Divided escrita por Pat Black


Capítulo 18
Riots and range




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“Moça, não acho que o xerife vai gostar muito disso.” Axel falou caminhando logo atrás de Sam, segurando uma alavanca e puxando um carrinho plataforma que tinha retirado da cafeteria. “Ele não me quer perto nem de um canivete de brinquedo.”

“Ele é muito desconfiado... E eu também.” Deu uma olhada funda para Axel e ele se afastou dela, um pouco assustado. “Mas não ia te trazer comigo desprotegido.” 

“O que vamos fazer realmente?”

“Preciso de ajuda para limpar o Bloco D.” Sam respondeu jogando a luz da lanterna na parede em frente, esperando que o brilho atraísse algum errante.

Chase tinha cuidado de bloquear a entrada que dava acesso aos demais blocos, mas ainda havia muito a ser feito para isolar o local da entrada de errantes, principalmente pela área administrativa.

Axel parou dois passos atrás dela, atento a retaguarda.

 “Para quê?” Perguntou sem saber muito bem por que deveriam limpar um ambiente que não utilizavam. “Tem muito espaço lá onde vocês se abrigam.” Sussurrou suspirando aliviado quando nenhum errante apareceu com o chamariz da lanterna e a garota voltou a caminhar, virando à direita.

Sam não respondeu, não era da conta do prisioneiro o que ela pretendia ou não fazer.

“Ok.” Axel espiou o caminho escuro atrás deles, com a alavanca erguida a altura do seu rosto. "O novato não precisa saber de nada, moça."

A garota parou novamente e lhe fez um gesto de silêncio. Um errante desgarrado estava parado logo adiante. Ela assobiou e a coisa avançou em sua direção, um braço faltando e o outro descarnado. Axel deu um passo para o lado quando Sam ergueu o braço e acertou a cabeça da coisa com o facão, a lâmina prendendo no crânio da criatura, fazendo Sam se inclinar para não cair quando o corpo do errante foi ao chão.

Dando um pontapé, ela afastou o corpo e liberou a arma, cambaleando e tateando com uma das mãos na parede mais próxima em busca de apoio, um pouco ofegante.

“Você está bem moça?” Axel perguntou um pouco envergonhado por ter recuado.

O braço ainda doía e Sam não estava cem por cento. Mas Hershel ficara contente ao trocar o curativo mais cedo, dizendo que os pontos não estavam inflamados e o o corte estava secando e cicatrizando bem.

“Vou estar.” Ela respondeu se afastando da parede, passando por cima do corpo do errante e seguindo para a direita. “E pare de me chamar de moça, meu nome é Sam.”

“De Samantha?” Axel questionou seguindo-a o mais rápido que podia.

“Não.” Sam respondeu sem dizer muito mais.

“Você não é de conversar muito, não é mo... Sam?”

“Na verdade, você é quem fala demais.” O repreendeu quando entraram na área comum do Bloco D, uma cópia em tamanho e disposição do local em que se abrigavam.

Rick e Glenn tinham retirado o corpo de T-Dog no dia anterior e lhe dado um enterro decente, mas os corpos dos prisioneiros ainda estavam lá, todos amarrados, amordaçados e fuzilados. Apesar de não fazer muita diferença para Sam, a cena pareceu afetar Axel.

Aguardando até o cara se recompor, lembrou-se do dia anterior. Do que o coreano tinha dito sobre T-Dog, em como este ajudou pessoas no bairro, no início da epidemia e Sam, em pé ao lado de Chase, sentiu um pequeno aperto no peito. Não pela morte do coitado, de quem nunca se aproximou muito, mas sim por que se deu conta de que estava aliviada e feliz que aquele corpo sendo enterrado, não fosse Rick, Chase ou Linn.

Tinha tentado falar com a amiga logo após o sepultamento, mas Linn se afastou pisando duro, sem lhe encarar e Sam teve que esconder seu desespero de todos os que presenciaram a cena e não sabiam bem o que estava acontecendo com as duas naqueles últimos dois dias.

“Me ajude aqui.” Pediu a Axel, amarrando um lenço sobre a boca e o nariz, se aproximando da primeira cela e agarrando um dos corpos pelas pernas.

Trabalharam durante meia hora para retirar todos os corpos do lugar. Depois Sam começou a retirar os pertences das celas e amontoar na última delas, deixando para analisar melhor o material quando fosse mais conveniente.

Usando as chaves que pedira a Carl, trancou todas as celas para evitar qualquer eventualidade e se afastou, quase duas horas depois, ajudando Axel a arrastar o carrinho onde os corpos se amontoavam.

Deu uma olhada no lugar e achou que serviria aos seus propósitos. A saída lateral conduzia ao pátio esterno pelo lado direito, o que os levaria ao local pelos fundos, ligado com a saída que utilizavam, de frente para o campo. Além disso, teria acesso ao túnel de comunicação com o Bloco C e a segunda passarela coberta.

Axel parou quando eles estavam próximos a saída lateral, encostou a mão na parede e vomitou, depois cuspiu e se inclinou receando vomitar novamente, mas sem fazê-lo.

“Foi esse maldito cheiro.” Falou apontando para os corpos.

“Mesmo?” Sam franziu a testa. “Já nem sinto mais.”

Dito isso, aproximou-se da porta abriu e puxou o carrinho o melhor que pode para fora, até que Axel se sentiu bem o suficiente para ajudá-la.

“Vamos enterrá-los?”

“Gostaria de poder Axel.” Sam respondeu ao identificar a nota de pesar no sotaque marcado do prisioneiro.

“Posso fazer isso mais tarde.” Ele tentou.

Sam olhou para o pouco terreno gramado daquele lado, uns três metros apenas até chegar à cerca.

“Esse é o único trecho de terra desse lado da prisão.” Sam pontuou. “Precisarei dele para uma plantação, não podemos enterrá-los aqui.”

“Posso levá-los até o campo onde eles fizeram o cemitério.” Axel explicou e Sam apiedou-se dele.

Axel podia ser um marginal, mas tinha bom coração. Soubera disso assim que ele cuidou de seu ferimento quando Thomás a manteve prisioneira.

“Não acho que os outros vão deixar.” Explicou. “Mas podemos enterrá-los do outro lado da cerca.”

“Com aquelas coisas por aí?” Axel abraçou o corpo e olhou para um deles que se aproximava do cercado.

“Você cava e eu te cubro.” Sam prometeu. “Podemos fazer isso depois do almoço.”

Sam se afastou do carrinho e circulou o terreno pelo lado até se aproximarem da torre de vigia, o único acesso dali para o outro lado.

“Não foi à toa que não pudemos abrir essa droga.” Ela apontou para a porta soldada do lado em que estavam. “Vamos continuar sem acesso por esse ponto.”

“É isso então... Vocês vão se mudar para esse bloco?” Axel não entendia.

“Eles não.” Sam esclareceu. “Eu.”

Axel olhou para um chão por um momento, ainda abraçado-se, depois encarou Sam.

"Posso vir com você, moça?" Sam não gostou da ideia e isso pareceu se refletir em seu rosto, pois Axel deu um passo a frente e quase implorou. "Não gosto como o barbudo me olha, parece que vai mandar me matar se eu espirrar  muito alto."

"Eles não vão gostar de você sozinho aqui comigo." Sam foi direta.

"Você pode me trancar na cela à noite." Ele arriscou.

"Talvez." Sam disse apenas e ele sorriu.

Fez um sinal e ambos voltaram para as celas, onde os outros se reuniam para a segunda refeição do dia. Rick olhou para os dois com repreensão. Principalmente a Sam. Seu olhar questionava como ela pudera sumir por quase três horas, acompanhada de um homem que mal conheciam e bem poderia ser um serial killer, ou um estuprador.

Sam não fez caso dele ou de Daryl, que também lhe encarava da mesma maneira. Quando estava decidida a alguma coisa e tinha suas opiniões formadas sobre pessoas e situações, ninguém poderia mudar seu curso ou modificar seu pensamento.

Ao largo e preferindo não se envolver, mesmo percebendo o clima tenso quando a garota apareceu, Carol estendeu uma tigela para Axel e este se afastou de Sam, que, sem encarar ninguém, caminhou até a mesa mais próxima e sentou ao lado de Chase.

“Onde estava?” Chase questionou baixo, passando uma tigela com carne e arroz para ela.

“Resolvendo um assunto.” Respondeu pegando a vasilha e remexendo seu conteúdo, suspirando baixo e volvendo o olhar para a escada de saída onde Linn estava sentada com Sofia.

“Ainda está com aquela ideia maluca?” Chase a fitou chateado.

“Não é maluca.” Sam provou a comida, mesmo ser ter muito apetite.

“Nada que eu disser vai te fazer mudar de ideia, pois não?” Chase enfiou o garfo em sua própria tigela com tanta força que o som chamou atenção de todos.

“Não faça cenas.” Sam colocou a mão no braço dele.

Chase pensou que, para uma pessoa que não gostava de ser tocada, Sam tocava demais. Contudo, ela o fazia apenas em pessoas com as quais parecia se importar: Linn, Sofia e ele. Se bem que, com ele, aquilo do contato físico começara muito recentemente.

“Não estou feliz com isso.” Tocou a mão dela sobre o seu braço. “Sabe que irei com você, apesar de já ter me acostumado com esses sociopatas que vivem aqui.”

“Não é isso que estou pedindo.” Sam apertou os dedos dele.

“Acha que te deixaria sozinha?” Chase deu um sorriso torto. “Aonde você for, irei também, sabe disso.”

“Linn vai me odiar um pouco mais.” Sam afastou a mão dele e voltou a encarar a tigela.

“Ela não te odeia... Não muito.” Chase olhou para Linn e observou que ela sorriu e tocou com carinho os cabelos de Sofia.

“Vou me mudar tão logo Daryl se dê conta de que Thomás não vai voltar.” Sam explicou olhando para o caçador.

Daryl saíra mais duas vezes para caçar o prisioneiro e nada tinha encontrado. Assim, ou o prisioneiro tinha sido vítima dos errantes, ou tinha morrido em algum sítio por causa dos ferimentos. Mesmo que estivesse vivo, Sam duvidava que ele voltasse sozinho para atacá-los. O maldito não era nenhum idiota.

Chase disse que achava o mesmo e passou a dar mais atenção ao que comia com os olhos indo, de vez em quando, em busca de Linn, que sentada quase em frente à mesa onde estavam não lhes dava atenção.

Sam observou todos ao redor e não encontrou Beth. Raciocinou que provavelmente a garota estava tomando conta do bebê, ou Judith como Carl a nomeou, apesar de Sam gostar mais de chamá-la Bravinha, como Daryl a apelidou.

Carol tinha preparado um caldo, que cheirava muito bem, e se afastou indo em direção as celas, o que significava que Lori estava acordada e, provavelmente, muito melhor. A mulher de Rick vinha se recuperando muito bem, mas ainda não conseguia amamentar a criança.

Observou que Glenn estava se preparando para sair e Maggie disse que iria com ele. Apesar de Rick ser o pai, Glenn sempre se sentia mais qualificado para qualquer trabalho que envolvesse coletar alimentos ou materiais.

“Você não dormiu nada.” Ele disse com carinho tocando o pescoço da namorada. “Fique e descanse um pouco, ok?”

Maggie ainda insistiu, não gostava de vê-lo sozinho lá fora, e disse isso a ele. Rick resolveu entrar na discussão e tentar convencer Glenn de que era melhor ele lhe acompanhar, mas Linn se ergueu e se ofereceu antes.

“Prefiro ir sozinho.” Glenn ainda tentou.

“E eu quero dar um passeio.” Linn brincou. “Vamos juntos ou separados? Por que eu vou de qualquer jeito.”

“Glenn?” Maggie pediu e ele acenou que sim.

“Só preciso pegar meu arpão.” Linn avisou se afastando.

Sam a seguiu com o olhar, depois se ergueu e foi atrás dela.

“Linn?” Chamou entrando na última cela.

“Não posso conversar agora Sam.”

Linn estava de costas e não se virou. Apoiando o pé na beirada da cama começou a colocar o suporte com o arpão na coxa.

“Não precisamos conversar agora, sei que não adianta nada com você ainda zangada.” E ela ainda estava, mesmo após dois dias.

Sam sentou na cama e olhou para a cima, queria poder ver o rosto de Linn enquanto conversavam.

“Só queria te contar que vou me mudar para outro bloco, o D.”

Linn parou o que estava fazendo e ergueu os olhos para o rosto de Sam.

“Os errantes ainda estão entrando pela área administrativa.” Disse alguns segundos depois.

“Chase vai dar um jeito naquela entrada, assim que Glenn conseguir o material necessário.”

“Não pode ir para lá sozinha.” Linn colocou o pé no chão e encarou Sam, apesar de tentar esconder a preocupação.

“Chase vai comigo. Talvez Axel também.” A garota explicou olhando fundo a ruiva. “Pode se juntar a nós.” Convidou.

“Por quê?” Linn abanou a cabeça. “Precisamos ficar juntos com eles, somos uma família agora.”

“Não seja boba Linn.”

Sam se levantou, menor por apenas uns poucos centímetros, ainda assim, pareciam ter o mesmo tamanho diante do modo como ela se agigantou em direção a amiga.

“Somos parte de um grupo de sobreviventes, mas não somos uma família com eles.” Apontou para Linn. “Você é minha família. Chase e Sofia, sim, são minha família.” Deu um passo para Linn. “Será melhor se não estivermos tão ligadas a eles. Evitaremos muito de confusão assim.”

“Ficaremos mais fracos.” Linn cuspiu.

“Não vamos nos afastar tanto, estaremos apenas distante o bastante.” Sam falou baixo.

“De Rick e Lori?”

“Sim.” Sam sussurrou. “Acha que pode ficar aqui com eles e estar bem?”

“Eu não quero me afastar dele Sam.” Linn não baixou a voz, pouco se importando que qualquer um lhe ouvisse. “Não sou covarde.”

Sam deu um passo para trás como se Linn tivesse lhe batido, quando aquilo foi muito pior que qualquer agressão física.

Quis agredi-la também, dizer coisas que a magoariam e terminariam a amizade que tinham para sempre. Mas amava Linn e sim, era covarde, por que não queria perdê-la.

“Sua raiva vai passar e você vai perceber que sairmos daqui é o melhor para todos.” Sam deu um passo para trás, depois se voltou. “Talvez não devesse sair agora, te deixei de cabeça quente de novo, e isso não é bom lá fora.” Sam se afastou para a porta da cela. “Eu posso ir com Glenn...”

“Não preciso mais seguir suas ordens Sam.”

“Não estou lhe ordenando nada.” Sam voltou o rosto tomado por uma fúria que mal conseguia controlar. “Vim aqui conversar e você me ataca. Te ofereço uma chance de tentar terminar com tudo isso, colocar uma distância que vai ajudar a nós duas, e você me machuca.”

Linn ficou pálida, depois seu rosto enrubesceu e ela mordeu o lábio inferior tentando controlar a ira.

“Se sair com Glenn assim e algo acontecer com você, não vou me perdoar.” Sam tentou sair, mas Linn lhe segurou pelo braço, a mão apertando o ferimento por baixo da jaqueta, o que fez Sam ofegar e lhe dar um safanão.

“Não preciso que se preocupe comigo.” Linn falou baixo, a voz carregada de remorso ao perceber que a face de Sam não escondia a dor que seu gesto lhe causara, e não só por ter magoado o ferimento ainda recente. “Você pode ser a senhorita sangue frio, mas eu não sou nenhuma idiota e posso cuidar de mim mesma.”

Como uma simples conversa podia se transformar em uma batalha? Sam se perguntava olhando para Linn com desgosto.

Devagar Sam deu um passo para o lado.

Linn hesitou um segundo, depois passou pela amiga, parou como se fosse lhe falar algo, a face contrita, um muito de remorso transbordando de seus olhos verdes, mas preferiu nada dizer, se afastando, para encontrar com Glenn.


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Notas finais do capítulo

Riots and range - Revoltas e separações



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