Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 32
Capitulo 32


Notas iniciais do capítulo

Capitulo da semana!



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Ao chegarmos próximos à cidade do Porto, decidimos que o melhor a fazer é manter a descrição e ficar longe dos outros já que agora Hailee, Mason, Brett e o outro caçador sabem que estivemos tão perto deles e mesmo assim conseguimos ir embora. Um dos primeiros sinais de civilização que vemos é uma antiga propriedade com aparência de abandonada. Algumas luzes do Porto podiam ser vistas ao longe, mas esse lugar abandonado podia ser o melhor lugar para passarmos nossa última noite na Inglaterra. Seguimos para o galpão e consigo arrombar a porta para entrarmos. O estado não estava assim tão deplorável e decidimos ficar por aqui mesmo. Soltamos os cavalos no cercado para deixá-los pastar e nos juntamos em frente à uma das grandes janelas para conversarmos e comermos o que aquele homenzinho da estalagem nos deu como cortesia. A comida parecia boa e não senti cheiro nenhum de nenhum tipo de droga que ele pudesse ter colocado junto, então não vejo porque não comer. Em um de nossos assuntos, Morgan me conta que o marinheiro que pode nos levar até a Irlanda trabalha em uma casa azul em frente às docas, impossível de não reconhece-lá e aproveito a oportunidade para ir até lá conversar com o homem. Mas será cara a viagem, ele me adverte. Mesmo assim, tenho que tentar.
Ao conseguir entrar na casa abandonada, noto que algumas coisas ainda estão espalhadas pelo lugar como se os antigos donos tivessem ido embora às pressas. Não quero pensar no que pode ter acontecido e procuro algo que possa ser usado como disfarce para eu conseguir ir até a cidade sem ser notada. Vou até o que parece ter sido o quarto e encontro algumas roupas de camponeses no armário. Tive uma ideia, ela é péssima, mas é uma ideia.
Escolho um vestido branco propositalmente curto e pego um dos corpetes cor de areia da mulher que um dia morou aqui, simples, mas bastante útil. Visto os dois sob uma capa marrom escura e escondo meu cabelo sob o capuz com uma trança apertada. Deixo minhas botas de caça no galpão com os três e uso uma das botas de couro que também encontrei na casa do mesmo tom do corpete. Aviso-os de que vou até a cidade e puxo mais para baixo a barra do vestido até pouco depois dos joelhos quando me aproximo das primeiras casas de famílias. Meu plano tem que dar certo.
Me aproximo das docas sem dificuldade, ninguém nem sequer olha duas vezes para mim, mas assim que entro na rua certa e avisto a casa azul toda iluminada, vejo um grupo de guardas saindo de uma estalagem que mais parece um bordel conversando alto demais. Infelizmente, estavam próximos demais da casa para me aproximar com ele ali. E o pior de tudo: eu reconhecia pelo menos dois deles. Courtney e Theodore. O que eles estavam fazendo aqui?
Me escondo atrás de uma das casas e espero olhando-os de longe para ver o que irão fazer. Theodore parece discutir com os outros e dá as costas a eles. Com uma expressão séria, ele caminha em minha direção com as mãos nos bolsos e os olhos vidrados no chão enquanto seus amigos voltam para o mesmo lugar de onde saíram.
Acho que ele ainda não me viu. Ótimo. É minha chance.
Espero ele passar pela rua onde estou encostada na parede de uma das casas residenciais perto do porto. Quando ele passa por mim sem nem perceber, me aproximo dele puxando minha adaga de onde a escondi nas botas velhas daquela casa abandonada. Me certifico de que estamos sozinhos e passo meus braços ao redor de seu pescoço e posiciono a lâmina afiada contra a garganta dele.
–O que você está fazendo aqui?-pergunto-o apertando mais seu pescoço e impedindo que ele tentasse se soltar.-Quem te mandou para essa cidade?
–Não vou dizer nada.-ele fala em tom sério tentando inutilmente puxar um dos meus pulsos para se soltar.
–Ah, mas você vai sim.-respondo.-Eu não estou de brincadeira. Há quanto tempo você está aqui com aqueles Inquisidores babacas?
–Inquisidores babacas? Mas quem diabos diz...-ele se interrompe e para de se debater contra mim.-Saphira?
–Olha, Theodore...-eu começo, mas ele me interrompe.
–Você sabe que para você meu nome é Theo.-ele diz.
–Que seja.-digo soltando-o e virando-o para me olhar.-Desde quando você está com eles? Pensei que estivéssemos do mesmo lado.
–E estamos.-ele responde, mas quando tenta se aproximar demais de mim levo a ponta da adaga até sua barriga, bem no espaço entre as duas últimas costelas e próximo demais do seu diafragma. Um aviso implícito, mas ele entende e se afasta levantando as mãos em rendição.-Estamos do mesmo lado, Saphira. Eu gosto de você, quero te ajudar, mas não me peça para deixar os Inquisidores tão de repente. Sabe como seria suspeito.
–Justo.-pondero.-Só que você parece saber que eu estaria aqui. Como?
–Imaginei que estaria.-ele tenta se explicar com as mãos ao lado do corpo.-Quando passamos aqueles dias treinando juntos, comecei a desconfiar de que você não era só uma simples caçadora, mas quando Courtney me falou que você era uma lobisomem, imaginei que você viria direto para o porto. Tentaria fugir ou algo do tipo, é a reação esperada a quem pode ameaçar sua vida. Eu entendo.
–Então foi você quem trouxe aqueles inúteis para cá?-pergunto. 
–Não. Não fui eu.-ele disse.-Depois de algum tempo, eles chegaram a mesma conclusão. Quando eles decidiram vir para cá, me senti obrigado a acompanhá-los para tentar atrasá-los o máximo possível. Quero que você vá embora, que fique segura. Estou tentando ser seu amigo, Saphira, essa é minha forma de demonstrar isso. 
–Como você quer que eu acredite em você assim tão fácil?-pergunto.-Sou uma garota, mas não sou ingênua.
–Tudo bem, tem razão.-ele responde e sorri.-Eu tive uma ideia.
Faço um sinal para que ele continue o que tem para falar.
–Eu irei com vocês.-ele explica e ergo a sobrancelha tentando entender como isso é uma prova.-Se eu for com você, pode ficar me vigiando o tempo inteiro. Não vou conseguir me comunicar com os Inquisidores do outro lado do mundo, e, além disso, eles não vão ter nem ideia de onde eu possa estar. Não vão poder me encontrar e eu não posso virar um espião se você estiver me observando o tempo inteiro. Sei que com seus sentidos apurados vai ser impossível te enganar.
–Faz sentido.-eu respondo.-Mas não vou fugir, não mais. Estamos indo para outro lugar, vou lutar contra Romckpay. Não vou permitir que ele mate tantos sobrenaturais inocentes. Vai ter uma guerra, e eu vou começar ela. Está disposto a ir contra todos que você conhece e gosta por aqueles que você foi ensinado a lutar contra?
–Por você? Sim.-ele diz.-Você também pode morrer quando ele terminar aquela máquina, não quero deixar que ninguém morra. Me deixe ir com você. Por favor.
–Tudo bem.-digo dando de ombros.-Vou te dar uma chance, não faça eu me arrepender.
–Obrigada.-ele exclama feliz.-Muito obrigada.
Assinto ainda um pouco desconfiada.
–Pode me esperar aqui?-ele me pede se afastando.-Preciso ir até a estalagem pegar minha bagagem, depois juro que te acompanho.
–Não vou te esperar aqui.-digo.
–Como?
–Eu não vou ficar aqui parada te esperando.-repito.-Eu vou junto. Sem discussões.
–Saphira, desculpa te dizer isso, mas eles podem te reconhecer.-ele tenta me alertar.
–Eles não vão, não com essas roupas.-explico apontando para o meu corpo.-Por isso se chama disfarce.
Solto meus cabelos da trança e os deixo cair um pouco sobre o meu rosto, escondo a adaga na bota de novo e solto os dois primeiros nós do corpete na parte da frente e o puxo mais para baixo. Quando ele percebe o que estou fazendo, começa a seguir todos os meus movimentos com os olhos, principalmente quando mexo no decote. Mas finjo que não percebi para ele se sentir um pouco melhor.
–Nós vamos entrar juntos lá dentro e você vai dizer que eu sou uma cortesã.-eu explico.-Se você vem comigo, preciso saber se posso confiar em você. Se fizer como estou pedindo, você já tem alguns pontos ao seu favor. Se você sequer pensar em me entregar para os seus amigos babacas, vou te matar e pedir ajuda de Adam para esconder seu corpo. Estamos entendidos?
–Sim.-ele se apressa em dizer.-Compreendo, mas cortesã? Tem certeza?
–Sim.-digo.-Não me importo com o que pensam de mim. Vamos logo até lá.
–Sim, claro.-ele concorda e estende seu braço para eu acompanha-lo. Passo uma das minhas mãos por baixo do seu cotovelo e caminho ao lado dele como já vi vários casais caminhando pelas ruas de Londres. Com sorte, esse plano vai dar certo e vamos sair antes que Courtney ou um daqueles babacas comece a me reconhecer.
Ao entrarmos na estalagem, noto que o primeiro andar é sim uma espécie de bordel e bar ao mesmo tempo. Um barman serve cerveja barata à alguns homens sentados em mesas sujas e ao redor das mesas encostadas às paredes garçonetes e cortesãs em roupas curtas circulam entre os homens tentando ganhar a vida do jeito que podem. A um canto vejo Courtney e os outros três amigos conversando em voz alta para se fazer ouvir por cima do som alto da música ruim de bar que ressoa por todo o ambiente. Detesto esse tipo de ambiente, mas não tenho escolha se quero manter o disfarce.
Theo me olha perguntando se pode me apresentar aos seus amigos Inquisidores e eu assinto concordando com sua linha de raciocínio. Nos aproximamos e quando eles notam seu amigo chegando com uma garota começam a enche-lo de perguntas que me fazem perceber que eles estão mais bêbados do que eu esperava.
–Não sabia que você era do tipo que saía com cortesãs, parceiro.-comenta Courtney. Ótimo, ele está bêbado demais para perceber quem eu sou.
–E não sou.-Theo diz.-Mas decidi me divertir um pouco hoje antes de irmos atrás dos dois fugitivos.
–Ideia brilhante, cara.-responde um dos outros Inquisidores dando tapinhas amigáveis nas costas do até então amigo.-Talvez façamos o mesmo. Tem espaço na sua agenda para mais um hoje, gatinha?
–Ela está comigo hoje.-Theo responde antes que eu possa dizer algo bem mal educado para o imbecil na minha frente.-Só comigo. Tentem tratá-la bem enquanto eu subo, ok?
–Trata-lá bem?-Courtney começa a rir quando grita para a figura de Theo correndo escada acima.-Ela é uma cortesã. Você andou bebendo o que?
Os quatro começam a rir histericamente como se Courtney tivesse contado a melhor piada do mundo.
–Tem certeza que não tem espaço para mais um hoje, querida?-diz o mesmo idiota tentando segurar minhas mãos, mas eu o afasto.
–Eu não trabalho dessa forma, cara.-digo me esquivando.
–Ah, entendo.-ele diz.-Você é do tipo serviço completo, não é?
–Não tem interessa.-falo tentando não me irritar demais enquanto ele continua tentando me segurar com péssimas intenções em mente. Só que minhas intenções envolvem a cabeça dele rolando no chão sujo daquele bar nojento.
Algumas garotas nos olham e me lançam um olhar de compreensão, como se sentissem empatia por mim. Como elas conseguem passar por isso todas as noites sem sentir vontade de matar alguém?
–Se você mudar de ideia, por favor, me chama, tudo bem?-Courtney diz tentando passar o braço livre da caneca de cerveja sobre os meus ombros.
Eu tiro seu braço de perto de mim com mais força do que deveria e ele me lança um olhar intrigado. Por sorte, Theo chega nessa mesma hora e me salva de ter que me explicar porque estava agindo de forma tão estranha para uma cortesã.
Ele passa a alça de sua mochila sobre um dos ombros e me estende a mão.
–Vamos?-ele me pergunta.
–Espera.-Courtney o segura.-Onde você está indo com suas coisas e essa garota?
–Vamos para um lugar mais reservado.-ele explica se soltando do amigo Inquisidor.-Vou passar a noite fora, não me esperem amanhã de manhã. Não sei quando volto. Vamos, amor?
Eu o sigo pelo bar até a porta enquanto os babacas assobiam e gritam coisas incoerentes sobre nós enquanto tentamos ignora-los. Quando chego ao seu lado, ele tenta segurar uma das minhas mãos, mas solto-me e o faço passar seu braço livre sobre meus ombros. Se é para encenar, vamos fazer isso do jeito certo.
–Me pergunto como as garotas que realmente são cortesãs aguentam esse tipo de tratamento todas as noites.-comento quando estamos praticamente sozinhos na rua de novo.
–Foi horrível?-ele me pergunta.
–Não, foi pior.-eu o respondo.
–Talvez elas se acostumem com isso depois de um tempo.-ele diz dando de ombros.
–Não. Eu duvido que alguém se acostume a ser tratada desse jeito, ninguém merece isso, por pior que seja a pessoa.-digo e puxo-o pelas mãos para que me siga de volta até o galpão onde os outros estão me esperando.


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