Negócios da família

Thery foi levada para os fundos da casa sem nem a observar direito, mas percebeu imediatamente que Bobby era um homem sozinho e muito desorganizado devido a centenas de livros e folhas jogadas pelo chão assim como algumas caixas de pizza. A jovem segurou o revolver que a entregaram com força e se posicionou e sem ao menos esperar uma ordem ela atirou no alvo com perfeição deixando todos completamente surpresos.

— Não diga que é sorte. – ela olhou para Dean sorrindo vendo a boca dele aberta e virou novamente para o alvo o acertando no mesmo local com perfeição, tanta perfeição que as balas passaram por dentro do primeiro furo que se fez assim que ela acertou o alvo de papel na altura do coração, haviam sido anos de treinamento para a jovem.

John sorriu ainda afastado deles percebendo que as coisas seriam bem mais fáceis do que ele havia imaginado, tudo a conduzia para a vida de caçadora. Ele observou a garota adotar uma postura de quem sabia o que fazia e se questionou onde ela havia aprendido essas coisas já que era uma jovem de 16 anos com uma vida aparentemente normal.

— Como você... como... – Bobby se aproximou completamente surpreso e confuso, onde ela havia aprendido a atirar com tanta perfeição?

Essa menina é quase uma Marilyn Monroe! Como é possível? — pensou surpreso ao ver a aparência delicada dela embora os modos fossem questionáveis, ela agia quase como um homem da lei, até sua forma de andar era rígida impondo autoridade. Lembra muito à Dean.

— Onde aprendeu isso? -  John surgiu surpreendendo a todos e Bobby só ficou mais assustado ainda com isso, os malditos Winchester conseguiam serem piores que fantasmas.

— Meu pai adotivo era um agente penitenciário e Camille era uma agente federal, eles acreditavam que pelo trabalho deles eu me tornaria um alvo fácil então nós passamos a treinar durante os finais de semana, eles sempre acreditaram que eu deveria aprender a me defender, não só com armas. – deu um sorriso vendo a surpresa no rosto deles escondendo que esse não era um dos motivos pelo quais eles haviam a treinado tanto, eles sabiam que coisas malignas a rondavam e mesmo acreditando que não teriam chance alguma contra aquelas coisas eles a treinaram, assim como Prince acreditava ser o melhor deixando isso nítido em seu diário.

— Com quantos anos começou esses treinamentos? – Sam a questionou.

— Aos meus 13 anos de idade. Assim que os completei. – isso os surpreendeu um pouco, ela era muito nova para aprender a lidar com uma arma – Sei usar todas, até mesmo metralhadoras, sniper... tudo. – resumiu os surpreendendo mais ainda, definitivamente haviam a subestimado demais, se ela tivesse ficado muito assustada poderia ter os matado com facilidade.

— E então quer dizer que é como se você estivesse sendo treinado para a caça por anos? Mesmo sem saber que existia essa mundo? – Dean cruzou os braços a olhando especulativo e com desconfiança.

— Eu não sei, eu acho que eles já imaginavam que algo assim acontecia. Não era difícil, nós sempre estávamos mudando, depois de meses trocando de família eles foram os primeiros a me aceitarem. Suponho que tivessem notado que talvez estivessem me perseguindo.

Ela os deixou do lado de fora ainda em choque e entrou averiguando toda a casa, torcia para que houvessem quartos extras, não suportaria ter que dormir na sala, nem no chão e muito menos no mesmo quarto que algum deles. Ela já havia os escutado roncar e era um som infernal incapaz de a deixar dormir.

Thery encontrou uma pequena biblioteca e entrou no local olhando ao redor enquanto mexia nos livros espalhados e empoeirados que a fizeram esperar freneticamente, o local precisava de uma limpeza imediata antes que ela se tornasse completamente alérgica ao ar da casa era realmente horrível que aquele senhor pudesse sobreviver em um ambiente desses.  

— Boa noite. – ela se assustou saltando e arregalou os olhos – Sou Castiel.

Thery o analisou sentindo um pingo de encantação e medo. Castiel era um belo homem de cabelos pretos e olhos azuis intensos, pele clara e de altura mediana, as bochechas coradas e o rosto completamente endurecido e sombrio. Ela havia ouvido falar sobre ele de forma vaga, sabia que era bom, mas mesmo assim era alguém de dar medo, ele a encarava com muito intensidade como se pudesse a ver poder dentro e isso a deixou incomodada.

— Sou Katherine. – falou firme erguendo a cabeça e a tombando para o lado.

— Eu sei quem você é. – os dois ficaram se encarando sem saber o que dizer, Katherine tentando fazer uma nova amizade e Castiel sendo apenas... Castiel.

— Então você quer falar com o Dean? – ela questionou lentamente ainda incomodada com a expressão neutra.

— Não. – ele apenas se sentou no sofá e ela foi atrás.

— Você é um anjo da guarda?

— Não.

Eu nunca achei que se um anjo existisse ele seria tão sem sentimentos.— o olhou atentamente e viu os olhos azuis cravarem no rosto dela a analisando sem nenhum pudor ou vergonha, não era agradável.

— Sou Katherine. – repetiu.

— Eu sei. – definitivamente essa era a conversa mais estranha que ela teimava em manter.

— Eu tenho 16 anos. Você trabalha do quê lá no céu? – ela se sentia uma criança tentando interagir com um adulto.

— Thery... não se esforce muito, Castiel ainda está prendendo a lidar com os humanos. – o moreno apenas franziu a testa se sentindo contrariado ao ouvir Sam.

— Hum, não percebi. – ironizou ainda sentada ao lado dele que estava completamente imóvel sem ao menos respirar – É como estar do lado de uma árvore, você sabe que tem vida, mas espera por uma interação.

O moreno a olhou confuso e ela desviou os olhos se focando em Sam que se sentou de frente para ela, Dean se aproximou e os olhou vendo que todos olhavam para um ponto distante onde os olhos não se conectassem, as pessoas sempre faziam isso quando Castiel estava por perto, era simplesmente desconfortável ficar com os olhos cravados em uma pessoa que não piscava e que parecia não respirar.

— Cas! – o loiro gritou o assustando – Qual é a boa?

— O quê? – o olhou confuso.

— O quem tem de novo? – o loiro se sentou de frente para ele.

— Nada. – foi curto e Thery suspirou se levantando.

— Eu vou dormir. – anunciou e subiu para o andar de cima procurando pela sua mochila e a encontrando no quarto do fundo.

Katherine tomou um banho rápido e retornou ao quarto colocando um short e uma camiseta que Sam havia comprado para ela, olhou o quarto em que ficaria e retorceu os lábios, sabia que podia ter ido bem o primeiro teste, mas sabia que ficaria naquela casa por um bom tempo. Não a incomodava muito, mas a casa era bem estranha para a jovem, cheia de poeira, velha e caindo aos pedaços e com símbolos por todos os locais. Thery nunca imaginou que um dia um homem invasor seria um problema pequeno se comparado as outras coisas terríveis que haviam espalhadas por ai.

A jovem sacudiu o lençol empoeirado e abriu a janela, juntou os livros espalhados e os empilhou em um canto mais afastado, não sabia nem de quem era o quarto, mas provavelmente não era de Bobby já que ela havia passado por um quarto que estava extremamente arrumado e com um casaco na porta.

— Katherine. – ela ergue os olhos vendo John passar pela porta, ele a olhava atentamente vendo que ela estava confortável e bem – Achei que talvez fosse precisar disso. – entregou um diário para ela – Tem as informações da maioria das coisas que nós caçamos, está tudo anotado ai.

— Obrigada – ela o folheou rapidamente.

— Escute o que Dean te disser, ele sabe o que faz, mas se tiver dúvidas... pergunte a Sam. – John tentava se redimir pelas costas dos próprios filhos, ele não queria falhar com Katherine, mesmo que soubesse o destino dela.

— Eu os ouvirei. – ela garantiu e o olhou atentamente – E se um dia eu não quiser mais ser uma caçadora? Vagar por ai todos os dias?

— Os demônios nunca irão deixar que você escape deles Thery. Consegue entender isso? – ela confirmou com a cabeça – Existe apenas duas opções pra você agora... você pode seguir sua família e agir por fora, ou você pode ficar aqui com Bobby fazendo pesquisas e estudando sobre tudo.

Thery passou a pensar, ela nunca havia ficado muito tempo longe de uma casa e o fato de rodar sempre dentro de um carro sem nunca ter um local para parar a incomodava muito, mas por outro lado ficar presa dentro de uma casa lotada de poeira e livros velhos também não deveria ser agradável, ainda tinha o fato de que Bobby não tinha nenhuma ligação com a jovem.

— Pense. – ele saiu do quarto e a jovem guardou o diário de baixo de seu travesseiro e fechou os olhos caindo em um sono profundo.

Dean estava no andar de baixo mexendo no notebook que Sam havia o entregado, o loiro mexeu na carteira e pegou o cartão com o protocolo anotado e suspirou ao entrar no site do laboratório, olhou o campo de procura por breves momentos antes de clicar e escrever os números e as letras que haviam no protocolo. Assim que o resultado saiu ele levou a mão fechada e a colocou na frente da boca enquanto mordiscava o próprio dedo lendo rapidamente toda a pagina e então seu coração parou completamente e o corpo gelou como em nunca antes, Katherine realmente era sua filha.

Sam estava passando por perto e esticou o pescoço lendo as palavras rapidamente e voltando com o corpo tendo os olhos arregalados e eu um sorriso no rosto ão notar que Dean estava compeltamente em choque parecendo ainda não acreditar no que estava acontecendo ali, isso não surpreendeu em nada o moreno. Ele apenas se escorou no irmão lendo tudo novamente e John fez o mesmo saindo de sua poltrona e abrindo um sorriso presunçoso, ele realmente estava certo. Soube disso assim que Sam o contou da novidade.

— Parece que os Winchester tem um membro a mais, esse Jason e essa Camille fizeram um bom trabalho mantendo a nossa garota em segurança. - o mais velho riu pegando a cerveja e se afastando dos dois filhos, sentia uma pontada de orgulho e também de raiva por Dean ser esse imbecil, se essa garota tivesse caido em mãos incompetentes ela estaria morta ou completamente desamparada.

— Nossa garota. - o loiro repetiu em transe mortificado, mais do que nunca essa informação era expulsa de sua cabeça.

Dean não processava em sua mente que aquela bela jovem era sua filha, em nada isso entrava. Como pode? Ele não a viu crescer na barriga da mãe, não a viu dar os primeiros passos, não a viu falar, não a viu o chamar de pai, nem ir a escola, não a ensinou a atirar e nem soube se quer que ela existia. Como assim do nada surge uma garota de 16 anos que é sangue do seu sangue? O que ele vai passar para ela? Ensinar para ela? Como pode se considerar um pai? Um eterno responsável pela vida daquela pequena garota?

O loiro sentia a afeição e o medo dominarem ainda mais o seu corpo, para ele não existia as vontades de John sobre o que seria de sua filha. Para ele existia apenas as vontades dele, ele queria uma família, mas não queria a pequena parte dele envolvida nesse problema, a queria por perto, mas perto demais significa morte.

— Ei cara, vai dormir. - Sam pediu nada preocupado.

Dean olhou para Bobby que ainda tinha a postura séria desde que colocara os olhos na jovem, as mãos dele estavam nos bolsos da calça enquanto os olhos fuzilavam o loiro. Bobby o achava extremamente irresponsável, não por ter uma filha, mas sim por nem saber da existência da garota. Ela é uma Winchester! Tudo de ruim está caçando essa jovem!

O loiro passou ao lado dele despreocupadamente e o velho homem apenas o chutou na bunda e deu um tapa na cabeça dele reprimindo o desejo de atirar em Dean até o ver morto. O mesmo resmungou e se afastou se arrastando pela casa e torcendo para que tudo não passasse de apenas um pesadelo. Era isso que sua vida se tornou em poucas horas, um terrível pesadelo que já se arrastava por uma semana.