Divided escrita por Pat Black


Capítulo 29
Beast behind blue eyes


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora em atualizar a fic e obrigado por ainda acompanharem.
Música início do capítulo - I'll Remember You - Sophie Zelmani



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“Amo você” Ele disse.

Não foi por que ela lhe dissera novamente. Por que Sam evitou o que pode se declarar, mesmo que quisesse lhe dizer ‘eu te amo’ durante toda a noite. Quando ele a possuiu a primeira vez. Quando ele lhe abraçou após lhe dar prazer de novo e novamente. Quando ele a abraçou e beijou até que dormissem.

Não foi quando fizeram amor novamente, pouco antes do amanhecer. Com Sam o desejando tanto que o convenceu, entre beijos, toques e carícias. Com Rick lhe tomando muito lentamente. Com ambos chegando ao clímax juntos quando aceleraram no final. Com eles suados, testas unidas, sorrindo, por que fora ainda melhor que a primeira vez.

Não foi por que ele queria que ela soubesse. Por que ele mesmo não tinha certeza. Até lhe dizer. Até olhar seus olhos sorridentes, quentes e amorosos e entender que a queria desde que acordou há um ano e a viu. Até que o sentimento se tornou tão denso, tão poderoso que não conseguiria respirar novamente se não dissesse.

Disse por que a amava. Por que sentia cada parte do seu corpo conectado ao dela. Por que era o que vivia e respirava. Por que era certo, simples e o mais complexo sentimento que abrigou em seu coração por uma mulher. Por que ela merecia ouvir e ele não entendia o que o fizera se precaver de algo que faria a ambos felizes.

Depois que o disse, Sam lhe olhou muito séria, durante um longo momento, como se duvidasse dele e até mesmo de que fosse verdade. Mas Rick sorriu muito lentamente e tocou seu rosto, os olhos ternos, alagados de um sentimento que Sam reconheceu como seu.

“Eu também te amo.” Ela conseguiu dizer quando um nó afrouxou em sua garganta e teve certeza de que sua voz não ia quebrar.

Ficaram abraçados um tempo, ambos aproveitando aquele instante de paz e alegria, por que sabiam que a vida fora daquele quarto nunca seria calmo e certa como o que sentiam naquele instante.

“Temos que ir.” Sam falou e ele lhe aconchegou um pouco mais contra o peito.

“Ainda é cedo.”

“Por isso mesmo.”

“Está preocupada que saibam o que estávamos fazendo?” Ele perguntou se afastando e lhe olhando a sorrir. “Acredite, é um pouco tarde.”

“Você não foi nada sutil ontem.” Sam escondeu o rosto em seu pescoço. “Como vou encarar todos?”

Rick afagou suas costas e beijou o topo de sua cabeça. Sabia que para Sam, que seguia muito discreta, calada e tímida, a ideia de ser alvo de atenção e comentários deveria ser um martírio.

“Não se preocupe com isso.”

“Não me preocupo, apenas... apenas não gosto de chamar a atenção.”

Rick riu e ela mordeu seu pescoço de leve.

“Minha pequena errante.” Ele brincou lhe afastando.

“Eu poderia devorar você realmente.” Sam suspirou feliz.

“Talvez hoje à noite?” Ele convidou.

“Sempre.” Ela respondeu.

Beijaram-se por um longo minuto, até que Sam se afastou, levantou-se e começou a se vestir, pegando as roupas e jogando para ele.

“Vá na frente.” Ele falou se levantando e vestindo a calça, sentando e colocando as botas.

Sam voltou, o viu baixar a cabeça e enfiar um pé da bota, tocou seu cabelo e ele ergueu o rosto. Sentiu algo apertar seu peito, e deu-se conta de que amar tanto alguém não era saudável, por que doía fisicamente qualquer tipo de separação.

“O que foi?” Ele disse lhe puxando e ficando de pé.

“Não sei.” Disse e meneou a cabeça. “Nunca fui tão feliz.”

“Isso é bom.” Ele inclinou e tocou seu rosto com as costas dos dedos.

“Eu sei... e é justamente do que tenho medo.” Ela tentou explicar.

Rick entendeu.

“Vai ficar tudo bem.” Ele tentou .

Mas não ficou. Nada nunca estava bem nos dias atuais.

Quando Sam saiu do quarto, seguiu pelo pátio, passou pelo refeitório e encontrou com Daryl e Carol, não demorou até que ouviram o alvoroço vindo do Bloco D.

Lá dentro estava um caos, as pessoas, a maioria do pessoal oriundo de Woodbury, gritava e corria sem direção.

Daryl e Carol lutaram para entrar, atentos aos de seu grupo original, por que sabia que estes seriam mais preparados e estariam tomando medidas contra o que quer que fosse o perigo.

Mas Glenn estava na torre com Maggie, Linn também e não podiam ver se Chase estava lá dentro ou não. Quando Sam ajudou a multidão histérica a escapar do pavilhão e entrou, avistou dois corpos no chão e reconheceu Patrick.

“O que houve?” Rick chegou logo depois acompanhado por Hershel, Carl e Tyrese.

“Errantes.” Carol soprou.

“Mas como entraram?” Chase perguntou com a cara enfezada em uma expressão incrédula.

Daryl estava analisando os corpos e se ergueu balançando a cabeça.

“Daryl?” Rick questionou.

“O Val está mordido no braço, mas o Patrick não tem nenhuma marca, nada.” Apontou o garoto. “Olhe para ele, parece até que morreu de ebola, opu uma daquelas doenças que te fazem sangrar até a morte.”

“Ele estava muito mal ontem.” Carol mencionou. “Parecia gripado ou algo assim.”

“Como Violet.” Carl mencionou, um pouco afastado de todos.

“A porca está doente?” Rick estreitou os olhos.

“Pensei que pudesse ser outra coisa, mas acredito que pode ser um tipo de influenza.” Hershel passou a mão no rosto. “Se for a gripe suína, isso é uma variante muito mais perigosa.”

Conversaram a respeito do assunto e deixaram que Hershel tomasse as decisões. Ele era veterinário, e apesar de já possuírem mais dois médicos no grupo, o antigo fazendeiro ainda era aquele a quem recorriam com mais frequência para assuntos de saúde.

Assim, Hershel achou melhor separar as crianças dos adultos para prevenir qualquer contágio, informando que os pequenos seriam os mais vulneráveis. Avisou a Rick que deveriam se livrar de todos os porcos e colocar qualquer um com sintomas semelhantes ao de Patrick em quarentena no bloco das solitárias, no que identificaram Karen e David, para desespero de Tyrese. Mas a morena não estava preocupada e achou que seria o melhor.

“Vou estar melhor logo.” Karen dissera ao gigante negro e Sam, que ficou responsável por levá-los até as solitárias com Carol, não pode conter um estremecimento ao perceber que a aparência dela era muito semelhante à de Patrick na tarde anterior.

Afastando-se retirou o lenço do rosto e Rick se aproximou com uma garrafa de álcool nas mãos.

“Por que na deixou que o Caleb ou Bob cuidassem dos doentes?” Ele perguntou zangado, abrindo a garrafa e agarrando suas mãos pra despejar uma grande quantidade do antisséptico nelas.

“Eu estava com eles ontem.” Informou. “ Com Patrick, Karen e David... Cuidávamos dos errantes nas cercas.”

Ele lhe olhou e Sam percebeu que estava assustado.

“Mas não estou sentindo nada.” Sam pensou em brincar e lhe dizer que se sentia dolorida pela noite agitada que tiveram, mas percebeu que não era o momento. “Além do mais, nunca fico doente.” Sam lhe disse com convicção.

Seu pai costumava dizer aos amigos e a babá deles, quando seu irmão ficava de cama por qualquer besteira e Sam estava saudável, ou mal sentia os efeitos de alguma enfermidade infantil, que sua mãe tinha passado todas as suas células saudáveis para sua filha. Muitos anos depois, Sam entendeu que o pai não estava brincando ou orgulhoso quando dizia isso. Por que sua mãe sempre estava doente e Sam acabou se sentindo responsável por sempre estar saudável.

“Tem certeza que não sente nada?”

“Estou bem.” Rick encostou a testa a dela, depois se afastou, Sam achou que ele se preocupava com algo mais. “O que foi?”

“Os errantes estavam se aglomerando em uma das cercas e o Tyrese descobriu que alguém os estava alimentando com ratos.” Rick explicou.

“Tem uma ideia de quem possa ser?” Sam perguntou caminhando ao seu lado, para se aproximar das mesas no pátio.

“Não.” Rick colocou uma mão no rosto e olhou para as cercas mais vazias agora, depois que usaram os porcos para atrair os errantes para longe. “Mas vamos estar mais atentos a todos.”

“É estranho pensar que alguém aqui possa tem uma mente tão perturbada.”

Sam parou e sentou na mesa, pés no banco e olhou para ele em pé, mão na cintura, meio de lado para ela, apoiado em um dos pés em uma pose muito característica dele e que ela apreciava, pois o deixava mais másculo e, ainda assim, um tanto vulnerável.

“Acredita que a intenção seja atrair os errantes para cá, derrubar as cercas, algo assim?” Ela perguntou e ele se virou, depois sentou ao seu lado.

“Não sei o que pensar.” Suspirou. “Achei que pudesse ser algum plano do Governador, mas não acredito muito nisso.”

“Seja o que for, pode esperar até que a questão dessa doença seja resolvida, não?”

“Sim.” Ele segurou a mão de Sam, entrelaçou seus dedos e as descansou sobre sua coxa. “Se sentir algo...”

“Não vou.” 

Ele meneou a cabeça e mordeu o lábio inferior. 

"Tenho que dar um jeito no curral, Hershel acha melhor queimar tudo."

Deu um beijo rápido em Sam e se afastou.

Ela o observou sumir na curva do pátio e decidiu verificar Chase e Linn.

“Soube do Sr. Samuels?” Linn mencionou um pouco triste, quando ela chegou.

“Ele não quis esperar se transformar.” Sam apenas disse, sentando ao lado de Chase.

“E as meninas dele?” Linn perguntou.

“Vão estar bem, nós vamos cuidar delas.” Chase avisou colocando uma camisa e se armando. “Preciso assumir o turno na torre.”

Disse e se foi.

“O que houve?” Sam perguntou achando estranho a atitude do amigo.

“Discutimos.” Linn respondeu.

“Mesmo?” Sam ficou surpresa, Linn e Chase nunca brigavam.

“Tentei beijá-lo.” Linn soltou, um pouco envergonhada.

“Como?” Sam questionou ainda mais surpresa, seus olhos ainda maiores que normal no rosto magro.

“Foi pelos motivos errados e ele sabia... Ele sempre sabe.” Linn virou o rosto e Sam foi atingida por toda a verdade sem precisar que a amiga dissesse mais nada.

Passara a noite com Rick, ele deixara claro a todos que tinham um relacionamento e Linn arrasada procurara consolo com Chase.

Olhou para o portão da cela, por onde Chase saíra há pouco. Sabia que o amigo não se contentaria em ser usado para que Linn afogasse a sua dor por mais que a amasse. Ele sempre estaria ali por ela, seria um ombro amigo, mas não seria um substituto de Rick ou qualquer outro.

Sentiu-se doída. O amor que compartilhava com Rick lhe fazia bem, lhe completava, mas, quando encarava que sua alegria seguia como motivo de tristeza e dor para seus amigos, algo que deveria sem apenas bonito ficava manchado.

“Estou cansada.” Linn disse passando as mãos no rosto.

“Claro.” Sam se ergueu e Linn segurou sua mão.

“Sam... Não deixe nada estragar sua felicidade.” Murmurou. “Nem mesmo eu.”

“Você não o faria.” Sam lhe disse com muito de certeza.

“Acabei de fazer isso e não era o que queria.” Linn pontuou.

“Descanse.” Sam pediu e saiu.

Depois dessa conversa com Linn, realmente sentia que a amiga tinha empanado sua alegria. As lembranças dela e Rick, da noite que tiveram, dele se declarando pela manhã, preocupado, terno e apaixonado, ganharam um sabor agridoce, por causa da dor que viu em Linn, e pela atitude que a amiga tomou, manchando a relação dela e Chase.

Tentou se ocupar em cuidar de pequenas tarefas que pertenciam a Karen, para evitar pensar no assunto, mas o remoeu durante toda a tarde.

“Sam!” Tyrese havia lhe chamado depois que lhe entregou algumas ferramentas.

Ele, Rick, Daryl e Glenn estavam colocando escoras nas cercas onde os errantes voltaram a se acumular, mesmo depois de os afastarem com os porcos.

“Como ela está?” Tyrese perguntou agitado.

“Irei vê-la em meia hora.” Avisou com pesar, escondendo que já o havia feito há duas horas com Hershel, constatando que ela e David só tinham piorado.

“Certo.” Ele olhou em direção a prisão, abrindo e fechando as mãos em punhos.

“Talvez possa ir vê-la mais tarde.” Sam ofereceu.

“E a quarentena?”

“Tanto você como eu estivemos com ela depois que ficou doente e estamos bem.” Sam pontuou. “Se for protegido e tomar todas as precauções que Hershel ensinou, não vejo problema.”

“Pode ser mais tarde, então?” Ty perguntou. “Não posso ir agora.” Apontou para os demais trabalhando nas cercas.

“Combinado.” Lhe disse e se afastou percebendo o olhar de desaprovação de Rick.

Ele odiara a ideia de que cuidasse dos doentes em quarentena, mesmo que Carol e Hershel estivessem fazendo o mesmo. Mas Sam tinha sido firme. Não ficou doente antes, não ficaria agora e precisava ajudar, eram seus amigos também.

Sam se afastou da cerca, pegou com Hershel e jogou em uma mochila o material necessário para cuidar dos doentes e rumou para as solitárias. O dia fora agitado, e, se já estava cansada antes, se sentia totalmente esgotada agora, preocupada com Linn e Chase e todos os demais.

Estava pensando sobre a questão dos errantes alimentados com ratos, quando notou um barulho estranho. Foi algo como um gemido abafado, como se alguém estivesse fazendo esforço. Logo escutou algo bater no chão e alguém praguejar, uma voz conhecida, alguém que não deveria estar ali.

Jogou a mochila no chão e se aproximou apressada da porta aberta de uma das solitárias, a de Karen.

Sam já havia visto o pior do ser humano desde que o mundo ruiu. As pessoas matando por comida, um veículo, uma arma. Amigos contra amigos, e pessoas animalescas dando vazão a toda a sua crueldade. Mas não estava preparada para o que aquela criança fez.

“Carl?” Chamou ainda que não fosse necessário.

O garoto se afastou do corpo de Karen, sacou a arma e apontou em sua direção. Sam viu que usava luvas e tinha um lenço no rosto, tal e qual ela, se protegendo. Mas as luvas estavam manchadas, vermelhas. Olhando para a cama Sam viu a faca ensanguentada e estremeceu, por que o travesseiro estava tomado pelo sangue fresco de Karen.

Só então olhou para a amiga no chão, olhos abertos, o liquido vermelho escuro começando a fazer uma poça ao redor de sua cabeça, uma perna ainda sobre a cama, enroscada no lençol.

Soube, sem dúvida alguma, que David também estava morto na cela ao lado. Carl não tentaria arrastar um corpo se não tivesse se livrado do outro doente antes.

Balançou a cabeça sem deixar de fitar o menino por que não compreendia. Por que ele mataria os dois?

“Eles estavam doentes.” Carl disse com voz trêmula, como se ela tivesse  formulado a pergunta em voz alta. “Hershel disse... disse que precisava se livrar de Violet para que a doença não espalhasse.”

“O que você fez?” Sam conseguiu dizer, as mãos se cruzando sobre a barriga, algo doendo ali dentro, como se alguém a tivesse socado forte.

“Meu pai nunca faz o que é necessário.” Carl quase chorava e parecia arrependido de alguma maneira, mas não baixava a arma e esta levava o silenciador. “Mas hoje ele matou os porcos e queimou o curral... Tinha que fazer o mesmo, entende?”

Aos poucos a lógica deturpada da criança penetrou em sua mente, logo percebeu, percebeu realmente, a arma apontada em sua direção, firme não mão dele, e se perguntou como ele conseguira a automática de volta? Rick tinha proibido que ele usasse armas de fogo desde que Carl tinha matado o garoto na batalha contra o Governador.

“Vai contar a ele?” Carl parecia mais sério agora, a mente parecendo trabalhar rápido, percebendo que apenas Sam sabia o que fizera, que estavam sozinhos e ninguém ouviria se apertasse o gatilho. “Vai contar aos outros.” 

Ela estreitou os olhos, por que ele falou aquilo como uma certeza, o mencionou de modo que ela se tornara uma ameaça, e ele pesava o que fazer para removê-la do caminho.

Naquele breve instante Sam teve medo, um terrível pressentimento de morte lhe tomou completamente, por que nunca imaginou que o filho do homem que amava, um pequeno reflexo desse ser que a fazia feliz, pudesse alguma vez lhe fazer mal, ou pelo menos pensar em fazê-lo, mas ele cogitava fazê-lo.

Contudo, nenhum dos dois jamais saberia o que teria acontecido, por que Carol surgiu às suas costas e gemeu alto, levando as mãos à boca para conter um grito de tristeza e Carl baixou a arma rapidamente, se afastou do corpo de Karen e ficou de cabeça baixa contra a parede, a tremer.

“O que houve?” Carol gemeu tentando entrar, mas Sam não deixou.

“Carl?” Sam chamou e o menino lhe fitou com ódio por entre as lágrimas. “Saia daqui.” Mandou muito séria, triste e incapaz de lhe estender qualquer compaixão.

Ele hesitou, mas depois caminhou para fora, evitando olhar o corpo no chão, passando por Sam o mais afastado que podia, e sendo agarrado no braço por ela.

“Vá direto para a administração.” Sam disse puxando o lenço do rosto e lhe olhando dura, a mão apertando seu braço tão forte que lhe machucou, mesmo que ela não o percebesse. “Mantenha a boca fechada.”

“Merda.” Carol soou as suas costas olhando para dentro da cela onde David jazia.

“Vá.” Sam ordenou e o largou em um movimento brusco que o desequilibrou.

“Temos que chamar os outros, Rick, Daryl... Meu Deus, Tyrese!” Carol estava calma agora, mas ainda tinha aquela nota de terror na voz que Sam sentia em todo o seu corpo.

“Não.” Disse e Carol lhe olhou surpresa. “Vamos manter isso em segredo por agora.”

“Eles precisam saber.” Carol falou, mas ao olhar para Sam, algo ficou muito claro. A garota nunca deixaria que algo magoasse ou machucasse Rick, e isso, o que Carl fizera, destroçaria o homem.

“Ajude-me.” Sam pediu colocando o lenço no rosto, depois de olhar em torno e notar o garrafão com combustível em um canto.

Não foi difícil para as duas arrastarem o corpo de Karen e David para a pequena área aberta nos fundos do prédio. Ali ninguém podia vê-las e nem o que fizeram.

Carol se afastou quando a garota derramou a gasolina sobre os corpos, incapaz de olhar para o que ela pretendia. As luvas estavam cobertas de sangue e ela temeu que, de alguma maneira tivessem se infectado com aquela doença que viera para lhes arrancar muito mais que a vida.

“Fósforos.” Sam disse muito fria e olhou em torno, avançando para entrar e tentar encontrar algo com que iniciar o fogo.

“Aqui.” Carol disse tirando um isqueiro do bolso, o de Daryl, hesitando em lhe entregar por que lhe parecia cruel envolver qualquer coisa do homem que amava naquela sordidez.

Sam entendeu. Retirou algo do bolso, um envelope. Ela tirou algo de dentro com muito cuidado que guardou no bolso novamente, Carol achou que foi uma foto, mas não teve certeza. Aproximando-se ela dividiu o envelope em dois, e estendeu para que Carol acendesse, depois jogou contra os corpos, fazendo o mesmo com suas luvas, observando-as queimar sobre Karen.

“Não diga nada a ninguém.” Sam falou virando e dando as costas para as chamas. “Isso foi necessário.” Mencionou se referindo a queimar os corpos.

“Mas não o que Carl fez.” Carol disse com rispidez, por que, no fundo, sentia que eliminar o perigo tinha sido algo certo, mesmo que cruel.

“Quando tudo estiver calmo, vou contar a ele, a Rick, e a quem mais precisar saber.” Sam se aproximou de Carol e soou fria, mas a mulher sentiu como se estivesse a suplicar. “Prometa que não vai contar, nem ao Daryl.”

Carol não queria, mas lembrou-se que tinha sido essa garota que havia salvado a sua filha, protegido Sofia por meses e lhe devolvido seu mais precioso tesouro quando pensava que o tinha perdido para sempre. Devia-lhe algo, e isso não chegava perto do tamanho de sua dívida.

Acenou que sim e se afastou. Saíram sorrateiras, cientes de que dificilmente alguém as tinha visto entrar ou partir.

Sam fugiu de Carol assim que foi possível, angustiada, retirando o lenço por que não conseguia respirar, se aproximando de um das vasilhas com água, abrindo a torneira e lavando as mãos, mesmo que não estivessem literalmente sujas.

Passando a mão molhada no rosto, sentiu certo alívio, as lágrimas que queria derramar sufocadas pela certeza de que não conseguiria contê-las nunca mais se derramasse apenas uma.

Estava muito mais calma duas horas depois quando esperou por Tyrese, totalmente hipócrita e falsa para acompanhá-lo até a solitária, como havia lhe prometido.

Sentiu que empalidecia assim que colocou os pés no interior do prédio. Tyrese, que tinha seguido ao seu lado até ali, avançou com pressa em direção à porta da cela.

“Karen!” Chamou contente, nas mãos um ramalhete com as flores que colhera para a namorada, e Sam se apoiou contra a parede para não cair diante do impacto do que Carl fizera e ela acobertara.

Tyrese se afastou da cela pálido, olhando em volta, seguindo para a do lado, vendo por certo o mesmo cenário, acendendo uma das lâmpadas para descobrir as marcas de sangue no chão, seguindo-as para encontrar os corpos carbonizados no pátio.

Sam não saberia explicar muito bem o que acontecera em seguida, mas estava certa de que o seu choque foi real, já que não estava mais no piloto automático. A frieza por ter de fazer o necessário para proteger Carl, e assim resguardar Rick, tinha se esvaído e tudo que ficou foi o assombro do que tinha feito.

Tyrese não se importou com ela, por que acreditou que estava tão surpresa e assombrada quanto ele, assim, apenas correu para fora em busca de alguém, daquele que todos sempre procuravam.

Sam, parada muito quieta contra a parede do fundo, apenas esperou ter coragem de encará-lo, por que se dava conta, quando o viu chegar, de que devia ter procurado Rick e lhe contado desde o começo.

“Apenas os encontrou assim?” Rick perguntou olhando de Tyrese para Sam, o rosto tomado pela preocupação, um pouco assustado, percebendo as implicações de tal ato.

Havia um assassino entre eles.

Sam olhou para Carol do outro lado e ela parecia agitada, fitando os corpos e olhando de Daryl para Rick, como se tentasse se decidir a contar ou não.

Rick não percebeu, mas notou que Sam estava muito calada, a olhar fixamente os corpos, e sentiu vontade de abraçá-la, pedir que se fosse, dizer-lhe que não precisava estar ali. Ela estivera ajudando a cuidar dos doentes e parecia tão abalada quanto Tyrese, pelo acontecido.

“Karen não merecia isso.” Ty disse e Rick tentou lhe apaziguar.

Sam não ouvia realmente. Seu coração estava acelerado e ela sentia como se fosse vomitar a qualquer momento. Por que, aliado a tudo, havia aquele cheiro de carne assada, impregnando suas narinas, sua pele, suas roupas. O vinha sentindo desde que ateara fogo aos corpos, perguntando-se se algum dia o esqueceria.

Tomou um susto de morte quando Tyrese deu um soco em Rick, sendo agarrado por Daryl, com Rick revidando.

Soube, naquele instante, com uma clareza absurda, que algo estava errado com ela, algo estranho, que nunca tinha sentido antes, nem mesmo quando Jay e seu primo quase a estupraram. Por que Rick estava em perigo e ela apenas ficou a lhe observar. Ele perdeu o controle e começou a socar o Ty, e Sam não mexeu nenhum músculo.


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Notas finais do capítulo

Adiantei, misturei e modifiquei muitos acontecimentos do episódio aqui. E sinto pelo Carl, mas nessa fic ele está muito mais dark que na série, apesar de que eu acho ele bem sombrio tanto na série, quanto nos quadrinhos.



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