Paris Doll escrita por Nárriman


Capítulo 12
Capitulo 12


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Pov’s Ally
Tontura.
Infelicidade.
Arrependimento.
Isso era tudo eu carregava comigo quando voltei para o quarto quarenta minutos depois. O efeito da bebida ainda era visível e eu estava consciente disso.
Notei a calça de Austin perto de um sofá de canto e sua gravata jogada de qualquer jeito na cabeceira da cama. Os lençóis desforrados era a prova de que a noite havia sido muito mais especial para ele do que para mim. Meu ex estava deitado na cama coberto apenas por um lençol azul claro e mais nada. Seu sorriso só concluía que minha hipótese em relação a sua noite estava correta.
E por fim olhei para o lado vazio ao seu lado na cama. O lugar que em menos de dez minutos tinha uma mulher que provavelmente não significa nada para Austin e outra que a qualquer momento esta prestes a deitar no mesmo lugar. O triste disso tudo é que nenhuma das duas é de fato sua noiva. Aquela que nunca deveria ter seu lugar roubado por outra mulher.
Deixei meus pensamentos de lado e fui ao banheiro. Lavei meu rosto e desarrumei meu cabelo. Voltei para o quarto jogando o meu salto pelo meio do caminho e tirei meu sutiã e minha calcinha. Deitar ao lado de Austin nunca me pareceu ser algo tão difícil de fazer quanto esta sendo agora.
Cobri meu corpo com um dos lençóis do chão e fechei os olhos. Estaria mentindo se dissesse que preguei os olhos por mais de uma hora.
***
O sol tocando minha pele, a dor de cabeça insuportável e beijos molhados em meus ombros foram os motivos de eu ter acordado. Por um momento preferi ter morrido enquanto dormia, mas não foi hoje que meu maior sonho se tornou realidade.
Quase que automaticamente mexi meu ombro para frente. Impedindo que a trilha de beijos continuasse.
—Bom dia. -A voz do cretino era pura animação.
Não respondi, apenas abri os olhos e me sentei na cama sem me importar se estava nua ou não. Comecei a procurar minhas peças de roupa por todo o chão e a vesti-las.
—O que houve?Não gostou da noite de ontem?-Austin se espreguiçou me lançando um sorriso divertido.
—Se vista logo. Temos que ir embora. -Joguei sua cueca no meio da sua cara.
—Esta falando sério?-Ele indagou ainda se divertindo com a situação.
—Pareço estar brincando?-Quase quebrei meu braço, mas por fim consegui eu mesma sem a ajuda de ninguém, por o meu vestido.
Ele apenas balançou a cabeça e começou a se vestir também. Quando percebi que ele não estava olhando guardei a mini câmera discretamente em minha bolsa.
Pela primeira vez em muito tempo eu não me importava com a minha beleza. Não importava se meu cabelo estava sedoso e bonito ou se meu batom estava bem retocado. Foi à primeira vez em anos que desci do salto, literalmente. Com uma mão segurei a minha bolsa e com a outra o meu salto. Uma idéia insana e totalmente fora de questão para uma pessoa que trabalho com a moda me passou pela cabeça. Rasguei meu vestido. Rasguei o suficiente para deixar minhas pernas a mostra e que eu pudesse caminhar. Ele ia pouco mais abaixo que meu bumbum.
Austin ao menos não demorou muito para se aprontar também. Logo estávamos caminhando por entre os labirintos que Max chama de corredores.
—Se esta se sentindo culpada pelo que aconteceu eu só quero lhe assegurar que não irei contar nada a Cassidy e... -O calei com um olhar.
—Por favor, não me trate como se eu fosse uma vadia qualquer. -Falei o mais baixo possível, mas ainda assim em um tom firme e conclusivo.
Austin por um momento ficou sem palavras. Não tinha o que dizer. E isso era tudo o que eu precisava no momento.
—Não querem ficar para o café?-A voz contagiante de Max invadiu o salão. Só então notei que tudo estava impecavelmente arrumado. Os funcionários certamente não dormiram assim como eu.
No meio do salão agora havia uma enorme mesa de vidro com milhares de pratos para o café da manhã. Desde croissants á sucos de morango. Uma mulher estava em uma ponta e Max na outra. As outras cadeiras estavam vazias.
—O que ouve com as outras pessoas?-Perguntei me sentando em uma delas. Por mais que eu não quisesse comer, ficar a sós com o Austin não era minha melhor opção no momento.
—Elas tomaram café antes de nós acordarmos e já foram embora. Parece que vocês dois são os mais preguiçosos daqui. -Ele estava animado demais para alguém que parecia uma criança desesperada ontem à noite.
Dei um sorriso fraco e comecei a passar manteiga em um pãozinho qualquer. Quando uma das empregadas veio encher meu copo de suco terminei esbarrando meu braço sem querer na jarra que derramou parte do líquido rosa em meu vestido.
—Mil perdões senhorita. Não foi minha intenção. -A pobre menina dos cabelos negros tentou se desculpar e parecia prestes a chorar.
O meu correto deveria ser xingá-la e quebrar a jarra em sua cabeça,mas aquilo não me parecia o certo no momento.
—Tudo bem. Fui eu que deveria ter tomado mais cuidado. -Limpei meu vestido com guardanapos e voltei a comer.
Senti o olhar de Max e Austin sobre mim. Estavam boquiabertos.
—O que foi?-Perguntei bebendo meu suco.
A mulher da outra ponta soltou um pigarro.
—Acho que não tivemos a chance de sermos apresentadas ontem, mas meu nome é Amber. Sou a noiva do Max. -Ela tinha o cabelo castanho assim como o meu, mas seus olhos eram um pouco maus claros. Tinha mais ou menos a minha altura e um sorriso cativante no rosto.
—Prazer em conhecê-la. Ally. -Estendi a mão que ela logo apertou.
—Max fala muito bem de você. E eu sempre quis conhecê-la. É uma mulher muito encantadora. -Sorriu para mim.
Ela não me parecia estar sendo irônica ou falsa. Era infelizmente uma mulher adorável demais para esse mundo tão cruel.
—Digo o mesmo de você. Uma mulher que consegue prender o Max deve ser muito especial. -Fui sincera e lhe retribui o sorriso.
Austin e Max começaram a cochichar um com outro e eu mais uma vez voltei ao meu pãozinho.
Minha cabeça esta latejando, estou enjoada e eu não sei se irei conseguir voltar para o hotel assim.
—Amber. -A chamei novamente.
Ela me encarou rapidamente, feliz por eu ter falado o seu nome.
—Será que você poderia me dar algum tipo de remédio para dor de cabeça se não for incomodo? Bebi demais ontem e agora parece que romperam meu crânio ao meio com um machado.
Ela riu e fez um sinal com a cabeça para que eu a seguisse.
Deixei meus saltos e minha bolsa em cima do meu assento e de pés descalços eu fui atrás dela.
—Sei como é. Hoje também foi um dia em que eu não queria acordar. -Ela mesma procurou entre os armários da cozinha o que eu julgo ser algum comprimido.
—Max me levou na cama esse remédio hoje, deve servir para você também. -Me entregou uma bolinha azul e um copo d’água.
—Ele te levou o remédio na cama?Você só pode ser algum tipo de feiticeira. -Engoli o comprimido e logo a água invadiu minha garganta.
—Olha só quem esta falando?Você esta casada com o Austin Moon. -Ela se sentou na bancada e deu dois tapinhas em outra que estava ao seu lado.
—Tenho meus truques. -Balancei meu cabelo que no momento esta mais parecido com um ninho de pássaros.
Ela voltou a rir.
—Você é mais legal do que eu imaginava. -Disse agora me olhando séria.
—E você é mais agradável que todas as pessoas que conheci desde ontem então se sinta privilegiada. -Coloquei o copo no balcão ao meu lado.
—Já esta morando com o Max ou apenas depois do casamento?-Questionei.
—Só depois do casamento. Apenas durmo aqui às vezes e ontem como foi uma festa você já sabe. -Ela deu de ombros.
—Quando vai ser o casamento?
—Em menos de dois meses. Você e Austin vêm não é mesmo?-Perguntou com os olhos brilhando.
Rapidamente meu sorriso murchou. Não eu não poderei vir porque estarei no casamento da minha melhor amiga com o meu ex namorado que para você é meu atual marido.
—É claro que sim. -Alarguei outro sorriso por cima do que morreu.
—Posso te contar uma coisa?-Ela sussurrou olhando para os lados.
—É algo que envolve esconder segredos?Porque você me conhece a menos de dez minutos e já esta querendo me contar sobre a sua vida particular. Eu não faria isso se fosse você. -Tentei não rir da cara que ela fez.
—Não tenho muitas amigas aqui em Paris e não sei como contar isso para meus pais ou para o Max, mas eu acho que estou grávida. –Ela soltou a bomba.
Meu queixo caiu.
Porque ela me contou?Logo eu?Será que a dor de cabeça me deixou mais amigável do que o normal?
—Você ficou maluca?-Gritei. —Acabou de me dizer que bebeu tanto ontem ao ponto de tomar remédio. Quer matar o bebê?-Sussurrei um pouco alto demais.
—Eu sei e é por isso que eu queria saber de você se...
—Ally?-A voz de Austin me chamou do fundo da cozinha. Ele estava ali parado com Max.
—Sim. - Respondi fria.
—Esta na hora de irmos. -Ele coçou a nuca.
—Na verdade se quiserem ficar para o final de semana estamos à disposição. -Max disse sorrindo para a noiva.
Acho que nenhum dos dois ouviu o que estávamos falando. Ufa.
—Fiquem. -A mão de Amber tocou a minha.
Seus olhos conversavam com os meus por telepatia, mas por mais que eu quisesse ficar não suportaria a presença de Austin este final de semana. Isso seria exigir de mim mais do que eu poderia oferecer.
—Sinto muito, mas não vamos poder aceitar essa oferta. Temos que voltar para Miami. Não posso simplesmente abandonar o meu trabalho. -Tentei soar o mais triste possível.
Pelo canto do olho vi Austin cerra os olhos e cruzar os braços.
—Esta na hora de irmos. E foi um prazer te conhecer. -Tomei o impulso de abraçar Amber.
Ela me acalmava de alguma forma.
—Me ligue quando puder, por favor. -Senti o que parecia ser um papelzinho em minha mão.
—É claro. -Dei um meio sorriso.
—Tchau Max. -Deu um abraço nele.
—Dessa vez não desapareça do nada Ally. -Ele me advertiu e eu apenas revirei os olhos.
Voltei para a cozinha e peguei minha bolsa e meus sapatos.
—Se mudarem de idéia a oferta ainda esta de pé. -Max acenou para nós.
O celular de Austin esta sem sinal e recusamos a proposta de o motorista de Max nos levar. Aliás, ainda são 06h03min da manhã. As ruas não estão tão movimentadas assim há essa hora.
Caminhamos por cerca de dez minutos em silêncio. Aquele momento de sossego era o que eu precisava.
—Agora pode me dizer o que aconteceu?-Austin ainda insistia nesse assunto.
Inspirei fundo e soltei todo o ar de uma só vez.
—Nada aconteceu Austin. Absolutamente nada. -Estava sendo um pouco difícil caminhar naquele chão frio, no entanto eu não iria voltar a usar aquele salto.
—Você esta falando isso em duplo sentido?-Ele pôs as mãos dentro dos bolsos e analisou todos os traços do meu rosto.
—Não. Apenas estou respondendo a sua pergunta em relação a mim. -Mesmo com o remédio minha cabeça ainda martelava e eu estava com ânsia.
—Se isso é pelo o que eu falei no dia em que chegamos aqui sobre levarmos a nossa relação à Miami, não precisa se não quiser. Eu só falei aquilo porque você...
—Pela segunda e última vez hoje eu irei te falar. Não me trate como uma vadia qualquer. -Minha voz era tão ameaçadora que nem eu mesma conseguia me reconhecer.
—Te tratando como uma vadia?Só porque transamos?Esta louca ou apenas esqueceu que só estou fazendo essas perguntas por que foi você mesma que aceitou tudo isso.
Um tapa estalado era tudo o que se podia ouvir da ponte do Rio Sena. Um lugar maravilhoso demais para presenciar aquilo.
—Eu aceitei tudo isso?Tudo?Acha que o que estou vivendo a mais de seis anos é por apenas aceitação?Metade das minhas ações não sou eu que escolho. -Gritei. Ninguém estava na ponte a nãos sermos nós dois e as ruas ainda estavam quase sem movimento.
Por mais que eu não quisesse lembranças de quatro anos atrás invadiram a minha mente.
Flashback on
Já era tarde da noite quando eu ainda estava sentada em minha escrivaninha desenhando um vestido de noiva. Ele já esta quase pronto e pode me custar a nota necessária para que eu me forme.
Minha colega de quarto ainda não voltou para o quarto. Deve estar se agarrando com alguém na ala masculina.
Além de estudarmos na universidade ainda moramos nela. Isso foi ótima para milhares de alunos que tinham casas ou apartamentos longe daqui.
Guardei meu desenho em uma pasta com os outros e me entretive com os lápis de cores em minha mão.
—O que a Dawson esta fazendo?-Eu até estaria surpresa se já não conhecesse essas manias estranhas do Austin de entrar em meu quarto sem permissão.
Ele esta sentado na minha janela e o meu quarto fica no andar mais elevado da ala feminina então se eu o empurrasse agora mesmo, ele não sobreviveria à queda.
—Eu ainda tento entender como você consegue chegar até ai. -Me levantei da cadeira.
—É fácil. Eu fui ao andar de baixo, entrei no quarto de uma garota nerd que fica abaixo do seu e escalei até aqui.
—Esta de parabéns Romeu. -Me joguei na minha cama. A luz do quarto estava apagada e só a lâmpada da minha escrivaninha iluminava o local.
—Não vai me convidar para entrar?-Perguntou fingindo estar ofendido.
—Se eu disser que não você vai embora?-Apoiei a cabeça com o braço e o encarei.
—Nops. -Ele mesmo fez o favor de entrar no quarto.
—Essa semana quase não ficamos juntos. -Suspirei.
—Estamos juntos agora. -Ele observou todo o meu quarto. Ele sempre faz isso quando entra aqui. Parece procurar uma arrumação diferente da que viu no dia anterior.
—Você não esta cansado de como tudo esta sendo uma correria a mais de um mês?-Indaguei o encarando com tédio.
Ultimamente as aulas têm exigido demais de todos nós. Não temos mais tempo para ficarmos conversando sob as arvores do jardim do Campus, não vamos mais a shows de rock, saídas escondidas no meio da noite, ir às festas com minhas colegas de turma. Tudo parece tão impossível agora.
—Pra falar a verdade estou cansado pra caralho. -Ele se jogou ao meu lado.
—Acha que vai ser assim quando nos formarmos?-Perguntei olhando para o teto.
—Acho que será pior. -Virou-se de lado para me encarar.
Fiz o mesmo.
—Isso é algo bom ou ruim?-Eu não queria que as coisas entre nós dois mudassem, mas ultimamente é tudo o que esta acontecendo. Mudanças.
—Tudo tem vantagem e desvantagem Ally. Não iremos estar sempre perto um do outro, mas podemos abrir mão de algumas coisas para ficarmos juntos às vezes. -Ele acariciou o meu rosto.
—E para você esta tudo bem?-Eu não conseguia disfarçar a minha indignação.
—Não. Não é isso o que eu quero pra gente, mas é o que eu posso te oferecer. -Ele levantou um pouco o tom de voz.
—Uma vida cheia de incertezas?Esse é o máximo que pode me oferecer?-Falei no mesmo tom.
—O que quer que eu faça?Não tenho culpa se os nossos futuros não batem um com o outro. Ao menos teremos dinheiro o suficiente para fazermos todas aquelas viagens que prometemos, lembra?-Eu via em seus olhos o medo que ele sentia quando eu tocava em nosso futuro.
É claro que eu lembro. Sinto falta daquele Austin sonhador que eu conhecia. Aquele que passou a madrugada planejando comigo a viagem dos nossos sonhos.
—E como iremos viajar juntos se quando eu estiver em Nova Iorque você estará em Veneza?Ou quando eu estiver no Japão e você na Grécia?
—Teremos férias do trabalho. Podemos ficar juntos nesse meio tempo. -Ele parecia estar desesperado e eu não estava tão diferente assim.
—Nas férias?Eu moro em Miami e você em Chicago Austin. -Bufei. —Estamos juntos há dois anos, mas não irei desperdiçar as minhas férias onde posso rever minha família pra ir para a sua casa como também não quero que deixe a sua família para ficar com a minha.
—Podemos comprar uma casa na Dinamarca e todo mundo sai ganhando. -Disse tudo de uma vez.
Percebi que nós dois estamos em pé na minha cama e do nada eu comecei a rir.
—Isso é loucura Austin. -Neguei com a cabeça.
—E por quê?Todo mundo ama a Dinamarca. -Ele me envolveu em seus braços.
—Você sabe que não estou falando apenas disso. -O abracei mais forte do que esperava.
—Sei que não esta, mas não posso correr o risco de te perder Ally. Isso seria o meu fim-Ele sussurrou em meu ouvido.
—Eu só não quero que nos tornemos dois estranhos um para o outro. -Fui sincera com ele.
—Qual é?Temos dezenove anos e uma vida inteira pela frente. Aliás, não tem como eu ser seu estranho sendo que já tirei a sua calcinha. -Ele moldou um sorriso brincalhão no rosto e eu apenas o derrubei na cama.
Gritei quando senti que ele me levou junto.
—Isso não foi legal. -Sorri me sentando em cima dele.
—Pelo menos fez você parar com todo aquele drama.
—Eu não sou dramática. -Me defendi.
—Ally você furou uma garota com um lápis de cor vermelho apenas porque ela derrubou glitter em você. -Ele tentou prender o riso.
—E eu estava errada?Gastei muito com todos os cremes que precisei usar para tirar aquilo do meu cabelo. -Até hoje me lembro do glitter escorrendo pelo ralo do banheiro. —Eu parecia um globo de discoteca Austin. -Senti meu sangue subir.
—E a menina parecia um quadro pintado. Era difícil saber o que era sangue e o que era lápis de cor. -Ele disse pensativo.
—É serio que estamos perdendo tempo falando daquela merdinha ambulante?-Revirei os olhos.
—Sim, mas por hoje não vamos mais tocar no assunto futuro ou drama tudo bem? Quero apenas aproveitar essa noite com você. -Ele se sentou na cama.
—O que você quer?Se me obrigar a ficar em pé em uma moto em movimento de novo eu juro que te faço de meu manequim.
—Então pode preparar seus melhores tecidos porque só uso seda. -Austin balançou os cabelos e fez uma voz afeminada ao dizer isso.
Eu já estava rindo quando senti suas mãos começarem a fazer cócegas em mim. O desgraçado só parou quando eu já estava chorando de rir.
—Só assim para eu te ver chorando mesmo. -Ele enxugou uma lágrima do meu olho direito.
—Que engraçadinho. -Dei um tapa em seu braço e o tirei de cima de mim.
—Aonde vamos hoje?-Me levantei da cama e me olhei no espelho.
Eu estava com um vestido preto curto e os pés descalços. Fui até o meu armário e procurei um scarpin branco que eu sabia que estava ali em algum lugar.
—Ally Dawson sem combinar roupa e sapato não é Ally Dawson. -Lhe mandei o dedo do meio.
—Também tenho o meu gatinha. -Ele me devolveu o dedo.
Revirei os olhos.
—Vamos logo antes que o inspetor comece a fazer a ronda noturna. -Baguncei um pouco meu cabelo e fim. Eu estava pronta.
Fui até a janela, iria descer até o andar abaixo do meu, mas ele segurou minha mão.
—Quem disse que precisamos sair da ala feminina?-Ele me deu um sorriso travesso e saiu em disparada para fora do meu quarto me fazendo correr também. Os outros quatros do corredor estão com as portas fechadas e eu não faço idéia de onde ele esta me levando.
A cozinha não é por aqui e as salas de aula ficam do outro lado do Campus. Passamos pela sala de limpeza e nos escondemos em um banheiro masculino quando avistamos a lanterna de um dos guardas noturnos no fim de um dos corredores.
—A não Austin. Eu não vou subir esse monte de escadas de salto alto. -Cruzei os braços quando percebi que estávamos indo em direção as escadas. Elas ficavam atrás de uma porta pequena que eu nunca havia reparado. Na verdade nunca cheguei até esse corredor.
—Só é você tirar eles e subir?-Fez uma cara de pensativo.
Arqueei as sobrancelhas e comecei a bater o pé. O som do meu salto agulha era a única coisa que se podia ouvir no corredor.
Ele bufou e me pegou no colo.
—Muito melhor. -Dei dois tapinhas em sua cabeça.
—Só você mesmo para me fazer subir cinqüenta degraus com você no colo. -Ele riu consigo mesmo.
—Eu sei que sou única. -Abri um sorriso.
—E pesada. -O encarei seria, mas logo caímos na gargalhada.
—Nunca pensei que algum dia iríamos de fato namorar. —Reconheci ainda sorrindo.
—Porque não?Temos o mesmo gosto pra inúmeras coisas Ally. -Ele deu de ombros.
—É exatamente por isso. Essa coisa de combinarmos tanto assim me assusta às vezes.
—Formamos um belo casal mesmo. -Ele me deu um beijo na testa.
Belo até demais. Pensei comigo mesma.
—Chegamos. –Austin estava arfando quando chegamos ao telhado da universidade. O vento aqui é forte e avassalador. Meus cabelos agora voam brutalmente e meu vestido esta colado ao meu corpo.
É linda a visão que temos aqui. Muitas das luzes da cidade já estão apagadas o que deixa o lugar ainda mais escuro. Eu estou fascinada com esse lugar. Nunca soube de sua existência e agora me sinto triste por ter perdido anos da minha vida sem vir aqui.
—Isso aqui é maravilhoso Austin. -Sorri involuntariamente.
—Perto de você isso aqui não é nada. -Ele colocou suas mãos ao redor da minha cintura e seus lábios tocaram os meus.
Passei meus braços por seu pescoço até chegar a sua nuca e alia agarrei seus fios loiros. Austin me puxou para ainda mais perto de si e assim continuamos até lembramos que o oxigênio ainda é vital para nossa sobrevivência.
—Eu te amo. -Ele sussurrou com os lábios próximos aos meus.
Um frio súbito invadiu o meu estomago. Já ouvi vários eu te amo que foram falsos como também já falei vários eu te mo mentindo. E sei que Austin provavelmente já fez o mesmo, mas agora, aqui com ele podemos ser nós mesmos. Parece que posso ser verdadeira comigo mesma.
—Também te amo. -Sussurrei de volta ainda com os olhos fechados.
Era um sentimento novo para mim ainda mais sendo dito em voz alta. Eu me sentia livre por ter tido a coragem de admitir isso e sei que para ele também não foi fácil.
Sentamos-nos no parapeito do telhado e ali encostei minha cabeça em seu ombro.
—Só estamos juntos há dois anos, mas você acha que é cedo demais para falarmos sobre casamento?-Seus dedos brincavam com os nós dos meus dedos.
—Como você mesmo disse Austin. Só temos dezenove anos. Há uma vida nos esperando lá fora e não temos como adivinhar o que vai acontecer. Acho melhor apenas aproveitarmos enquanto estamos juntos, ninguém sabe o que pode acontecer daqui à uma hora. –Esse é aquele tipo de conversa que deixa muitas pessoas nervosas e com muito medo, porém isso não é um problema para Austin e eu. Sempre soubemos que essa conversa um dia iria chegar.
—Esta rejeitando o meu pedido de casamento Dawson?-Ele fingiu estar ofendido.
—Você esta me pedindo em casamento?-Arqueei as sobrancelhas.
—Não, mas se eu estivesse?Aqui e agora?-Ele se virou para mim. —Sem toda essa pressão da faculdade, do nosso futuro, das nossas famílias e as viagens?Você casaria comigo?-A sua expectativa era como a de que estivesse realmente me pedindo em casamento.
—Se você me pedisse. -Deixei a frase no ar. — Eu não diria não. - Sorri e o beijei.
—Posso te fazer outra pergunta?-Falou baixinho.
—Quantas você quiser. -Respondi ainda sem conseguir conter o meu sorriso.
—Se eu morrer hoje, você vai sentir minha falta amanhã?-Perguntou me olhando nos olhos. Eles mais uma vez se tornaram um castanho escuro, como sempre ficam quando Austin esta ansioso par alguma resposta.
Aquilo me pegou de surpresa e eu não sabia o que responder.
—Acabei de dizer que te amo isso não é o bastante?-Franzi a testa.
—Às vezes esquecemos-nos de quem mais amamos. -Sua voz se tornou sombria.
Flashback off
Meus olhos estavam no rio a minha frente. Eu podia sentir no fundo dos meus olhos que eles estavam queimando e pisquei várias vezes para impedir que as lágrimas rolassem pelo meu rosto.
—Se eu morrer hoje, você vai sentir minha falta amanhã Austin?-Tomei coragem e perguntei.
Ele arregalou os olhos. Parecia tão surpreso quanto eu com a minha própria pergunta. O loiro engoliu em seco e abriu a boca para tentar dizer algo, mas nada saiu. Como eu esperava.
—Agora com toda a certeza do fundo do meu coração posso dizer que realmente não aconteceu absolutamente nada. -Balancei a cabeça e voltei a caminhar pela ponte em direção ao hotel.
Nem que eu tenha que voltar a pé para Miami, mas não irei passar mais nenhum minuto em Paris.


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Notas finais do capítulo

Comentem.Isso é muito importante pra o desenvolvimento da fic amores.



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