Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Morgan decide caminhar. Por algum motivo, não gosta de cavalos. Ele parecia assustado quando os mostrei, como se tivesse algum trauma, mas não perguntei. Eu não me importava. No entanto, Liev se mostrou bastante interessada em conversar com o garoto. Decidiu descer e acompanhá-lo a pé até que se cansassem, nossa pequena excursão teve um grande aumento em pouco tempo. Na próxima cidade que passarmos, vamos ter que comprar um cavalo ou pelo menos uma charrete para um dos dois puxar. Nenhum de nós irá aguentar ir a pé até o porto e não podemos nos dar o luxo de arriscar e economizar o pouco de dinheiro que trazemos em nossas bolsas. Espero que o que sobrar seja o suficiente para pagar o comerciante aliado de que Morgan falou.
Pelas sombras fracas do amanhecer, estamos indo direto para Sudeste, isso significa que se seguirmos nesse ritmo, chegaremos no final da tarde na próxima cidade grande o bastante para ter uma charrete a venda. Talvez seja mesmo a melhor ideia para nós que temos tanto a carregar. Minhas armas são pesadas e um lugar para deixá-las seria uma boa ideia.
Estamos nos aproximando demais da Floresta Negra e isso me preocupa. Até algumas décadas atrás, as pessoas só tinham conhecimento de uma floresta amaldiçoada, a Floresta Sombria, na Alemanha, mas supostamente algum evento sobrenatural aconteceu por aqui e tornou a região amaldiçoada em um raio de cerca de 30km para todos os lados. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu aqui, mas sabemos que foi grande. Pelos meus cálculos, teremos que passar por ela em algum momento, não dá para evitá-la se quisermos chegar ao porto, no extremo norte do país. Não é bom irmos em um grupo tão grande em um lugar daqueles, mas não temos escolha. Adam e eu temos treinamento e podemos combater qualquer coisa que perceber a perturbação que nossa chegada provocará, já quando aos nossos dois agregados, já não tenho essa certeza. Eles vão precisar ficar por perto, porque não posso e não vou me arriscar e ir mais devagar por eles. Se quiseram vir, é bom que saibam o que os espera.
Sinto como se fosse uma parede gelada o momento que entramos dentro da Floresta Sombria. O contraste com o resto do lugar é absurdo. Como se existisse uma cortina invisível que nos fizesse atravessar para outro universo, imediatamente vemos uma o mundo mudar completamente ao nosso redor em questão de segundos. Eu e Morgan parecemos ter sido os mais afetados por essa mudança drástica e isso me faz pensar que talvez o lugar seja ainda pior para seres sobrenaturais, mas eu já estou acostumada ao perigo. Eles, não.
Deixamos o fim do dia lá fora para cairmos em uma escuridão total em uma floresta densa que estaria nos piores pesadelos de adultos feitos. Liev segura as rédeas do cavalo de Adam, e com um pulo ágil, sobe atrás dele se agarrando às suas costas em busca de proteção. Sinto seu medo encher o ar como perfume. Morgan, no entanto, parece saber se controlar com mais eficiência. Se aproxima um pouco mais dos dois cavalos, ficando entre nós, mas se recusa a subir e demonstrar seu medo. Parece que conheci alguém mais orgulhoso do que eu. Contenho um sorriso ao pensar nisso.
–Liev, controle suas emoções.-eu a advirto.-Se eu posso sentir o cheiro do seu medo daqui, com certeza algo bem pior do que um lobisomem com certeza pode. Você não vai querer ter que ver nenhum dos tipos de demônios que vivem nesse lugar.
Eu a vejo assentir, mas não responde e aperta mais ainda a testa contra as costas de Adam. Agora ela não vai mesmo ver nada. Meu amigo parece sentir dor por conta da força sobrenatural e incontrolável de Liev, mas continua calado e não reclama. Assim como eu, foi ensinado a aguentar a pressão que pode vir a ter quando combates perto de outras pessoas são inevitáveis. Para evitar tornar as coisas ainda piores, não solta sequer um grunhido de dor para não assusta-la.
Continuamos por algum tempo em silêncio enquanto tento prestar atenção em qualquer mudança mínima na escuridão que possa indicar a aproximação de qualquer coisa que viva nesse lugar. Tão de repente quanto na hora que chegamos aqui, uma neblina gelada começa a se espalhar ao nosso redor, trazendo o cheiro metálico característico de sangue fresco. Isso não é bom. Me viro para trás a tempo de ver um poltergeist se aproximar de Morgan e levo minha mão à sua boca antes que ele grite.
–Fique em silêncio. É uma criatura de nível 4, só quer te assustar.-eu o aviso retirando minha mão de seu rosto e me arrumando no cavalo de novo. O garoto se aproxima até ficar tão perto do cavalo que seus ombros roçam no pêlo do animal enquanto anda. Ele continua se recusando a subir como Liev e não tento insistir para que se sente atrás de mim. Isso não é problema meu.-Ele não existe realmente nesse mundo se não tiver uma conexão humana. Ignore-o. Se você o reconhecer como algo além do eco de um espírito maligno que é, aí sim ele irá se tornar um problema. Não faça isso. Só siga como se não o estivesse vendo.
–É meio difícil ignorar um esqueleto humano feito de fumaça branca.-ele diz com um tom de medo.
–Eu sei, no começo é difícil.-comento.-Mas você vai se acostumar.
Ele não responde mais e imagino que esteja fazendo o que eu pedi. Infelizmente, a fumaça branca continua e sei que o poltergeist não vai ser a única coisa que nos localizou. O cheiro de sangue se torna mais forte e começo a ouvir as primeiras notas de uma melodia mórbida. Merda. Ele não. Por favor, ele não.
O som continua e tenho certeza de que sei o que está vindo atrás de nós.
–Adam...-começo, mas ele faz sinal para pedir silêncio e tira a besta das suas costas e me entrega com a aljava. Eu a prendo em minhas costas enquanto ele retira sua espada da bainha olhando atento ao redor. Ele também sabe com o que estamos lidando.-Tome cuidado.
Ele assente com a cabeça e se vira para Liev a fazendo olhar para ele e tirar os braços da sua cintura.
–Vou precisar colocar isso em seus ouvidos e olhos.-ele diz mostrando-lhe uma faixa de tecido resistente que retirou da bagagem que minha mãe nos obrigou a trazer. Parte do kit de primeiros socorros dela, com certeza. Ela assente e permite que ele enrole a faixa sobre seus olhos e ouvidos deixando apenas a parte abaixo do seu nariz livre. Olhando-a assim, parece até uma múmia, isso se não pudéssemos ver seu cabelo. Pelo menos agora sei que ela confia em nós.
Quando ele arruma a faixa para que não a machuque, se abaixa e me entrega a outra faixa, se virando para frente para manter o cavalo já assustado na trilha certa.
Eu paro meu corcel preto e puxo Morgan para que suba atrás de mim e o faço prestar atenção em mim ao invés da música sinistra que nos rodeia. Como quase adultos, eu e Adam não nos afetamos com essa melodia, mas os dois sim. Principalmente a Morgan, o mais novo entre nós.
–O que está nos seguindo é o responsável por essa música que você está ouvindo agora.-eu digo o fazendo me olhar.-Morgan, preciso que me escute.
–Ele está me dizendo para segui-lo.-O garoto diz tentando me empurrar para soltá-lo. Não cedo e o seguro com ainda mais força pelos pulsos.-Preciso ir. Venha comigo, minha criança, a sua felicidade bate à porta...
Ele começa a cantarolar uma letra que só ele pode escutar.
–Morgan!-eu grito próxima do seu rosto.-Não o escute. Não ceda. O nome dessa coisa é Hypnos, ele não é desse mundo e não sei como deixaram que chegasse até aqui. Ele quer te atrair até sua caverna e depois irá te levar até a próxima dimensão e vai sugar sua vida pouco a pouco. Isso se ele não tentar te corromper e se alimentar de sua inocência infantil perdida. Ele é perigoso, Morgan, muito perigoso. Resista, por favor.
–Mas ele está me chamando!-Morgan reclama e se debate mais contra as minhas mais.
–Resista, Morgan!-eu digo aumentando o aperto em suas mãos. Olho ao redor e juro que vejo o vulto de raposa humanóide daquela coisa que se aproxima cada vez mais. Seguro com força os pulsos de Morgan com uma mão só e tento passar a faixa por seu rosto na marra enquanto meu cavalo se debate sobre mim. O animal está assustado demais, mas não posso sair daqui antes de dar um jeito em Morgan. Vejo uma mão passar sobre a minha e segurar as de Morgan por mim. Me assusto com o gesto, mas me acalmo ao ver o rosto de Adam. Ele não poderia estar aqui, de qualquer forma.
–Adam, que merda você está fazendo aqui?-Eu o reprimo.-Vai embora. Quer que Hypnos vá atrás de Liev?
–Não, por isso estou te ajudando.-ele diz levantando seu olhar para mim.-Faça logo o que eu fiz e vamos embora daqui!
–Com prazer.-tiro minha mão de perto da sua e começo a entrelaçar a faixa sobre os olhos de Morgan enquanto olho para trás para me certificar de que Liev e o outro cavalo estão vivos. Por enquanto ainda posso ver Liev sentada sobre o dorso do cavalo amarrado à uma árvore enquanto bate os cascos no chão quase invisível por conta da quantidade de neblina ao nosso redor. Sinto a faixa terminar e me viro para prendê-la firme sobre o nariz do garoto enquanto ele ainda cantarola a música sinistra de Hypnos. Assinto para Adam e ele corre para seu cavalo o desamarrando da árvore e subindo ao mesmo tempo em que faz o cavalo trotar e segura a espada ao lado do tronco do animal com Liev se segurando em sua cintura mais uma vez. Eu sigo seu exemplo e bato os tornozelos no meu corcel para que ele corta o mais rápido possível para nos afastar daquele lugar cada vez mais. A letra sinistra e hipnotizante que Morgan estava cantando se reduz a um cantarolado irritante da melodia enquanto ganhamos distância, mas um vulto de raposa ainda pode ser visto nos seguindo com rapidez. Morgan se segura em mim quando para de balançar e eu amarro as rédeas na cela para pegar a besta das minhas costas e deixar o cavalo continuar correndo como já estava fazendo. Ao menos podemos sempre contar com o senso de sobrevivência de um quinto ser vivo entre nós para nós tirar daqui sem precisar pedir. O cavalo consegue se aproximar de Adam com a corrida desesperada de um animal assustado e preparo minha besta com uma das caras flechas de prata pura para quando voltar a ver o vulto passar sobre nós. Olho ao redor e posiciono meu dedo sobre o fio da besta quando enxergo a silhueta fácil de enxergar na neblina densa a minha direita. O corpo cinzento de um ser humanóide com pés e patas de lobo se torna claro e miro a flecha entre os olhos vermelhos do rosto de raposa demoníaca quando o Hypnos se aproxima demais de nós. Ele parece desesperado também, visto que nota que estamos fugindo. Felizmente, meu cavalo o ultrapassa e solto a flecha a fazendo assobiar enquanto atravessa a neblina e se aloja com precisão entre os olhos de outro mundo do Hypnos que nos seguia. Sei que não o matei, mas o derrubei e o feri o suficiente para conseguirmos nos distanciar cada vez mais dele. E é só quando a neblina começa a se tornar escassa que relaxo e solto o fio da besta, a abaixando e a mantendo ainda ao meu lado, mas segurando-a apenas com uma mão e aproveitando a chance parar retomar o controle do corcel já mais calmo. Adam nos olha e sorri ao perceber que estamos bem. Liev já está sem a faixa e peço a Morgan que a tire também enquanto seguimos até o fim da trilha que ultrapassa a escuridão desse circo de horrores mascarado de floresta. Enquanto seguimos a estrada começo a pensar: O que deve ter acontecido de tão grave para criar um portal que permitisse que Hypnos, uma das criaturas mais fortes conhecidas de outras dimensões, entrasse nesse mundo?


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