Posso afirmar com toda certeza que acordar com a Jane nua enrolada a mim, é uma das melhores coisas que eu experimentei na minha vida. A segunda melhor coisa é a ver dormir, o movimento lento do seu peito e a sua respiração leve, seu rosto calmo e sereno. Meu Deus, eu tenho tanta sorte. Penso enquanto deposito um beijo suave na testa da Jane.

A desvencilho de mim carinhosamente, com a intenção de não acorda-la. Estou ficando expert nisso. Pego um calção e me encaminho para o banheiro, tomo um banho rápido e me arrumo para ir ao escritório. Eu teria uma reunião com a Mayfair, depois de tudo.

Saio do banheiro apenas para descobrir que Jane não está mais na cama, devia ter adivinhado que ela acordaria assim que eu ligasse o chuveiro, independente do quanto eu lutasse para sair do seu abraço sem a acordar.

Caminho para a cozinha e a vejo vestida apenas com a minha camiseta, enquanto faz um café, chego por trás dela e abraço sua cintura, encaixando minha cabeça no seu ombro.

― Bom dia. ― digo e dou um beijo no seu pescoço. Sinto seu sorriso crescer contra minha bochecha e ela se vira me dando um beijo rápido.

― Bom dia. ― ela responde com um sorriso enquanto me passa meu copo térmico.

Coloco café no copo e o tampo ― eu tenho que ir mais cedo ― com um tom de lamentação na voz.

― Hoje é a sua reunião com a Mayfair, certo? ― ela pergunta e apenas aceno com a cabeça enquanto coloco um gole de café na boca. ― Então é melhor você não se atrasar. ― ela agora passa seus braços pelo meu pescoço e eu rapidamente agarro sua cintura.

― O que você acha que ela quer? ― sinto sua voz falhar com a pergunta.

― Eu não sei. Encontrei com ela ontem e tudo parecia normal. ― respondo sinceramente e percebo uma ponta de nervosismo na sua voz. ― Vai dar tudo certo, Jane.

Ela apenas acena e me dá um meio sorriso.

― Ok, então vai logo. ― ela diz se soltando do meu abraço.

A puxo novamente para perto de mim e lhe dou um beijo demorado. Eu nunca vou me cansar.

― Você não vai? ― pergunto deslizando minha boca pro seu pescoço, ela segura minha cabeça na frente da sua, me fazendo prestar atenção ao que ela diz.

― Nos encontramos lá. Você não pode se atrasar. ― Jane explica me dando um último beijo antes de me arrastar para fora de casa.

***

Enquanto dirijo para o escritório sinto um frio involuntário na barriga. Não que eu esteja nervoso, mas a Mayfair nunca me chamou para uma reunião tão cedo e eu nunca fui tão na escuridão. Ela sempre demonstrava antes do que se trataria a reunião. Aparentemente é um hábito antigo agora.

Estaciono e ao sair do carro um sorriso cresce. Voltar a essa rotina que eu tanto senti saudades é gratificante. Caminho em direção ao elevador e quando saio no hall de entrada vejo quase nenhum agente no local. Ainda deve ser cedo. Mas Mayfair está na sala dela, mexendo em alguns papéis.

Vou em direção ao vestiário e pego meu distintivo. Observo alguns agentes novatos entrarem conversando e rindo, quando me veem, rapidamente se ajeitam, desejando um rápido bom dia.

Novatos.

Sorrio enquanto vou à sala da Mayfair, bato no vidro e ela sinaliza para que eu entre. Fico ainda mais intrigado quando ela me pede para sentar.

― Bom dia, senhora. ― desejo e ela abre um sorriso.

― Bom dia, Weller. ― ela responde ajeitando o corpo na cadeira.

― Você se sente como se fosse o primeiro dia? ― ela pergunta. ― Chegando antes de todos, reunião com a chefe…

― Em parte, sim. ― digo com um sorriso sincero. ― Me sinto feliz de estar de volta.

Aonde ela quer chegar?, eu penso.

― Você sabe, ― ela se levanta e começa a andar pela sala. ― Quando você veio para está unidade ― ela sorri com a lembrança. ― O seu primeiro caso foi justamente o de um sequestro de crianças, um russo chefe de cartel.

Claro que eu lembro. Como eu poderia esquecer?

― Eu percebi algo diferente em como você tratava o caso. ― ela para ao meu lado, olhando para fora da sala. ― Você estava deixando as emoções lhe dominar e isso com toda certeza não era o que eu queria de um agente. ― ela agora me olha. ― Eu não sabia que esse seria o seu carro chefe na sua jornada aqui. ― ela afirma e volta a se sentar.

― Há algum problema com a minha conduta, senhora? ― pergunto preocupado. Ela não parecia ter algo contra mim e Jane.

Ela nega rapidamente.

— Não, Kurt. ― ela nega rapidamente sorrindo e eu respiro aliviado. ― Admito que no início eu fiquei preocupada com o seu relacionamento com a Jane. ― ela continua ― Porém agora eu percebo que ela faz de você um agente e um homem melhor. ― sinto a sinceridade em sua voz.

― Melhor do que eu nunca imaginei que seria. ― afirmo e ela sorri novamente.

― Você se tornou o melhor agente com que eu já trabalhei, Kurt ― ela agora fala num tom mais sério. ― Essa unidade, o seu team, todos aqui adoram trabalhar com você e a forma que você comanda tudo. Se eu tivesse que escolher um sucessor, esse seria você. ― ela fala séria e eu sinto como se meu coração fosse sair pelos meus ouvidos.

― Você aceitaria? ― ela pergunta. ― Comandar tudo, daqui dessa mesa? ― ela faz um movimento com as mãos sobre a mesa e por um momento eu fico sem palavras.

― Eu me sinto lisonjeado, senhora. Porém eu não sei se conseguiria conciliar tudo. ― digo sinceramente.

Ser diretor dessa unidade? Eu não sei se eu conseguiria lidar com tudo, além de ser um agente originário de campo.

― Você sabe que é capaz. Kurt. ― ela se levanta e fica ao meu lado. ― Você é de longe o mais indicado e treinado para comandar quando eu sair ―

Sair? Ela estava pensando em sair?

― A senhora está pensando em sair? ― pergunto confuso.

― Depois de tudo que eu passei, acredito que preciso aproveitar o resto do tempo que me falta. ― Mayfair explica.

Realmente fazia sentido, ela merecia o devido descanso. Ela já havia contribuído bastante para esse país, nada mais justo. Mas me colocar como seu sucessor?

― É justo, a senhora foi realmente importante para essa unidade. ― concordo e ela acena com a cabeça.

― Você aceitaria ser meu sucessor? ― ela pergunta diretamente e pela segunda vez hoje, fico sem saber o que dizer.

― Tem tantas coisas que eu teria que abdicar para ocupar o seu lugar. ― começo a analisar. ― Tantos pontos que eu teria que melhorar para merecer esse cargo. ― digo sinceramente.

― Eu não estou te forçando a aceitar, Kurt. ― ela volta a se sentar. ― Só estou expressando minha preferência por você. ― Mayfair diz como se fosse algo simples. ― Eu vou te dar espaço para você pensar sobre isso. Não quero que você tome nenhuma decisão precipitada. ― ela sinaliza para Jane que esta acabando de sair do elevador, então percebo que a nossa conversa foi mais longa do que pareceu e eu estou saindo com mais dúvidas do que quando eu entrei. ― Dispensado, agente. ― ela diz e eu me levanto, saindo em direção ao vestiário.

Eu sabia que lá encontraria a Jane, eu precisava falar com ela sobre isso antes de decidir algo. Entro no vestiário para ver o team reunido rindo de algo. Paro de longe e fico escutando suas risadas. Patterson me vê e rapidamente exalta.

― Kurt Weller está de volta, senhoras e senhores! ― ela anuncia e todos dão pequenos gritos e batem palmas. Sinto meu rosto esquentar e sorrio junto com eles.

― Sim, eu estou de volta. ― digo firmemente enquanto me encaminho para o lado da Jane e abraço sua cintura, lhe dando um beijo rápido.

― A noite de vocês foi boa? ― Tasha pergunta e rimos todos juntos.

― Tasha! ― Patterson a repreende e eu não vejo necessidade de responder, apenas encaro a Jane e tenho certeza que memórias da noite passada também vieram a sua cabeça.

― Nem precisam responder. ― Tasha fala novamente. ― Com esse olhar e essa marca no pescoço da Jane... ― ela fala numa altura considerável e a Jane fica vermelha.

― Você tem olhos biônicos, Zapata? ― Reade pergunta surpreso e nos faz rir.

― A culpa não é minha se o Kurt não consegue transar com a Jane sem deixar marcas. ― seria trágico se não fosse tão engraçado.

― Essa é a última coisa que um homem pensa nessa hora. ― Reade afirma e eu sinto um ciúme me corroer.

― Wooow, Kurt. ― Tasha provoca novamente e eu sinto Jane apertar suavemente minhas costas, como se quisesse que eu me controlasse. ― Você sabe que o Reade está falando da Sarah, não é? ― tento concordar naturalmente apenas acenando com a cabeça. ― Ele está deixando marcas na sua irmã. Se eu fosse você não deixaria. ― Reade da um murrinho no ombro dela e Patterson gargalha do meu lado.

― Ele tem esse direito agora, eu não posso fazer nada. ― digo sinceramente, eu posso dizer que estava lidando bem melhor com esse relacionamento.

― Mas eu não deixaria, ainda sim é a sua irmã. ― ela fala não se dando por vencida.

― Você está com ciúmes, Tasha? ― Patterson indaga, ela fala mais como uma afirmação e todos nós analisamos a reação da Tasha.

― Todos vocês estão em um relacionamento, Reade e Sarah, Patterson e Borden... ― Jane ri e eu faço cara de surpreso. ― Ah, qual é gente. Vai dizer que vocês não viram como eles estão íntimos? ― ela fala como se fosse óbvio e Patterson se pronuncia.

― Eu não percebi nada, Zapata. ― ela diz e é palpável sua timidez.

― Então eu devo realmente está vendo um lago no deserto quando eu vi a forma que você o acompanhou com os olhos quando ele chegou. ― Patterson está vermelha como um pimentão.

― Não está acontecendo nada, somos apenas amigos. ― ela esclarece.

Nada passa despercebido aos olhares da Tasha, se ela viu algo, tem algo.

― Eu não posso aguentar isso de novo, primeiro o Kurt diz que é apenas amiga de Jane. ― ela acena com a cabeça para nós dois que ainda estamos abraçados. ― Agora você e Borden. ― ela fala se encostando-se ao armário. ― Você deveria assumir logo que sente algo por ele. ― percebo Patterson ficar desconfortável.

― Olha só, Tasha. ― Jane começa. ― Pelo menos você vai poder organizar os casamentos de todos nós. ― ela fala em casamento e eu sinto um arrepio tomar meu corpo.

Então ela estava pensando em casar? Bom saber...

― Vocês tem certeza disso? ― ela olha para todos nós e depois gargalha. ― Isso seria com toda certeza divertido, mas eu sou mais o tipo de amiga que organiza a despedida de solteira. ― ela pisca o olho e todos rimos.

― Casamento? ― eu sussurro pra Jane enquanto a encaro. Ela me encara de volta, desafiadoramente.

― O quê? ― ela se faz de desentendida e dá um sorrisinho de lado.

― Parece que o casamento da Jane e do Weller vai ser antes que o de vocês dois. ― Tasha provoca Reade e Patterson novamente. Rimos juntos novamente.

***

Todos saem do vestiário para começar as atividades diárias e eu permaneço com Jane.

― Como foi a reunião? ― ela me pergunta preocupada.

― Mayfair me fez uma proposta. ― eu digo não querendo me prolongar muito no assunto.

― Pela sua cara deve ter sido algo grande. ― provavelmente eu deixei transparecer, ou ela simplesmente sabe como eu me sinto.

― Maior do que eu imaginei. ― eu digo passando a mão em minha nuca.

― E você está pensando em aceitar? ― ela coloca as mãos nos meus ombros e começa a massagear.

― Eu não sei, envolve tantas coisas. ― eu digo e fecho os olhos, encostando a cabeça no armário.

Sinto ela se aproximar de mim e depositar um beijo demorado nos meus lábios. Seguro sua cintura e puxo sua cabeça para prolongar ainda mais nosso beijo.

― Seja o que você decidir ― ela para o beijo para falar. ― Eu estarei com você. ― Jane segura minha mão e a aperta. — Sempre.

― Eu amo tanto você, Jane. ― eu viro e a encosto no armário. ― Sempre. ― ela morde o lábio inferior e sorri. A beijo novamente e é esse sabor de sempre que me leva a loucura, mesmo no vestiário do escritório que trabalhamos.

***

Não pudemos investigar nenhuma tatuagem hoje e o Pellington veio falar com a Mayfair. Todo o escritório ficou tenso. Eles passaram horas na sala de reuniões. Enquanto isso Patterson tentou usar um programa isolado e fora dos papéis para tentar rastrear o IP de quem havia mandado o e-mail com as contra-provas para o caso da Mayfair. Em algum lugar da Antártida, provavelmente um lugar falso. Eu sabia que havia sido o Cade, por esse motivo eu não sei se eu os quero mexendo nisso até eu e Jane decidirmos o que fazer.

Eu e o team caminhamos até o estacionamento. Entro no carro com a Jane e enquanto dirijo para casa, conto a ela da proposta da Mayfair e sobre minhas dúvidas.

― Deve haver alguma forma de você continuar indo para o campo, Kurt. ― ela diz tentando me acalmar.

― Eu não acho que eu teria tempo para isso. ― explico ― Eu não seria mais apenas responsável pelas papeladas dos casos das tatuagens, eu teria que gerenciar toda a unidade e todos os casos. ― digo estacionando o carro na frente de casa.

― Então você está pensando em recusar? ― ela afirma mais do que pergunta.

― Eu sinceramente não sei. ― solto um suspiro. ― Foi um pedido da Mayfair, algo que ela quer. Eu sei que se eu recusar ela não vai ficar com raiva, mas também estaria assumindo o risco de não saber quem a substituiria. ― respiro fundo ― E depois do Fischer…

Jane acena com a cabeça mostrando compreender.

― Eu sei que você quer que todos fiquem bem. ― ela olha nos meus olhos ― Mas você tem que pensar em si mesmo agora, é um pedido bem grande. ― ela solta o sinto de segurança e se vira para mim. ― Você é um agente de campo, Kurt. ― ela sorri ― Está impregnado em cada parte do seu ser. ― ela diz suavemente.

― Eu tenho medo que isso faça parte de algo maior, que eles planejavam que a Mayfair deixasse o cargo e colocarem alguém de controle no lugar. ― eu digo preocupado.

― Você acha que pode ser tudo comandado pelo grupo? ― ela tem um tom tão preocupado quanto o meu agora.

― Eu não sei. ― digo sinceramente ― Mas eu não quero que aconteça algo a você. ― a puxo e deposito um beijo na sua cabeça. ― Pela sua segurança eu aceitaria esse cargo. ― continuo pressionando minha boca na sua testa e fecho os olhos. ― Eu faria qualquer coisa. ― finalizo e sinto a tensão dela. Ela pressiona sua boca contra a minha e novamente estamos em uma situação que temos que decidir o que fazer juntos.

Mas eu já decidi, eu não posso arriscar. Eu aceitarei o cargo.