Mesmo se não der certo escrita por prr


Capítulo 22
22 – A família




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/678132/chapter/22

Depois de passarem a tarde esperando, retornaram à casa do possível pai de Sabrina. Bateram na porta e um garoto de uns 15 anos abriu, enquanto outro mais novo se escondia atrás de uma parede.

— Meu pai está quase chegando. Fiquem à vontade. – O garoto entrou pra dentro de casa.

— Obrigado.

Os quatro se sentaram no sofá e ficaram esperando. Não pareciam ser uma família rica, a casa era bem simples. Os móveis da sala estavam um pouco gastos, mas tudo muito limpo e organizado.

— Esqueci de perguntar. Desejam alguma coisa? – O garoto retornou, dessa vez acompanhado pelo irmão mais novo. – Água? Suco? Café? Refrigerante?

— Não precisa se incomodar. Obrigada.

— Pelo menos água, sim? Meu irmão vai lá pegar pra vocês. – Ele deu um empurrão no irmão mais novo, que saiu em direção à cozinha arrastando os pés. – Se eu não servir nada, minha mãe vai ficar brava. Entendem?

— E como eu entendo. As mães sempre procuram motivo pra ficar bravas com a gente. A minha era assim comigo. Ainda mais porque o meu irmão aqui é o senhor perfeição. – Denis riu.

— Meu irmão é igual eu mesmo. O senhor perfeição pra minha mãe é um vizinho nosso.

Começaram uma animada conversa. Até que os pais chegaram em casa. Pela reação deles quando chegaram, já sabiam que quatro adolescentes estavam procurando por Marcos.

— Sinto muito tê-los feito esperar. – Um homem de aparência cansada e pele queimada pelo sol, com roupas largas, estendeu a mão. – Sou Marcos Lima e esta é minha esposa. Vejo que meus filhos vocês já conheceram. Soube que estavam me procurando.

— Sim senhor. – Sabrina apertou a mão do homem. A mulher e o homem cumprimentaram os outros três também. – Na verdade, estamos procurando todos os Marcos Lima na região.

— Desculpa. Meninos, vão lá pra dentro por favor. – Os dois filhos do casal, juntamente com Denis e Pedro, estavam conversando e brincando. Acabou os quatro indo para dentro. – Esses dois não podem ver uma pessoa diferente. Mas então, por que vocês procuram por todos os Marcos Lima? Seria algum parente ou amigo de seus pais?

— É mais ou menos isso. – Leonardo começou a falar, vendo que Sabrina estava com um pouco de medo de receber mais um não. – O senhor teve alguma namorada chamada Sandra, há uns dezoito anos atrás?

— Olha garoto, até que eu tive. Ficamos juntos algum tempo e depois ela foi embora. Mas não sei se tem esse tempo não.

— Eu tenho uma foto dela. Talvez o senhor se lembre. – Sabrina tirou da mochila uma foto antiga da mãe. Mostrou ao homem e contou sobre a cidade onde a mãe morava quando se conheceram e sobre a universidade. O homem e sua esposa ouviram tudo em silêncio.

— Eu moro aqui desde sempre. – O homem falou um pouco apreensivo, vendo que quando falava a expressão no rosto de Sabrina se tornava mais triste. – Sinto muito.

— Está tudo bem. – Mas não estava tudo bem. Sabrina enxugou uma lágrima que teimava em cair.   

— De qualquer forma, a gente agradece. – Leonardo se levantou. – E desculpa o incomodo.

— Olha, seria realmente um prazer ter você como filha. Eu sempre quis uma menina, mas tive só dois meninos e tive umas complicações no parto do segundo, que me impedem de ter outros. Seria um prazer, Sabrina.

— Obrigada. – Sabrina sorriu timidamente.

Leonardo estava no quarto, acompanhado por Marcos, para chamar Pedro e Denis para irem embora. Os quatro se despediram e já estavam à porta quando a mulher os chamou de volta.

— Imagino que vocês não tem um lugar para dormir. E a essa hora não tem ônibus nenhum saindo. A casa é simples, mas são nossos convidados para o jantar e passar a noite.

Leonardo e Sabrina foram ao mercado juntos com a dona da casa. Eles precisavam comer alguma coisa e não queriam gastar do que a família tinha em casa. Depois de muito insistir, Leonardo acabou convencendo a mulher de que ele pagaria a comida. Ela, no entanto, pagaria o café da manhã e uma sobremesa para o jantar.

Na hora de ligar para os pais, Leonardo contou uma história bem elaborada, sobre como pegaram o ônibus errado e foram parar em outra cidade e aproveitou para dizer que soube de uma cidade próxima que estava tendo uma exposição e queriam ir lá ver. Com a história de Leonardo, tanto seus pais, quanto os de Pedro, concordaram com mudança de roteiro. O problema realmente viria se não encontrassem logo o pai de Sabrina e tivessem que viajar por mais alguns dias. Certamente, o melhor a se fazer seria Pedro e Denis irem embora e Léo continuar acompanhando Sabrina.

Os garotos rapidamente se tornaram grandes amigos. Até mesmo Leonardo estava brincando e se divertindo com os outros. O restante da noite foi preenchido por jogos de baralho e conversas.

A sala da casa não era muito grande para as oito pessoas. Nem mesmo a casa era tão grande para comportar os oito. Mas quem quer que olhasse pela janela, veria uma família feliz e amiga. Denis sentiu saudades de casa. Principalmente dos dias antes dele descobrir a doença. Sentiu uma vontade enorme de ter aquilo de volta, mesmo que não fosse igual. Denis queria sentir aquela alegria que estava sentindo agora, simplesmente por estar entre amigos, entre família.

Sabrina se imaginou como parte daquela família. Imaginou o quanto seria bom morar ali, fazer parte daquilo. Toda sua vida, morou na casa dos avôs, junto com a mãe. Os melhores momentos dela em família foram dentro do quarto que ela dividia com a mãe. Fora disso, por mais que seus familiares gostassem dela, ela sabia que não era igual com seus primos. Para eles, a mãe não ter se formado e nunca ter dinheiro pra nada, era culpa dela.

Para dormir, Sabrina ficou no quarto de um dos garotos. A cama do outro quarto foi ocupada por Leonardo, enquanto que os outros quatro dormiram em colchões emprestados, espalhados no quarto e no corredor.

Quando acordaram, um café da manhã digno de rei (como disseram os garotos) estava à mesa. Os filhos do casal estavam maravilhados com tanta coisa em uma mesa só. Segundo eles, o café da manhã era apenas uma coisa, nunca duas ou três, exceto em ocasiões especiais.

Os quatro se despediram da família. Os garotos trocaram contatos e combinaram de continuar conversando, talvez até voltar à cidade ou os outros irem visitá-los. Sabrina foi embora um pouco desanimado, querendo ficar, mas apesar de tantos “nãos” ela tinha que continuar procurando. Ela prometeu à mãe. E Leonardo prometeu à ela.

Foram para a rodoviária e pegaram o ônibus para a próxima cidade, para o próximo Marcos Lima.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mesmo se não der certo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.