Atendimento #220: Monstrosdebolso vai

Já imaginou que bacana se você, assim; do nada, conseguisse fazer algo de extremo sucesso que pode te deixar rico? Agora pensa que grande porcaria se você faz isso em uma empresa que detém sua propriedade intelectual e toma aquela super ideia para sí.

— Viu o que eu disse cara? — Kleber tentava consolar Ancelmo que havia perdido a patente de seu projeto de headphone para a empresa. Aparentemente alguém mal intencionado ouviu falar de seu objeto e revelou aos níveis mais altos da empresa.

— Cara se eu tivesse vendido esse negócio eu teria dinheiro para nunca mais trabalhar… — Ele lamentava igual a uma criança que compra um sorvete e vê a porcaria cair no chão.

— Mas você é esperto cara, só está em um lugar que não te favorece.

— Eu preciso do emprego cara, não posso simplesmente sair daqui sabe? Eu tenho contas em casa, uma família para cuidar. Acho que eu vou fazer projetos de produtos que não têm nada a ver com atendimentos ai eu tenho certeza que eles não vão querer a ideia.

Uma chamada de uma cliente desesperada caiu com ele.

— Meu filho me ajuda! Se você não me ajudar eu vou morrer.

— Senhora sem drama, a senhora não têm problemas. A senhora só imagina que está encrencada.

Normalmente o cliente liga achando que seu problema é uma hidra de sete cabeças, na realidade em oitenta por cento dos casos é só de cinco cabeças mesmo. Mas a cliente tinha problemas e o atendente concebeu quando leu o nome da mesma no sistema.

— Ezequiel. — Ancelmo chamou o supervisor. O encarregado levantou-se rapidamente da cadeira e com um clássico moonwalker se aproximou. O fã de tokusatsus apenas mostrou o nome da cliente. — Se eu confirmar e isso for sério…

— Confirma vai! Vai ser engraçadão!

O atendente tirou do mudo, umedeceu os lábios e reuniu coragem.

— Eu falo com a cliente Ava Gina é isso mesmo?

Um momento de silêncio total na chamada, na operação e no resto do mundo. Curiosamente todos na operação haviam ficado silenciosos naquele momento fazendo com que a voz do colega ressoasse como um tambor.

— Sim esse é um dos meus problemas, mas o outro foi que eu fiz uma idiotice muito grande. — Ancelmo ainda furioso murmurou para que a cliente continuasse. — Eu coloquei meu celular no microondas para...

— Não! A senhora não fez isso…  

Ancelmo apertou os olhos visualizando a cena. Ele sabia que a cliente fizera aquilo na intenção de ganhar bônus em um joguinho muito popular que recentemente estourou no mundo, o famoso monstrinhosdebolso-vai. O conceito de colocar no micro-ondas era fazer o objeto girar e assim ganhar itens.

— Eu fiz, agora a minha mãe vai ver o micro-ondas destruído, meu celular destruído e vai acabar comigo.

— Mas na boa ela não têm de ficar desesperada não cara. — Ezequiel interveio falando com o subordinado. Ancelmo apenas virou-se para ver a opinião do superior. — Ué é verdade ela foi burra? Foi! Ela deveria ter saído por aí ao invés de colocar o celular no telefone? Deveria. Mas dada a situação dela essa do microondas ainda foi pouco para a mãe. Acho que ela teria de se vingar ainda mais

— Pelo que? — O atendente não sacou do que ele estava falando.

— Ora pelo-

Naquele momento a mãe da cliente chegou batendo na porta, algum dos vizinhos cuidadores de vida haviam ligado para ela relatando o barulho absurdo que ouviram em sua casa e o cheiro de queimado.

— Ava Gina Lisa de Souza! O que você fez? — A mulher gritava ao ver meia cozinha de casa destruída.

Ezequiel tirou o headset do subordinado e colocou sobre a cabeça.

— Vai amostra o RG para ela e fala que foi a vingança pelo seu nome! Vai Se você falar ela vai ficar de boa! Vai!

— Por que você fez isso menina!

— Amostra o RG!— Gritou Ezequiel tentando salvar a cliente.