Mesmo se não der certo escrita por prr


Capítulo 21
21 – A cidadezinha




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A rodoviária onde chegaram era bem estranha. Não era como as outras que estavam acostumados, com lanchonete e lojinhas de lembrancinhas. Havia apenas o lugar onde os ônibus paravam – com espaço para cinco ônibus apenas – e um guiché onde se comprava passagens, além de alguns bancos para sentar.

— Boa tarde! Estamos querendo um táxi, o senhor tem o telefone de algum ou sabe algum ponto próximo? – Leonardo perguntou ao homem que estava sentado no guiché de passagens.

— Devem ser de cidade grande. – O homem riu, deixando a mostra os dentes amarelados e um faltando. – Aqui não tem esse negócio de táxi não.

— Hum... entendo. O senhor conhece algum Marcos Lima?

— Mas é claro que conheço, né? – O homem riu de novo e bateu as mãos na barriga, que por sinal era grande. – Conheço todo mundo aqui. Até os mulequin que nasceu hoje eu sei o nome e conheço os pais deles também, né? Vocês que são de cidade grande não conhecem nem os vizinhos. Mas cidade pequena tem disso não, todo mundo é conhecido e a maioria é amigo. Porque tem uns que é inimigo, né? Mas eu não tenho inimigo, não. Eu sou da paz, né? Amigo e conhecido de todo mundo aqui.

— Que bom. – Leonardo estava ficando sem graça com a conversa.

— O senhor pode nos explicar como chegar na casa dele? – Sabrina perguntou com ansiedade. Será que dessa vez ela encontraria o pai, ou seria apenas mais um homem com o mesmo nome que sua mãe lhe contou?

— Só um instante. Vou ali explicar pros garotos onde o Ito mora. Fica de olho aí. – Um rapaz levantou a cabeça.

O homem saiu de onde estava e levou Leonardo e Sabrina até a esquina da rodoviária. Denis e Pedro estavam tirando fotos na rodoviária. O homem explicou onde era a casa, que não era muito perto dali.

— Vocês são parentes do Marcos? Porque nunca ouvi falar dele ter parente morando fora. A mulher dele tem um irmão. Ele não.

— Não senhor. Eu estou procurando...

— Estamos procurando um primo distante dos nossos pais. – Leonardo cortou Sabrina antes que ela falasse que estava procurando por seu pai. A cidade inteira iria saber que uma garota foi procurar o homem pensando que ele era seu pai e se não fosse, isso poderia gerar algum problema para ele.

— Se o pai dele tivesse vivo ainda ia ficar muito feliz de conhecer a família do irmão perdido dele. O irmão dele saiu de casa muito novo pra trabalhar e não voltou mais. Vocês todos são netos dele?

— É... nosso avô saiu de casa muito novo e não voltou. Mas ainda não temos certeza se é a mesma pessoa. – Leonardo estava impaciente. Não queria continuar falando. – Obrigado senhor. Precisamos ir andando.

Os quatro seguiram na direção que o homem indicou. As pessoas nas ruas os olhavam com olhares estranhos e alguns até chegavam a perguntar de onde eles eram. As ruas eram todas floridas e arborizadas, as pessoas caminhavam e conversavam felizes, sem a menor pressa. Leonardo pensou que viver em um lugar assim talvez fizesse bem para seu irmão. Um lugar pequeno, onde todos se conhecem e se ajudam. Fez uma anotação mental para comentar o assunto com os pais quando voltasse e passou a observar com mais atenção o comportamento do irmão na pequena cidade.

Depois de andarem por cerca de uma hora e pedirem informação para os que estavam na rua, chegaram à porta da casa. Bateram e bateram de novo, mas tal como haviam informado, naquela hora era provável não ter ninguém em casa, porque estavam trabalhando e as crianças estavam na escola. Andaram mais uma meia hora até chegar em uma lanchonete.

— Cara, como que essas pessoas sobrevivem aqui? – Pedro estava intrigado.

— Será que eles tem internet? Se tiver, aqui deve ser aquela discada, que quando liga a internet, desliga o telefone. – Denis estava dando dor na barriga de tanto rir.

— Pior. – Pedro também ria. – Quase não tinha carro passando na rua e nem táxi eles tem. E do jeito que olham pra gente, deve que nem recebem gente de fora com muita frequência.

— Vocês dois são muito idiotas. – Leonardo também ria. – Mas eu gostei daqui. As pessoas aqui parecem tão mais felizes.

Os três garotos não conseguiam parar de rir. Sabrina estava retraída, deixando escapar algumas risadas tensas. O atendente da padaria chegou na mesa onde estavam e serviu os biscoitos e pedaços de bolo que haviam pedido e copos de café com leite.

— Se eu morasse aqui, em pouco tempo não conseguiria sair da cadeira.

— Estou com você nessa Pedroca. Hum-m-m. Isso aqui bom demais.

Ao saírem da padaria, foram para a pracinha da cidade, onde ficariam esperando até dar a hora de voltar à casa do Marcos Lima daquela cidadezinha. A praça era grande o suficiente para comportar todos os moradores da cidadezinha. O jardim estava impecável, com rosas de todas as cores e árvores por todos os lados. Por toda a praça, tinha bancos espalhados. Havia um espaço livre, onde as crianças pequenas, que não estavam na escola naquele horário, andavam de bicicleta ou velotrol, e outras corriam. Em um outro espaço, tinham algumas mesas de pedra, com tabuleiros de xadrez embutidos nelas.

Pedro e Denis sentaram em uma mesa e foram jogar damas, já que nenhum dos dois sabia jogar xadrez. Leonardo e Sabrina se sentaram em um banco em um lugar mais reservado.

— Aqui parece ser um bom lugar para se morar. Vou gostar de vir visitá-la aqui. Isto é, se você quiser. – Leonardo não tinha experiência com meninas e tinha grande dificuldade para conversar com elas. No fim, a viagem estava fazendo bem para ele também e não só para Denis. Contudo, ainda era difícil adentrar a barreira de sentimentos das meninas.

— Esse homem não deve ser meu pai, Léo. – Sabrina tinha o olhar triste. – Minha mãe me contou pouco, mas no que ela me contou, meu pai era um jovem com algum dinheiro, pois tinha roupas e sapato de marca, além de um carro que ganhou de presente dos pais quando fez 18 anos.

— Ainda não conhecemos ele. Vai que...

— As pessoas dessa cidade não parecem se mudar daqui. Não deve ser ele.

— Se não for, temos mais endereços na lista. – Leonardo sorriu e Sabrina retribuiu.

Leonardo e Sabrina continuaram conversando, mas agora a garota parecia mais feliz. Denis e Pedro vieram correndo. Denis parecia irritado.

— Vamos ver se o tal Marcos já chegou em casa, porque não quero mais ficar aqui.

— Vamos sim. – Denis estava com o rosto vermelho e os dentes cerrados. Leonardo sabia que o irmão estava com raiva e por isso se levantou logo e puxou Sabrina, não queria deixar o irmão mais nervoso. – O que aconteceu?

— Esse povo aqui nunca viu um garoto que está ficando cego. Estão achando que eu sou um idiota completo e que não consigo fazer nada. Ficam de sorrisinhos, oferecendo ajuda. Eu ainda consigo enxergar bastante coisa, não está tão ruim assim, ainda.

— Denis, calma cara. Eles só estavam sendo gentis com a gente.

— Aham. O de outro planeta aqui sou eu. Estão olhando estranho é pra mim, não é pra vocês. O único diferente aqui sou eu.

— Eram apenas crianças curiosas. E foram muito fofas com você. Não precisa estressar assim.

Leonardo puxou Pedro para o lado e os dois conversaram aos cochichos. Sabrina seguia ao lado de Denis. Os quatro seguiram em silêncio por um tempo, até chegar na esquina da rua de destino.

— Desculpa. Não quero estragar o passeio e nem nada. – Denis estava mais calmo. – É só que não gosto quando os outros acham que sou assim tão incapaz. Eu sei que não fizeram por mal, mas...

— Tudo bem. – Leonardo deu tapinhas de leve nas costas do irmão.


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