Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 29
Capitulo 29


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões pela demora para postar o próximo capítulo, tive um bloqueio criativo, mas finalmente consegui finalizar o capítulo. Boa leitura!



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–Saphira...-Adam tenta chamar minha atenção.
–Não, Adam. Agora não é uma boa hora.-peço em um sussurro tão baixo que não sei se ele me escutou. Não é como se nunca tivesse visto corpos antes, mas nunca me senti tão responsável por alguma morte como a que sinto por essas pessoas. Eu sei o que aconteceu aqui. Os soldados de Romckpay me rastejaram até aqui e incendiaram o lugar por terem chegado tarde demais para me encontrar. Não sou ingênua para acreditar em coincidências. Nessa vida, não existem coincidências.
Desço do cavalo fazendo de tudo para me controlar e não me deixar levar por sentimentos. Não precisamos de escândalos agora. Mesmo assim, tenho que ver o estrago feito. Não por sadismo, não por querer, mas por que vai ser útil como um dos motivos para me fazer ir atrás de Romckpay. Por que eu desisto. Não posso ficar parada e não posso fugir para outro continente enquanto pessoas inocentes continuam morrendo pelas ordens cruéis de Stewart Romckpay e do Lorde Cinclair. Eu entendo tudo agora. Estamos em guerra, e será cada um por si. Mas de uma coisa tenho certeza, o que aconteceu aqui não irá se repetir nunca mais. Eu juro que não.
Ao perceber minha movimentação, Adam também deixa seu cavalo e me acompanha em silêncio, provavelmente tão perdido em pensamentos quanto eu. Ele sempre foi bem mais sentimental do que eu. Sei que se sentia intimidado aqui, mas duvido que tenha desejado que algo assim acontece com todas essas pessoas inocentes.
A cena é quase indescritível de tão feia, mas a julgar pelo cheiro ainda forte de carne queimada e fumaça, sei que o ataque ainda é bastante recente. Olho para trás por um momento, para a minha irmãzinha, agora em estado de choque ao ver todos esses corpos jogados no chão com a fumaça rondando tudo ainda forte. Não posso ajudá-la agora, e isso corta meu coração, o pouco que ainda sou capaz de sentir dói por minha irmã mais nova que nunca tinha presenciado os horrores da minha vida. Talvez ter visitado minha família não tenha sido a melhor ideia. Ela não devia ter me seguido, não devia ver o que eu vejo todos os dias. Briguei com ela porque queria que ela continuasse feliz e segura em casa, e agora estamos os três aqui, presenciando o tipo de coisa que Romcpay tem coragem de permitir. Desde quando aquele amor paternal que ele tinha por seus soldados mais queridos se transformou nesse ódio corrosivo que autoriza algo assim?
–Saphira, olhe!-Adam atrai minha atenção até os escombros de uma grande casa, mais ao centro do acampamento. A Casa Grande. Aquela linda construção agora não passa de um amontoado de escombros e fumaça com o cheiro tão conhecido da morte. Alguns corpos quase irreconhecíveis me explicam porque sinto o cheiro de queimado tão forte aqui. É bom mesmo que Liev não veja isso.
Me aproximo mais dos escombros, passando pelo portal de onde antes ficava uma porta de madeira polida. A um canto, um corpo em especial me chama atenção. É uma garota, posso perceber. Não qualquer garota, percebo ao me abaixar ao seu lado, é a garota a qual o alfa Kirck estava abraçado. Com certeza era a namorada dele. Preciso ao menos tentar me lembrar dela, talvez seja o mártir que eu precisava para começar a lutar. Ela não é a razão, mas sua morte me influência a lutar. Não vi Kirck até agora e não tenho certeza de que quero saber se está morto ou não, mas se não posso me lembrar dele, pelo menos posso me lembrar de sua amada. Lynn, sim, era esse seu nome. Aproximo minha mão de seu rosto coberto de cinzas, mas intacto, e fecho por completo seus olhos azuis ainda encarando fixos o céu lá em cima. Não sou uma pessoa religiosa e não posso dizer que creio em algo mais, mas se houver algum tipo de paraíso, desejo que ela esteja lá agora junto com todos os seus conhecidos que agora estão mortos.
–Descanse em paz, Lynn.-sussurro próxima de seu corpo. Me desculpe por isso, quero dizer, sou a culpada de tudo isso. Não é o momento mais oportuno para sentir culpa agora. Sou uma soldado, preciso deixar meus sentimentos de lado e usá-los como motivos para continuar a lutar. Foi o que sempre fiz e é o que continuarei a fazer. Não posso ir embora agora.
Adam pousa sua mão sobre meu ombro e olho em sua direção. Sua expressão é triste, abatida. Sei o que ele está sentindo agora.
–Está tudo bem comigo.-o tranquilizo. Minhas palavras realmente parecem o acalmar mesmo que pouco.
Com minha audição aguçada, ouço o som de algo se movendo alguns metros à frente e me levanto no mesmo instante. Fico alguns segundos parada, mas o som não se repete.
–Saphira, o que você está....-interrompo Adam com um "shhh" definitivo. Ele se cala no mesmo instante. Sabe que quando peço silêncio, o assunto é sério.
Faço um sinal com as mãos em sua direção e ele me segue com passos silenciosos. É como em nossas missões. Quando precisamos ficar em silêncio, temos nosso próprio meio de comunicação por meio de sinais e expressões faciais.
Me aproximo do lugar onde uma espécie de montanha de escombros se formou a um canto das ruínas, pelo que parece, era a antiga sala do alfa. Se é que ele continua vivo. Nada voltou a se mexer, mas sei que o que ouvi veio daqui. Me viro para Adam, me preparando para explicar a ele que tinha certeza que alguém ou alguma coisa aqui ainda tem vida. No entanto, ele me interrompe antes mesmo de eu começar a falar e aponta para um ponto mais baixo da montanha de escombros, onde uma placa está de concreto acaba de se mexer.
Largo minhas armas no chão e me abaixo para ficar na mesma altura da placa, estico minhas mãos e levanto o concreto usando minha força sobrenatural. Agora Liev realmente poderia ser útil. Quando consigo mover os escombros, me deparo com os olhos assustados de um garotinho de cerca de 13 anos todo encolhido em um espaço mínimo de ar ao seu redor. Sei quem ele é. Morgan, o irmão de Kirck. O garoto teve sorte, isso tenho certeza.
O garoto me olha assustado, seu rosto parcialmente transformado se acalmando ao me ver. Sei que ele me reconheceu como um dos seus, então agora seu lado animal irá começar a ceder.
–Morgan, certo?-digo estendendo minha mão e o ajudando a sair do meio dos escombros. Ele acena com a cabeça e aceita minha ajuda.
–Eu acho que já te vi antes.- ele diz se levantando.-Estou errado?
–Não, você me viu sim. Foi muito rápido, mas viu.-respondo-lhe me levantando e limpando minhas calças das cinzas e da sujeira espalhada no chão.-Como aconteceu?
–Saphira, ele podia ter morrido ali.-comenta Adam.-Não acho que seja a melhor hora para interrogatórios.
–Não é um interrogatório.-eu o interrompo.-Preciso saber exatamente o que aconteceu aqui.
Adam tenta me responder, mas Morgan o interrompe com um sinal e acena a cabeça concordando em falar.
–Não me lembro de muita coisa.-diz com sua voz já normal com suas feições agora completamente humanas.-Foi tudo tão rápido e confuso. Eles vieram e...e não disseram nada. Nos cercaram e depois era só fogo. Ouvi os gritos e corri até o meu irmão....
–Eles quem?-pergunto.
–Os soldados.-Morgan diz em tom assustado. Olho para Adam, ele acena para que eu saiba que ele também já descobriu de quem o garoto está falando. Foi Romckpay.-Meu irmão estava ajudando algumas pessoas a fugir. Ele me pediu para me esconder no escritório dele, que seria seguro e que ele voltaria para me buscar. Vi pela janela quando ele escoltou algumas pessoas por uma saída escondida do outro lado do campo. Ele não conseguiu ir, acho que não me deixaria aqui. Ele, ele me priorizou ao invés da vida do todos os outros. O pegaram, eu vi o pegarem. Aqueles soldados estão com o meu irmão. Depois disso, não o vi mais. Ouvi mais gritos quando o concreto começou a rachar. Eu tentei fugir, mas a porta estava emperrada e o teto caiu em cima de mim. Acho que desmaiei, porque quando acordei estava tudo escuro. Quando usei minha visão melhorada, percebi que estava preso naquele lugar. Então você chegou.
–Quando foi isso?-pergunto a Morgan.
–Ontem à noite. Talvez madrugada, não me lembro de quanto tempo faltava para amanhecer.-o garoto responde.-Eles pegaram meu irmão.
Quando o garoto começa a chorar, dou as costas e continuo caminhando para ver se não perdi mais alguma coisa importante. Nunca tive paciência e nem talento para acalmar garotinhos chorando. Minha vida é meu trabalho, nunca poderia lidar com crianças. Infelizmente, não encontro mais ninguém vivo. Tudo que escuto é o som do choro abafado de Morgan enquanto Adam tenta acalmá-lo misturado ao vento rugindo entre os destroços do acampamento.
Me viro para ver Adam abraçando Morgan e percebo que o garoto começa a se acalmar, as lágrimas em seus olhos já são poucas. Um grande contraste com o que sinto agora, nem sequer me lembro da última vez que chorei. Não me lembro de ter chorado alguma vez. Adam se levanta e Morgan o acompanha até perto de mim, tomando cuidado com os destroços ao caminharem até o lado de fora. Os dois parecem ter tido uma conversa interessante, porque agora Morgan sorri.
–O que está esperando, Saphira?-Adam diz passando por mim e apoiando uma mão no ombro de Morgan para que o acompanhe.-Temos muita estrada no caminho.
–O que quer dizer com isso?-o interrogo.-Você não está pensando em levar Morgan também, não é?
–Não estou pensando, eu já me decidi.-ele responde.-Não vamos deixá-lo aqui sozinho, Saphira. É só uma criança.
–Exatamente.-argumento.-Vai ser um estorvo.
–Como pode dizer isso?-ele para de andar e se aproxima de mim.
–Me diga você.-respondo-lhe.-Ele deve ter uns 13 anos. É um nascido-lobisomem, suas habilidades estão aparecendo ainda. Não pode se transformar completamente ainda e não pode controlar seu lado lobo. Somos soldados, Adam, não babás. Não vou me responsabilizar por alguém que não pode nos trazer nada além de problemas. Tem uma legião de caçadores atrás de mim, não posso me responsabilizar por ninguém.
–Tudo bem, eu me responsabilizo.-ele diz.-Não vou deixá-lo aqui. Além disso, também temos Liev, e ela é bem nova.
–Ela tem 16 anos, é completamente diferente.-explico-lhe.-Liev não é uma loba em treinamento, mas também tem habilidades. Não queria que ela estivesse aqui, e você sabe disso, mas ela pode ser útil. Nasceu com a força sobrenatural da licantropia, não sei como, mas aconteceu. Além disso, ela já é bem grandinha e pode ser cuidar muito bem como nós.
–Por favor, senhorita, me deixa te ajudar.-implora Morgan em um fio de voz.-Eles levaram meu irmão. Me deixar ajudá-la a achá-lo.
–Você vai, garoto.-Adam o traquiliza.
–E o que os faz pensar que irei atrás do Kirck, ele é alfa, mas não é o meu.-argumento.-Não devo nada a ele. Romckpay não vai sair impune do que aconteceu aqui, mas não vejo porque Kirck pode ser útil.
–Meu irmão tem uma boa tropa de soldados, lobisomens de outros acampamentos secretos. Aliados.-Morgan começa a dizer.-Se o encontrarmos, ele pode entrar em contato com eles. Podem nos ajudar. Só que precisamos buscá-lo.
–Desde quando você tem tanta certeza de que seu irmão continua vivo?-questiono-o.
–Eles não o levariam só para matá-lo.-ele diz.-Ou fariam isso?
–Não tenho mais tanta certeza.-respondo.
–Bem, não importa.-Adam começa a dizer.-Morgan está certo, temos que ao menos tentar. Aliados agora seriam ótimos, e se Kirck estiver vivo e for como você, vai pedir retaliação imediata. Nossa ajuda vai ser necessária. Vamos atrás dele.
–Eu disse que iria atrás de Romckpay, não do Kirck. Ele não é meu alfa.-repito meu argumento.
–Eu sei, mas vamos mesmo assim.
–E por onde quer começar, Sabichão?-Eu pergunto a Adam.-Não podemos tentar invadir a fortaleza ou qualquer lugar que pertença à Romckpay ou a Cinclair sozinhos. Seria suicídio.
–Eu sei, mas nós vamos para outro lugar. Vamos atrás de aliados.-Adam diz.-Morgan me falou sobre um lugar que podemos ir, é para lá que vamos.
–Você decidiu virar líder agora?-pergunto.-Quem te deu essa liberdade?
–Eu estou tomando uma atitude, devia fazer isso também.-Ele me responde.
–É o que estou tentando fazer.-digo.
–Não o suficiente.-Adam diz.-Onde fica exatamente esse lugar, Morgan?
–É no país de Gales.-diz o garoto.-Não sei a localização exata, mas ouvi meu irmão falar sobre um comerciante no porto que te leva até lá pelo preço certo. Só precisamos estar no porto no horário certo.
–E que tipo de aliados Kirck tem lá?-eu pergunto.
–Eu não sei exatamente.-ele explica.-Ouvi alguma coisa sobre parceria entre espécies. Mamãe me falou que iria para lá algum dia, não sei onde ela está, para ser sincero. Eu não a vi quando tudo aconteceu.
–Sua mãe?-repito.-Ekatherine?
–Sim, você a conhece?-ele pergunta.
–Talvez um pouco. Adam, me acompanha um pouco sozinho?-pergunto de forma retórica enquanto o puxo pelas braços alguns metros longe do garoto e impeço que ele fale qualquer coisa com um sinal de mãos.-Você se lembra da carta? A de Ekatherine? Lembra que ela falou algo sobre um refúgio no País de Gales? Ela falou sobre a Cidade da Aurora ser verdadeira, ela não me parece do tipo que mente. E se ela sobreviveu e fugiu com o suposto grupo que conseguiu sair daqui e agora ela está lá, como prometeu que estaria? É uma esperança boba, mas faz sentido.
–É sobre isso mesmo que eu estava pensando.-ele me responde.-Eu acho que Morgan está certo. A tentativa vale a pena. Vamos ao País de Gales, procuramos pela Cidade da Aurora e pela Ekatherine, se estiverem lá, vão nos ajudar. Se não der certo, pegamos o primeiro navio para a América, seguimos o plano original.
–Muito bem.-começo a dizer.-Acho que já temos nosso plano.
Seu sorriso reflete o meu quando apertamos nossas mãos, fechando um acordo.


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