Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 18
Capitulo 18


Notas iniciais do capítulo

Capitulo novo saindo! Obrigada pelo apoio ♥



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–O que você pretende fazer agora?-Adam me pergunta.-Sei que você tem que ir embora, mas quero saber onde você vai. Ficar sem notícias suas e sem saber se você continua viva ou não vão ser uma tortura para mim.
–Sinto muito, Adam, mas não posso te dizer.-falo me afastando um pouco.-Se descobrirem o que você sabe sobre mim, vão te torturar até arrancarem alguma informação para você.
–Então eu vou junto.-ele fala decidido.
–Não!-exclamo.-Você não vai estragar sua vida por mim. Esse é meu fardo, me deixe carrega-lo sozinha.
–Mas talvez seja melhor continuarmos juntos. Somos amigos, mas somos mais fortes juntos.-ele insiste.-Não pode ter certeza de que vai ficar bem sozinha lá fora e...
–Adam, não comece.-peço.-Eu vou sozinha. Ou você aceita isso e me deixa partir, ou você vai ter que me denunciar.
–Eu jamais vou fazer isso com você.-ele diz.-Vou te ajudar a fugir. Posso criar uma distração para você ir embora antes que notem qualquer coisa estranha.
–Tudo bem.-decido.-Isso pode vir a calhar. Mas precisa ser agora. Eu não posso perder tempo. Acha que consegue fazer isso hoje?
–Eu vou pensar em alguma coisa.-ele me responde decidido. Se levanta em um único pulo e acena a cabeça em sinal de que tem certeza de alguma coisa. Eu quase posso ver pequenas engrenagens funcionando em seu cérebro.-Termine de se arrumar e deixe suas coisas lá embaixo, perto dos estábulos onde ninguém vai. Quando eu der o sinal, vai embora. Assim que eu conseguir sair, levo suas coisas até onde você achar melhor.
–Como eu vou saber qual é o sinal?-pergunto.
–Você vai entender quando acontecer.
Assinto. Já nos conhecemos há tempo o suficiente para saber como a mente de Adam funciona. Sem muitas perguntas, ele deixa o plano acontecer antes de fazer qualquer mudança. Normalmente, isso dá certo. Por isso mesmo que não estou o contestando agora.
–Eu vou estar na taverna Capital, no centro da cidade.-digo já pensando no que terei que fazer enquanto estiver sozinha.-Fica a duas quadras daqui.
–Uma taverna.Tem certeza?-assinto em concordância.-Tudo bem. Eu dou um jeito. Quando estiver pronta, bata na porta do meu quarto e eu saberei que está indo embora. Não precisa voltar, só esconda suas coisas e vá.
–E se você não conseguir sair?-isso também é um ponto importante a ser considerado.
–Se eu não aparecer na taverna até a meia-noite, significa que eu não vou.-ele explica.-Se for esse o caso, nem pense em voltar. Provavelmente vão suspeitar se você fizer isso. Só fuja para onde tiver que ir e me deixe lidar com os outros sozinho.
–Eu não quero ter que te deixar sofrer consequências graves para me deixar fugir.-falo.-Você sabe que eu não sou assim.
–Mas hoje é isso que você vai fazer.-ele diz em tom autoritário.-Não volte para me ajudar. Se você fizer isso, não seremos mais amigos. Entendeu?
–Entendi.-digo.-Espero que saiba mesmo o que está fazendo.
–Eu sempre sei.-ele balança a cabeça em silencio e vai até a porta. Parece olhar ao redor e quando acha que é o suficiente, se vira em minha direção fechando a porta às suas costas.-Acho melhor você não demorar. Por enquanto os corredores estão vazios, mas não vão ficar assim por muito tempo. Aproveite a oportunidade.
Murmuro um agradecimento e ele se vai, me deixando sozinha para começarmos o plano. Assim que termino de arrumar minha mala, visto minhas roupas mais pesadas, assim posso carregar menos peso e ser mais rápida. Visto o meu uniforme de inverno, com as calças de material pesado e solto cobrindo toda a perna, as botas de couro em estilo militar amarradas por cima do tecido já quente que visto e não me dou o trabalho de fechar a jaqueta preta como o resto da roupa por sobre a camisa de algodão escura que uso por baixo do uniforme. Usando minha força animal, carrego a mala com facilidade nas costas correndo até a saída o mais rápido que posso sem chamar atenção. Bato de leve na porta do quarto de Adam dois corredores depois do meu dormitório como tínhamos combinado e sigo o caminho pelas escadas no fim do corredor. Descendo ao primeiro andar, consigo ouvir com clareza o som das conversas animadas no refeitório, mesmo já tendo escurecido há tempos. Os guardas da entrada principal parecem bêbados demais para sequer notarem algo de errado quando passo por eles carregando uma mala de viagem e diminuindo um pouco o ritmo dos meus passos. Vou até o estábulo como Adam me pediu e largo a minha mala na última baia, normalmente vazia já que os últimos dois cavalos que viveram ali morreram. Associam-na com mau presságio, dizendo a todos que essa baia é amaldiçoada. Nem mesmo os criados tem coragem de virem até aqui limpa-lá, mas não sou tão facilmente convencida por lendas e sei que os animais só morreram porque ambos tinham sido substituições para os soldados que costumam patrulhar a periferia da cidade em busca de qualquer evidencia sobrenatural mesmo nas casas mais pobres. Aquele lugar é tão sujo e mal cuidado que se torna um ninho perfeito para a proliferação de doenças e germes, e qualquer um que pense um pouco a respeito é capaz de entender que os animais pegaram alguma doença que se espalha pelo lugar. Assim como o rapaz que o montava também tinha ficado doente em ambas as vezes, mas com os curandeiros de Romkpay foi fácil fazê-lo se recuperar. Já os animais não tiveram lá tanta sorte. Adam também sabe disso, então tenho certeza de que ele vai saber onde procurar. Prendo minhas espadas gêmeas nas costas como sempre faço, e aproveito a oportunidade para enfiar na minha bota direita uma das minhas laminas favoritas. Um pequeno punhal pouco maior que uma faca de cozinha que escondo com facilidade encostado no meu tornozelo. Não me atrapalha, mas posso sentir a lamina gelada na minha pele e de certa forma isso me acalma. Eu jamais saio sem estar armada, mas dessa vez, levo mais coisas já que não sei se vou voltar a ver essas coisas tão cedo. Graças a inteligência do artista que criou este uniforme sob medida para mim, ele já é por si só uma arma muito bem criada. A calça larga dá melhor mobilidade, mas os vãos em ambos os lados escondem bolsos para qualquer coisa que se queira esconder neles. As botas são confortáveis e boas para qualquer situação e a jaqueta foi projetada para sustentar qualquer golpe. Infelizmente, ela é de um couro rígido que se prende ao corpo e deixa claro que é feminino, mas os punhos revestidos com braçadeiras de metal e as ombreiras em camadas nos ombros fazem seu trabalho protegendo áreas do corpo que seriam os primeiros alvos em uma luta mano a mano. Por cima de tudo, visto minha capa favorita para esconder as armas em minhas costas. Completamente de preto, é fácil me misturar a noite e à escuridão. Jogo um punhado de moedas nos bolsos da calça em quantidade que sei que serão o suficiente por todo o tempo em que vou estar no país até achar um navio que me leve até a América. Se eu racionar o dinheiro, talvez até sobre mais do que o necessário. Minhas necessidades básicas para viver na sociedade não passam disso, mas vou cruzar o país até o Porto pela floresta. Lá onde é o meu lugar. Sou lobisomem, nada mais normal que a floresta me sirva para tudo que eu possa precisar. A sobrevivência vai ser minha prioridade, não tão diferente de quando era criança e saía para caçar lebres e pequenos animais junto com o meu pai. Quando pego tudo que preciso, fecho a mala mais uma vez e saio pela porta dos fundos, por onde posso dar a volta na casa e ir até perto dos portões sem que ninguém me veja.
Passando por uma das janelas próximas da entrada principal da mansão, ouço um assobio alto e ao olhar na direção do som, vejo Adam escorado na janela. Quando percebe que eu estou prestando atenção nele, fica de lado e aponta em direção aos portões alguns metros à minha frente, depois para si mesmo e para a porta. Linguagem de sinais. Havíamos começado com isso alguns anos atras, desde que adquirimos intimidade de melhores amigos, aprendemos a nos comunicar por sinais, agora nos entendíamos com naturalidade sem precisarmos usar palavras. Compreendo o que ele quer fazer e aceno com a cabeça para que ele entenda que aprovo a ideia. Segundos mais tarde ele já não havia indícios que ele tinha estado naquela janela. Saio de perto da luz para me misturar a escuridão, e quando dou alguns passos para trás, ouço o som do inicio de uma briga. Os guardas nos portões se mostram incomodados pelo barulho e deixam seus postos para tentarem apartar a briga dentro do Instituto. Tão previsíveis.
Aproveito a oportunidade para correr até a frente da propriedade enquanto posso. Sei que essa é a distração que Adam me deu, mas não sei quanto tempo ela vai durar e não posso arriscar perder a chance de ir agora. Caso eu não vá, não sei se vou ter mais uma chance tão cedo. Os guardas do portão da frente não estão por perto, mas mesmo assim o portão esta trancado. Eu posso escalar ou arrombar, mas escolho arrombar. Se eu começasse a subir essa cerca alta e maciça, com certeza iam perceber que eu não era apenas humana. E não é isso que eu quero, ainda não. Olho para os lados até ter certeza de que estou sozinha, quando tenho certeza de que ninguém pode ver minhas mãos, concentro-me no poder animal dentro de mim, na força dos genes da licantropia correndo em meu sangue. Uso isso ao meu favor, e fecho os olhos para me concentrar. Quando os abro mais uma vez, solto o poder pulsante e deixo minha mão direita se transformar parcialmente em uma pata de lobo, as garras extremamente afiadas onde antes haviam dedos. Eu posso usa-las como eu quiser, e usando a garra do lugar do meu dedo indicador, faço um movimento de brusco sobre o cadeado de aço pesado. O corte o quebra ao meio e o faz cair no chão na hora. Para os desavisados, o corte parece ter sido feito por uma lâmina nas mãos de um caçador experiente. Bom. Eu prefiro que eles pensem assim por enquanto. Tudo isso não durou mais do que alguns segundos, o que significa que venho melhorando cada vez mais. Puxo com força o portão que foi feito para ser aberto com a força de uma maquina e dois homens e deixo espaço o suficiente apenas para que eu passe sem dificuldades. Enquanto atravesso a cerca, faço minha mão voltar ao normal até ter mãos humanas de volta. Quando estou fechando o portão, um dos soldados aparece correndo a toda velocidade em minha direção. Ele está dentro dos portões, mas não sou rápida o suficiente para sair antes que ele se aproxime o bastante para ver meu rosto.
–Onde você pensa que está indo sozinha a essa hora da noite, caçadora?-pergunta o homem me olhando com uma expressão seria.
Droga. Tenho que mentir.
–Tenho autorização expressa do Mestre Stewart Romckpay.-digo autoritária. Preciso parecer o mais convincente possível.-Sou a Capitã Cartwright. Romckpay está me enviando para averiguar uma possível emergência no centro. Nada de novidades para mim. Vou caminhando, sem carruagens dessa vez.
–Bem...-o homem, não muito mais velho do que eu, parece ponderar tudo o que falei. Pensando nas possibilidade de eu estar mentindo. Usando meu título de Capitã, ele não pode me impedir de sair se quiser.-Certo. Se você tem autorização do chefão, acho que tudo bem. Mas vou averiguar.
–Como quiser, soldado.-digo. Não posso fraquejar, embora talvez tenha problemas quando esse garoto for perguntar à Romckpay sobre minha saída essa noite. Bem, espero que ele não perceba a verdade tão cedo. -Estou liberada?
–Sim, sim, senhorita.-diz.-Pode ir. Só tome cuidado.
–Vou tomar.-sorrio e me afasto do portão já fechado. Tenho que parecer segura e decidida. Se mostrar qualquer insegurança, ele pode desconfiar. Quando me afasto o suficiente do lugar, me viro tempo o suficiente para olhar uma ultima vez para aquela mansão. Eu não pretendo mais voltar aqui. Esse lugar foi minha prisão e meu lar por quase dez anos. Não seria o que sou hoje sem esse lugar e de certa forma, vou ser grata por tudo que aprendi aqui para sempre. Vou ser grata por ter conhecido caçadores como Adam, que me provaram que ainda há esperança para todos. Eu só não posso mais voltar, não depois de Romckpay iniciar a construção dessa maquina. É triste dizer isso, mas acho que de agora em diante, somos inimigos.
O segurança que me olhava já não está lá e já não posso mais ouvir a briga dentro da mansão, a essa hora já deve ter sido controlada. Olhando a rua à minha frente, não posso deixar de sorrir.
Eu consegui.


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