Era da Opressão escrita por P B Souza


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá gente que gosta de distopia :3
Eu to começando essa história de novo depois de 2 anos parada... e acho que agora vai (ainda mais que agora a história já está toda escrita né)!
Entrem na velha Londres, ou na nova "Terras do Rei", e vamos pegar o trem com destino à Estado Cinque, ou a velha Veneza!
Boa leitura :)



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Prólogo.

Terras do Rei. 15/02/0165

Após a guerra, alguns anos depois da grande explosão, Digon Gerhard viajou do Leste para o Oeste até o Canal da Mancha e o atravessou, fundando ali As Terras do Rei, aonde pela primeira vez Digon decidiu implantar uma monarquia com política de transparência governamental e diálogo no lugar da já utilizada força e repressão nas outras colônias. Uma saída diplomática, um teste social. E as Terras do Rei floresceram em velocidade excepcional, até…

Antes da guerra, aquele lugar era Londres. E a base do governo continuava sendo o opulento e ainda inteiro Palácio de Westminster. Os limites eram em um raio de 62 quilômetros a partir do Palácio, e as políticas de informação, direitos individuais, produção de recursos, economia, cultura, religião, educação, distribuição de bens e o resto continuavam restritas, em grande parte, sob controle do estado; do rei, mas nas Terras do Rei a liberdade mesmo escassa era superior à de qualquer outra colônia do Fundador.

Os pouco mais de duzentos mil habitantes viviam dia após dia em um loop infinito de instruções a serem seguidas, leis a serem obedecidas e punições a serem aplicadas.

Nem de longe lembrava a grande Londres de oito milhões de habitantes antes da guerra; a cidade ecológica, sustentável, próspera e símbolo por todo o mundo. O que as Terras do Rei recordavam era o período industrial e sujo de Londres, ruas abarrotadas de pobres e crianças trabalhando nas fábricas. Alta taxa de crimes, poucos solucionados; alguns bairros ricos vivendo realidades distintas como se o mundo ao redor sequer existisse. Tudo de novo, um loop sem fim, repetindo a história.

— Alguém ficaria orgulhoso! — Edward pontuou enquanto amarrava os explosivos um aos outros, os fios descascados se unindo enquanto ele os isolava com maestria. Sua voz estava carregada de alegria.

— O motivo é o mesmo, só muda o nome do feitor. — Grino respondeu evitando maiores conversas. Nunca fora do tipo que falava demais, diferente de Edward. Puxou o fio por onde passaria a corrente elétrica e foi o esticando.

Há muito tempo eles estavam naquilo, e Grino não era o protagonista do golpe, mas sim apenas mais um a se juntar ao movimento. As terras do Rei, depois do ano de 149, haviam caído em uma espiral de desastres interligados coordenados por um grupo desconhecido ao governo, mas que conhecia bem o próprio governo. O Fundador tinha cortado o suprimento de recursos suplementares, armamentos, munição, medicação… tudo que era importado. O governo das terras do Rei estava no escuro, sem nenhuma ajuda vinda do Fundador ou de qualquer outra colônia, tendo de se manter autossuficiente, acabava perpetrando mais miséria. E com menos importações, as corporações gastam menos, assim seus investidores lucram mais sem nunca investir em solo nacional para melhorar a situação nacional. Grino conhecia como funcionavam as empresas; lucro, era apenas o que importava.

Em 149 tudo havia começado. Um grupo de manifestantes surgiu, foram massacrados em seguida, mais alguns sobreviveram ao massacre orquestrado pelo Rei.

Os sobreviventes fugiram e começaram a se encontrar escondidos no enorme sistema de esgoto não patrulhado da cidade. Londres era servida com o maior e mais complexo sistema de esgotos do mundo conhecido e civilizado. As Terras do Rei herdaram esse verdadeiro labirinto para qualquer um que quisesse se perder, ou, no caso dos sobreviventes do massacre, se esconder.

O povo ficou chocado com a chacina que o governo engendrou. Na maior hecatombe das Terras do Rei, mais de duzentas pessoas morreram na manifestação por direitos.

Então aqueles ainda corajosos o bastante para se levantar e lutar começaram a falar com as pessoas que se sentiram mais abaladas com a carnificina; mães, irmãos, irmãs, esposas e maridos, pessoas afeiçoadas aos mortos no massacre, esses entraram para o grupo com uma velocidade fenomenal. E o que parecia um investimento falido se mostrou uma empreitada promissora. Assim surgia a insurreição.

Em 157 aquela investida já contava com mais de cinco mil pessoas que pichavam construções públicas, roubavam bens do governo, sequestravam e matavam oficiais corruptos e outras ações que pioravam mais e mais o cenário político externo e interno das Terras do Rei. Em 160, nove homens da guarda, dois generais e um soldado foram assassinados em praça pública por traição e afiliação aos rebeldes. O governo percebeu naquela ocasião que estava infectado pelos rebeldes. Até mesmo nos níveis internos da gestão contraterrorismo os rebeldes estavam infiltrados, eram uma força que não poderia mais ser parada. Foi em 160 que o Rei soube que não haveria vitória, pois sofrera a maior das derrotas.

— Cadê o comunicador? — Grino perguntou para seu parceiro após terminar com o fio.

— Aqui, estou calibrando para uma frequência… segura. — Entregou duas peças para Grino.

Grino pegou o primeiro, um fone wireless, e colocou na orelha. Ouviu um zumbido como se abelhas o rondassem, em seguida pegou o segundo que era achatado e tirou a proteção plástica de um lado, encostou em baixo do lábio inferior, na lateral do queixo, a cola aderiu à sua pele.

— Sony, aqui está pronto, já arrumou os vagões? — Olhou ao redor vendo o trabalho dos rebeldes se concluir.

Seu comunicador apitou ao receber o sinal pela primeira vez, então a voz do amigo confirmando tudo. Grino fez um som de concordância sem falar mais nada, se virou e saiu andando. Estavam dentro de um túnel amplo onde um vagão aguardava mais à frente sob os trilhos velhos, mas bem conservados.

Caminhou até o vagão e contornou-o, na parede um pequeno nicho revelava uma escada estreita para cima e um espaço vazio com um hidrante quebrado e seco. Havia também, no nicho, uma porta escancarada com a placa simbolizando a escada, no chão uma mochila preta que emitia um pequeno bip. Pegou-a e abriu o zíper puxando de dentro seu tablet. A tela já acessa tinha um aplicativo aberto, Grino deu alguns cliques até ver o que queria.

— Nos acharam! — Disse calmo se levantando guardando o tablet de volta na mochila, fechou o zíper e passou a alça pelos braços, jogando a mochila nas costas. — Mandaram uma equipe de quatro guardas atrás da gente. Eu disse que os detectores de calor lá em cima eram boa ideia. — Argumento enquanto fechava a porta de acesso ao nicho da escada e hidrante por onde os guardas desciam.

— Por onde vou? — Edward perguntou.

Grino puxou seus dois revólveres dos coldres na cintura, armas grandes com pente estendido e silenciador, com as iniciais GJ talhadas no cano de ambos os lados.

— Bem ali! — Gesticulou.

Grino dobrou os braços na frente do corpo, se preparando para o que viria a seguir. Tentou focar no que podia ouvir; passos, vários pés, rápidos e despreocupados. Sabem que estamos em guerra, mesmo assim ignoram o protocolo. Por isso vão morrer. Foi quando a maçaneta girou.

Do outro lado os quatro guardas desceram a escada, um deles encostou na maçaneta e girou-a destravando a fechadura, foi quando a porta inteira estremeceu sendo escancarada com o som das dobradiças se rompendo dado a fragilidade desta e o guarda foi jogado para trás caindo no chão, então a porta recuou de volta para o batente e um tiro atravessou seu material passou por um dos guardas e acertou outro.

Os dois em pé se olharam puxando suas armas não letais enquanto um se levantava e o quarto já estava morto. O tiro havia acertado, de alguma forma, a cabeça deste.

Então quem escancarou a porta foram os guardas. Um pontapé as últimas dobradiças estouraram de vez, a porta girou passando dos limites do batente e servindo de cobertura para Grino permanecer nas trevas do túnel, ignoto.

Aproveitou-se da vantagem imprevista e se encostou na parede usando a porta para manter-se inexistente aos três guardas restantes. Dois estão alertas, mas um deles sente dor na cabeça e no corpo após a queda devido ao impacto contra a porta. Planejou a tática que usaria.

— Parado! — Disse um dos guardas olhando para Edward que estava na linha de frente com uma arma letal na mão, mas este levantou as mãos e foi se ajoelhado no chão como se fosse se render.

Outro guarda passou, apenas um estava ainda no nicho da escada, o que sofria dor pela pancada contra a porta, ele continuou escondido pela porta arrombada, as dobradiças estouradas. Esperava o momento exato.

O primeiro guarda avançava para prender Edward, mas pisou em alguma coisa que estralou, ele olhou para o chão e então tudo aconteceu muito rápido.

O segundo guarda estava entre o primeiro e terceiro, apenas um passo à frente de Grino. O primeiro guarda abaixava a cabeça para ver no que teria pisado. O terceiro saia do nicho naquele instante.

Grino empurrou a porta que o escondia com toda sua força. Ouviu o baque da pancada do terceiro guarda contra a porta novamente, que se fechou contra ele e então se soltou das dobradiças caindo de lado no chão. Agora com o revolver nas mãos, mirou e acertou um tiro que trespassou o peito do guarda a sua frente e colidiu contra a parede do vagão com retinir de metal. Seu parceiro apenas girou a arma na mão, ainda de joelhos, e quando o primeiro guarda se deu conta do que acontecia o disparou lhe atravessou a mandíbula de baixo para cima e o corpo sucumbiu no chão.

Os dois guardas caíram no chão mortos. Edward se levantou e correu para o nicho de onde desarmou rapidamente e puxou o último guarda para os trilhos, manteve-o sobre a mira da arma.

Grino olhou ao redor, o defunto do quarto guarda no nicho, o primeiro e segundo guardas caídos sobre o trilho, o terceiro encostado na parede, rendido.

— O que vocês vão fazer? — O guarda perguntou, sangrava pela boca e pela testa, provavelmente onde a porta o acertou nas duas vezes em que Grino a empurrou contra ele. Cuspiu o próprio sangue ao lado e voltou a encarar os dois agressores, Grino devolveu o olhar, mas com misericórdia.

Nunca fora cruel ou injusto, menos ainda precipitado, mas agora não havia volta. Os guardas logo seriam contatados pela central, e na ausência de uma resposta, mais unidades seriam enviadas para a última localização conhecida deles, se não agissem rápido todo o plano poderia ser afetado.

— Explodir o palácio de Westminster. — Grino respondeu, não havia motivos para mentir. Se conseguissem em tempo, tudo daria certo, se falhassem, aquele homem saber ou não seria irrelevante, pois o plano já teria sido descoberto.

— Por quê? — Ele tentou perguntar cada vez mais engasgado no sangue.

Grino se abaixou olhando para o homem sem ter nenhum prazer naquilo.

— Porque sim! — Não precisava explicar os motivos dos rebeldes. Então com uma pancada, espalmou a cara do guarda contra a parede, e este desmaiou.

Grino passou os dedos fechando os olhos do homem, continuou agachado por mais alguns segundos, então tomou forças e se colocou de pé, suspirando.

— Tira eles dos trilhos e vamos. — Disse para Edward apontando para um dos guardas caídos sobre os trilhos. Ele mesmo pegou o outro e depositou o corpo no nicho. — Vamos mais rápido com isso. — Disse olhando para o túnel na sua frente na esperança que este se encurtasse nem que por mágica. Estava cansado daquele longo dia.

Pegou os pés e seu parceiro as mãos do último guarda e depositaram no nicho ao lado dos outros três. O caminho estava livre novamente. Os corpos amontoados em cima da porta caída.

No fim do túnel a luz do trem surgiu, assim como o som de seu motor.

— Vamos engatar! — O parceiro pareceu animado ao correr para o vagão que havia preparado.

— Sim. — Limitou-se a responder só para não deixar tudo no silêncio.

O trem já chegava pelo túnel diminuindo sua velocidade, e deste, ainda em movimento, um homem desceu com um pulo retomando o equilíbrio e ligou o novo vagão cheio de explosivos ao trem de quatro vagões de onde tinha vindo.

— O que estão fazendo aqui? — Era Sony, o melhor amigo de Grino.

— Distração! — Grino respondeu mostrando os guardas amontoados. — Mandaram guardas, não podia subir e deixar as bombas sozinhas.

— Um minuto! — Sony pediu enquanto dispensava Edward e tomava as rédeas de tudo.

Ele tinha um sorrisinho infantil como de criança arteira. Saiu trotando e assoviando de volta ao trem engatado no vagão da frente de forma pouco convencional lembrando a frase “não coloque a carroça antes dos cavalos”, mesmo nesse arranjo estranho das máquinas a locomotiva de cinco carros começou a andar.

— A carroça literalmente está na frente dos bois. — Edward disse fazendo alusão ao fato do primeiro vagão não ser o do motorista e sim o da carga.

Sony pulou do trem já em movimento que começava a ganhar velocidade.

— Está com seu computador aí? — Sony perguntou após retomar o equilíbrio.

Grino pegou o tablet de dentro da bolsa e entregou para Sony que colocou a senha padrão do grupo, abriu uma nova guia no navegador e acessou o controle dos trens.

— Vamos subindo que daqui a pouco vai esquentar aqui em baixo! — Ele disse olhando um mapa aonde os dois únicos trens na rede de metro se moviam, na mesma linha, um em direção ao outro.

Os três subiram as escadas após pularem os corpos, quando chegaram no topo uma comissão os aguardava, mais dez homens dos rebeldes, todos disfarçados, mas os rostos eram sempre um bom uniforme para reconhecer amigos.

— Vamos indo. — Grino disse para eles com uma voz em tom de comando, havia escalado depressa À liderança. — Temos outro trem para pegar.

Todos anuíram em concordância.

Sony controlava pelo tablet a velocidade dos dois trens que deveriam colidir no lugar correto: Em baixo do Palácio de Westminster, em baixo do coração do governo das Terras do Rei. Se um trem fosse muito rápido ou muito devagar, a colisão seria fora do local ideal, então o resultado seria o fracasso.

— Temos que nos apressar, os trilhos vão mudar em quatro minutos e meio, se eu avançar os trens agora o impacto não vai ser forte o bastante, então temos que ir.

— Onde está o resto? — Grino assentiu para Sony conversando com outro dos seus homens.

— Certificando que o nosso trem vai sair. — Outro homem respondeu. — Os outros que vão ficar estão cuidando dos outros espetáculos.

— Muito bom. — Ele disse entrando em um carro, outros homens entraram em outros carro e motocicletas ao longo da rua.

E logo todos saíram rumo à estação de trem central das Terras do Rei, porém as estações estavam sempre fechadas ao povo, afinal, para onde viajaria; o mundo era deserto e as outras colônias não aceitavam estrangeiros.

Grino parou de acelerar o carro, freou até parar sutilmente, os carros atrás dele também, todos desceram na estação, havia cadáveres de guardas do governo por todos os lados. Era de se esperar uma resposta ágil das forças táticas do Rei, mas os oficiais responsáveis estavam ou mortos, ou a favor dos rebeldes. Quando o grande círculo percebeu que a nobreza, tal como a realeza, cairia, se tornou fácil converter grande parte à favor da revolução em troca de segurança após a realização do golpe.

— As bombas daqui?

— Armadas com o devido atraso. — Um dos rebeldes informou enquanto eles adentravam a estação.

Grino abriu um sorriso para si mesmo enquanto andava, estava tudo dando certo. Como o planejado, era até estranho ver as coisas dando certo desse jeito, mas a mente brilhante de seu tutor e mestre tinha planejado tudo aquilo por anos. Era aquele o grande dia. Eu só preciso executar o plano, vai dar tudo certo!

Entraram no interior da estação, havia um trem com as portas abertas e mais rebeldes dentro, e todos os outros trens tinham sumido dali. Todos estão carregados e com destino para algum lugar importante das Terras do Rei.

— Plataforma onze com destino à Estado Cinque, último trem a deixar a cidade com autorização do próprio Rei. — Grino olhou para a mulher falando com ele em especial. Era graciosa e encantadora, Ennie era de longe a melhor coisa que aconteceu com ele, provavelmente desde sempre.

— O que eu seria sem você? — Grino passou por ela dando-lhe a mão e olhando em seus olhos com uma admiração enorme. Embora todos vissem nele o líder e o guerreiro, o próprio Grino via tudo isso em maior qualidade em Ennie.

— Um nobre egoísta enfurnado em um palácio prestes a explodir? — Ela respondeu de prontidão se virando contra a porta. — Todo mundo já entrou nesse trem?

Riu enquanto as portas se fechavam.

— Armando pra doze… Não, onze segundos! — Sony disse apertando um botão verde em seguida. O trem começou a andar com todos lá dentro e a estação vazia ao redor.

Aquele trem era um trem de carga preciosa, simples cinco vagões, dois destinados para tripulação, um para segurança, um para carga e um para cabine de comando.

Era incrivelmente rápido, saltou da estação como uma bala e a velocidade só aumentava. Devia ser rápido, pois era um dos trens que cruzava continentes de uma colônia a outra levando bens de valores inestimáveis.

Grino olhou pela janela, tinha a vista do rio tamisa, pois eles passavam por uma ponte erguida por cima da muralha nova, atrás deles um clarão surgiu, junto de uma bola de fogo com destroços e fumaça, mais explosões, a estação inteira foi pelos ares em mais de vintes explosões seguidas.

UHULLL! — Sony berrou olhando pelas janelas o fogo subindo no céu em bolas negras de fumaça, agarrou uma das rebeldes ao seu lado e roubou-lhe um beijo. A mulher em retorno lhe agarrou os cabelos e retribuiu. Grino sorriu ao ver a animação de todos no trem.

Se sentou olhando pela janela como todos os outros. Era tempo de assistir ao espetáculo de décadas de trabalho rebelde.

— Que queima, não?! — Ennie se aproximou dele.

— Meu prêmio é outro. — Ele respondeu em um tom mais mórbido que o esperado.

Mais uma explosão do outro lado do tamisa, essa levou uma nuvem de fumaça menor para o céu, mais ainda assim era uma explosão.

— Sony, por que não está explodindo? — Grino estava tão apreensivo quanto possível olhando para uma única construção.

— Calma, chefe! — Sony riu pegando o tablet, então virou a tela para Grino. — Tá tudo em ordem!

Grino antes feliz agora estava com medo, medo que desse tudo errado, mesmo vendo que os trens estavam em rota de colisão em velocidade considerável, temia que tudo desse errado. Temia que o reino sobrevivesse.

Mas isso não aconteceu.

Quando eles subiram na ponte que cruzava o tamisa indo embora das terras do Rei por cima da muralha Grino viu o que um homem tentou fazer em 5 de novembro de 1605.

O palácio de Westminster rompeu de dentro para fora, as paredes pareceram inchar nos primeiros dois segundos, expandiram, racharam e se separaram o brilho da explosão jogou tudo para cima com uma onda de choque. Fogo fumaça e detritos, a torre do relógio envergou tombando sobre as ruas. Toneladas de concreto destruídas com apenas dois trens e uma bomba muito potente. Então tudo ruiu para a cratera no interior do extinto Westminster.

Grino abriu o sorriso de antes. Realização. Viu o tamisa entrando no buraco feito naquela construção e as águas apagaram boa parte das chamas inundando o lugar. Então o trem fez sua curva após ultrapassar a muralha e foi para o nível do chão, ficou impossível ver pelas janelas a cidade, independente dos lados que fossem.

— Você sabe o impacto disso não sabe? — Ennie disse com a mão no ombro dele.

— Se arrependeu de ter destruído uma das colônias do Fundador? — Grino perguntou para ela, parecia sério, sempre parecia sério.

— Não, mas eu te fiz uma pergunta que não respondeu. — Ennie rebateu.

— Sei, acabei de livrar a vida de pouco menos que alguns milhares de inocentes que eram escravizados, brutalizados e abusadas pelo governo, institui o caos, e o povo vai decidir como deve ser melhor seguir de agora em diante!

— A, tenho certeza que vai! — Ennie disse. — Mas você sabe a nossa situação, digo, agora. O que somos, o que fazemos, nossa culpa se formos pegos?

— Terroristas disseminadores do caos, insurgentes, anarquistas, rebeldes, criminosos, traidores? Parece assustador. — Grino olhou para Ennie com uma feição de esperança. — É bom o governo se lembrar disso, é bom que o governo tenha medo.

— Eu te conheço Grino, sei que está com medo, mais medo do que qualquer um aqui…

— Eu não tenho medo. — Ele disse se exaltando, mas percebeu que Ennie estava, de certa forma, correta, mas o medo não era por si próprio ou pelo que viria, mas sim pelos outros, aqueles que colocavam suas vidas em sua mão, aqueles que acreditavam em Grino. Ele tinha medo de estar errado, medo de não ser digno daquilo tudo, medo de estragar tudo agora que estava por conta própria. — E não quero te ver falando assim na frente deles. Não me desmoralize. — Disse mais baixo. — Eu sou o líder, não tenho medo!

Se levantou empurrando Ennie para o lado quando ela tentou lhe segurar, todos olharam para Grino, Ennie não esperou um segundo e foi atrás dele. Os dois estavam no vagão do motorista em seguida, mas não dentro da cabine.

— Grino…

— Não. — Grino se virou apontando o dedo para ela. — Isso… não pode acontecer.

— Desculpa! — Ennie disse olhando para baixo. — Eu só…

— Me desculpa, só que agora você, eles, milhões de vidas são minha responsabilidade, em uma explosão eu me tornei um líder. E eu não sei liderar, nem na terra que eu ganhei eu vou ficar. Antes era mais fácil, só seguíamos o plano, agora eu tenho que criar um — Grino olhou para ela levantando o rosto de Ennie pelo queixo. — Eu sei o que somos agora, e como estamos. O impacto disso é guerra, mas não sei se estamos preparados para uma guerra.

— Não precisa falar disso agora, eu estava errada, a gente tem que comemorar.

— Guerra é guerra Ennie, está na hora de lutar e encarar ela, não comemorar, o Fundador não vai facilitar, não vai deixar isso barato, assim que chegarmos em Veneza o lugar vai virar um inferno, pessoas vão morrer. Inocentes vão morrer. E a culpa é minha.

— De todos nós…

— Eu sou o líder, a culpa é minha. A responsabilidade é minha!

Ennie virou e abriu a porta para o vagão anterior, de costas para ele disse.

— A segunda Era é um inferno Grino! Pessoas morrem, não é culpa de ninguém. Você mais que qualquer um sabe disso!

Ela passou pela porta que se fechou com o silvo metálico da hidráulica. Grino encostou as costas na parede do trem e deslizou até se sentar no chão, levou às duas mãos no rosto subindo-as pelo cabelo, bufou. Ele mais do que qualquer um sabia daquilo, e ele estava consciente do preço a pagar. Era pela liberdade, não de uma colônia apenas, mas sim de uma raça, era pela liberdade da raça humana.


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Notas finais do capítulo

Ufa, que inicio comprido!!Mas acho que deu pra pegar o grosso de tudo né? Um pouco de ação, dos personagens, da relação deles, da história de fundo... se algo ficou confuso, arrastado, desnecessário, me falem, plis :)
E não esquece de colocar a história nos acompanhamentos! É como minha vó diz, uma andorinha só não faz verão!
Pra revolução dar certo, preciso de todos vocês nas ruas... digo, no nyah!



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