Divided escrita por Pat Black


Capítulo 15
Outlook


Notas iniciais do capítulo

Música - Jarryd James - This Time
.
Agradecimentos a Toxi por estar acompanhando a história.



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Daryl e Chase tinham saído na manhã seguinte para rastrear o fugitivo, apesar de Dixon ter desejado ter seguido sozinho. Glenn e Maggie rumaram em busca de alimento para o bebê, visto que Lori não tinha condições de amamentar a criança. Carol seguiu para a torre de vigia com Sofia. Beth cuidava da nenê e Hershel de Lori, enquanto os demais cuidavam da vigilância do local.

Antes de sair Chase levara Sam para a passarela, onde ela pode se sentir útil, vigiando a área entre os blocos, enquanto aproveitava o ar fresco.

“Sinto como se um trem tivesse passado por cima de mim.” Sam murmurou sentindo o corpo dolorido, mesmo percebendo que se sentia melhor, sem tonturas ou enjoos, sorrindo levemente para uma Linn taciturna, parada em pé ao seu lado.

Linn não sorriu de volta. Sam achou estranho. Mas tantas coisas estavam acontecendo, tantos problemas para cuidar, que não ficou se preocupando muito com a atitude da amiga.

“Ela está mal.” Linn deixou escapar após um curto silêncio.

Não precisava que explicasse muito mais para saber que se tratava de Lori.

“Pensei que estava melhor.” Sam retrucou um pouco assustada.

“Não.” Linn balançou a cabeça. “Hershel a tem no soro e fica checando seus sinais de dez em dez minutos, mas ela não vai bem.”

Sam sentiu a tristeza lhe tomar, não por Lori, ainda que se compadecesse dela de alguma maneira. Nunca poderia deixar de experimentar algum tipo de consternação pelo sofrimento de alguém que conhecia. Mas seus pensamentos e seu pesar seguiam por Rick.

“Foi em vão.” Linn sussurrou. “Tudo o que passamos para trazê-la aqui.”

“Não, não foi.” Sam tocou em seu braço e lhe olhou fundo. “Morrer lá, daquele jeito, teria sido pior.”

“Para Rick?” Linn deixou escapar encarando Sam profundamente.

“Também.” Sam estreitou os olhos sem compreender a raiva em Linn. “Mas pense no que Lori pediu a Maggie.” Sam balançou a cabeça e comprimiu os lábios. “De todos, era a única que poderia tentar uma cesariana e teria matado uma amiga. Como ela poderia conviver com isso?”

Linn passou as palmas das mãos nas pernas impaciente, de maneira que Sam afastou a mão de seu braço.

“E Carl?” Sam continuou. “Teria visto a mãe morrer sem nada poder fazer.” Afastou o cabelo do rosto e olhou novamente para a ruiva. “Vocês deram uma chance para ela. Será muito menos doloroso se ela partir, quando todos sabem que fizeram o impossível para que ficasse.”

“Não quero que ela morra.” Linn despejou como se lhe doesse dizê-lo.

O interesse por Rick e o anseio em possuí-lo não era do tipo que desejasse a morte de uma rival.

“Sei que não.” Sam sussurrou tentando tocá-la novamente, mas desistiu, percebendo que algo estava realmente errado com Linn.

Ficaram em silêncio por alguns segundos, com Sam olhando para a figura agitada da ruiva e começando a imaginar o que a estava incomodando.

“Linn?”

“Você queria me dizer algo ontem.” Linn a interrompeu lhe olhando do alto, com os olhos verdes cheios de acusações.

“Sim, queria.”

“Era importante, não?” Virou-se até que ficassem quase de frente uma para a outra. “O que era?” Questionou com urgência.

Sam baixou a cabeça, olhou para as mãos e mordeu o lábio. O que não era bom sinal. A amiga nunca, nunca tinha receio de contar ou dizer qualquer coisa. Sam era tão franca, quanto Linn era explosiva e teimosa. Sempre pudera contar com aquela faceta nela em qualquer situação e sobre todos os outros assuntos, ao longo daqueles meses.

Contudo, nesse momento, Linn temia a franqueza de Sam. Apavorava-lhe que ela tornasse real seus medos e arranhasse a relação que possuíam com qualquer revelação que lhe fizesse.

“Acho que você desconfia sobre o que seria.” Sam pontuou com os olhos champanhes cheios de vergonha e dor.

“Tem haver com Rick.” Linn deixou escapar mais como uma certeza do que um questionamento.

Sam não respondeu logo. Seu silêncio muito mais eloquente do que qualquer coisa que diria depois. Até que olhou fundo a mulher em pé e falou sem meias verdades o que a outra já parecia saber.

“Não sabia como lhe dizer.” Soprou com a voz um pouco embargada, os olhos se dirigindo para a porta de acesso ao bloco de celas que, fechada, resguardava um pouco da privacidade de ambas naquele instante.

“Você gosta dele.” Linn continuou se afastando um pouco de Sam.

“Não.” Linn pareceu um pouco alegre, mas as palavras seguintes de Sam destruíram qualquer esperança de que o interesse da amiga fosse qualquer outra coisa. “É mais do que isso.” Sam passou a mão no rosto, encarou o vazio à frente sem ver os portões, o campo ou os errantes que se amontoavam nas cercas.

A garota não sabia bem como explicar o que experimentava, por que estivera durante muito tempo resguardando, abafando e tentando destruir seus sentimentos dirigidos a um homem que não poderia ser seu.

Como dizer a Linn o quanto era profundo o que sentia? Como explicar sobre algo que não tinha parâmetros em sua curta existência, por que nunca vivenciara uma emoção tão poderosa por nenhum outro ser humano? Qualquer explicação que desse seria muito pobre em comparação ao sentimento que odiava carregar. Não só por que o objeto de sua afeição fosse casado, mas também por que estava machucando Linn, quando fez o possível para que isso não acontecesse.

“O que é então?” Linn perguntou baixo e bruscamente.

“Não sei explicar muito bem. Quando o vejo, quando ele está perto, algo queima aqui dentro, e ameaça me consumir.... Todo o tempo apenas desejo que ele esteja bem.”

Sam tentou explicar cruzando os braços, como a proteger-se, as palavras saindo aos arranques, ofegantes, como se ela as puxasse com força para trazê-las à tona de sua alma reservada.

“Fico satisfeita apenas por sabê-lo ali, perto, mesmo que nunca chegue a me tocar. Nem mesmo importa se me nota, ou me perceba, contanto que ele esteja ao alcance dos meus olhos, saudável e em segurança.” Voltou-se para Linn. “Quero que ele seja feliz, mais do que o quero para mim.”

Linn compreendeu em parte aquele tipo de afeição, mesmo que a sua fosse diferente, muito mais carnal e egoísta. Entretanto, aquilo não queria dizer que Sam não o desejasse, ou que os sentimentos da ruiva fossem menos poderosos e verdadeiros.

“Quando lhe contei que ele me interessava, que o queria...” Linn não pode terminar.

“Sou sua amiga.” Sam ergueu a mão, mas a deixou cair no colo ao notar o ar de acusação tomar a ruiva. “Não poderia te dizer o que sentia, por que, desde que o reencontramos, tenho tentando não pensar nele dessa forma.”

“Mas algo mudou.” Linn acusou.

“Algo aconteceu.” Sam rebateu em um murmúrio.

“O quê?”

Sam ficou um longo tempo encarando a amiga, uma mão agora sobre a coxa se fechando em punho, o queixo levemente trêmulo, as palavras engasgadas e lhe sufocando, temendo que Linn a odiasse por conseguir algo que ela desejava ardentemente.

“Nos beijamos.” Confessou.

“Que idiota eu fui.” Linn deixou escapar se afastando para o meio da passarela, distante o bastante para que Sam percebesse toda a sua figura, com o macacão cinza vestido pela metade, mangas pendendo em um nó frouxo na linha da cintura, a camiseta branca colada e revelando seus seios cheios e seus braços graciosamente definidos.

Ela se virou e olhou a mais jovem cheia de acusações. Os olhos verdes revelando uma dor que era uma mescla de raiva por Sam ter lhe escondido tudo aquilo, inveja pelo que a outra conseguiu possuir e consternação por saber que Rick se entregou a outra quando também lhe queria, apesar dele conseguir refrear esse desejo.

“Só aconteceu, então?” Linn perguntou irônica. “E quando foi isso?” Linn deu um passo para Sam. “Há quanto tempo?”

“Não significou nada.” Sam mentiu sem responder e Linn compreendia que mentia e ocultava.

“Sam!” Foi uma advertência.

Não queria ser enganada ou ser alvo da piedade da morena. Percebia claramente que isso estava acontecendo. Sam sentia pena dela, de seus desejos não correspondidos, de suas tolas confissões.

Estava me enganando? Pensou aflita.

“Linn, por favor, vamos conversar com calma.” Sam pediu se erguendo.

Para manter o equilíbrio, segurou na grade de proteção, o corpo ainda um pouco vacilante, mas muito mais forte que no dia anterior.

“Eu não queria que acontecesse.” Tentou. “Não quis enganar você ou lutar com você por...” Vacilou então e balançou a cabeça. “Não quero perder você por algo que não podemos ter.”

“Eu estava tentando.” Linn murmurou se aproximando até que ficaram separadas por menos de um metro.

“Deus, Linn.” Resmungou apertando os lábios para se conter. “Ele é casado.”

“Você já me disse isso antes.” Sussurrou em resposta. “Vale para mim, mas não para você, não é?”

Recuou. Os olhos muito grandes demonstrando toda a sua consternação. Linn a afligiu revelando o que poderia entender como hipocrisia. No entanto, Sam a magoou em primeiro lugar com a desculpa de que a poupava, quando em verdade resguardava muito mais a si mesma.

"Ela o traiu." Revelou para Sam em um rompante. "Beth me contou. Traiu com o melhor amigo dele. Parceiro na polícia. Os fez se tornar inimigos. E Rick o matou no final, por que ela não conseguiu manter as pernas fechadas."

Sam apertou os elos de metal da grade com força até sentir a palma doer.

"Acha que me importo com uma mulher como essa?" Linn continuou. "Que ligo por desejar um marido que ela não soube respeitar?" 

Linn arfou, as palavras seguintes saindo doloridas.

“Eu o amo.” Declarou com todas as letras. “Acredita que estaria me fazendo de tola, tentando conseguir o impossível, se não o amasse com desespero? Achou que só era desejo?” Linn gemeu. "Pesei tudo e conclui que ele valia o esforço, a humilhação em me oferecer e até mesmo a dor em ser rejeitada."

Falavam em voz baixa, ainda que a contundência em cada palavra e sentença demonstrasse o tanto de emoções que resguardavam para não gritar uma com a outra. Linn por se sentir traída e insultada. Sam por não conseguir que Linn compreendesse que Rick não seguia sendo uma taça que ambas pudessem jogar para obter.

“Sempre soube o que você sentia.” Sam explicou, não sabendo mais o que dizer para que ela entendesse a sua motivação, a sua perspectiva sobre tudo aquilo. “Mas temi por você.”

“Mesmo?” Linn sibilou e sorriu com escárnio.

“Não queria que sofresse também.” A morena esclareceu, percebendo que Linn já sofria muito mais do que ela poderia imaginar.

Tocando o braço da amiga, tentou lhe mostrar que não queria que tudo aquilo ficasse entre as duas. Não iria suportar perder uma amiga que considerava como uma irmã, por causa de um homem. Concluindo que viviam naquele momento algo muito parecido com a história que Linn lhe contava sobre Rick, Lori e o tal amigo morto.

Linn se afastou de seu toque e dela. Tudo aquilo ficou entre elas, como um muro em que o ressentimento firmava, como o cimento, blocos de pedra maciça as separar.

Sam compreendia que Linn não lhe perdoaria tão cedo e, temia, nunca. A ruiva possuía um temperamento explosivo que lhe levava a dizer e fazer coisas das quais se arrependia depois, apesar de ser orgulhosa demais para se desculpar quando o percebia.

“Prefiro sofrer com algumas lembranças, a viver sem saber o que perdi.” Linn despejou depois de encarar Sam por um longo, longo momento.

Afastando-se, deu dois passos passando por Sam, em direção à porta corrediça, intentando se afastar desta antes que dissesse muito mais de tudo o que lhe alagava o peito.

“Não vá assim.” Sam pediu virando para olhar as costas retesadas de Linn. “Temos que  conversar... Resolver isso.”

“Não agora.” Linn declarou. “Não quando estou com tanta raiva que mal posso respirar.”

E se foi. Pisando duro. Com mais raiva do que Sam havia previsto.

Sentando, tentou se colocar, como sempre, no lugar da outra. Percebeu que Linn tinha mais raiva de ter lhe escondido coisas, do que pelo fato de Sam gostar de Rick. Mesmo que sentisse raiva por isso também. E muito mais por causa do beijo, do que essa intimidade partilhada entre Sam e Rick representava, e parecia revelar, sobre para onde os sentimentos do xerife pendiam.

Sam respirou fundo e olhou para o céu, tentando conter as lágrimas. Notou que algumas nuvens escuras escondiam o Sol, tornando ainda mais lúgubre aquela manhã.

Guiada por um sentimento de reconhecimento, olhou para a porta contrária a que Linn tinha partido e ele, o objeto de todo aquele drama, estava parado lá, a lhe observar.


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