Era da Opressão escrita por P B Souza


Capítulo 11
10; Fuga e anonimato




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Rosa e Garofano. 17/02/0165

As mulheres com suas vassouras de palha varria as calçadas jogando a sujeira para o que antes eram canais inundados. Limpavam as cinzas das fogueiras e juntavam os destroços das madeiras ainda em brasa, empurravam os restos de seus pertences destruídos, abrindo caminho para continuar o dia-a-dia. Independente do que acontecia, a vida precisava continuar.

Os homens juntavam os corpos dos que estavam mortos, eram outros homens, mulheres e até mesmo crianças. Alguns já enrolados em lençóis imundos, sanguinolentos. Outros homens juntavam os pedaços maiores de madeira que não queimavam por completo, empurravam grandes destroços e ajudavam os feridos que surgiam lá ou cá.

Grino observava pela janela

— Alguém entrou. — Grino sussurrou para Alayza, e fez sinal para que ela fizesse silêncio. Puxou seu revolver do cinto nas costas, com a outra mão jogou o capuz sobre seu rosto escondendo sua face nas trevas.

Tinham retornado para a casa de Alayza, mas o que queriam ali? Não havia nada que a garota quisesse, ou que Grino encontrasse que ajudasse a imaginar o paradeiro da mulher.

Se esgueirou feito uma cobra para um ponto cego na parede da porta do quarto, aonde tinha a vantagem contra o invasor. Alayza se encolheu, agarrando os joelhos com os braços, tentando não emitir som algum. Ouviam os passos. Os dedos de Grino estavam envoltos na arma, seu indicador no gatilho, pronto para disparar, ele conseguia ouvir os eletroímãs construindo a carga para o momento.

O invasor chegando mais perto, até estar perto o bastante.

Grino pulou para fora do quarto, esticando um braço, segurou o pulso do invasor e girou-o, fazendo que ele ficasse de costas para o quarto, assim sem ter linha de visão de Alayza. A arma apontada para sua cabeça.

— Parado! — Grino exclamou com um timbre forte. O homem só não ficou completamente imóvel pois tremia de medo. — Não é da guarda. — Ponderou soltando o pulso do homem e recuando um passo, mas a arma ainda em punho, ainda apontando para o homem.

— Só estamos recolhendo os mortos, senhor. Só isso.

O homem olhou para o chão, aonde os guardas que Grino havia derrubado ainda estavam. Então manteve o olhar baixo, como se rendido não apenas pela arma, mas sem nenhuma vontade de lutar. Como se fosse derrotado, não no momento, mas na vida inteira.

— Continue seu trabalho em outras casas. — Grino guardou a arma e empurrou o homem para frente. — Não diga sobre isso para ninguém. Vá!

— Misericordioso, senhor. Obrigado, obrigado.

Com as mãos juntas o homem agradeceu, balançando a cabeça e saiu andando depressa dali, sem levar consigo nenhum corpo. Grino retornou para o quarto, puxando seu capuz. Olhou a garota.

— Escuta; vou te levar para um lugar seguro, mas preciso que me escute com atenção. Sei que não confia em mim ainda…

— Eu quero encontrar a minha mãe. — Alayza disse com um tom quase fúnebre.

— E só vamos encontra-la se sairmos daqui com vida. Você tem amigos que te reconheceriam?

— Não tenho muitos amigos.

— Inimigos? Conhecidos? Vizinhos…

— Não, não me misturo com quase ninguém. O que isso tem…

— Então confie em mim. Vou te levar para um armazém aonde estão os meus, mas cobrirei seu rosto para que não lhe vejam. Se esses guardas tem sua mãe, podem muito bem ir atrás de você. Fingiremos que você é só um corpo e eu sou só um homem como aquele. — Grino puxou seu capuz e deu para Alayza. — Coloque isso, vou lhe carregar, tudo bem?

Alayza pegou o capuz de Grino e olhou para o tecido por um momento, o cheiro era de sujeira, como se há tempos não fosse lavado. Colocou o capuz a contragosto prendendo os botões de pressão em sua camiseta.

— Qual o seu nome? — Ela perguntou então.

Grino foi até a garota e com cuidado envolveu-a em seus braços, levantando o corpo de Alayza da cama, como se carregasse um corpo morto, mas nas sombras que o capuz lançava contra aquele rosto que ele encarava agora tão próximo, podia ver os olhos brilhando, Alayza olhou para o lado, sentindo os braços de Grino a segurar, disfarçou-se de defunta, fechou os olhos e tentou se concentrar em nada além de permanecer estática. Podia sentir ele respirando com mais força para suportar seu peso.

— Meu nome é Rider. — Grino respondeu, e então começaram a andar. E ele nada mais disse, pois para todos carregava um corpo, e não se fala com os mortos.


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