No momento que estava no corredor do hospital e fechou a porta do quarto de Josh atrás de si, a única vontade que sentiu foi de arrumar alguma desculpa, talvez inventar um 'você tem problema com adoçante?' Na hora, qualquer coisa que fosse pra que pudesse prolongar um pouco mais a sua conversa com ele--

Que frescura, Christopher. Você ainda vai voltar e poder falar com ele. Cristo, não seja tão dependente!

E por que era, afinal?

Outra pessoa acharia estranho que ele fosse assim pelo seu melhor amigo.

Balançou a cabeça e se pôs a andar de novo, o mais cedo que fosse, o mais cedo voltaria. Indo em direção a saída do hospital, encontrou olhar com Matt, que sentava em um banco, aparentemente esperando ter sua vez para falar com a recepcionista. Ele parecia estreitar os olhos para reconhecer Chris, e assim que conseguiu, fez um sinal para que ele fosse lá. A resposta que Chris deu foi uma fala muda de que estava com pressa, apontando com o dedão pra porta.

Para a surpresa de Chris, Matt simplesmente se levantou e foi em direção a ele. Mantinha o pensamento de que não queria ver maioria do grupo, mas Matt não estava incluso nela. Ele não tinha culpa de nada. Coçou o pescoço e quando tinha ele do seu lado, fez com a cabeça que estaria saindo, e esperava que Matt seguisse. Felizmente, ele o fez.

Ele também foi o primeiro a puxar assunto. — Aonde você 'tá indo?

— Ah.. O café aqui na frente. Pegar comida de verdade pra mim e pro Josh. — Talvez ele não devesse ter mencionado o melhor amigo, pois a confusão na expressão de Matt foi clara logo depois que terminou de falar.

— .. Josh, é? — Ele pareceu tentar entender algo. — Como ele está? — Não sabia se ficava aliviado por alguém se preocupando com Josh ou surpreso com a pergunta.

— Bem, eu acho? Mal? Eu não sei direito.. — Ajeitou os óculos. — Quer dizer, melhor que.. Antes. Você sabe.

— Na verdade, não. Eu só sei o que o Mike me falou. — Mike e ele estão se falando? Chris pensou. Não imaginava que o clima entre eles ia ser dos melhores depois do acontecido, mas talvez fosse por causa de Jessica. — A coisa toda do psicopata.. E tal. Mas não vi ele "em ação." — Fez aspas com os dedos.

— É, nisso você ficou com sorte. — Comentou rápido, acelerando um pouco o passo. A loja estava próxima.

— Mas você tá bem? Depois dessa barra toda..

Ah, essa pergunta. Não pensou que ia ouvir ela. Não sabia se queria ouvir ela.

— Melhor do que deveria, eu acho. Tentando seguir o fluxo dessa coisa toda. — Mexeu seu braço em uma onda, e Matt pareceu satisfeito com a resposta.

— Claro, claro. — Sorriu meio torto.

Logo estavam no desejado café, Matt abrindo a porta na frente pra Chris passar. O louro arqueou uma sobrancelha com isso, mas não iria reclamar. Talvez Matt simplesmente fosse gentil demais. Olhou em volta, e o lugar cheirava a panquecas recém preparadas e aquecedor velho. O lembrou por que achava esse tipo de local tão confortável. Agradeceu pelo aquecedor existir, pois não tinha seus dez casacos para o aquecer da neve de fora. 

Ah sim, quase esqueceu que Matt estava do seu lado.

— Eeentão.. Você veio junto, vai pedir alguma coisa? — Perguntou, tirando a sua atenção de Matt pra olhar pras vitrines por uns instantes. 

— Na verdade, não. Eu não tenho dinheiro nenhum.

Claro que ele não tem, Christopher. Que pergunta foi essa?

— Ah. — Não iria falar eu tenho de sobra, porque aquele dinheiro não era seu, e sim do pai de Josh. — O meu tá contado cara, foi mal. — Mentiu, mas dá para o defender porque ao menos um pouco disso era verdade. 

— Relaxa. Eu só queria falar com você sobre as coisas, mas.. Aqui não é o melhor lugar. 

Chris engoliu seco. — Eu vou no Josh logo depois daqui. Quer vir junto? 

Ele observou Matt mudar de expressão bem rápido. Primeiro foi uma surpresa, depois, um tanto abalada. Matt apenas desviou o olhar pra uma parede qualquer do café, limpando a garganta. — Não, Chris. Desculpa. 

— Não se preocupa. — Foi a última coisa que disse, e concordaram em silêncio que a conversa acabaria ali. 

E era uma questão de tempo para que pudesse finalmente ter sua comida e de Josh embaladas, e guardadas em um saco para que Chris pudesse o carregar. Tinha pegado vitaminas(sabia que Josh reclamaria, mas era isso ou sorvete de manhã), algumas rosquinhas- algumas sobras de vitrine, traduziria. Mas Josh pediu a maior carga de gordura, então.. Além disso e os sanduíches de queijo extras, levava café em um copo que bebia no momento enquanto andava de volta pro hospital. Matt tinha ficado no local que antes estava, com a desculpa de que usaria o orelhão de fora depois de pensar um pouco. 

Provavelmente não era uma desculpa, também.

Chegando no hospital, jogou o copo de plástico do café fora na lixeira mais próxima, e se via apressando o passo pra voltar pro quarto de Josh. Agora o caminho era claro, não precisava mais repetir as etapas do mesmo a cada degrau que subia. 

E agora, parado na frente da porta. Engoliu seco, e se perguntou por que ficava nervoso toda vez. Não tinha medo de ir ver Josh, mas talvez tivesse desenvolvido um mecanismo de evitar um possível Josh mal, e se perguntou o quão mais babaca sua mentalidade podia se tornar. Ao menos não concordava consigo mesmo nisso. Se forçou a abrir a porta rápido, e pôde ver na fração de segundo que tinha passado quando a abriu, na pequena abertura  que tinha feito da mesma, Josh se assustando de leve. Ele não se moveu, apenas arregalou os olhos e sua atenção foi direto da- parede? não sabia, direto pra Chris enquanto ele se tornava cada vez mais visível na proporção que a porta se abria mais. 

— Querida, cheguei. — Tentou imitar um sotaque britânico, e se parabenizou mentalmente pela imitação perfeita fora de horário. Ao menos aquilo arrancou uma risada de Josh.

— Pensei que tinha me abandonado.

— Nunca! — Estendeu o saco com a comida dentro, sorrindo um tanto torto pra ele. — Trouxe o banquete. 

— Você provavelmente só me trouxe decepções- — E quando Josh abriu o saco e viu o que tinha dentro, olhou Chris com a maior expressão de 'tá falando sério, cara?' Que conseguia. — E mais uma vez, eu te conheço mais do que gostaria.

— E depois do trabalho todo que eu tive de ir pegar comida pra gente? Você vai enfiar isso goela a baixo, Josh. 

— Cruel. Eu vou comer de qualquer jeito, sabe. Você meio que comprou com o meu dinheiro.

— Do seu pai.

— Meu dinheiro, — Ele repetiu, pegando uma das rosquinhas e dando uma mordida. O jeito que arregalou os olhos em surpresa fez Chris sorrir. — Isso- É bom pra caralho. — Ele pôs a mão na frente da boca, para que pudesse falar enquanto mastigava. — Tem gosto de comida adormecida de uns dias atrás.

— Bingo.

— Você não brinca em serviço, cacique. — Ele riu rápido, se focando em terminar de comer. Ele parecia faminto, e Chris se perguntou se Josh ao menos comeu a comida que o hospital o deu. 

— Nunca, cara. Nunca. — Ficaram nesse silêncio um tanto desconfortável enquanto comiam, e Chris parava pra olhar Josh de vez em quando. Notava os pequenos detalhes, e quando sentia que ele ia encarar de volta, olhava pras paredes ou a televisão desligada. Se perguntou se deveria puxar algum assunto agora, ou simplesmente jogar uma piada besta como sempre.

— Chris, você sabe como os outros estão? — Ele perguntou de repente, e Chris arregalou os olhos enquanto bebia sua vitamina.

Engoliu o que bebia antes de começar a falar. — Não.. Mas eu vi o Matt quando eu fui pro café. Ele até perguntou de você. — Josh parecia confuso com isso, mas ele não comentou nada sobre. — Ele estava bem. 

— Isso é bom. Muito bom. E.. E a Jessica? — O seu tom soava genuinamente preocupado, e a animação de Chris abalou um pouco quando ele soube que não tinha resposta para a pergunta dele.

— Eu não sei. Quer que eu veja ela depois?

— É, pode ser. Já que eu não posso mais sentar com vocês no recreio.. — Ele comentou, e apesar de parecer um pouco fora do clima para brincadeiras, Chris acrescentou: 

— Eu tô comendo cola com você, cara. Juntos até o fim. — Ele levantou o punho no ar, e ao menos isso fez Josh rir um pouco.

— Que merda-

Ouviram três batidas na porta e olharam direto pra ela logo após. Reconheceram um 'Josh?' Abafado de uma voz que Chris não conseguiu reconhecer direito, mas o jeito que os olhos de Josh se arregalaram entregavam que ele sabia quem era a dona da voz. Sim, a dona. A voz era feminina. 

— .. Entra. — Ele disse, surpreendendo Chris. 

E quando a porta foi aberta, Chris se sentiu sorrindo por dentro. Lá se foi sua parte três de suas tarefas, novamente por causa de Josh Washington. 

— ..Josh? 

— Sam?