá-lo pela cor da pele, por que se não a senhora pode receber uma visita inesperada em sua casa. — O supervisor estalou o pescoço. — Agora que já conversei com a senhora vou voltar a monitorar meu agente, espero que a senhora pense com carinho nas próximas palavras que vai dizer a ele. Até mais.

Igor saiu da linha deixando apenas Ezequiel e a cliente, ambos com um peso maior nas calças.


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Notas finais do capítulo

É por essas e outras que o Igor morre meu amigo


Vou sempre repetir isso:
SOU MOVIDO A COMENTÁRIOS SIM! GOSTO DE SABER SE ESTÃO GOSTANDO OU NÃO U.U
Se você riu com esse amontoado de palavras eu fico feliz, esse era meu objetivo bjs e até amanhã :D