Atendimento #153: Paternidade

Chega a ser engraçado, mas se você for em uma central, seja ela de: suporte, telemarketing, telesexo, ou simplesmente disk gás, vai notar que sempre têm alguém ou gravida ou que vai ser pai.  
Parece até uma coisa, mas as pessoas que atendem telefones parecem que estão sempre tendo filhos, veja Amanda e Ezequiel por exemplo. Eles naquele dia em questão haviam saído para tentar descobrir o sexo do bebê. Já o Igor, bem…

— “Pa-pa-í” mermão, é isso que tu tá entendendo.

— Impossível, como isso foi acontecer?

Alastor continuava em linha com Regis. O cliente, assim que se identificou, foi amarrado em uma cadeira da autorizada e teve uma faca apontada para sua jugular. Quem segurava a lâmina era Priscila, a técnica da autorizada.

— Você é o Regis mesmo? — A técnica tremia de nervoso, seus olhos derramavam lágrimas. Catherine ficara na autorizada e portanto tentava acalmar a situação.

— É ele mesmo, Regis Alencar Sobrini, esse é o pai do teu pivete mesmo.

Igor queria ver, ou nesse caso ouvir o circo pegar fogo na autorizada, para isso esticou os pés sobre a mesa e começou a tomar uma cerveja que trouxera na mochila.

— Parceiro, assume o que tu feis logo que é melhor.

— Mas o meu notebook só estava com liquido! Eu viajei o país inteiro em busca dessa joça e você vem me dizer que tá gravida? — A técnica deu-lhe um tapa na cara. — Sério isso?

A mulher tinha tanta ira que socava o homem com tudo o que tinha. Catherine teria amarrado ela também, mas a ira de Priscila era tanta que parecia um zumbi atacando uma pessoa com muita carne.

— Coméque eu vô registrar essa chamada? — Indagou-se Igor ao perceber que não tinha nenhum tipo de situação semelhante para adequar a chamada.— Ah! já saquei como fazer, peraê.— Colocou a chamada no mute.

Enquanto Alastor elaborava o texto que iria para o protocolo, a mafiosa tentava intermediar a discussão.

— Priscila se acalma ou eu corto o fornecimento dos seus cremes para os pés! — e ao dizer isso a mulher parou o soco que acertaria e um ponto bem doloroso de Regis.— E você é o pai.

— Mas eu e ela nunca…

— Ninguém mandou você assistir putaria em cima do notebook. Da próxima vez não deixa o requeijão cair no teclado, seu burro.

— É chefe ela mexeu o notebook sem luvas ai deu no que deu né. Agora ou casa ou é pensão na cabeça. — Anunciou Igor entre uma teclar e outro de botões.

Todos na autorizada escutavam Alastor pois o telefone de Regis encontrava-se no viva voz.

— Isso não faz sentido nenhum!

— Não faz Regis? Não faz mesmo? Quer dizer que aquilo era o  milkshake em cima de do teu notebook? Então quer dizer que eu vou parir uma casquinha mista? — Priscila fazia alusão a sua cor morena e a tonalidade completamente pálida de Regis.— Agora ou casa comigo ou paga a pensão do menino.

— Esse notebook rodou mais que prostituta! Como é que o negocio sobreviveria a bactérias, ao clima, a tudo?

— Boa pergunta...— Catherine levou a mão ao queixo.

— Serio que vocês ainda tão tentando sacar alguma lógica nesse livro? Eu liguei o foda-se desde a época da velha que mancou nudes para Amanda. — Igor interrompeu com um soluçar embriagado digno dos piratas.— Comoéquié Regis pensão ou casamento?

— Não acredito nisso… — Bufou Regis tentando pensar em uma alternativa.

Chamadas onde casais ligam brigando são mais frequentes do que se imagina e é claro que os atendentes gostam de ouvir. Não sei já deixei claro, mas atendentes adoram conversar sobre os clientes que pegam, principalmente das histórias que contam. Portanto, se você for corno, broxa, ou se você viu seu marido com outro cara...não explana isso para os atendentes que a fofoca é tão grande, mais tão grande que pode acabar acontecendo isso aqui ó…

Igor, após receber a resposta de Regis, puxou a segunda linha e logo discou um número.

— Você não tá me ligando no meio da minha ultrassom né? — Amanda, com a barriga ensopada de gel, atendera indignada.

A tua colega achou o pai do pivete. — Falou sem rodeios.

Um silêncio de quase um minuto se ergueu. Amanda deu um salto da cama assustando o médico e seu marido Ezequiel.

— Quero saber tudo conta!

— Depois tu ouve a gravação, mas eu falo uma parada..

— O que?

— Deu casamento...