Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 19
Capitulo 19




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Eu cumpro o que combinei com Adam. Vou até a taverna Capital, em Londres. Quando entro, de cabeça baixa e o mais silenciosa possível, naquele lugar barulhento e quente, percebo alguns olhares se voltarem para mim. Vestida completamente de preto e com o rosto quase todo escondido pelo capuz, pareço irradiar problemas para essa gente, mas não é a primeira vez que venho aqui, então apenas ignoro os olhares surpresos enquanto caminho até a mesa do bar. Não levanto o capuz quando peço ao funcionário um copo de água gelada, já que poderiam saber quem eu era e tudo que eu menos quero agora são bêbados e prostitutas falando sobre mim justamente na noite que decido fugir. Enquanto deixo o tempo passar, bebo lentamente minha água e observo os olhares em mim rapidamente se voltarem para o que faziam antes e continuarem com sua noite como se eu não existisse. Bom. É melhor assim. Não presto tanta atenção no relógio para saber há exatamente quanto tempo estou sentada nesse bar esperando por Adam, mas sei que é tempo o bastante para começar a me preocupar. Quando olho novamente para o relógio de parede no fundo do bar, noto que já passaram das 23:00 horas há muito tempo. Não posso mais ficar o esperanto, preciso ir embora o quanto antes. Não esboço uma única reação quando empurro o copo agora vazio de água de volta para o homem e jogo-lhe uma moeda de bronze como pagamento, dando as costas para o lugar logo em seguida. Ao sair do bar, ouço um barulho de correria na rua e viro-me à tempo de ver um vulto correndo até a entrada de um beco escuro entre dois restaurante há alguns metros do bar onde estava. Meus instintos gritam para que eu vá até lá verificar, então enquanto caminho lentamente até lá, levo minha mão até o cabo de um dos meus punhais presos à cintura e escondidos sob a capa comprida. Um punhal pode não ser útil contra algum demônio, mas isso eu irei decidir quando o vir. Quando chego perto do beco, não tenho tempo de sequer me mexer antes de mãos quentes agarrarem meus braços e puxarem-me para a escuridão do beco. Meu treinamento com os Caçadores da Meia-Noite me ensinou a não gritar, por isso continuo em total silencio enquanto o humano que me puxou me solta e me acostumo com a escuridão. Eu soube que era humano no momento em que senti suas mãos agarrando meu braço. Meus olhos de lobo se ajustam com facilidade à falta de luz e logo consigo ver claramente onde estou e o que tem ao meu redor. O rosto do garoto na minha frente está cinzento devido à escuridão, mas eu o reconheceria em qualquer lugar.
–Adam?-exclamo surpresa. Eu realmente achei que ele não iria mais aparecer.-O que você está fazendo aqui? Porque me puxou desse jeito? Sabe muito bem que eu poderia ter te matado.
–Eu sei, mas silêncio. Por favor.-ele me pede em um tom assustado.-Eu tive que escapar pela lateral da mansão, escalando uma das arvores para sair. Eles me viram mesmo assim e agora estão atrás de mim. Sinto muito, não pude trazer suas coisas na correria, mas eu prometi que viria e vim.
–Tudo bem, Adam. Eu entendo.-digo pondo a mão em seu ombro gentilmente.-Agora precisamos sair daqui.
–Sim. Mas antes, eu trouxe algo para você.-ele tira dos ombros a aljava que carregava e levanta do chão uma besta que ele provavelmente roubou do arsenal de Romckpay. Arregalo os olhos. Conheço essa besta, sei exatamente de onde ele a pegou.-Eu sei que essa é a sua favorita. Quero que fique com ela.
Hesito ao pegar a besta. Não, é muita coisa. Empurro-a contra ele e sua expressão é de confusão.
–Já estou levando muitas armas. Agradeço por ter me trazido essa besta, mas carregue-a.-Explico enquanto o ajudo a prender a aljava de volta em suas costas.-Você atira tão bem quanto eu. Sei que prefere arco e flecha, mas não é tão diferente. Leve-a por mim, vai ser melhor assim. Além do mais, você tem poucas armas.
Abdicar da minha arma favorita é difícil mesmo sabendo que é o certo. Todos temos dificuldade em abdicar do que gostamos. Objeto ou não.
–Tem razão.-Ele diz já se acalmando.-Para onde você pretende ir?
–Para a floresta.-respondo apontado rapidamente a direção da estrada que leva em direção à floresta.-Posso cortar caminho pela floresta e chegar até o cais ao norte com mais segurança. Ir de cidade em cidade irá me atrasar e provavelmente vai me fazer ser capturada. Se precisar voltar à civilização posso ir até alguma vila e discretamente pegar o que preciso para seguir viagem.
–O plano parece ótimo.-ele respondo assentindo.-Só não entendi uma coisa: Por que você precisa ir ao cais?
–Eu vou para a América, Adam.-explico em um tom de voz baixa.-Preciso ir. Lá eu posso fugir de Romckpay e o alcance daquela arma. Vou me esconder lá e recomeçar minha vida. Longe dos olhares dele e dos caçadores que provavelmente vão me seguir.
–Mas você nasceu aqui, Saphira. A Inglaterra é sua casa.
–Não se ficar pode significar minha morte. Eu não vou te forçar a ir comigo.-digo.-A decisão é sua.
–É muito longe.-ele reflete. Dou de ombros pela sua observação.-Não sou lobo como você, vou te atrasar.
–Posso andar como humana por um tempo e você pode achar um cavalo se quiser.-explico.-Precisa decidir, Adam. Logo.
–Eu sei, eu sei.-ele se afasta um pouco de mim e abaixa a cabeça. Parece pensar no que fazer e fica em silêncio por vários minutos.Por fim, parece ter tomado uma decisão e volta a falar, um sorriso em seu rosto.-Tudo bem. Eu vou com você. Você é minha melhor amiga e eu nunca te deixaria sair sozinha. Não quero ficar aqui sem minha melhor amiga. Se você for sozinha, posso nunca mais te ver. Eu vou junto. Essa é a minha decisão.
Assinto e o empurro um pouco para trás. Ele me olha confuso e eu vou em direção à rua, para longe do beco e no meio dos olhares de todos. A partir de agora, preciso agir com normalidade.
–Você vai vir ou não?-pergunto olhando para trás quando o vejo ainda parado no mesmo lugar.
–Vamos.
Quando saímos de perto do beco, tentamos agir de forma mais normal possível. Como se não carregássemos um verdadeiro arsenal sob as roupas e estivéssemos em uma fuga. Adam nos leva até uma das principais ruas londrinas, a Oxford Street, onde aluga uma carruagem para longas distâncias com algumas moedas de prata. Em uma noite movimentada no centro comercial de Londres, somos só mais um casal de clientes para o cocheiro de meia-idade que nos leva. Um pedido para nos deixar em frente a estrada da floresta não deve ser lá a coisa mais estranha que esse homem já ouviu. Optamos por sermos mais lógicos e decidimos por entramos na floresta pela mesma entrada que os madeireiros usam todos os dias para ir e voltar do trabalho. A essa hora, a estrada está vazia, mas deve haver muitas toras de madeira espalhadas em ambos os lados. Resquícios dos trabalhos ainda inacabados dos funcionários. De lá, entramos na floresta e seguimos caminho para fora da trilha dos trabalhadores. Minha esperança é termos deixado o perímetro de corte estabelecido para as madeireiras até o amanhecer, quando os primeiros funcionários vão começar a se aproximar para mais um dia de trabalho. Até lá, os Caçadores já vão ter notado nossa presença, mas espero ainda termos cerca de 48 horas antes de começarem a procurar fora da cidade. Se tivermos sorte, já vamos estar longe o bastante para que eles não nos encontrem mais quando decidirem ir até a área dual por onde estamos passando. Se vierem até aqui. Não sei se a determinação daqueles soldados pode ser maior que o orgulho que os faz ficar longe dos subúrbios. A maioria deles deve ter passado a infância toda em um lugar desse, agora eles não querem nunca mais voltar. Sei disso porque me senti assim por muito tempo.
O percurso até a estrada do circulo industrial leva cerca de 1h e meia. Tempo suficiente para que eu e Adam consigamos traçar um plano de base, como fazíamos nas nossas antigas missões. Se o plano sair como queremos, devemos estar no Porto em menos de duas semanas. É o tempo necessário para conseguirmos um barco e estarmos bem longe da Inglaterra quando Stewart Romckpay decidir ligar aquela maquina.
O cocheiro assobia para nos avisar que já chegamos e interrompe nossa conversa. Nós o agradecemos quando passamos por ele e continuamos de pé no mesmo lugar até o carruagem desaparecer das nossas vistas na estrada mal cuidada e escura. Aqui a atenção do governo não é de longe como no centro de Londres onde estávamos.
–Ainda dá tempo de desistir, Saphira.-Adam diz quando a sombra da carruagem desaparece na primeira curva.-Você ainda pode voltar e tentar parar Romckpay.
–Não.-respondo imediatamente.-Deixe que os outros resolvam os problemas deles se quiserem tentar impedir aquele homem. Eu vou viver.
–Como quiser, Saphira.-Ele diz em um suspiro. Juro que noto um tom desapontado em sua voz.-Como quiser.


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