Uma Odisséia em Outra Terra escrita por Curupira


Capítulo 1
Prólogo - Kardia, a dama banhada de sangue.


Notas iniciais do capítulo

1.Esse prólogo tem como objetivo introduzir a ambientação desse planeta.
2.Kardia é uma personagem introduzida apenas tardiamente.
3.Eu reescrevi o prólogo, todas as informações do prólogo anterior foram mantidas, mas dessa vez para ficar menos tedioso, resolvi passar as informações introduzindo um personagem novo.



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O som da manhã era audível, um pássaro negro repousava em cima de um galho, inundando o presente cenário com sua canção. O som dos insetos, do farfalhar das folhas e de outros animais eram também presentes, mas era o pássaro negro que se destacava. Isso é, até um Eridir¹ surgir do subsolo e come-lo... 

O céu era cor Safira, o tom mais escuro deste céu estava relacionado à diferença na disposição dos elementos presentes no ar deste planeta.

Do resto de penugens negras flutuantes até a cidade mais próxima existiam 6 quilômetros de caminhos e vegetações. No meio termo era possível ver longas terras aradas e algo similar ao gado correndo por vegetações rasteiras, então via-se os camponeses cuidando da terra de seus senhores. Um dos fazendeiros repousou seus braços no arado. Um vento forte começou a soprar do leste, o ambiente escureceu-se por um momento.
     -Que os deuses nos protejam, essa vai ser mais uma noite da tormenta.
   Todos perceberam o mesmo, a terra por um momento parou de ser lavrada, há quem jure que os beijumin² também pararam de pastar.
    -Vamos voltar ao trabalho, até a noite chegar ainda 10 horas serão necessárias.
     Gritou um dos trabalhadores braçais.
    -Vamos!
    Bradou o primeiro fazendeiro assertivamente.
O primeiro fazendeiro era chamado de Pitrir, há mais de 30 anos exercia o mesmo serviço e pouco se lembrava o que era um dia de folga. Trabalhava 16 horas por dia e os únicos pagamentos que recebia eram: a sua estadia, alimento e proteção de seu senhor. Sua filha tinha se tornado uma maruja e sua mulher já falecera, portanto a vida simples não mais o incomodava.
  A verdadeira preocupação era com a segurança, e mesmo que em noites muito conturbadas algumas tropas da cidade eram enviadas como reforço, nunca era o suficiente. Afinal, "O quanto vale a vida de um fazendeiro?", murmuravam os nobres em suas vastas poltronas.

Um estrangeiro se aproximou de Pitrir.
       -O que faz aqui? Você é burra de retornar na noite da tormenta?
     -Assim que cheguei no porto próximo resolvi te visitar, até aqui demoraram 2 dias na montaria e essa desgraça não ia ser daqui um mês?
       -Os dias estão se tornado irregulares ultimamente, apenas sabemos a chegada deles pelo anúncio desses vendavais e da tempestade no dia precedente - respondeu o fazendeiro com um olhar profundo. 
    Os dois se abraçaram e logo se recolheram para o casebre de madeira e palha. O turno de trabalho se encerrara mais cedo por causa da eminente tormenta.

Dentro da casa uma tocha foi acesa, o velho deu algumas frutas a rapariga e esperou que comesse. Em seguida, começou a se perder em seus pensamentos até iniciar uma conversa despretensiosa cheia de sentimentalismo.

Lembrava do tempo em que sua esposa estava viva e sua filha era pequena, dizia sobre quando a cidade era mais limpa e as infestações controladas. Depois perguntou da vida pessoal de sua filha, até que essa se irritou e pediu para que mudassem de assunto.

—Sua mãe se tivesse viva nunca deixaria você seguir essa carreira, a OVP persegue todos que trabalham com a navegação, você é uma pirata, não existem marinheiros nesse mundo - provocou-a por preocupação.

—Eu sei pai, mas não tem nada que eu possa fazer, eu tenho que me sustentar e adoro o oceano, essa é a vida que levo. A OVP não tem muito controle sobre o porto porque são anualmente comprados pelos mercadores, você sabe dessas coisas, estou cansada de repetir as mesmas coisas todas as vezes que te visito - disse impaciente.

A OVP era a sigla da Ordem dos Verdadeiros Pensadores, controlavam tudo que se podia dizer ou pensar em cada lar desse continente.

O sino da cidade logo começou a soar, um zumbido que havia começado imperceptível começou a aumentar de intensidade. Insetos gigantes invadiram a plantação, os guardas fizeram uma formação que pudesse cercar a zona mais ocupada pelos insetos, seus ferrões perfuraram os braços de alguns soldados e as lanças dos soldados perfuraram alguns ferrões. A luta se intensificou. No relatório para os nobres o seguinte trecho foi registrado:

"Entre feridos e mortos, nossos legumes estão salvos. Viva senhores, viva!"

Após a vitória os soldados retornaram para os muros da cidade, alguns cambaleando e outros arrastados, deixando um rastro de sangue que se atenuava a cada passo.

A noite se acalmou por um breve momento, mas em uma noite de 16 horas de duração, a tormenta só havia começado.

Uivos e grunhidos começaram a ser ouvidos as 26 horas da madrugada. Os servos se trancaram em suas casas.

—Pai, se quisermos sobreviver precisaremos correr para cidade enquanto temos tempo. Esses monstros podem quebrar qualquer uma dessas portas com facilidade, eu ouço muitos relatos no mar - dizia tremula. 

—Bobagem, lá fora a morte será certa.

Pitrir não estava certo de nada, porém, não queria morrer em uma fuga conturbada. Um amargo conformismo podia ser sentido em seus lábios. Sentiu ódio de si, não podia se deixar vencer por seu egoísmo. Sua filha retornar no dia de sua morte não podia ser visto como um presente se a mesma morresse juntamente com ele. Irei lutar até o fim!, repetia mentalmente.

Não demorou muito para os animais forçarem sua entrada nas casas. Ao contrário dos insetos, esses se interessavam apenas por carne. Na última casa a ser invadida dois sujeitos esperavam ansiosamente para a batalha final.

A luta demorou alguns segundos, logo, ambos estavam debruçados imóveis no chão. Alguns membros da refeição mais velha foram removidos pelas ferozes presas ensandecidas. A maioria dos corpos foram levados para a floresta, incluindo os membros de Pitrir da última casa invadida. Sua filha, Kardia³, permanecia deitada, lágrimas escorriam de seu rosto e respingavam no chão grudado a seu rosto. 

"Nada pude fazer, só me resta viver", pensava ela em meio ao caos de sua mente.
  


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Notas finais do capítulo

¹Tipo de invertebrado semelhante a uma minhoca.
²Animais parecidos com o gado terrestre.
³Kardia está ligada com a palavra grega de coração, mas também possui a raiz de coragem. Sendo coragem, uma palavra essencialmente feminina, achei que se encaixaria bem no perfil dessa personagem.



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