Tudo de Mim escrita por Mi Freire


Capítulo 14
Conversa de adulto.


Notas iniciais do capítulo

Vou dedicar esse capítulo a uma pessoa MUITO especial que faz aniversário domingo - esse é o meu presente pra você - e é uma leitora muito querida e fiel. E, não posso deixar de agradecer pela 1º recomendação da história que ela fez. Obrigada, Ju. Beijão!



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No sábado de manhã fomos ao parque da cidade vizinha.

Fomos andar de bike.

Não, não fomos. Alex e Luiz foram. Eu me sinto velha demais para esse tipo de atividade. Meu corpo cansa facilmente e meu coração parece que vai parar.

Já o Chris e a Fabi foram dar uma volta, certamente para dar uns amassos no matinho.

Eu permaneci ali, sentada na grama, de baixo da sombra de uma pequena árvore, tomando minha água de coco para me refrescar desse calor absurdo.

Fomos almoçar em um restaurante vegetariano, sugerido pelo Alex.

Ninguém gostou muito da ideia, mas as vezes o Alex sabe ser bastante convincente. E facilmente fez a gente mudar de ideia para dar oportunidade a coisas novas.

— Nossa! Esse negócio é muito bom! – Disse Christian de boca cheia.

Ele se referia ao hambúrguer vegetariano.

Na minha opinião não era tão bom assim. Nada que se comparasse ao hambúrguer mais comum, aquele cheio de gordura. Acho que o Chris só disse o que disse para conquistar o Alex. Coisa que ele vinha fazendo muito ultimamente.

E estava funcionando. Pouco a pouco.

— Eu disse que vocês iriam gostar. – Afirmou Alex, orgulhoso de si ao mesmo tempo em que o irmão caçula fez uma careta que ele não viu.

Quando deixamos a Fabi na frente de sua casa mais tarde, ela se inclinou na minha direção e sussurrou antes de descer do carro:

— Vamos falar com os meus pais hoje.

— Não brinca?!

Eu meio que surtei, devido a coragem e a mudança da minha melhor amiga desde que o Christian entrou de vez em sua vida.

— Eu queria estar lá com você. – Segurei sua mão.

— E você vai estar. – Ela colocou minha mão próxima ao seu coração. — Eu estou tão feliz! Nada disso estaria acontecendo se não fosse por sua ajuda.

Ela me deu um beijo no rosto e saiu, toda segura de si.

~*~

Alex e eu estávamos na sala escura de seu apartamento, deitados nas almofadas no chão, ouvindo música e conversando um pouco. Luiz estava no quarto trancado há bastante tempo, entretido com jogos e comendo uns chocolates que eu comprei para ele hoje mais cedo.

Ouvimos uma batida na porta.

Levantei-me na hora, achando que era o cara da pizzaria com nossas esfihas pedidas a alguns minutos antes.

Mas é claro que o entregador não iria subir até ali. Normalmente eles esperam lá em baixo na portaria até a gente descer.

— Oi, Luciana. – Ana Paula, mãe dos meninos estava ali, bem diante de mim e ela até que foi educada comigo, como raramente é. — Alex?

— Entra. – Eu convidei mesmo contra a minha vontade.

Suas visitas inesperadas nunca era boa coisa.

Ela entrou. Parecia diferente, talvez até um pouco estranha e descuidada. Não estava elegante como de costume. O cabelo escuro e ondulado estava preso em um coque apertado, deixando-a com um aspecto mais velho e cansado. Notei também que ela estava sem maquiagem e suas olheiras pareciam profundas e escuras.

— Alex, querido, posso falar com você?

Ih, lá vem mais problemas.

Ninguém precisou me dizer nada, na hora entendi o recado.

— Luiz! – Gritei surpreendendo a todos. Principalmente a Ana Paula com a minha falta de modos. Mas que se dane. Eu só estou tentando ajudar. Deixa-la sozinha com o filho mais velho. — Você pode ir comigo lá em baixo esperar o entregador?

Luiz apareceu no mesmo instante, com um cara não muito boa.

— Poxa, Luci! Será que não dá para esperar um pouco? Estou no meio de uma partida de um jogo muito importante.

E então ele viu sua mãe parada ali próxima a mim.

— Ah, oi mãe. – Rapidamente ele virou-se para mim novamente com uma expressão melhor. — Vamos. Eu vou com você. Estava sem fazer nada mesmo.

Nós descemos calados.

— Espero que ela não tenha vindo me buscar antes da hora. – Ele reclamou emburrado, com os braços cruzados. — Esse não foi o combinado.

Lá em baixo estava escuro e fresquinho.

— Relaxa. Isso não vai acontecer. Eu não vou deixar.

Sorrimos cumplices um para o outro.

— Você é diferente do que eu imaginava, sabia?

— Diferente como? – Perguntei, risonha.

— Legal. Você é muito legal e divertida também.

— E você imaginava que eu fosse como?

— Ah, sei lá. – Ele deu de ombros. — Talvez eu não devesse dar ouvidos a tudo que minha mãe diz.

— Ela fala muito sobre mim? Que tipos de coisas ela fala sobre mim?

De repente fiquei extremamente curiosa com o rumo dessa conversa.

— Ela não gosta de você. Acha que você não é a garota certa para o meu irmão.

— Mas isso eu já sabia! Ela já deixou isso muito claro desde o começo.

— Ela acha que o melhor para o meu irmão seria se casar com umas das filhas ricas de umas das amigas dela e só assim ele tomaria jeito na vida e se tornaria alguém.

Uau. Por essa eu não esperava.

Ainda existe esse tipo de coisa nos tempos de hoje? Inacreditável.

— Mas ele já é alguém! Que absurdo sua mãe pensar nesse tipo de coisa.

— Se eu fosse o meu irmão eu não iria querer nada disso também. – Luiz continuou. — Imagine que chato! Todas as amigas da minha mãe são umas chatas e as filhas delas também. Odeio quando elas vão lá para casa fofocar. – Ele ergueu os olhos na minha direção. — Eu prefiro mil vezes você e sei que o Alex também.

Não resisti tamanha fofura e o abracei apertado, deixando-o cheio de vergonha.

Para sua sorte o entregador chegou bem na hora com nossas esfihas quentinhas.

Assim que o Luiz entrou correndo no apartamento na minha frente, Alex e sua mãe se calaram, deixando evidente que estava escondendo algo.

— Eu preciso ir.  Luiz, querido, vamos embora?

— Ele não vai. – Digo, prontamente.

— Mãe, eu não vou agora. Só amanhã. Como combinamos, lembra?

— Claro, claro.

— Vamos, mãe. – Alex a chamou. — Eu te acompanho.

Ana Paula se despediu do filho mais novo e de mim com um aceno e foi embora sem mais delongas.

Luiz seguiu até a cozinha com nossas esfiras, cantarolando.

Fiquei ali esperando o Alex, mas ele estava demorando mais do que deveria, o que me preocupou muito. Resolvi então me aproximar da porta, quando ouvi a Ana Paula dizer:

— Seu pai é um grande canalha. É isso que ele é. – Ela parecia muito brava, além de aborrecida. — Mas não podemos abandona-lo agora.

Então o pai do Alex era o grande culpado por tudo isso?

O que será que ele aprontou?

Me afastei da porta com um pulo quando o Alex entrou, frustrado.

— Vem, vamos comer. – Peguei-o pela mão e o levei até a cozinha.

Comer pode melhorar muito o nosso humor. Acreditem. 

~*~

Tinha acabado de entregar a prova de física e estava preocupada com o meu desempenho.

Estudei a noite toda de ontem mesmo contra minha vontade e na hora da prova eu esqueci tudo.

Parabéns, Luciana.

— Você já pode me agradecer agora.

Christian correu pelo corredor até me alcançar e quando isso aconteceu ele passou o braço por cima dos meus ombros, todo pomposo.

— Obrigada, Chris. Se não fosse por você eu estaria ainda mais ferrada.

Ele abriu um largo sorriso na minha direção.

Em algum momento durante a prova, Christian deve ter percebido que eu estava ferrada e perdida. E com um descuido do professor, ele jogou na minha mesa, que por sorte era ao lado da sua, uma folhinha com algumas respostas.

— Agora você me deve um favor.

Tirei o braço dele de mim.

— Que tipo de favor?

— Você precisa conversar com os pais da Fabi por mim e convence-los de que sou um bom partido. Pois nossa primeira e última conversa não resultou em boa coisa e eles me proibiram de chegar perto da Fabi ou eles me caçariam e me cortariam em pedacinhos.

— Como assim? Porque ela não me disse nada?

Eu estava CHO-CA-DA.

— Eu não sei! Talvez por vergonha. Ela está muito chateada.

Bem que notei que ela andava bem estranha nos últimos dias, mas pensei que fosse apenas nervosismo devido a algumas provas que aconteceriam essa semana.

A Fabi sempre se dedica muito aos estudos.

Consegui conversar com ela na saída e ela, pela primeira vez, me explicou tudo que aconteceu. Seus pais ouviram o Christian por muito tempo e quiseram saber tudo sobre eles. Fizeram milhares de perguntas. Isso a deixou esperançosa. E quando eles acharam que estava tudo certo, seus pais tiveram um surto e gritaram com eles, enlouquecidos, dizendo que a Fabi era nova demais para se relacionar com alguém, porque nesse momento ela deveria dedicar-se totalmente aos estudos.

Eles tentaram explicar que nada disso iria atrapalhar o desempenho escolar dela e que as coisas seriam como sempre foram, exceto que eles passariam mais tempo juntos nos finais de semana, nos tempos livres. Christian tentou dizer que aquele momento também era muito importante para ele. Pois ele também queria passar em uma boa universidade e se ajudassem um ao outro naquele momento, os dois poderiam estudar juntos e as coisas poderiam ser mais fáceis para os dois.

Mas nada disso os convenceu e foi então que eles tomaram sua decisão final: nada de namoro ou qualquer tipo de diversão durante o último ano de escola até terem a certeza que a Fabi tinha conseguido uma boa colocação em uma boa universidade.

— Eu vou tentar falar com eles.

— Não! Você não pode, Luci.

— Mas eu quero tentar.

— Eles não vão te ouvir!

— Mas eles vão ter que me ouvir. Eu devo isso a você. Devo isso ao Christian. Pelo amor de Deus, Fabiana. Não queira discutir comigo sobre isso. Já está decidido.

Depois do colégio fomos a casa da Fabi como se fosse só mais um dia normal.

Sua mãe estava lá cuidando das coisas de casa e preparando o almoço.

— A senhora está muito ocupada? Podemos bater um papo?

Um papo?— Ela parou o que estava fazendo e me olhou intrigada. — É alguma coisa com a Fabi? Ela está bem? Foi algo que aconteceu no colégio?

— Não... E sim. Vamos sentar ali por um minuto.

Sentamos no sofá.

Fabi estava lá em cima, tomando banho antes de descer para o almoço que pelo visto ainda não estava pronto.

Eu já estava cheia de fome, mas poderia esperar.

— É sobre a Fabi e o... Namorado dela.

— A Fabi não tem namorado! – Disse ela, indignada.

— É claro que tem! E ele se chama Christian. E eu sei que a senhora já o conheceu e viu como ele é um garoto incrível e que ama muito a sua filha, tanto é que teve a coragem de vir aqui falar com vocês sobre o que está acontecendo entre eles. O que não é muito comum nos dias de hoje.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas eu a interrompi com um gesto educado.

— Eu sei que não era isso que vocês queriam para a Fabi. Pelo menos não por agora. Mas vocês não podem controlar tudo. Nem mesmo a vida dela. Ela já é bem grandinha. Uma verdadeira mulher. Logo fará dezoito anos! E é linda, inteligente, educada, gentil e todas outras qualidades que a gente já conhece. É claro que em algum momento alguém além de mim e vocês iria reparar isso e esse momento aconteceu. E o garoto é o Christian que gosta tanto da sua filha como ela gosta dele. E isso não é de agora. Veja bem, o Christian pode até não parecer o garoto mais incrível desse mundo. Às vezes ele consegue ser bem sem noção. Mas não é algo ruim! Porque ele tem muito mais qualidades do que defeitos. E é por isso que a Fabi gosta tanto dele. Não é algo que se pode controlar ou mudar. Aconteceu e vocês precisam aceitar que de um jeito ou de outro eles vão ficar juntos. Porque eles se gostam e é isso que acontece quando duas pessoas se gostam muito.... Elas ficam juntos mesmo contra o resto do mundo.

— Mas...

— Por favor, pense um pouquinho sobre isso, senhora. Você acha mesmo que afastá-los a essa altura do campeonato é uma boa escolha? A Fabi está desolada e o Christian só quer que tudo se resolva logo. Imagine só se isso prejudica o desempenho dela na escola! Não é o que queremos, não é mesmo? Deixa os dois viverem juntos. Eles se gostam tanto e fazem tão bem um para o outro. Não é pedir muito, é? Pense na senhora e quando era mais jovem. Tudo que você sentiu quando conheceu o pai da Fabi. Não era incrível? Não era tudo que você mais queria? Então. Não é muito diferente com a sua filha. Não é muito diferente com ninguém.

— Está bem. Vou pensar melhor a respeito e terei uma conversa com o pai dela. Mas não posso garantir nada. Porque isso não depende só de mim.

— Ótimo! Ótimo!  – Bati palmas, animada. — Já será um grande começo.

Eu sorrio para ela e ela, apesar de tudo, conseguiu sorrir de volta.

— Quando foi que você cresceu tanto, Luciana? Quando foi que se tornou essa mulher com palavras tão sábias e tão maduras e adultas? Ontem mesmo você era só uma molequinha com o jeans rasgado chamando a Fabi para brincar lá fora.

Eu ri.

— Eu não sei. Realmente não sei.

Fabi desceu dez minutos depois. Eu estava esperando na sala, vendo TV. Sua mãe tinha acabado de terminar o almoço e estava nos chamando para comer.

— E aí? – Ela sussurrou a caminho da cozinha.

— Acho que vai dá tudo certo. Seja só um pouquinho paciente.

Peguei a mão dela e seguimos juntas.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar e semana que vem tem mais. Prometo!