"Você parece uma sensação, é bom sentir"

James e Mia estavam sentados no jardim, ela colhia as flores e as ajeitava em seu próprio cabelo, ele fazia buracos na terra, extremamente entediado, mesmo que estivesse ao lado dela. Geralmente eles faziam coisas assim, sentavam ao lado um do outro calados, cada um respeitando o silêncio do outro, isso é claro, antes de James atacá-la com milhões de perguntas e piadinhas que ela não achava graça alguma, mas sempre ria, por ser algo extremamente idiota. 

— Meu pai ligou. - Ele disse, olhando para as próprias mãos sujas com terra. - Disse que o garoto que eu espanquei saiu do hospital. 

— Você se importa com isso? - Ela perguntou, esticando-se para arrancar uma muda de flores brancas. 

— Não. - Disse, simplesmente. 

Mia ajoelhou-se, colocando as mãos na cintura e fazendo uma pose, coçando a garganta para chamar a atenção do garoto. 

— E então? - Ela sorriu, esperando James dizer alguma coisa. 

O garoto olhou para ela, cada detalhe, começando pela calça rasgada e subindo pela blusa rosa, as luvas longas e coloridas, até alcançar seu rosto. Os lábios perfeitos e rosados, a pele branca e bochechas coradas, seus lindos olhos azuis, que, para ele, eram os mais iluminados faróis, até finalmente alcançar os fios coloridos. O cabelo estava preso, em um penteado bonito, com todas as flores coloridas que haviam naquele jardim. 

Ele sabia que seus olhos estavam brilhando naquele momento, como sempre acontecia quando ele olhava para Mia e constatava que ela nunca deixaria de surpreendê-lo.

— Maravilhosa. - Ele disse, limpando as mãos na roupa branca. - E cheirosa. 

Ela riu, se jogando nos braços do garoto em um abraço, o que também havia se tornado um hábito comum. 

— E você está parecendo um porquinho, Pudinzinho. - Ela disse, olhando com uma cara feia para as roupas do garoto. - Me recuso a deixar as pessoas me verem ao seu lado desse jeito. Vão pensar que somos loucos.

— Eles já dizem isso. - James sorriu. Um sorriso lindo, que balançava as paredes geladas de Mia. - Todos dizem que somos loucos, a verdade é que nenhum deles compreendem a nossa lucidez. 

Ela fez uma caricia no cabelo preto do rapaz, encarando os olhos azuis e absorvendo as palavras, para abrir um sorriso logo em seguida. 

— Mas continua sendo um porquinho. - Riram juntos, antes dela se levantar e estender as mãos. - Vem, eu vou limpar você.

James segurou nas mãos dela, deixando-se ser levantado. Não sabia o que ela queria dizer, mas se tratando de Mia, já sabia que ela não tinha um plano normal em mente. Ela riu sozinha, entrelaçando o braço no dele enquanto caminhavam pelo lugar. James não deixava de olhar para ela, para as flores em seu cabelo e todas as cores que ela possuía. 

— Me sinto caminhando em uma corda bamba, quando você sorri desse jeito. - Ele confessou, recebendo um olhar confuso dela. 

— Acho que você deveria estar no hospício, ao invés de estar em um centro de auto-ajuda. - Mia encostou a cabeça no ombro dele, olhando para cima. - Se sentir assim por minha causa, é sintoma de loucura. 

— Sim. É. - Ele não precisou olhar para ela, enquanto falava. - Eu não me importo de enlouquecer por você, Mia. Não me importo de perder a razão e me encontrar completamente apaixonado. Minha sanidade não tem significado algum para mim, desde que me acostumei com a cor azul em minha vida. 

Ela suspirou, não entendendo o que ele queria ou pretendia. Ninguém a tratava daquela maneira, ninguém perderia a cabeça por ela, ou lhe mostraria gentileza. As pessoas apenas fugiam dela, como se ela fosse uma praga ou uma doença contagiosa. 

— Olha ali, Pudinzinho. - Ela disse, apontando para uma mangueira estirada no chão. James arregalou os olhos, começando a balançar as mãos.

— Mia, eles não deixam... - Ele tentou dizer, mas já era tarde, ela o puxava para a grama e começava a desenrolar a mangueira. 

— Aaah, Pudizinho. Vai ser divertido. - Ela riu, correndo na direção da torneira e ligando. Os guardas não estavam ali perto para vê-la e repreendê-la e serem completamente ignorados, porque, afinal, eles não impediriam Mia Saltzman de fazer uma loucura. - Vem. 

James apertou as mangas da blusa, suspirando fundo quando se deu conta de que não conseguiria dizer "não", mesmo que quisesse muito. 

— Você vai me meter em um monte de problemas, monstrinha. - Ele disse, rindo e se aproximando. Viu o sorriso sapeca dela, antes de sentir a água gelada bater contra sua pele. Ele fechou os olhos, rindo e se acostumando aquilo. - Está muito fria, Mia.

— Você se acostuma. - Ela gritou, rindo da cara dele, quando começou a tentar fugir dela e dos jatos de água. - Não acredito que está com medo de um pouquinho de água, Terch. 

Ela parou de rir, quando viu que ele estava a encarando, sério. Não sabia se estava brincando, ou se estava em um surto de raiva, afinal ele nunca tinha olhado para ela daquela maneira. 

— James? - Chamou-o, largando a mangueira no chão, foi quando ele começou a caminhar em sua direção, fazendo-a quase se assustar, quando abaixou-se na frente dela e segurou em suas pernas, a jogando por cima dos ombros. 

Mia não entendeu o que ele estava fazendo, até sentir a água gelada em seu corpo, o que a fez xingá-lo de todos os palavrões que conhecia e depois rir, de uma maneira que nunca havia rido em toda a sua vida. 

De longe as pessoas se amontoavam ao redor deles, olhando para a cena e se divertindo junto. Era um fato que Mia iria colocar aquele lugar de cabeça para baixo.

— O que está acontecendo aqui? - Os risos pararam, assim que se viraram e deram de cara com Amanda, um olhar raivoso e mãos na cintura. Estavam ferrados. - Você. - Apontou para James, que a olhou como um garotinho inocente. - E você. - Foi a vez de Mia, essa sorriu cinicamente, acenando para a mulher. - Na minha sala, agora. 

Eles se olharam, fazendo uma careta e rindo em seguida, Mia desceu do colo de James, para que ambos pudessem seguir a mulher. 

— Eu disse que ia ser um problema. - Ele riu, a empurrando fracamente. Mia apenas deu de ombros, sorrindo.

— Você vai ter que aprender, querido James. Eu sou um problema. - Foi a resposta dela, antes de empurrá-lo e sair correndo. 

James riu, balançando a cabeça e indo atrás dela... Realmente. Mia Saltzman era um problema, e a verdade era que James amava problemas.