Atendimento #017: DDD

Já sabemos que se um produto têm algum defeito, é responsabilidade da fabricante providenciar uma forma de repará-lo. No entanto existem N formas de se cumprir isso; reparo em domicilio, rede de autorizadas, troca imediata do produto e afins.

Mas e se a pessoa mora em um lugar completamente isolado e distante dos grandes centros? Bom, nesses caso o cliente deve enviar o produto para que esse possa ser arrumado. Esse parecia ser o caso da ligação de Ezequiel, o produto com um problema físico e um cliente que morava só um pouco longe dos grandes centros.

— Senhor Alisson como seu microondas está com prolemas nós teremos que enviá-lo para uma de nossas autorizadas.

— Qual o endereço? — O cliente falava em um ritmo acelerado, durante toda a chamada ele só tomava fôlego quando estava em silêncio.— Mas mas mas é seguro quer posso confiar que meu produto vai chegar até vocês e vai voltar inteiro como se fosse novo? Por que uma vez eu enviei um relógio digital muito caro e depois eu fiquei sabendo que..

— Senhor. — Interrompeu Ezequiel.

— Oi. — O cliente parou de falar e passou a prestar atenção nele.

— O senhor está falando sem virgulas, por favor respire. — o som da respiração pesada do cliente Alisson chegou até o atendente. Ezequiel colocou no mudo. — Aí Amanda, o meu cliente fala correndo.

         A colega do lado não atendia naquele momento, por coincidência ela tinha acabado de entrar em uma pausa. A garota que chupava um pirulito de pernas cruzadas voltou-se para ele.

— Vai querer apostar? — Aquela era uma brincadeira que eles já faziam a algum tempo, tentavam identificar de onde o cliente era somente pelo seu sotaque. Ela ouvia a voz do cliente que era atendido por seu colega. — Beleza, se ele fala correndo eu tenho certeza que é pernambucano.

— Maranhense. — Rebateu Ezequiel colocando uma nota de baixo valor sobre a mesa. A garota logo sobrepôs com outra de mesmo valor. O atendente voltou a falar com o cliente. — Certo senhor vou precisar do CEP de sua localidade para poder encaminhar o produto.

— 69900-971, — anunciou o cliente calmamente. — Mas escuta eu não sou daqui não viu? Eu estou aqui a trabalho e queria ver se é possível entregar em outro endereço.

No corredor onde as mesas dos dois apostadores ficavam passou uma terceira figura, este tirou uma nota do bolso e jogou sobre as duas. Igor ficou observando os dois esperando que o atendente colocasse a ligação no mudo.

— É cearense, — anunciou o supervisor enquanto o a ligação estava em silêncio. — ele não têm sotaque, mas pela velocidade e falta de virgulas esse dai é do ceará, e de sobral provávelmente.

O atendente verificou o cep informado.

— ACRE? — a surpresa de Amanda era clara, fazia sentido que não tivesse nenhuma autorizada por lá. A garota ameaçou retirar a nota do amontoado tendo em vista que a aposta não teve vencedor, porém o supervisor impediu.

— Ele tá longe de casa minha parceira, o cara deu o Cep da onde ele tá e não de onde ele é.— Igor a encarava com um sorriso malandro.

Ezequiel via a mesa de apostas ficar animada enquanto a tensão crescia.

— Certo senhor, por gentileza onde o senhor deseja que o produto seja entregue?— O atendente organizava o cadastro do mesmo enquanto os demais torciam por seus palpites.

— 62010-000, centro de Sobral. — Igor puxou as notas e as enfiou no bolso. Sua risada contida era baixa, a vitoria era sua.

         Ezequiel colocou no mudo virando-se com os olhos cerrados em direção ao supervisor que já ia embora com o dinheiro.

         — Como você sabia? —  O atendente questionou abismado coma precisão.

         — Olha pra o teu telefone MANÉ.

         Os aparelhos usados pelos operadores possuem algumas funções especiais, entre elas está o identificador de chamadas, esta apresenta o numero completo e o DDD de quem liga. O DDD é o código do estado de origem do telefone, este não muda mesmo que se vá para outro estado. No visor do aparelho de Ezequiel aparecia o código 88.

         — Vocês são trouxas, quem manda não prestar a tenção ao trabalho.— Igor contou o dinheiro e saiu gingando em direção a loja de cafés da central.— Malandro é malandro e mané é mané, que paga meu café.— cantarolava o supervisor.