Atendimento #148: Sete Dias

Vou te contar um segredo que não é bem um segredo. Não eu não usei nada, ao menos não hoje então calma que vai fazer sentido. Quem já é rato de internet, manja de tudo e vive fazendo compras online já sabe do que eu vou falar, mas ainda assim é bom contar.

Você sabia que se você comprar qualquer coisa na internet, qualquer coisa mesmo, pode até ser uma bomba nuclear, você tem o direito de devolver o produto ou trocar em até sete dias sem dar nenhuma justificativa? Pois é. Agora imagine se essa lógica de aplicasse a adolescentes rebeldes!

— Chefia a culpa não é nossa se tu é frenético. Amansa esse taco que não acontece isso ué. — Igor se impressionara muito com a história do cliente, não que ele já não tivesse visto coisas piores, mas o caso do cliente era um ótimo exemplo de fracasso na vida.

— Eu cansei! Vou na televisão e todo mundo vai ficar sabendo da qualidade desses produtos de vocês.

Igor olhava as fotografias enviadas pelo cliente através do site e não podia se conter.

— Tá rindo por que? Tá me achando com cara de idiota por acaso? — O cliente apanhou o produto e o socou dentro de uma caixa. — É ridículo ter de ficar ligando para tratar da qualidade desse negócio.

A chamada entrou em modo de espera. Alastor chamou um por um em sua mesa para mostrar o que aconteceu com o produto do cliente. Bastava apenas que olhassem de relance para que suas expressões se abrissem.

— Senhor, foi mau mas eu tô ligado que deve ter sido uma barra. Mas nós aqui não temos muito o que fazer saca?— Realmente não tinham, certas coisas fogem muito das mãos do atendentes, por isso que existem as assistências técnicas autorizadas, embora, e claro, nem que fosse para uma autorizada seria resolvido.

— Claro que têm está em garantia, eu só usei por sete dias seguidos!

— Sete dias? — Os atendentes ao redor de Igor emudeceram. — Você chegou a usar algum liquidozinho? — A voz de Alastor carregou uma risada contida.

O produto do cliente, ao contrário da maioria, permitia o uso de liquido em quantidades moderadas. O problema foi que justamente o cliente o usara no seco e por sete dias seguidos.

— Eu quero meu dinheiro de volta ou a troca dessa coisa.

— Parceiro garantia é se o produto não está funcionando, pelo que eu vi nas fotos aqui ele funcionou muito bem. Se não fosse sua freneticidade ele ainda estaria ai vivo e feliz.

— Vivo e feliz. — Ezequiel não se aguentou e começou a rolar no chão de rir. — Vivo e feliz. — A voz adquiriu o tom fino e sem ar. — Manda ele pegar uma isolante, ou-ou uma silvertape que resolve !

Amanda sacou do bolso uma sacola de plástico do mercadinho da esquina e começou a sufocar Ezequiel para que ele parasse de rir. Ela teria ido mais longe, mas aí ficaria sem o marido para criar os filhos, fora que ele não tinha seguro de vida, ou seja, ele valia mais estando vivo.

— Rapaz você quer mesmo comprar uma briga comigo?

— Pago até com notinhas da terra do tio sam. — Igor sacou da carteira algumas notas de dólar. — Qualé chefia, vamos ser frangos. se tu tivesse sido cuidadoso e não tivesse ficado satisfeito ainda daria pra fazer a troca dos sete dias, e olha que teu produto nem deveria entrar nesse quesito.

— Ora uma pinóia que não deveria!

— Chefe tu tá querendo mesmo ter razão aqui? Tu passou sete dias seguidos cutucando a parada sem nenhum tipo de líquido ou descanso. Tu realmente achou que tua boneca inflável não iria estourar?