Era da Opressão escrita por P B Souza


Capítulo 2
PARTE 01: O mundo do Fundador.


Notas iniciais do capítulo

Olá!!
Esse é o primeiro capítulo da parte 1! Serão algumas partes, cada uma fechando um arco da história e cada arco focando em um tema especial!! :)
Espero que gostem, e boa leitura :D



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PARTE 1

O MUNDO DO FUNDADOR

01; Comunicado.

Estado Cinque. 15/02/0165

A fortaleza de São Marcos outrora fora a imponente casa de Deus e dos Doges. Agora Deus não era lembrado e os Doges já não existem. Outros tempos, mas as injustiças não eram diferentes agora do que no renascimento.

A construção original mantinha sua arquitetura bizantina, mas o interior destoava. Em uma das muitas mudanças a sala de reuniões dos Cinque foi implementada, um quarto vedado, uma única entrada em forma de eclusa. Nada dito ali dentro podia ser rastreado ou escutado por alguém do lado de fora. Apenas os Cinque entravam ali, os Cinque e a presença do Fundador, mas apenas pelas chamadas de vídeo, nunca pessoalmente.

— Sim… entendemos a situação e faremos um comunicado geral assim que formularmos um, Ó, Fundador! — Dama Diamante disse olhando para a câmera na frente deles, a tela não estava acessa, a chamada de vídeo não era recíproca, raramente era.

A sala era pequena e dispensava qualquer decoração focando na funcionalidade, possuía apenas a mesa e as cinco cadeiras, duas de um lado, duas do outro, a cadeira de Dama Diamante na ponta da mesa voltada à porta, na ponta inversa um monitor que recebi sinal através de um cabo blindado que vinha diretamente do servidor central da antiga basílica.

O monitor, porém, raramente mostrava alguma imagem e quando o fazia nunca era algo bom de se ver.

— As Terras do Rei não fazem mais parte dos assentamentos e colônias do Fundador, senhores e senhora. — A voz que vinha pelas caixas de som nas laterais do monitor era mecânica e andrógena, nem de longe a voz real do fundador. — Hoje os rebeldes explodiram cinco prédios, entre eles a casa da moeda, prédio do governo, instalação das forças armadas e a estação de trem internacional. Não sendo o bastante o Palácio de Westminster também foi demolido com uma explosão, que aniquilou toda a ordem da colônia, assim como registros e documentos e informações e os servidores offline, além disto tal atentado tirou a vida de boa parte das forças armadas leais e guardas que mantinham a ordem. As Terras do Rei estão em estado de calamidade, os rebeldes tomaram o controle das ruas sendo apoiados pelo povo e o Rei se encontra desaparecido ou morto, o que é irrelevante uma vez que o local está sendo oficialmente retirado dos assentamentos oficiais, sendo assim transformado em inimigo da Fundação!

— E o trem com a carga que seria entregue… — Coríndon questionou, visivelmente preocupado, mas foi interrompido pelo Fundador.

— Este trem saiu da estação antes da explosão e está a caminho neste exato momento, seu rastreador ainda está funcionando. E sua carga, creio que não precise explicar, é de imensurável valor para a Fundação! — O fundador enalteceu o valor do conteúdo que viria no trem. — Vou ainda repassar essa mensagem para as outras colônias atuais e os assentamentos iniciais. Nenhuma mensagem deve ser enviada para as Terras do Rei, nenhum auxílio. E caso qualquer pedido de socorro chegue em seus servidores sem passar pela capital, vocês devem me avisar, ou o ato será considerado de traição. Ninguém fora dos círculos do governo deve sequer saber que Terras do Rei existem, quão menos o destino que terá em breve.

— Mas… as pessoas? — Coríndon perguntou, um olhar de dúvida que os outros Cinque não compartilhavam.

— Se o destino delas lhe incomoda tanto assim que o trem chegar, pode descarregar, embarcar e retornar para lá para prestar seus serviços a um novo Rei. Ultimamente o povo de lá tem tido um carinho tocante com políticos, tenho certeza que seria bem-visto. — A voz soou sádica pelas caixas de som, mesmo sendo distorcida. — Para todos os efeitos, hoje todos devem lembrar seu povo que qualquer tentativa de se rebelar contra o governo será tratada de forma brutal. A liberdade dada para as Terras do Rei não será dada a mais ninguém, não existe mais o benefício da dúvida, a chance de se explicar, só existe a culpa e aquele que servirá de exemplo, fui claro? — A voz metálica saiu, agora, estrondosa e autoritária como centenas de raios e relâmpagos.

Os cinco fizeram que sim com suas cabeças, nenhum ousou especular.

— Dentro de uma semana envio o novo pacote de leis a ser integrado ao código do Estado, até lá mantenham como está e amedrontem o quanto for preciso, não quero mais revoluções ou revoltas por bons anos.

Então um apito mostrou que a reunião tinha acabado. A porta atrás deles destravou com um sonoro clique do trinco.

Os cinco se levantaram, um a um saíram da sala para os amplos salões da fortaleza.

— Quem vai falar? — Feldspato perguntou, sendo o primeiro a quebrar o silêncio entre eles.

— Eu! — Dama Diamante disse, dura como seu nome insinuava ser! — Continuem seus afazeres, cuidarei disso antes que Londres se repita em Veneza.

Feldspato pensou em como Dama Diamante adorava ouvir a própria voz ressoando por todos as vias e vielas da cidade, como um fantasma impondo ordem através do medo, era de se esperar que fosse ela a falar ao povo.

E por sua vez Dama Diamante não fez mais nada aquela tarde se não se preocupar sobre como amedrontar o povo. Ela sabia que não era por maldade, mas sim pelo bem deles; as pessoas quando estão livres perdem a noção da realidade, acham que liberdade e libertinagem são a mesma coisa e abusam. Para isso que existia o governo, liberdade descabida resultava em destruição, mortes. O dever dos Cinque era evitar isso, prezar pela vida.

Dama Diamante tentou refletir um tempo sobre Londres, mas aquilo era assustador demais para ela. Muitos oficiais e políticos tinham morrido aquele dia, mais um em especial não estava morto. Ela esperava que não estivesse, conhecia o rei e era um bom homem. Talvez bom demais. Talvez por isso tenha caído. Às vezes ela concordava com o Fundador, acreditava que a força era a única forma de controlar aquele povo ensandecido, mas então se lembrava do Rei e seus discursos, e pensava se estavam fazendo o certo. Ele deve estar morto, seus discursos bonitos e palavras meigas o levaram para a morte junto de milhares e resultou nos rebeldes que lhe destruíram a colônia. Não, não há sutileza. Um coração mole é facilmente perfurado. Pensou.

*****

O relógio da estação de rádio e televisão central marcava cinco horas e cinquenta e oito minutos.

— Às seis horas. — Um dos assistentes disse indo ao lado de Dama Diamante. — A transmissão vai ser total, todos os rádios e televisões ligados independente dos canais. O discurso será impresso também e amanhã estará nos jornais, todos eles.

— Ótimo. — Ela disse, educada como gostava de ser, mas pouco afável. — Agradeço.

O homem fez que sim com a cabeça e se retirou sem incomodar mais, ela olhou para frente, o microfone, mais a frente uma câmera, uma parede de vidro, do outro lado um relógio enorme, uma placa escrita “ao vivo” em neon ainda apagado, e um homem olhando para ela, era seu assistente pessoal.

O relógio chegava às seis horas da tarde, Dama Diamante pegou o seu papel com suas falas, olhou para o microfone, e então deixou o papel na mesa crente que seu conteúdo já estava decorado. Haviam lhe oferecido o teleprompter, mas negou.

Seis horas em ponto. Seu assistente levantou uma mão com os dedos abertos e foi abaixando um a um, quando abaixou o quinto dedo Dama Diamante começou.

— Boa noite cidadãos de Estado Cinque. — Sua voz soava quase que meiga, era como uma real apresentadora e não uma política, não como Diamante. — O comunicado de hoje é referente ao nível de consumo de mantimentos e energia baseados em estudos realizados recentemente pelos nossos brilhantes economistas. Em um trimestre o consumo aumentou em 28%, o número de habitantes continua o mesmo, o governo então está aplicando o Comando de Consumo. Guardas da cidade passaram em suas casas, revistarão seus mantimentos e aqueles que estiverem com mais comida que o necessário serão punidos apropriadamente até que o consumo volte aos níveis padrões, as punições ocorrerão em diferentes níveis dependendo de quanto o excesso se der, sendo as punições multa, prisão e retomada de posses para redistribuição. Quanto ao consumo de energia vamos fazer cortes de distribuição por distritos por algumas horas, principalmente no período noturno, com exceção das fábricas que utilizam do período noturno para operar o maquinário em sua total capacidade. Em relação aos gastos do governo com mantimentos gostaríamos de avisar que também racionaremos como forma de dar o exemplo a ser seguido, começando pelo sistema carcerário. Para evitar o gasto de comida e energia com prisioneiros estamos declarando pena de morte para todos os crimes e acelerando o processo de julgamento para os prisioneiros atuais.

Ela parou de falar, olhou para o cartão, pequenas mudanças e drásticas ao mesmo tempo. A pena de morte para todos os crimes era a ideia principal, o racionamento de comida e energia era apenas o pretexto necessário para a pena de morte ser permitida, não havia aumento em consumo ou diminuição na produção, a população diminuía 2% desde o ano anterior, aquilo não era real, era apenas medo, medo que garantia a ordem. Aqueles com excesso de comida seriam acusados, os acusados não seriam presos, mas sim executados, o controle se intensificaria e economia seria garantida. Dois problemas, uma solução.

— Desejo a todos uma boa noite. — Disse por fim quando o “ao vivo” escureceu novamente.

Então seu assistente do outro lado desfez a expressão neutra, abriu a porta da sala de gravação e adentrou o cenário pegando o tablet de seu bolso.

— O que foi? — Dama Diamante perguntou enquanto se levantava e retirava o microfone de sua roupa.

— Minha soberana! — O homem disse virando um tablet para ela ver as cenas gravadas da câmera de um circuito de segurança da estação de trem internacional de Estado Cinque.

Dama Diamante pegou o tablet nas próprias mãos. Viu a porta de ferro se amassando, quebrando, um vagão de trem voando contra as escadas da estação, desgovernado, uma bola de fumaça branca surgindo, tiros, então o vídeo recomeçava.

— É um novo filme? – Perguntou sentindo o desconforto de quem começa a entender a situação. Devolveu o tablet para seu assistente. Apenas uma palavra ecoava na sua mente; Crise.

— Romperam a barreira e os relatos do Strike sete é de, pelo menos, cinquenta inimigos… o trem era… o trem das Terras do Rei!

 


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam de Dama Diamante? Devo acrescentar, os nomes dos cinco são codinomes (acho que deu pra notar), são baseados na escala de Mohs com os elementos mais resistentes encontrados em forma bruta na natureza, começa com Diamante, e vai até 10, passando por pedras preciosas, pedras comuns, até talco, mas eu parei no 5, de estado Cinque, estado dos cinco. :)
...
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