Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 25
Capitulo 25


Notas iniciais do capítulo

E aqui vai o capitulo da semana!



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Nossa conversa não durou muito mais tempo depois de toda a minha explicação. Ele nos prometeu abrigo quando achássemos necessário e disse que poderíamos ficar desde que os ajudassem na administração ou trabalhando em algum lugar do acampamento. Kick tentou agir de forma mais normal possível depois do que lhe disse, tentando mascarrar o quanto parecia assustado com todas essas novas informações. Um alfa não pode mostrar suas emoções dessa forma. Precisa sempre se manter estável e na linha. Um verdadeiro líder precisa ser racional, mas até mesmo lobisomens se preocupam com as outras pessoas.
–Quanto ao que você me contou, nós vamos precisar conversar mais tarde.-Kick conclui.-Se puder.
–É claro.-respondo.-Pode me chamar quando estiver pronto para falar sobre um assunto tão pesado. Sei que ainda precisa digerir a informação.
Ele balança a cabeça confirmando.
–Eu preciso ir...-digo comentando a me levantar, mas sou interrompida por sua viz mais uma vez.
–Espera.-ele pede.-Será que podemos conversar a sós? Agora?
–Agora?-pergunto para confirmar.-Não quer deixar para falar sobre...
–Não é sobre o que você está pensando.-ele me interrompe. Nós nos olhamos e depois voltamos nossos olhares para Adam, um pedido silencioso para que ele vá enviar. Ele hesita um pouco e parece demorar um pouco para entender, mas quando ele faz menção de se levantar, a porta se abre mais uma vez.
Hoje é o dia para sermos interrompidos!
Um menino de não muito mais do que 13 anos é quem abre a porta, ele nem nos olha muito antes de correr até Kick. Ele sussurra alguma coisa perto do ouvido de Kick e ele assente antes que o garoto se afaste. Olhando-os próximos um do outro, eles são bastante parecidos. Os meus cabelos negros e a pele morena que contrasta com os olhos azuis. No entanto, o garoto é extremamente magro e parece ainda não ter entrado na puberdade, o que dá para perceber com seus cabelos cacheados típicos de crianças.
–Mais tarde resolvemos isso, Morgan.-Kick informa ao menino.-Agora volta para casa. Deve ter muito o que fazer antes de jantar.
O pequeno Morgan murmura um "sim" que quase não escuto e me olha com um expressão indecifrável antes de bater a porta às suas costas.
–Sinto muito pela interrupção.-Kick pede.-Morgan é meu irmão mais novo, então me sinto responsável por ele, mesmo com minha mãe por perto. Além do mais, ele é muito apegado.
–É só una criança.-argumento.-Não se desculpe por isso.
–Certo.-Kick continua. Se levanta e pede para que façamos o mesmo.-Vou leva-los até os dormitórios. Normalmente, ficam vazios já q só servem para visitantes ou àqueles que ainda não foram realocados para outra casa. E os dois casos são raros, então...
Ele deixa a frase morrer. Já entendemos e ele não precisa continuar. Entramos em um alojamento com um corredor cheio de portas, mas tudo tão vazio e deprimente perto dos sons e o movimento lá fora.
–Fiquem com o quarto que quiserem, mas temos uma política de quartos separados, então, por favor, cumpram-as.-ele avisa nos olhando do batendo da porta no corredor.-Serei obrigado a bani-los se não seguirem as regras como todo mundo.
–Não será um problema.-tranquilizo-o olhando para Adam.-Certo?
–Sim, ela fala a verdade.-ele assente.
–Muito bem.-Kick diz trocando de posição.-O jantar começa às 20:00h. Irei instruir à todos para respeitarem o humano, já você não precisa se preocupar com olhares estranhos.
Eu assinto entendendo.
Adam nos olha e carrega a pequena mala de suprimentos básicos que ganhou até uma das portas no lado direito do corredor e fecha a portas às suas costas. Uma escolha aleatória. Ele está de mau-humor.
–Desculpe perguntar por isso, mas qual seu nome mesmo?-Kick pergunta-me depois que Adam não pode mais nos escutar.
–É Saphira.-digo sorrindo. Não é a primeira vez que preciso repetir meu nome. Incomum como é, não deve ser fácil de lembra-lo.-Meu nome é Saphira Cartwright.
–Saphira...-ele fala parecendo estar experimentando o som do nome.-É um nome lindo para uma garota linda.
–Obrigada.-agradeço porque é só o que eu sei responder a um elogio.-Mas não sou exatamente uma garota.
–Também não sou exatamente um homem. É o que nos torna especiais.-ele conta.-Por isso é um prazer te conhecer.
–Talvez eu deva dizer o mesmo.-comento.
–Deva?-ele pergunta confuso.-Não vai?
–Ainda não decidi se vou me arrepender ou não.-sorrio.
–Sábia maneira de pensar.-ele diz e se aproxima de mim o bastante para que possa sentir sua respiração. Segura uma das minhas mãos e beija minha bochecha com suavidade antes de se afastar.-Não vou me arrepender das minhas palavras.
–Espero que não.-retruco me afastando.-Nos veremos no jantar.
–É claro.-ele se despede.-Até mais tarde.
Ao sair, encosta a porta e nos dá liberdade para nos arrumarmos. Não consigo abrir minha mala básica idêntica à de Adam antes que ele abra a porta e ouça sua voz.
–"Um nome lindo para uma garota linda".-ele retruca imitando Kick.
–Você estava escutando?-eu não consigo parar de rir.
–É claro que estava.-ele diz.-Não gostei nem um pouco daquele cara. Se gaste dele, Saphira. É mais um babaca.
–E você está com ciúmes?-continuo rindo.
–Não!-ele exclama irritado e sai do quarto pisando forte enquanto rio às suas costas.
No jantar, encontro todas as mesas já lotadas, mas não parecia que alguém iria sair de lá tão cedo. Quando Adam e eu estamos pegando nossa comida na mesa disposta para todos, ele cutuca levemente minhas costelas e aponta discretamente para uma mesa próxima a janela. Tudo que vejo é Kick com 3 garotos que devem ser seus amigos e uma garota com mais ou menos sua idade agarrada ao seu braço enquanto comem e conversam.
Olho para Adam e dou de ombros com uma expressão confusa. Como se o perguntasse "e dai?". O que Adam quer que eu veja além de Kick e seus amigos agindo como pessoas normais com a namorada do lado. Para mim, tudo normal. Ele não parece interpretar da mesma maneira, porque continua com a sua carranca desde que chegamos nesse acampamento. As vezes só está pior. Como agora.
Morgan também está sentado na mesa com um casal de adultos e uma mulher muito parecida com ele sentada à sua frente. Deve ser sua mãe, embora os cabelos ruivos da mulher a diferenciem dos filhos.
Adam pega seu prato de comida e se senta na mesa mais vazia, mas quando passo por ele faço um sinal o chamando e ele me segue para uma mesa mais ao centro do refeitório cheia de adolescentes que ficam felizes em nos deixar sentar junto deles. Conversamos muito enquanto jantávamos e voltamos ao dormitório bastante tarde. Acabo apagando pouco depois de me deitar, não me lembrava de o quanto o dia havia sido cansativo até me deitar.
Sou acordada no meio da noite sendo sacudida e abro os olhos em um susto. Ao me ajustar à pouca luz, vejo o rosto de Kick perto demais do meu, o que me assusta. Ele faz um sinal com o dedo sobre a boca pedindo silêncio e me pede para acompanha-lo até onde ele quisesse ir. Eu me levanto e calço meus sapatos antes de caminhar com ele até uma área afastada do acampamento agora silencioso e escuro. Estamos próximos demais da floresta, mas somos lobisomens e nenhum animal vai se aproximar. Somos a ameaça maior. Quando se certifica de que não há ninguém escutando, Kick começa a falar.
–Me desculpa por ter te acordado a essa hora da noite, Saphira.-ele pede me olhando e tomando cuidado com o tom de voz.-Eu disse que precisávamos conversar e achei que fosse o melhor momento enquanto todos dormem.
–Você está certo.-concordo.-O que quer falar comigo?
–Saphira, eu tomei minha decisão.-ele explica. Faço um sinal pedindo para que ele continue.-Devido ao que você me contou sobre a máquina do tal David, convoquei uma reunião com os licantropes mais influentes essa noite para discutirmos o assunto. Acabei de sair dela, aliás. Decidimos ficar e lutar contra Romckpay. Não podemos fugir e deixar que aquelas pessoas façam uma coisa dessas.
–Mas é perigoso.-argumento preocupada.-Vocês podem morrer no processo.
–Eu sei.-ele diz.-Mas a decisão já foi tomada e não costumamos voltar atrás. Te desejo sorte na sua viagem até o píer e te desejo também uma boa viagem até a América. Você tomou sua decisão e eu tomei a minha, mas eu respeito que você não queira se envolver em toda essa história. Com certeza isso vai se tornar uma luta e me certificarei que só voluntários façam parte dela. Como retribuição às suas informações, vou te dar uma também. Quando chegar ao píer, procure por Wes Handey. O chamam de Olho Noturno, vai entender quando o ver. Wes pode te levar até a América em segurança.
–Obrigada.-agradeço.-Se você já tonou sua decisão, não vou tentar te convencer do contrario. Nós vamos partir amanhã de manhã logo depois do café da manhã. Preciso fazer uma última parada antes de ir embora.
–Tem certeza que não quer ficar mais tempo?-ele insiste.-Sabe que pode ficar o quanto quiser.
–Eu sei, mas preciso ir.-aviso.-Minha viagem ainda está longe de acabar e não quero desperdiçar tempo.
–Como quiser.-ele diz.
Conversamos por mais algum tempo sobre minha ida amanhã e o tipo de coisa que aprendi com Ronckpay que poderá ser útil e ser usado contra ele na guerra que vai começar. Depois de muito tempo de conversa, vamos para nossos respectivos quartos e prometemos conversar sobre o que for mais tarde. Sempre mais tarde. É como se a natureza humana se recusasse a todo custo aceitar qualquer coisa negativa ou perigo.
Levanto cedo no outro dia e arrumo todas as minhas coisas e afio minhas facas antes de deixar o quarto e ir até o refeitório tomar o café da manhã. Os cavalos já estavam prontos quando decidimos que era hora de voltar a nossa viagem até o Porto, exatamente como Kick pediu.
Quando ajeito a bolsa de comida sobre o cavalo negro que roubei da prisão, Kick aparece de mãos dadas com sua namorada. Baixinha de olhos castanhos e cabelos escuros, ela parece ser legal. Eles se beijam antes de se afastarem e Kick caminhar até nós dois para se despedir. Muitos lobisomens formaram uma roda ao nosso redor para se despedirem e eu abraço Kick e todos os adolescentes que fiz amizade na noite passada durante o jantar. Quando Kick se afasta, olho ao redor e paro meu olhar entre Morgan e a garota baixinha que sorri para mim.
–Por favor, tenha a certeza de que só voluntários vão lutar.-insisto.
–Vou fazer tudo para garantir isso.-ele diz seguindo meu olhar e parecendo entender onde eu queria chegar.-Ninguém com menos de 16 anos vai lutar e quanto à Lynn...ela jamais segurou uma arma, quanto mais lutar. Vou manda-la para um lugar seguro.
–Você é um bom líder, preciso admitir.-confesso.-Não sou do tipo que comenta isso, então sinta-se honrado.
–Líder não, alfa.-ele me corrige.
–Alfa.-repito.-Adeus.
–Adeus, Saphira.
Subo sobre o cavalo e Adam faz o mesmo. Antes que eu possa fazer o cavalo andar, ouço uma voz feminina me chamar. Me viro há tempo de ver uma mulher correr em minha direção e se apoiar ao lado do meu cavalo.
–Querida!-ela me chama.-Sinto muito fazê-la parar, mas tive que vir aqui quando te reconheci.
Faço uma expressão confusa, acho que nunca a vi antes.
–Meu nome é Ekatherine. Sou a mãe de Kick.-ela explica.Sim, a mãe de Kick e Morgan. Eu a vi no jantar da noite anterior.-Sua mãe e eu nos conhecemos desde pequenas. Sei quem você é, Cartwright. Se você mudar de ideia quanto a nos ajudar nessa guerra, nos encontre, por favor.
ela segura uma de minhas mãos e a fecha sobre uma folha de papel. Um bilhete.
–Leia-o quando estiver sozinha.-ela me pede.-E não importa o que aconteça, nós estaremos lá. Assim você sabe onde nos encontrar se quiser nos ajudar.
Assinto com a cabeça. Terei tempo para entender o que ela quer dizer mais tarde.
–Boa sorte, querida.-Ekatherine me diz. Ela assente sorrindo e se afasta, me dando espaço para ir.
Guardo sua carta em meu bolso e viro o cavalo em direção à saída. Quando percebem que estamos prontos, abrem os portões. Saímos e eu olho mais uma vez para Kick antes que os portões fechem.
–Muito bem.-digo para Adam.-Somos só nós dois de novo. Se importa de passarmos em mais um lugar antes de irmos? Fica no caminho.
–Não, não me importo. Acho que vamos conseguir chegar lá a tempo já que temos cavalos agora.-ele argumenta.-Onde precisa ir?
–Para a minha antiga casa.-explico.
Seguimos caminho parando de vez em quando para descansarmos e comermos alguma coisa enquanto tomamos água e passamos a caminhar de tempos em tempos para que os cavalos tenham um pouco de descanso. Fizemos acampamento em uma área com mais espaço entre as arvores e seguimos viagem logo depois do nosso café da manhã. Quando o sol começa a dar os primeiros sinais de que vai se pôr, chegamos a campina que um dia já foi minha casa.


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