Atendimento #016: Brinde

Se tem uma coisa que causa o pandemônio em uma central de suporte é uma promoção. O ser humano que criou essa coisa tinha só um objetivo: Lascar a vida do suporte. Duvida? Das mais diversas formas de promoção, sem sombra de dúvidas a pior é a do brinde.

Para quem não sabe como funciona, é mais ou menos assim. Um cliente compra um produto X ao fazer isso ele ganha o direito de receber outro produto Y de graça, só pra isso este precisa fazer todo um cadastro coma  marca do produto X e ai já viu né?

— Amigo eu já fiz todo o registro agora eu quero receber meu produto! — O cliente já retornara várias vezes e em cada uma delas fora atendido pior que a vez anterior.

— Entenda de uma vez meu senhor aqui é a central de suporte e não temos como enviar o produto para o senhor, se eu pudesse enviar produtos eu não seria de suporte!

         — Então você não vai me ajudar mesmo? Deixa de ser preguiçoso cara é um negocio simples de se fazer. Só clica aí no botão solicitar brinde que eu sei você têm.

         Ezequiel olhou para o telefone abismado. O cliente falava com uma propriedade que faria qualquer um acreditar que ele podia ver a sua tela, no entanto, a forma de falar não passava disso, pois na tela de Ezequiel passavam fotos de um carro quatro portas que ele estava ansioso para comprar.

— Claro senhor já cliquei está bem? Agora só precisa esperar a cegonha levar o seu brinde está bem? Se não for ela a entregar tenha certeza que o saci entregará. — O atendente perdeu a paciência, aquele deveria ser o...décimo cliente mais ou menos a buscar algo relacionado a brinde de promoção.—  Se eu falei que não posso fazer isso é por que eu não posso.

— Não pode ou não quer? — O cliente não acreditava nas palavras da pessoa que o atendia. — Se não quiser eu ligo de novo.

— Senhor me explica então, pra que eu sairia da minha casa, onde é confortável quentinha, para ficar aqui em uma central barulhenta e não atender o cliente que me liga?

— Besteira! — o som do telefone sendo largado ecoou, ao fundo a voz do cliente anunciou. — Vou ligar de novo amor, esse babaca não quer trabalhar.

A chamada se encerrou.

Mesmo atendendo vários produtos Ezequiel tinha uma janela considerável de tempo entre uma ligação e outra, porém nesses períodos de promoções o fluxo de ligações sobe de uma maneira incrível, parece até a cena do estouro da manada em rei leão, só que o Simba da ocasião é Ezequiel.

Dois segundos depois da ligação encerrada o telefone de nosso herói novamente toca.

— Ezequiel bom dia, como posso auxiliá-lo? — A saudação inicial já estava tão batida que nem ele mesmo percebia quando falava.

— Oi Ezequiel é que eu comprei uma maquina de lavar e na promoção dizia que eu tinha direito a um brinde, eu to ligando pra receber esse brinde.

Ligação no mudo, headset jogado, mãos na cabeça.

— Não, não, não… só precisa de um pouquinho de inteligência para ler como recebe o prêmio. — Ezequiel olhou para as lâmpadas buscando um auxilio divino. — Senhor dai mais um fio de inteligência a esses seres ou então me leva logo pra onde quer que eu tenha de ir depois de morrer!

Na mesa ao lado Amanda repousava a cabeça sobre os braços, estava em atendimento a algum tempo e acabara de finalizar a chamada. Outro cliente logo chegou a seus ouvidos falando sem parar.

— Sei, sei, sei... o Ezequiel? — A garota levantou os olhos em direção ao colega. — Sei, não tudo bem senhor vou transferir o senhor para o setor da promoção só um momento. — A garota pressionou uma sequencia de números transferindo o mesmo.

Ao lado nosso herói tentava convencer o cliente

— Não senhor esse não é o telefone da promoção, portanto não posso lhe enviar o brinde.— A garota fez um sinal para ele. a ligação foi colocada no mudo. — Que foi?

— Ô namorado do Jailson, não seja burro! — Amanda jogou sobre a mesa de seu colega um papel com um telefone. — Pra que se estressar com esses burros, transfere isso pro setor certo.

— Setor certo? Onde você ouviu isso?

— O Igor que falou. —  Naquele momento ela apontou para mesa do supervisor.

— E como eu não ouvi isso? —  Ezequiel se levantou para ver a figura de seu superior, ele ao vê-lo ergueu o dedo do meio em sua direção.

— Acho que ele falou quando você foi soltar aquele tijolo no banheiro, acho que faz uns vite minutos mais ou menos.