Peter, finalmente, terminou seu livro de poemas e estamos esperando a edição da editora. Lifems, sua junção de Life+Poems deve ser lançado em mais ou menos dois meses, mas, até lá, a melhor babá do mundo entra em cena e Lola não pode estar mais feliz. 

Chego em casa, exausta e jogo a chave na mesa, tirando meus saltos logo depois. Consigo sentir o cheiro da comida de longe. Aposto que ele está fazendo sua especialidade — ensopado de frango. É engraçado vê-lo cozinhando como se fosse o maior chef de todos os tempos, mas ele tem mesmo talento.

Lola está na sua cadeirinha preferida no meio da sala, desenhando em uma folha sulfite, mas para e me chama com as mãos gordinhas e fofas.

— Mamá, mamá, desenho! — Apontou a folha. Meu coração sempre se enche de amor quando ela me chama assim.

— Oi, meu amor, deixa a mamãe ver. — Me sentei no nosso sofá bege, muito melhor que o ex-sofá do Pete. A folha continha vários rabiscos de giz de cera azul. Sorri. Ela está orgulhosa e eu também. — Que lindo! Quem são?

— Eu. Mamãe. Papai. Doki. — Apontou para cada parte do desenho. Doc virou Doki, desde que ela chegou e ele parece feliz por isso, pois veio até ela e lambeu sua mão ao ouvir seu nome.

— Vamos guardar esse desenho lindo, então! E lavar as mãozinhas porque o papai já deve estar acabando o ensopado...

— Como você sabe o que estou cozinhando? — Peter gritou, da cozinha.

Dou uma gargalhada, mas não respondo. É tão óbvio e ele sabe, por isso ri, também. Lola e eu passamos pelo mural de cortiça, no canto da sala e eu penduro o desenho ali. Ele chama esse lugar de mural da inspiração, e é o lugar onde ele coloca poemas soltos, ideias e eu recorto figuras e trechos de revistas para decorar. Nossa pequena contribui com desenhos, figurinhas e embalagens de doces. Cada um se inspira de um jeito, nao é?

Lavamos as mãos e ela volta para a sala, guardando seus lápis no estojo enquanto eu vou matar a saudade do meu homem preferido no mundo todo. Meus braços cobriram sua cintura e olhei por cima de seus ombros enquanto ele terminava de cozinhar.

— Você devia se preocupar se eu tivesse errado o que você está fazendo nessa cozinha. Seria tipo um milagre. — Brinquei.

— A senhora está tirando um sarro da minha cara? — Se virou para mim, me surpreendendo com cócegas. Ri alto e me contorci, mas ele insistiu. — Está? Está, Rach?

— Não! — Ri mais, tentando desviar, mas ele me puxou, roubando um beijo.

Depois de uma dose de amor, arrumamos a mesa para nós, já que Lola come na sua própria cadeira com mesinha e Doc — ou Doki, sempre nos assiste com algum petisco. 

Peter insiste que Lola pode comer sozinha, porque foi muito bem no almoço. Eu sei que ela vai fazer bagunça, mas os dois estão me olhando com os olhos castanhos tão grandes e doces, que não posso negar nada para nenhum dos dois. Começo a comer e não demora muito para que as mãozinhas fiquem sujas. Eu avisei! Finjo estar brava, mas não consigo por muito tempo. Dou uma risadinha enquanto tento limpar tudo, mas parece cada vez pior.

Meu celular toca e é impossível que eu saia da mesa, agora, então peço para que Peter o atenda para mim. Pode ser importante. Ninguém me liga...

Não demora muito para que ele volte.

— Anna quer falar com você. — Suas sobrancelhas estão juntas demais para eu contrariá-lo e pedir para que ela ligue depois.

— O que houve? — Movi os lábios, sem voz enquanto me levantava e lavava as mãos.

— Não sei, fale com ela, eu cuido do resto. — Sua pose protetora é tão linda que não resisto e lhe dou um selinho ao pegar o celular.

— Tudo bem...

Saio depressa da cozinha e faço a curva, entrando no nosso quarto, que é o dobro do tamanho do antigo apartamento. Era como se tivéssemos juntado nossos quartos e transformado nesse.

Eu amo esse lugar. Nosso lugar.

— Alô?

— Rachel? Tudo bem?

— Tudo, Annie e com você? — Eu notei algo estranho em sua voz, mas preferi não confrontar. No seu tempo, ela irá me dizer.

— Sim, sim. Escuta, eu estou indo morar aí. Você sabe se o apartamento do Carter já está em bom estado?

— Hum... — Fiz uma pausa. Queria gritar! Aconteceu o que eu acho que aconteceu? — Bob disse que estão refornando o banheiro essa semana, porque com a reforma do prédio, deu um vazamento.

— Ah, deve acabar logo, então. Eu vou mesmo assim, dou um jeito. 

— Você pode ficar aqui comigo... — Cocei a testa. Ela não vai me dizer nada?

— Resolvemos quando eu chegar, então.

— E... Vem só você? — Eu preciso saber!

— Sim, sem Jonathan, sem casamento, sem nada. Só eu. 

— Eu... — Não quero dizer nada que a faça chorar estando longe de mim, então penso bem nas próximas palavras. — Estou muito feliz porque você finalmente vai morar perto de mim! Podemos brincar com as nossas Barbies qualquer dia desses.

— Ah, eu também estou feliz por poder ficar pertinho de você. E vamos brincar, com certeza!

— Isso! — Ela soou melhor e eu sorri. — Vem logo.

— Até mais tarde, te amo.

— Amo você, Annie.

Desligo e suspiro. É evidente o que aconteceu e por um lado eu fico feliz que ela tenha decidido deixar Jonathan para trás. Sempre soube que ele não era suficiente e não daria tudo o que essa garota cheia de energia precisa.

E por falar em energia, essa cidade tem tudo o que ela realmente precisa. Aqui, ela vai crescer como nunca. Vai aprender, sentir, viver, sonhar...

O 703 vai receber outra garota querendo recomeçar. 

O que será que está reservando à ela?

Saio do quarto e observo Peter e Lola brincando, depois do jantar. A risada dos dois é a minha música favorita. Estou sorrindo junto, mesmo sem participar. 

Foi isso que o 703 me ofereceu. 

Uma obra de arte, colorida como nenhuma outra.

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Quer mais?
Que tal partir para o livro dois O cara da sala ao lado e descobrir o que aconteceu com Anna na versão contada por ela?

Disponível aqui:  https://fanfiction.com.br/historia/710902/O_cara_da_sala_ao_lado/  (ou no meu perfil)

E é claro que o nosso casalzinho vai passar pelo livro sempre que puder!

Obrigada por se divertir, rir e chorar nessa jornada comigo. Espero que você siga aqui para as próximas aventuras.

Um super beijo Pechel!