Tudo de Mim escrita por Mi Freire


Capítulo 13
Como não te amar?




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Estava quase terminando de digitar um trabalho que seria entregue amanhã e que foi passado há um mês atrás, quando a campainha tocou lá em baixo.

Pensei seriamente em deixar tocando, como se não tivesse ninguém em casa. Não estava afim de receber nenhuma visita, até porque estava muito ocupada no momento terminando esse trabalho de última hora.

Mas então eu pensei: E se for alguém importante? E se for o Alex?

Desci correndo as escadas antes que fossem embora e realmente achassem que não tinha ninguém em casa e era quem eu realmente estava esperando.

Alex sorriu quando me viu. Provavelmente achando graça do meu pijama velho do Snoop de cinco anos atrás e meu cabelo sujo e bagunçado

— Qual é o seu problema, hein? – Não me deixei abalar por um sorrisinho atoa e o empurrei pelo peito.

Alex cambaleou para trás, assustado.

— Luci...

— Cala a boca, cretino! – Empurrei-o de novo.

Eu queria socar ele de todas as formas possíveis.

Fazia dias, desde que ele levou o irmão para casa, que ele não me ligava, não aparecia, não atendia minhas ligações, não respondia minhas mensagens e agora aparecia aqui, de repente, com esse sorriso cafajeste como se nada tivesse acontecido.

Como eu odeio isso!

— Luci, nós podemos conversar? – Ele olhou para os lados. — Aí dentro, de preferência.

— Você vai me explicar o que tá acontecendo? Porque se não for, é melhor cair fora. Eu estou puta da vida com você. Não é uma boa hora, Alexandre.

— Tudo bem. – Ele suspirou. — Eu posso tentar. Eu prometo.

Já era começo, então eu o deixei entrar de qualquer forma.

Ele se sentou no sofá.

— Pode me trazer um copo com água, por favor?

Eu poderia retrucar e dizer que não, porque eu não era a empregada dele nem nada do tipo. Mas ao menos ele pediu com jeitinho, com educação, então lá fui eu.

— Toma.

Ele bebeu tudo em um rápido gole e colocou o copo vazio sobre a mesinha de centro em sua frente.

— E então? Tô esperando. – Minhas pernas balançavam sem parar, o que normalmente acontece com qualquer um que esteja tenso e nervoso.

O que era o caso.

— O que você realmente quer saber? – Perguntou ele, me olhando.

— Isso é sério? Você sabe o que eu quero saber! Não se faça de tonto, Alexandre. Porque isso eu sei que você não é. Então, desembucha logo.

Como ele contínuo sem dizer nada, eu resolvi dar uma forcinha.

— O que foi tudo aquilo? Porque você trouxe seu irmão aqui?

— Ah... Aquilo. Aquilo foi... – Ele começou a cutucar os cantos das unhas, sem nem olhar para mim enquanto tentava se explicar. — Era só um favor. Eu não queria ele metido nos problemas de casa. Ele é muito novinho, você sabe...

— Tá... Que tipo de problemas?

— Problemas? Que problemas? – Alex me olhou com o cenho franzido.

Bufei, já perdendo a pouca paciência que eu estava tendo nesse momento.

— Os problemas com os seus pais ou seja lá o que for.

— Ah... Isso. Não é nada. Só umas discussõezinhas bobas.

— E por quais motivos essas discussõezinhas?

Eu estava me sentindo quase uma investigadora ou detetive com todo esse questionamento.

— Coisas bobas de família.

— Alex, você pode ser mais específico? Por favor.

— Nossa, Luciana. Você tá chata hoje, hein. Credo!

Ele se levantou e de um jeito muito estranho começou a andar de um lado para o outro.

— Eu nem deveria ter vindo aqui hoje. – Ouvi ele dizer baixinho.

— Então vai embora, ué. Tá esperando o que? Você tá de segredinhos, não quer se abrir comigo, tá distante... Eu realmente não sei o que você ainda tá fazendo aqui se não quer colaborar comigo. Não é como se eu tivesse te pedindo muito. Tudo que eu quero são algumas explicações para essa loucura toda e se você não quer facilitar, então se manda.

Ele parou por um momento e me analisou seriamente.

— Vai, Alexandre. Vai embora. E volte daqui uns dias como se nada tivesse acontecido. Porque esse é o melhor que você pôde fazer no último mês.

— Eu não quero discutir com você, Luci. – Ele foi em direção a porta, parecendo realmente disposto a ir embora.

Enquanto ele estava de costas pra mim, eu pensei seriamente em pegar um outro vaso da mamãe e acertar na cabeça dele, mas aí eu me lembrei do quanto ela ficou chateada comigo quando isso aconteceu e no mesmo momento eu desisti.

Dessa vez eu não iria jogar nada.

Alex realmente foi embora ainda sem me dar respostas, o que só me fez pensar no quanto eu era idiota por ainda ter esperanças, por achar que um dia seriamos melhor do que isso e ficaríamos bem. Mas quando eu penso que está tudo maravilhoso e perfeito, na verdade, não é bem assim. Pois esses encantos duram pouco até um desastre voltar a acontecer dentro do nosso relacionamento e arruinar tudo.

 Ainda cheia de raiva e frustração, corri até a porta e a abri com tudo, crente de que ele já tinha mesmo se mandado e que eu precisava ver isso com meus próprios olhos. Mas ele ainda estava ali, de cabeça baixa, sentando em um dos poucos degraus que tem na frente da porta da minha casa.

— Você não ia embora? – Pergunto, cheia de sarcasmo.

— Eu vou. – Ele olhou rapidamente para trás, na minha direção e vi na claridade da luz natural do dia o quanto seus olhos verdes estavam vermelhos e pesados.

Senti um aperto no coração.

— Você não tem que ir. – Sentei-me ao lado dele e passei minhas mãos de leve em suas costas, por cima da camiseta preta. — Você só precisar me contar...

— Eu não vou te dizer nada, Luci. Você não entende? – Algumas lágrimas escorrem de seus olhos. — Eu só vim até aqui hoje numa boa, porque queria passar um tempo com você... Eu precisava de você... Me distrair um pouco, dar risada, me divertir, estar perto de você, olhar pra você, ouvir a sua voz e...

— Eu estraguei tudo. Eu sei. – Respirei fundo, sentindo um nó na garganta. – Me desculpe. Eu não sabia...

Eu o abracei.

No início ele ficou relutante, como se me odiasse mais do que tudo, mas aos pouquinhos ele foi cedendo, seu corpo amolecendo e por fim ele me abraçou de volta e chorou no meu ombro por alguns minutos.

— Você pode entrar, mas só se me ajudar com o trabalho que eu tenho que terminar amanhã. – Digo, com um sorrisinho ao entrelaçar nossos dedos.

— Tudo bem. Vamos lá! – Ele sorriu de volta, limpando as lágrimas com a mão livre. — Talvez eu possa fazer algo útil por você.

E aquele assunto de antes não foi tocado novamente.

Tivemos um resto de tarde bem tranquilo.

Terminamos meu trabalho, ficamos de bobeira na minha cama conversando sobre assuntos paralelos, principalmente sobre a Fabi e o Chris que estavam cada vez mais apaixonados e insuportáveis. Alex riu bastante dos meus comentários amargos com uma pitada de humor e mais tarde nós descemos para preparar um sanduíche.

Quando a mamãe chegou da loja, ficou toda feliz em ver o que o Alex. Abraçou ele e o encheu de beijos. Como se de alguma forma ela sentisse que ele precisava daquilo naquele momento. Mas não posso dizer que não fiquei com um pouquinho de ciúmes. Minha mãe é uma fofa comigo, mas não é sempre como é com ele.

Mamãe pediu para irmos até um mercadinho ali perto para comprar umas coisas para ela fazer o jantar aquela noite. E mesmo o Alex dizendo que não precisava se incomodar com isso, porque já estava muito satisfeito, ela insistiu e nós tivemos que ir de qualquer forma ou ela acabaria nos enlouquecendo.

Enquanto meu pai, que chegou logo depois, ajudava a mamãe com o jantar, Alex e eu vimos um episódio de Jessica Jones, a séria da vez, lá no meu quarto e só descemos para comer quando o episódio acabou.

Alex estava tão envolvido com a trama da série, de que fato é ótima, que ele fez questão de subir para ver mais um episódio depois do jantar e de lavarmos a louça.

Acabou que ele pegou no sono em algum momento e eu fiquei com uma dó terrível de acorda-lo e manda-lo embora. Conversei com meus pais e tudo bem pra eles o Alex dormir aquela noite ali, no meu quarto, na minha cama. Até porque isso já acontecia quando eu ia passar o final de semana no apartamento dele e eles tinham consciência total disso.

Fiquei com olhando para o Alex tão relaxado e adormecido feito um garotinho de seis anos e fiquei imaginando que tipo de peso que ele estava carregando em sua vida por causa desses problemas familiares e que ele não queria dividir comigo, nem me envolver, para proteger ou coisa assim ou por achar que daria conta de tudo sozinho e do jeito dele.

E isso me preocupa.

Eu sei que muitos acham que são capazes de lidar com isso sozinhos e até tentam, mas sei também que chega um momento que não dá mais. Um momento em que a gente olha para o lado e precisa muito de alguém para ajudar. E isso não deveria ser algo com o que se envergonhar ou temer. Às vezes é realmente necessário ceder e pedir ajuda, porque eu sei que todo mundo tem alguém, pelo menos uma pessoa, com quem pode contar pra tudo e eu só queria que o Alex soubesse que eu sou essa pessoa, eu posso ser essa pessoa, ele pode contar comigo, pode confiar em mim e eu vou ajudar em qualquer coisa que for preciso. Eu estou aqui para isso.

~*~

Quando o celular despertou no outro dia de manhãzinha para eu me levantar e me arrumar para ir para a escola eu quis chorar de tristeza. Mas aí no exato momento em que abri meus olhos remelentos, Alex entrou no meu quarto segurando uma pequena bandeja com um café-da-manhã simples, porém muito especial.

— Só para você saber, foi sua mãe quem preparou tudo.

Ele me deu um beijinho no alto da testa e não na boca com nos filmes, até porque ninguém merece aquele bafo matinal que eu estou agora.

— Mas você se importou em trazer até aqui. – Eu sorrio, agradecida.

Tomei um banho rápido e me arrumei ainda mais rápido.

— Eu te levo hoje. – Alex pegou minha mão na saída.

Passei a manhã inteira muito feliz apesar de tudo. Ainda mais depois, quando de repente, Alex me mandou uma mensagem no meio da aula que dizia o seguinte:

“Eu sempre dormirei melhor sabendo que você estará ao meu lado. ”

Então ele sabe. Sabe que estarei ao lado dele não importa o quê.

Nem mesmo a troca de carinhos excessiva entre a Fabi e o Christian me irritou durante o intervalo. Muito pelo contrário. Eu compreendi, naquele momento, que todo mundo, por pior que possa parecer, merece alguém que te faça feliz, alguém que seja capaz de fazer seu coração transbordar, mesmo que isso incomode as pessoas a sua volta.

Depois do colégio, na saída, Chris me chamou para ir comer algo no shopping com ele e com a Fabi. Acho que ele sentiu pena de mim ou até mesmo culpa, por estarem me deixando de lado ultimamente.

Eu acabei aceitando de qualquer forma, porque eu estava faminta – o que já não é nenhuma novidade – e sem dinheiro, mas ele garantiu que ia pagar tudo.

Eu, é claro, me aproveite um pouco disso. Afinal, não sou boba nem nada e achava que ele até merecia por estar roubando a Fabi de mim. Quando eu tentei ajuda-los a ficarem juntos, eu não imaginei que eles ficariam tão grudados o tempo todo.

Enquanto a Fabi e o Chris davam comida um na boca do outro na minha frente, eu peguei meu celular dentro da mochila e mandei uma mensagem para o Alex.

“Por favor, venha me salvar desse castigo. ”

Vinte minutos depois ele apareceu e se juntou a nós e eu fiquei bem feliz quando vi que ele estava se esforçando para ficar numa boa com o Christian.

— Que tal pegarmos um cineminha agora? – Sugeriu o Christian, quando passamos em frente a bilheteria vazia.

— Não posso. – A Fabi respondeu, aborrecida. — Tenho que ir para casa, antes que a minha mãe...

— Já sei. – Chris a cortou. — Antes que sua mãe resolva pegar no seu pé por você estar demorando tanto para chegar em casa. – Ele revirou os olhos.

Então ele já sabia? Ela tinha contado a ele que os pais dela era um problema? Espero que sim ou eu iria cortar a cabeça dela fora. Até porque esse tipo de problema a gente conta logo no começo no relacionamento, mesmo que assuste um pouco seu parceiro. Ele merece a saber a verdade. Merece saber o que vem a seguir.

A verdade é sempre a melhor opção.

— Fabi, deixa eu falar com você um minuto. – Puxei-a para longe dos meninos sem nem dar tempo de ela aceitar ou não. — Ele sabe? Ele sabe sobre seus pais?

— Sabe. Eu contei a ele faz um tempinho. Achei que seria melhor assim.

— E é. Mas será melhor ainda você resolver isso de uma vez por todas. Tenha uma conversa fraca com seus pais. Pare de mentir a eles! Você ama o Chris e ele te ama. Diga isso a eles e mesmo que eles não entendam e não aceitem, pelo menos terão consciência disso e você poderá ter mais liberdade com o seu namorado.

— Ele ainda não é meu namorado e ainda não disse que me ama.

— Ah, pelo amor de Deus.... Isso já não é muito obvio? Por acaso você está saindo com outros garotos? – Ela fez que não e eu continuei: — E ele está saindo com outras garotas? – Novamente ela fez que não com a cabeça. — Então vocês praticamente são um casal de namorados. Só falta ele fazer o pedido ou você. Ou então nem precisa dessa baboseira toda. Vocês não estão felizes?

Ela fez que sim.

— Ótimo! Agora resolva esse problema com seus pais, antes que eles descubram de uma maneira muito pior e te coloquem num convento como castigo.

Ela arregalou os olhos, assustada.

— Eu não vou conseguir...

— Vai sim. Você sabe que vai. Você já conseguiu tantas coisas quando achava que não iria conseguir. Ta vendo só? E se acha que não vai conseguir sozinha, apesar de eu discordar, peça ajuda ao Chris. Tenho certeza que ele vai te ajudar. Porque até ele parece muito insatisfeito com essa história de ficar se escondendo dos seus pais e ter os minutos contados para ficar com você.

Parece que todas as coisas que eu disse foram o bastante para fazê-la entender.

— Vocês estão bem? Estavam brigando? – Christian perguntou quando voltamos para perto dele e do Alex. — Não é por minha causa, é?

 — Não se sinta tanto, boboca. – Eu ri, pegando a mão do Alex e continuando a caminhar. — Nós jamais iriamos brigar por sua causa, a não ser que você convença a Fabi a fazer algo bem idiota do qual ela possa se arrepender depois. E sim, estamos bem. Foi só uma conversinha entre amigas. Nada da sua conta.

Sorrimos um para o outro.

Era assim que a gente se entendia. A base de farpadas.

No final das contas, não fomos ao cinema. Pois a Fabi precisava mesmo ir para casa antes que a mãe dela começasse a ligar pensando que ela foi sequestrada na porta do colégio. Alex levou os dois pombinhos cada um para sua casa de carro e depois, ao invés de me levar para casa, nós saímos para caminhar.

— Até que ele é bem legalzinho. Bobo. Porém firmeza. E parece fazer muito bem a Fabi. Eles parecem muito felizes.

— Sim, é verdade. O Chris pode até não ser o melhor garoto do mundo, mas ele gosta da Fabi e ela gosta do jeito bobo dele.

— Assim como você gosta do meu. – Ele sorriu para mim.

— E porque eu não gostaria? – Eu sorrio de volta para ele.

Nós paramos e nos beijamos.

— Luci, eu te faço feliz? – Perguntou ele baixinho, com nossos rostos ainda muito próximos.

— Que tipo de pergunta é essa, Alex? É claro que você me faz feliz. Muito feliz. Mesmo em alguns momentos você sendo extremamente insuportável.

— Ei. – Ele se afastou um pouco, risonho. — Você também é uma chata, sabia?

— Só isso? – Desafiei-o.

— Chata, muito preguiçosa, comilona, dorminhoca, nervosinha e... – Ele colou sua boca na minha e continuou com os olhos pregados nos meus. — Muito irresistível também, além de linda, carinhosa, boba, inteligente...

— Eu não sou inteligente! – Eu ri, achando graça e tudo muito fofo também.

— Você é, Luci. Você é muito inteligente e corajosa e divertida. E muitas outras coisas também. E é por isso que eu amo tanto você e não consigo imaginar um dia na minha vida em que eu deixe de te amar, porque isso seria completamente impossível.


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Notas finais do capítulo

Comentem! E deixem sugestões também, porque eu adoro.