Eu realmente não acreditava no que havia feito. Eu beijei a Kory. Bem... Na verdade eu não cheguei a beijá-la, foi apenas u7m selinho no canto de seus lábios. Mas o que eu podia fazer? Ela estava linda naquele vestido verde. Parecia uma verdadeira princesa.

  Tomei um banho e me joguei na cama, mas eu realmente não podia dormir. Eu não conseguia, meus pensamentos eram invadidos pela ruiva que estava cada vez mais tomando conta de mim e do meu coração.

  Eu não sabia que era assim, sabe? Amar. Era algo muito bom e me fazia ficar nas nuvens. Com as garotas e Gotham não era assim. Elas se aproximavam para obter popularidade e dinheiro. Principalmente Kitten. Aquela garota repulsiva só me queria por causa do dinheiro. E se eu me concentrar, posso ver que eu era como Xavier e Kitten como Raquel. A diferença é que Xavier consegue ser cem vezes pior que eu e... Eu realmente não vejo diferença entre Kitten e Raquel. Para mim sempre foi à mesma coisa.

  Mas eu fui também muito injusto com várias garotas legais. Eu apenas me aproveitava de sua inocência e virgindade. Meus amigos me avisaram e meu pai também me avisou que não poderia continuar assim. Sabe... Chegar quase as cinco da manhã, trocando as pernas, com a roupa toda amassada, cheirando a vodka e sempre com uma garota quase pior do que eu em um dos braços. Mas acredite que a primeira coisa que eu vou fazer quando voltar para casa é pedir desculpas para todos.

Mansão de Bernard,

Jump City,

02h56 PM

  Fui abrindo meus olhos aos poucos, tentando me acostumar com a escuridão. Minha cabeça doía muito. Lembrei-me que eu estava dentro de um quarto. Fechei meus olhos e rezei com todas as minhas roupas para não ser aquilo que eu pensava. Abri meus olhos e olhei para meu corpo. Eu estava ainda vestida, bufei. Não estava acreditando naquilo. Localizei meus saltos perto da janela e me levantei de vez. Arrependi-me. Minha cabeça latejava cada vez mais forte. Sentei-me e fiquei algum tempo ali de olhos fechados, me amaldiçoando.

  Quando a dor parecia ter amenizado, eu abri os olhos com calma e olhei para trás. Ali estava aquele cretino sem noção. John. Dormindo. Parecia um filho da puta de um belo anjinho dorminhoco. Levantei-me e, tonteando fui até meus saltos. Os peguei na mão, já que não conseguiria andar com eles por estar ainda sob efeito do álcool e procurei minha bolsa. Quando a encontrei, fui tateando as paredes até encontrar a porta. Tentei abrir com cuidado, mas ela estava trancada.

“Ele a trancou Mel.”

  Foi à primeira coisa que se passou pela minha cabeça. Eu estava muito aborrecida. Fui até ele e, com todo cuidado e força de vontade, eu procurei a chave em um de seus bolsos. Estava realmente difícil resistir a ele. Quando achei a chave, fui até a porta na pontinha dos pés e destranquei a pouco com cuidado. Passei por ela, tranquei e passei a chave por debaixo da porta para ele.

  O corredor estava escuro e, eu só podia ouvir roncos de varias pessoas. Passei pelo corredor cheio de refrigerante e salgadinhos espalhados no chão até alcançar as escadas. Desci com todo cuidado possível, não querendo ser pega por ninguém. Quando cheguei ao andar debaixo vi várias pessoas jogadas no chão, bêbedas. Garrafas de vodka, cachaça e cerveja por todo lado. Passei bem quietinha por aquele campo minado até chegar na porta. Depois disso pude andar mais tranquilamente.

  Sapatos e bolsa em mãos. Pés nus ao encontro do chão e vestido amassado. Lindo, não?! Eu estava sozinha nas ruas de Jump vestida como uma garotinha, mas com os sentimentos massacrados.  No caso, era como eu sentia. Uma pobre garotinha.

  Já desistindo de ficar perambulando pela cidade, resolvi ir para casa. Logo iria amanhecer e eu não queria ter que abandonar minha cama tão cedo. Voltei para casa e tomei um banho relaxante, logo indo dormir. Tinha que estar na oficina ao meio dia.

Mansão de Bernard,

Jump City,

04h12 PM

  Minha cabeça latejava e muito. Abri meus olhos aos poucos, sentindo falta de um perfume. Tateio o colchão e vejo que não há ninguém do meu lado. Levantei assustado. A primeira coisa que pude perguntar era:

“Onde está a Mel?”

  Levantei rápido mesmo com a cabeça doendo muito e fui em direção ao banheiro. Nada. Corri até a porta e ela estava trancada. Então aonde? Sinto algo frio embaixo de meus pés e quando noto era a chave do quarto. Abaixo e a pego. Eu havia colocado a chave no bolso e a Mel encontrou.

  Droga, Mel! Será que você não entende que não podemos? Você é minha amiga. Desde que nos conhecemos naquela oficina e eu a vi consertando aquela V-Rod Muscle com as mãos sujas de graxa. Depois nós descobrimos que éramos da mesma escola. Logo saímos e viramos melhores amigos por você ter uma história parecida com a minha. Desde então, onde um está o outro tem que estar também. Ficamos inseparáveis. Você me chamava de cafajeste sobre eu ter transado com várias garotas, mas sempre aparecia como um anjo para me livrar delas.

  Eu realmente gosto da nossa amizade Mel... Mas tenho muito medo de perdê-la por causa de uma transa. Não aguentaria perder você, minha marretinha.

Rua Samnang Robbie Katlego,

Jump City,

10h40 AM

  A luz do sol invadiu as cortinas brancas como um sinal de que já havia amanhecido, fazia tempo. Eu abri meus olhos vagarosamente, tentando me acostumar com a claridade. Viro no colchão e vejo que o lugar, antes ocupado por um Michael nu, estava vazio. Senti meu coração apertar. Seria Michael um canalha? Teria tido coragem de transar comigo e depois ter ido embora como se nada tivesse acontecido. Senti meu corpo ficar tenso, eu não queria levantar e ver que suas roupas não estavam mais ali, jogadas pelo chão de meu quarto.

  Com certa relutância, eu me levantei e não vi nenhuma roupa jogada no chão. Nem mesmo as minhas. Olhei para o lado e vi “A cadeira”. Sabe... Aquela na qual você joga suas roupas e no final parece uma montanha gigante? Bem, a cadeira estava com as roupas dobradas e muito bem empilhadas ali, inclusive as dele, ou seja, ele não me abandonou. A porta se abriu vagarosamente e dela surgiu um belíssimo Michael, apenas de cueca Box branca, com uma bandeja cheia de coisas gostosas.

— Bom dia princesa. – Ele disse sorrindo e colocou a bandeja na minha frente, logo se sentando. – Dormiu bem? – Sorri.

— Uhum. – Olhei a bandeja e vi que ali tinha tudo o que eu gostava. Morangos vermelhinhos com algumas uvas roxas, suco natural e... – Cookies?!

— Sim. Eu mesmo que fiz para nós dois. – O olhei no fundo de seus olhos e, ele desviou o olhar corado coçando a nuca. – Espero que você goste.

— Tá brincando? Eu AMO cookies. – Levantei e o abracei, sem ligar para o fato de estar apenas de lingerie e meus seios estarem praticamente em sua face. – Obrigada Michael. – O soltei e ele sorriu me dando um selinho logo em seguida.

— Vamos comer? – Ele brincou.

— Claro. – O acompanhei na brincadeira e fomos tomar nosso merecido café.

Rua Ocean Caelan,

Jump City,

09h58 AM

  Acordei morta de fome. Levantei de baby-doll mesmo e fui arrumar algo para comer. Eu realmente queria dormir. E bastante. Preparei panquecas e delicioso  achocolatado. Após tomar meu café, fui procurar noticias de Mel e Ray, mas seus celulares só davam fora de área. Com certeza a noite tinha sido boa para aquelas duas.

  Resolvi então, fazer alguns deveres atrasados. Era sábado de manhã, não teria mais nada para fazer mesmo. Quando terminei, fui procurar algumas coisas no computador e, acabei indo assistir Alice no País das Maravilhas. Eu realmente amava esse filme. Era ótimo.

  Quando o filme terminou, algo não saia de minha mente. O gesto de Richard. A cada vez que eu me recordava daquilo, mais meu coração ficava agitado. Por quê? Eu realmente não sabia.

Continua...