Havia uma garota que caminhara a vida inteira por campinas... Sempre verdes, repletas de um capim dançante. Ela andava mal deixando rastro, olhando o horizonte. Os que passavam por ela sequer podiam imaginar o que a garota sonhava, dia após dia, olhando a linha reta a sua frente. Ela sonhava com árvores imensas, frondosas, úmidas e preguiçosas, espalhando sua poderosa sombra pelo chão úmido. Queria sentir o cheiro de folhas em decomposição molhadas pela chuva, o respirar lento e atemporal de uma floresta para que pudesse responder a uma única pergunta:
O que era estar vivo?
E por isso ela caminhava sem parar, buscando humildemente, pelo menos, uma folha suspensa no vento.
Então passaram-se dias, meses e enfim anos, e ela não vislumbrou nem uma única minúscula folha gorda, apenas as magricelas e monótonas folhas da campina.
Entretanto, um dia, enquanto o céu escurecia, a menina viu uma luz vermelha forte vinda detrás de uma elevação do campo. Assim que atingiu um ponto alto, uma lufada de ar quente jogou a realidade para dentro da garota: fogo.
Ela viu seu caminho queimando, seu futuro, sua esperança de seguir em frente.
Tudo consumido pelas chamas.
Sem força pra correr, ela se ajoelhou assistindo ao pesadelo e desmaiou em meio à fumaça.