Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 26
Capitulo 26


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capitulo da semana!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/678080/chapter/26

A campina que leva à minha casa fica há cerca de dois quilômetros de uma aldeia governada por um duque louco por jóias e qualquer coisa de metal. Ao longe, podíamos ver os contornos das casas na cidade onde vivi minha infância inteira. A fazenda da minha família ficava mais afastada por preocupação, já que meu pai era ferreiro e precisava de um galpão seguro para trabalhar. Longe de uma população que pudesse queimar. A fumaça saindo da chaminé no galpão me dizia que ele estava trabalhando lá. Provavelmente tinha chegado lá antes que o sol começasse a nascer.
–Meu pai é ferreiro, então tente não enlouquecer quando ele começar a falar sem parar sobre armas especificas e tentar analisar todas as suas armas.-aviso Adam enquanto descemos a colina até a porta da frente.
–Ele gosta do que faz?-Adam pergunta.
–Sim.-digo quando desço do cavalo e prendo as réguas ao lado do outro cavalo em um tronco de madeira.
–Por mim tudo bem.-diz me seguindo até a porta.
Bato levemente na porta de madeira e ouço um "já vou" com uma voz feminina. Ouço os cliques quando a porta é destrancada e me deparo com a mulher baixinha e magra em um vestido escuro que não via há quase 10 anos.
–Oi, mãe.-digo.
Ela põe as mãos sobre a boca quando me reconhece, os belos olhos azuis se enchendo de água. Talvez estejam certos quando dizem que uma mãe sempre reconhece seus filhos, mesmo não os vendo por anos.
Ela abre mais a porta e me puxa em sua direção, me envolvendo em um abraço apertado e até um pouco doloroso. Ouço-a fungar e ela me aperta uma última vez antes de me soltar e se afastar o bastante para me olhar.
–Meus deuses, minha filha.-ela exclama.-Pensei que nunca mais a veria.
Seus olhos ainda estão marejados, mas ao menos agora ela parece estar se acalmando.
–Mãe, esse é o meu melhor amigo, Adam.-o apresento apontando em sua direção e o fazendo parar de se afastar constrangido pela cena. Ele também não deve ter contato com a família há muito tempo. Talvez ele queira se despedir deles antes de irmos embora também. Eu realmente não me importaria se o fizesse.-Nós somos parceiros, ele vai comigo para qualquer lugar.
–É um prazer conhecer o amigo da minha filha.-ela diz ainda fungando, mas bem mais calma.-Vamos, entrem. A casa é de vocês.
Fizemos o que ela pediu e Adam me segue para dentro da casa. De certa forma, ela ainda é exatamente como nas minhas lembranças. A mesma cozinha pequena em frente às janelas, as mesmas prateleiras cheias de temperos e alimentos de todos os tipos, a mesma mesa de jantar com tampo de madeira no centro da sala e as poltronas desgastadas pelo tempo e pelo uso ao redor da lareira apagada. O corredor dos quartos também continua sendo igual e aposto que se entrasse nos quartos eles ainda seriam como eu me lembrava de serem quando eu era só uma criança. O quarto dos meus pais e logo à frente o quarto dos meus irmãos e o que eu dividia com as minhas irmãs. Éramos cinco, no total. No entanto, talvez agora a família já tenha diminuído.
–Por favor, sentem-se!-ela pede apontando para a mesa.-Logo o jantar vai estar pronto e seu pai vai finalmente sair daquela fornalha que chama de trabalho.
–Ele ainda é obcecado com trabalho?-pergunto me sentando em uma das cadeiras ao lado de Adam.
–Nem me fale, querida.-ela me explica.-E agora que seu irmão está aprendendo o ofício da família, vem sendo cada vez mais difícil tira-los de lá.
–Quem? Maksim?-pergunto e ela assente enquanto volta a trabalhar na mesa cortando alguns legumes.-Já era de se esperar. E quanto aos outros? As garotas...
Minha mãe finca a faca em um dos legumes e se vira para nós, me olhando com uma expressão derrotada. Como uma mãe triste em ver seus filhos indo embora.
–Depois que você foi embora, muita coisa aconteceu.-ela explica.-Belka atingiu a idade adulta e se casou com o Duque Willians.
–O Duque?-pergunto incrédula.-Minha irmã mais velha se casou com o duque?
–Sim.-ela responde.-Já fazem quase dois anos. Sabe que ela sempre quis uma vida melhor para si. Ela a encontrou com o duque, e ele ficou feliz em ter um acordo definitivo com o único ferreiro da região. Sabe como aquele homem é louco pelas armas de seu pai.
Eu assinto. É a verdade.
–Quando a Misha, ele foi recrutado pelo exército da Rainha aos 16 anos. Recebemos uma carta e uma semana depois, ele já não estava em casa. Soube que atualmente ele é um dos guardas no acampamento militar, próximo de Windsor. Ele não tem permissão para lutar em caso de guerra por que seu trabalho é manter os inimigos longe do regimento. Acho que essa é uma boa notícia que seu pai não compartilha. Ele queria que seu filho lutasse como os outros soldados.
–E Liev?-a questiono.-Ela devia estar em casa ainda. Ela tem o que, 13 anos?
–Ela já completou 15 anos, na verdade.-ela me corrigi e eu desvio o olhar. Estou há tanto tempo fora que já nem consigo lembrar dos meus irmãos, o rosto deles.-Ela começou suas lições com a Sra. Hanchild há alguns meses. Você se lembra dela? Digo, da Sra. Hanchild e sua família.
Digo-lhe que sim. É claro que eu me lembro da mulher de meia idade que me ensinou como me portar como uma dama ainda muito cedo. Minha mãe tinha planos para mim que o destino felizmente quis alterar. Ela queria me fazer uma espécie de princesa, por que razão, eu não sei. Mas nunca cumpri bem as exigências de Dorothea Hanchild. Por outro lado, me orgulho em dizer que me tornei uma lutadora excepcional, como meu antigo treinador costumava dizer. Eu nasci para lutar e caçar, não para o casamento e a família.
–Liev é uma boa menina agora, Saphira.-minha mãe conta.-Tenho certeza de que vai se tornar uma mulher extraordinária. Ela deve chegar para o jantar, vai ficar feliz em te ver. E é claro, ao seu amigo também.
–Não quero incomodar.-ele diz tentado parecer educado. Ele parece extremamente tímido diante da minha mãe. Espere até conhecer meu pai, Adam, penso.-Eu só vim como acompanhante da Saphira, temos muito o que fazer ainda e ela só queria passar aqui para lhes fazer uma visita.
De fato, viemos apenas para fazer uma visita. Uma última visita.
–Bem, o que importa é que vocês vieram.-minha mãe continua a falar.-Mas já que estão aqui, fiquem para o jantar. Vai ser ótimo reunir o que restou da nossa família. E você é mais que bem-vindo, querido.
Adam agradece constrangido com a maneira amigável que a minha mãe tem para lidar com as pessoas e vejo Adam corando antes que ele desvie o olhar e eu não possa mais ver seu rosto. Mamãe sorri e volta a trabalhar com seus legumes.
Me sento com Adam nas poltronas depois que minha mãe dispensa minha ajuda com a comida e passamos a conversar sobre assuntos mais amenos, tentando manter a preocupação fora de nosso tom de voz. Não queremos alertar minha mãe sobre o que vamos fazer em seguida. Se ela soubesse a verdade...
–O que a tal Ekatherine te deu antes de sairmos?-ele pergunta em um tom de voz baixo.
–Você escutou?-questiono desconfiada.
–Não tudo.-ele responde.-O que ela te disse?
–Disse que conhecia minha mãe.-explico-lhe e tento amenizar minha expressão quando conto a ele o que Ekatherine me disse sobre seu passado com a minha mãe.-Disse que me reconheceu quando descobriu meu sobrenome. Como, eu não faço ideia. Talvez o filho dela tenha lhe dito. E depois ela me entregou uma carta antes de se afastar.
–Você já a leu?-ele pergunta.
–Não.-respondo.-Ainda não tive tempo para isso. Além do mais, ela pediu que eu lesse quando estivesse sozinha.
–Acha que eu não posso ler também?-ele pergunta sincero.
–Confio em você.-digo lhe entregando a carta escondida em meu bolso.-Não sei o que ela teria para me dizer que você também não pode saber.
–Então posso ler?-ele insiste.
–Por que não?-dou de ombros.
–Acho melhor você ler primeiro.-ele responde e me devolve a carta já aberta.-Ela a escreveu para você, então acho que você tem a prioridade.
Assinto e desdobro a carta no meu colo, já começando a ler enquanto Adam dá uma rápida olhada para ter certeza de que minha mãe está ocupada o bastante para prestar atenção.
"Querida Saphira,
Meu nome é Ekatherine O'Neil, é meu nome de solteira e atual. Você talvez não se lembre de mim porque você era só um bebê quando a vi pela última vez. Sua mãe e eu éramos melhores amigas na nossa infância e juventude. Mas aos 15 anos fui mordida e um mês depois tive minha primeira transformação. Você conhece o processo bem até demais se está nesse acampamento. Sua mãe e eu crescemos juntas e ela era uma das poucas que sabia sobre mim. Quando a situação ficou fora de controle, ela me ajudou a fugir e eu descobri o Acampamento BlackWolf não muito tempo depois. Não vou entrar em detalhes quanto a essa parte da minha vida, sei que você sabe do que se trata.
Me casei com outro lobisomem anos depois, mas sua mãe fez e mesmo e queríamos manter a amizade, então demos um jeito de manter contato. Se a vir de novo, pergunte a ela sobre mim. Ela irá te contar nossa história.
Meu filho me contou o que você falou a ele sobre o possível extermínio de sobrenaturais inocentes. Não vamos ficar parados. Somos lobisomem e não caímos sem lutar. Você já deve ter ouvido falar sobre a Cidade da Aurora. Há um tempo atrás soubemos de um prisioneiro que ela era real e ficava em algum lugar do País de Gales. A informação é confidencial, mas sei que posso confiar em você. Sou a mãe de nosso alfa e sei qual é o plano do meu filho. Vamos acreditar no fae que jurou de joelhos que já esteve na Cidade da Aurora e iremos para o País de Gales a procura da ajuda dos feéricos. Feéricos e lobisomens tem uma ligação antiga neste país. Sei que pode ser loucura, mas é nossa única esperança. Somos poucos, não podemos começar uma rebelião sozinhos. Se quiser nos ajudar, por favor, nos encontre na Cidade da Aurora. É nossa melhor chance e sei que você poderia nos liderar de forma espetacular. Se não voltarmos a nos ver, te desejo boa sorte e tenha uma boa vida do outro lado do mundo. Seja feliz. É tudo o que peço para você.
Um grande abraço, Ekatherine.
Adeus, Saphira Cartwright."
Ao terminar de ler, fico alguns momentos em silêncio.
–Eu posso ler?-Adam pede ao me observar. Estendo a carta para ele e o vejo fazer as mesmas expressões que provavelmente fiz enquanto a lia. Ele termina de ler e me entrega a carta já dobrada. Como se não quisesse que mais ninguém a lesse.-Esconda-a, mas não a jogue fora ainda. Precisamos conversar sobre a Cidade da Aurora e sugiro que pergunte a sua mãe sobre Ekatherine essa noite também.
–Você acha que ela estava mentindo sobre alguma coisa?-pergunto-lhe desconfiada.
–Na verdade, acho que ela contou a verdade sobre tudo.-ele responde.-E esse é o grande problema. No entanto, converse com a sua mãe mesmo assim. Precisamos ter certeza.
–Eu...-começo, mas sou interrompida pelo som da porta da frente batendo. Uma garota de cabelos brancos como a neve acaba de passar pela porta e abraça minha mãe, as duas felizes em se verem depois de um dia cheio. Liev Cartwright acaba de chegar em casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Caçadora da Meia-Noite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.