— Corre!  — Will sussurra em desespero. — Corre, Corre, Corre! — repete freneticamente.

— Espera criança. Devagar. — May é puxada à força por Will. Ela tenta correr no ritmo que Will quer, mas May tem certa lerdeza por ser magrinha, é um pouco fraca e sem resistência.

— Vai entrar um punhado de gente na nossa frente! — Will, briga ainda com o tom baixo. Pega as pipocas que eu trouxe e Katty segura a caixinha com suporte de refrigerantes: Coca e Schwepps.

Corremos pouco, pois se nos apressarmos, de verdade, toda a comida irá cair.

E com muito esforço conseguimos chegar à fila para entrar na sala de cinema. Tem só algumas pessoas na nossa frente, mas nada que nos impeça de sentar nas cadeiras do fundo.

— Droga! — Will xinga virando e procurando algo que não é encontrado,  e vira para mim com uma cara de decepção. — Doces! — Lembrou de algo que nunca poderíamos ter esquecido. Que erro fatídico.

— Não! — falo indignada. Sou amante de doces, chocolate principalmente, não posso ficar sem eles. — Esquecemo-nos de comprar doce! — reclamo batendo os pés no chão, representando minha insatisfação.

— Vão à frente, eu compro! Guardem meu lugar! — diz Katty rodando o corpo com a ponta do salto e indo para o bar do cinema. E lá vai a Barbie loira nos salvar.

Estamos em momento missão, queremos pegar as cadeiras de cima do cinema, então cada um joga o ingresso para o Carinha que os está recebendo e seguimos direto para a sala.

— Sobe, Sobe, Sobe. — Will manda freneticamente. Vai marchando degrau por degrau.

Sentamos.

Um suspiro de alívio sai de nós.

— Ver filmes com vocês é muito cansativo. — May quase ri ao dizer. Arruma seus longos cabelos pretos que, apesar de ter cortado a franja ainda assim possui uma grande quantidade na cabeça de fios rebeldes.

Eu estou me recuperando da nossa corrida, mas ainda sorrio como uma boba no circo. Eu começo uma risada frenética e gostosa, não sei o motivo, talvez seja porque estou feliz e tenha que extravasar esse bem estar para meu exterior. Os meus amigos olham para mim de forma cômica e riem junto com a mesma intensidade. A sorte é que o filme não começou, pois nossa risada é audível de longe.

Eu não sei ao certo o porquê de eu estar rindo, eu simplesmente sinto uma sensação fantástica de felicidade. Algo ocorreu comigo, eu descobri algo sobre mim. E sei que tem muito mais, porém agora eu quero só curtir a companhia que está comigo.

— Lucy. — May chama-me e coloca a bolsa dela no chão. Prende os cabelos para cima, já que estavam mais para um Black Power do que para o liso escorrido que ela sempre usa.

— Eu descobri algo. — May informa. Will está arrumando sua poltrona do jeito que ele gosta: pipoca na esquerda, refrigerante na direita, e espaço para os doces no meio das coxas, entre outras coisas. O importante é que no momento não presta atenção em nós. — Uma comunidade. Chama A2, e tem um site que mandei para seu Facebook. O que importa não são os rótulos que dão, mas a essência da personalidade que citam lá. Depois veja o que tem, eu sei que é estranho ser algo diferente do padrão social perfeito e católico ou do padrão anglicano que a sociedade impõe, mas Lucy, nada é melhor do que o autoconhecimento, e autorrevelação. Isso minha cara, é a liberdade mais pura de sua existência.

— May... — Eu ia perguntar mais sobre o que ela está tentando me dizer, mas katty chega gritando. Subir escadas com saltos deve ser realmente difícil, pois dá para ver a fraqueza que a loira sente nos pés.

— Pega os doces aqui! — Katty joga um saquinho para cada um. — Vamos ver se esse filme é engraçado mesmo! — A loira senta e se arruma.

Logo o filme começa e mesmo que a trama no telão seja muito boa e interessante, eu penso no que a May falou, no que sinto, no que sou. E o filme deixa de ser meu objetivo naquele momento.