Os dias se passaram relativamente rápidos. Me abriguei em um dos prédios abandonados desde a singularidade, enquanto pensava no que faria para voltar para casa, sempre gostei das histórias que me contavam sobre os primeiros anos do Team Flash, mas nunca pretendi vivencia-los. Comprar um café decente estava mais complicado do que tentar mentir para John Johnson, que sempre conseguiu saber quando estava mentindo antes mesmo de pensar em mentir, várias cafeterias estão fechadas ainda, devido a singularidade, mas eu não desistiria de encontrar algum lugar aberto ou pelo menos que tivesse algo para vender. Já estava cansada de comer o que encontrava ‘perdido’ nos escombros de algumas lanchonetes, salgadinhos e barras de cereais já não eram mais o meu cardápio preferido, mas pelo menos estava dando para me virar. Ouvi algo vindo do estacionamento atrás de uma loja, algo me dizia para continuar andando, mas meu lado curioso e ‘protetor’ me fez fazer exatamente o contrário e caminhar a passos largos em direção ao estacionamento, onde havia um homem enorme e forte agarrando o braço de uma moça bem menor do que ele, tentando arrancar as chaves do carro de suas mãos. Eu sei que não devia me meter, deixar que tudo seguisse como deveria, mas ajudar uma moça indefesa em um beco escuro, não interferiria na linha do tempo, ou algo do tipo. Peguei um pedaço de madeira que encontrei no chão e me aproximei sem fazer barulho do grandão e acertei-lhe na cabeça com toda a força que pude, fazendo-o cair no mesmo instante. Neste momento ouvi o suspiro de alivio da jovem próxima ao carro, e me aproximei para perguntar se a mesma estava bem, mas nenhuma palavra saiu de meus lábios ao ver o rosto da tal jovem. Lembra quando eu disse que ajudá-la não interferiria em nada? Bom, eu provavelmente estava levemente enganada, já que eu acabara de ajudar Caitlin Snow, minha mãe. Se tem uma coisa que meu padrinho Cisco sempre me dizia sobre viagens temporais, é que NUNCA se deve ter contato com alguém de seu futuro. Eu até poderia tentar dizer algo e ir embora para continuar tentando evitar todos de quem mais sinto falta, mas uma dor estonteante na cabeça e o fato de tudo ficar preto no mesmo instante me impediu de tal coisa.

Acordei alguns minutos depois, mas não estava em um chão gelado e duro, pelo contrário, estava em um confortável e macio sofá. Abri os olhos e pude notar o forro do teto, era idêntico ao da casa em que morava com meus pais, daqui a 20 anos, olhei para o lado e vi mamãe com um saco de gelo se aproximando. – Você está bem? Coloque isso, vai ajudar com a dor.— Ela disse colocando o saco gelado no lugar onde fui nocauteada por aquele brutamontes, bom isso é o que eu imagino. Doeu pra caramba. – Por sorte não vai precisar de pontos.— Sentei me acomodando no sofá e segurando o refrescante ‘remédio’ sobre minha nuca. – A propósito, obrigada por me ajudar com aquele cara. Sou Caitlin. – Seu sorriso era tão tranquilizante e meigo, precisei me controlar para não pular em seus braços em um abraço apertado e acolhedor, como sempre fazia quando estava chateada ou machucada. – Ariane — Limitei nas palavras, não queria dizer algo que acabasse denunciando quem eu era, ou poderia vir a ser. Nem sei mais o que estou dizendo ou fazendo. Tentei me levantar para ir embora, mas fui surpreendida por uma irritante tontura que me impediu de dar dois passos e já me derrubou no sofá novamente. – Não se levante, você vai ficar sonsa por um tempo. Deveria descansar. – Colocou meus pés de volta no sofá e me deu uma manta que estava no outro sofá. Pensei em perguntar a ela como chegamos ali tão rápido, mas eu já tinha uma boa ideia da resposta. – Deveria ligar para seus pais, para dizer que está bem e que vai passar a noite aqui. Já está tarde e eles devem estar preocupados. – Disse me estendendo o telefone. Até pensei em pegar o aparelho e fingir ligar para alguém, mas nunca consigo mentir perto de Caitlin Snow Allen, então apenas acenei com a cabeça recusando o telefone e abri um leve sorriso, tentando parecer tranquila. – Não precisa, meus pais não fazem ideia de onde estou a semanas.— Vi nos olhos dela que queria me perguntar algo, ou me dar um sermão pelo fato de ‘sumir’, mas ela apenas guardou o telefone e sorriu me perguntando se gostaria de um chá ou café. Claro que aceitei o segundo.

Não sei ao certo como, mas com o passar dos dias me aproximei mais de minha mãe, – sem que ela soubesse desse parentesco, claro — e seus amigos. Confesso que tia Iris é bem mais divertida no futuro, mas gostei dela nesse tempo. Não tive muito contato com Professor Stein no meu tempo, pois ele passa mais tempo nos laboratórios fazendo suas pesquisas, do que no ‘mundo real’ como Joe costuma, ou costumava, ou costumara dizer. Já nem sei mais que verbo usar. Mas ele é um homem incrível, assim como todos sempre disseram. Papai, ou melhor, Barry é mais simpático e sociável do que será no futuro, acho que vou gostar dessa versão do meu pai. Graças a Iris e Cisco, passei a fazer parte da turma do Flash, sem que eles falassem sobre o velocista. Saiamos para beber ou comer algo toda semana, até o dia em que sem querer eu disse que Barry ser atingido pelo raio no ano anterior tinha sido um grande salto na vida de todos, pois assim todos passaram a ajudar a salvar a cidade e blabla. Grande estupidez de minha parte, mas também, sempre tive a boca grande, tive que passar dias me explicando sobre o comentário, até que consegui convencê-los de que liguei os pontos, já que todos os casos de Barry estão ligados aos do Flash. Desculpa boba eu sei, mas funcionou.... Pelo menos eu acho.