Atendimento #154: Aniversário

Você gosta do seu aniversário? Tem gente que adora de paixão, faz festas e os caramba a quatro. O Igor não faz parte dessa porcentagem da história. Quando seu aniversário chegava ele sempre arranjava um jeito de estragar qualquer plano para festas, fazer hora extra, fingir que se perdeu, enfim, sempre uma desculpa.

Dale a tu cuerpo alegria Macarena

Que tu cuerpo es pa' darle alegria y cosas buenas

Dale a tu cuerpo alegria, Macarena

— Eu quero só ver até onde vai esse seu espírito musical…

Quem anunciara isso era nosso herói Ezequiel que observava Igor fazer os passos da musica chiclete. O ex supervisor, no entanto, não lhe deu ouvidos, apenas tirou a chamada do mute e a colocou no viva voz.

— Hey Macarena!— Anunciou a voz de uma mulher aparentemente bastante empolgada. — Ai, você é muito legal atendente! Espero que você me ajude ein!

— Manda aí dona qual o papo? — Igor ainda chacoalhava os braços em movimentos circulares frente ao tronco quando fez a pergunta.

— Então o que acontece é o seguinte, aqui têm uma máquina de fumaça de vocês.

Nunca se surpreenda com a gama de dispositivos e produtos que uma empresa pode fazer, a mesma que fabrica celulares pode ser responsável por fazer o maior prédio do mundo, ou também por fazer maquinas de fumaça para festinhas adolescentes.

— Caraca maluco, maquina de fumaça é sinistro…

— Pois é…

A mulher falava rindo bastante, ao fundo a musica que a principio era eletrônica tornou-se lenta. Os gritos histéricos dos festeiros alucinados cessaram e uma cansão lenta ao ritmo de reggae começou a tocar.

— O que deu aí dona? A festa ta crowdeada?

— Ô ta é boooooooooooooooooa.

— Se tá chapada né? — Anunciou Igor ao perceber a lentidão das palavras da cliente.

— É isso que eu quero descobri, suave? — A cliente parou por um momento. — Eu sei laaaaaa a fumaça que a máquina tá lançando tá deixando todo mundo mil grau.

Igor se focou no atendimento e passou a pesquisar todos os modelos de máquinas de fumaça que a empresa fabricava, claro que ele não esperava encontrar nenhum que usasse como base alguma droga ilícita.

— Os maluco ai na festa não levaram nenhuma paradinha aí diferente não?— Ele sussurrava para que ninguém a sua volta o ouvisse.

— Abiguinho. — A mulher fungou tragando muito do ar a sua volta. — Aqui é festa de aniversário infantil, eu sou a pessoa mais velha aqui dentro.

Alastor tentou imaginar um bando de pivetes brincando em um grande salão cheio de brinquedos, na sua cabeça todos os pivetes miúdos riam e sentiam fome com seus olhos vermelhos.

— Eu vou ver o que eu posso arranjar, seguraê.

Assim que se levantou o ex supervisor viu que estavam apenas ele, Ezequiel e Kauã na operação sendo que este último estava de backup.

— Má que porr..

Antes de ser completada a frase todo o restante dos membros da operação apareceram no corredor. Na frente deles Amanda carregava um bolo com velas acessas, os demais a seguiam cantando.

— Parabéns pra você!

Calmamente o encarregado abaixou-se orando para qualquer entidade que estivesse escutando, ele sabia que não poderia largar a chamada no meio e portanto teria de escutar o festejo.

— Senhora essa máquina de fumaça foi comprada aqui no brasil?— Ele tentou acelerar os pensamentos deturpados da cliente.

— É pique, É pique!— E o grupo se aproximava mais e mais enquanto que Kauã e Ezequiel observavam em pé.

— Acho que não ó...— A mulher tornou a pensar, enquanto o fazia, Igor corria contra a lentidão de seu sistema amaldiçoando o miserável que não colocou um computador descente na operação.— Ela é importada da…

— Jamaica. Isso faz sentido. — Completou.

— Rá-tim- bum!

Igor Estava para pressionar o drop e sair correndo para se trancar no banheiro porém parou ao ouvir o nome do aniversariante.

— Ezequiel! Ezequiel! Ezequiel! Ezequiel!

— Afê, como assim o pivete faz aniversário no mesmo dia que eu? — Pensou ele mais aliviado. — Aê, tu que comprou uma maquina de fumaça maconhada dona, a culpa não é nossa. Te vira aê pega o caderninho e liga pros pais dos pivetes, ou trata de arranjar mais comida pra essa pentelhada. — Igor olhou no calendário e reparou que seu tempo estava se esgotando.— Caderninho...quase me esqueci do plano.—  Sussurrou para sí mesmo enquanto comemorava o aniversário do colega e ocultava o próprio festejo.