Redenção escrita por AnneAngel


Capítulo 36
Entre Irmãos.


Notas iniciais do capítulo

Oie, meu povo lindo❤
Eu sei que demorei bastante pra postar isso, mas aqui vai minha justificativa infame: Eu consegui um trabalho -Temporário, mas ainda sim um trabalho. Então estive bem cansada e exausta!

Mas eu amo escrever e por isso estou de volta pra postar esse cap tão aguardado!
Eu sei que ficou GIGANTESCO!!!
Não sei se isso aqui estará aos pés doque vcs imaginaram, mas eu espero que agrade vcs❤
Cenas tensas estão por vir! Me dediquei bastante pra fazer isso ficar lindo...

OBS: Tem trechos de uma música nesse cap, lá pro meio mesmo, centralizado e em itálico. E mais um trecho no final!
Enfim, espero MUITO que gostem❤
E agradeço a paciência de quem esperou isso aqui ser postado! Aliás, tem alguém aí ainda?



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A dor vem das histórias que ninguém quer saber. Mas há coisas que o tempo marca e só ele cura. Há também coisas que o tempo separa e só ele junta. Dizem que há tempo para tudo. Então aceite a verdade, por mais que doa, as feridas sempre viram cicatrizes. E as cicatrizes viram lição, lembrando-o da dor que foi suportada. Até agora, você passou por incontáveis piores dias em sua vida, mas sobreviveu a todos eles.

Sasuke P.O.V (Point Off View)

Estava evitando aquele assunto fazia 24 horas inteiras. No dia seguinte ao sumiço de seu irmão, ninguém tocou no assunto. Mas, passado um dia desde o ocorrido, hora ou outra seria pressionado a dar o passo inicial, ainda mais com o julgamento tão à frente: E foi justamente isso que aconteceu.

A casa estava silenciosa porque sua esposa, Sarada e ele tomaram um café da manha ameno, depois recebeu a visita de Hatake e Naruto, conversaram longamente junto com Sakura. Agora era seu coração estava em ruínas fumegantes e pronto a se esmigalhar: Ao vislumbrar oque faria a seguir já sentia sua respiração acelerar e cada centímetro de seu corpo arrepiava-se, como se frente a um destino inevitável.

Não queria admitir abertamente, mas dentro de si tinha um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão. Sabia que a dor de cabeça e as palpitações que sentia era só porque estava muito ansioso: A realidade era que teria que falar com seu irmão, não dava mais para fugir. Mas seu relacionamento fraterno com Itachi sempre foi tumultuado e temia muito conversar com ele.

Oque tinham era um tipo de relacionamento vulnerável porque desde que se entendia por gente sempre teve sentimentos mistos por seu irmão, sentimentos opostos. Sua relação com seu Itachi sempre foi um tanto complicada.

E para além disso; falar de sua infância, seus sentimentos e suas dores parecia tão difícil agora. Sentia como se estivesse lutando para manter sua vida sã até aquele momento, lutando para manter todo o seu passado no fundo escuro de sua mente. Aqueles anos todos, só oque fez foi tentar esquecer e tornar sua dor mascarada.

Achava que tinha conseguido, se tornou um homem sério, lutou firmemente para manter a compostura e manter o passado no passado, afinal, havia perdido muita coisa naquela maldita vida e não gostava de relembrar a amargura que era; Só de pensar já se sentia nauseado e paralisado, um gosto ruim subindo por sua garganta.

Respirou fundo várias vezes, fechou os olhos e tentou focar naquilo que era mais importante, ficou assim por vários minutos até se sentir mais calmo e pronto. No fundo não queria conversar nada com Itachi porque sabia que seria algo forte demais para ambos, porém, chegou num ponto onde não podia mais continuar assim: Falar com Itachi estava se tornando inevitável.

Passou aquelas duas noites indo e vindo do quarto do irmão, e naquele exato momento estava na escada para o sótão com uma imensa bandeja com lanche em seus braços e temia dar os passos finais até lá em cima e enfrentar o inevitável.

Itachi estava estranho, insistia em dizer que estava bem, mas seu rosto estava inexpressivo e um pouco sombrio, não estava comendo e mal saia do quarto; Os olhos de seu irmão estavam mortos, como se tivesse perdido toda a vontade de viver.

Sabia que seu irmão sempre esteve num contexto de exposição à violência, tornou-se ninja muito cedo e mesmo antes disso vivenciou a Terceira Guerra Ninja, lembrava-se de quando seu Aniki começou a divergir de opinião com seu pai e dai os conflitos familiares se tornaram tão constantes que Itachi chegou a ser acusado de matar Shisui, atacou quem fez esta acusação e depois jogou uma Kunai no símbolo do Clã Uchiha estampado na parede do complexo...

...Aquilo ainda era vívido em sua cabeça porque tinha lhe assustado; a questão era, quanto Itachi começava a ficar distante e se isolava, ficava fechado, ranzinza e exibia comportamentos defensivos, era porque algo de errado estava acontecendo. Quando seu irmão gentil e amável começava a sumir e dar espaço ao Itachi indiferente, apático, que não se envolve e não deixa transparecer nenhuma emoção, era porque seu irmão estava num estado de tormento e carecia de atenção e ajuda.

Sabia que ambos estavam passando por algo difícil, mas queria estar perto quando seu Aniki precisasse, queria poder estender a mão quanto aos sentimentos de solidão e desespero que sabia que o outro estava sentindo. Porque chegava a ser estranho, mas tudo oque afetava seu irmão acabava lhe afetando também, fosse pra bom ou ruim.

A verdade dita por Kakashi, naquela manhazinha, ainda ecoava em sua cabeça constantemente: Seu irmão estava no cemitério, despedaçado e caindo em prantos. Não teve a oportunidade de fazer isso antes e foi algo necessário para ele. Não o culpe.

A informação pegou-o um tanto desprevenido, ele mesmo não ia aquele lugar assim como tantos outros. Naquele momento perguntou-se qual o seu limite, depois de duas noites tão estressantes, teria que suportar novas demandas.

As duas noites que sucederam desde aquele sumiço de seu Aniki foram longas, não as mais longas de sua vida, mas foram bem longas. Deveria ter tentado descansar, é verdade. Porém não obteve sucesso nisso mesmo quando se sentia exaurido. Seu corpo estava cansado, mas sua mente estava a mil por hora perdida em muitos temas e sentimentos controversos: E agora estava ali.

Sakura estava a poucos passos de distancia e todos os outros estavam lá embaixo na cozinha mantendo as esperanças de que ele conversaria com o outro Uchiha e que assim todos eles poderiam finalmente começar a viver suas vidas sem sombras do passado para atormenta-los.

Até certo ponto concordava, tinha muita coisa que queria mudar naquela vida que levava, muitas coisas que queria experimentar com sua nova família ao seu lado. Entretanto, havia finalmente chegado a hora de falar com seu irmão e não conseguia se mover

Sua mulher deve ter visto sua hesitação, pois interviu: ‘’Isso, essa situação que aconteceu, terá que servir para nos fazer mudar de perspectiva’’ Ouviu a rosada murmurar seriamente ‘’Sei que a cabeça de cada um dos membros dessa família está uma confusão, concordo. Mas já está na hora de mudar. Estou um pouco angustiada com o fato de minha família estar junta, porém separados em todos os pontos que realmente importam. Não basta mais que dividimos os mesmo aposentos, a mesma casa, as mesmas louças e talheres, e até o mesmo ar. Viver em família é muito mais doque isso, Sasuke. É mais que ocupar o mesmo espaço e dividir as coisas’’.

Resmungou algo inaudível e cabisbaixo, detestava ser pressionado assim. ‘’Mas isso tudo ainda é uma coisa experimental, todos ainda estamos nos adaptando a essa nova vida...’’.

‘’Não minta para si mesmo. Não estamos no começo, não mais. É claro que inicialmente houveram problemas de adaptação, você voltou a viver em Konoha depois de longos anos fora, meu cunhado renasceu dos mortos. E Sarada e eu deixamos de ser uma dupla. Mas essa fase de adaptação esta esmorecendo faz tempo. Todos estamos aqui juntos agora, somos uma família completa e temos que começar a tomar as medidas necessárias para que possamos começar a agir como uma, temos que imensamente encorajar isso; Alimentar os laços, diminuir problemas e fortalecer os vínculos’’.

Sabia que ela tinha razão. Mas depois daquelas duas noites, sentia-se tão exaurido. E agora estava ali frente à porta de seu irmão para falar de suas dores do passado, colocar tudo a limpo antes daquele maldito julgamento de merda: ‘’Como posso fazer isso? Obviamente ainda há problemas a serem enfrentados, ainda temos questões a serem trabalhadas e desenvolvidas com cuidado. Eu... Eu acho que não estou pronto...’’ Revelou um tanto assustado com a verdade em suas palavras.

‘’Exatamente’’ Ela acusou-o ‘’E quando espera estar?’’

‘’No futuro, talvez?! Mas não hoje!’’ Rebateu rosnando, suas inseguranças se apresentando sem que quisesse, sentia-se pequeno e fraco diante a esposa por agir daquela forma amedrontada.

‘’Sasuke, me escute com atenção. Talvez você nunca esteja pronto. O ponto não é esse. O ponto é que esse assunto sempre vai mexer com vocês, hoje e sempre. Terá que enfrenta-lo, mesmo sem se sentir apto a fazer isso’’ A rosada rebateu ‘’Olha, Kakashi, Naruto e eu estaremos lá em baixo na cozinha. Mas... Se preferir, podemos entrar lá com você e ajuda-lo a conduzir a conversa!’’.

‘’Não. Isso é entre meu irmão e eu!’’

‘’Tudo bem... Sei que será uma coisa delicada. Mas não se esqueça de que estamos aqui do lado de vocês! Eu, Sarada, Kakashi, Naruto, Boruto e até a Karin ficou pra dar apoio. Estamos todos lá embaixo. Estamos a poucos passos, e queremos o melhor pra vocês!’’. 

Não respondeu. Ainda sentia-se nervoso com o assunto. Ao menos em uma coisa concordavam: Obviamente chegara à conclusão de que havia muito a ser resolvido naquela situação. E tinha que começar o quanto antes, ainda que doesse.

Viu como seu irmão estava, não tinha forças, era como se fosse um boneco de trapos agora despedaçado e sem vida. Aquelas duas noites que passaram desde o ocorrido pareciam ter sido um gigantesco pesadelo, não o pior deles, mas ainda sim foi um dos piores; um dia ruim que não sairia da mente de ninguém.

Quando seu irmão saiu do ofurô quente depois que reapareceu, naquela noite ruim, foi um pouco reconfortante porque parecia mais apresentável, a agua quente lhe fizera mais vivo e com cheiro bom de limpeza, mas ao olhar seu rosto: Mesmo que dessem o melhor à Itachi, de nada serviria para quebrantar sua alma estilhaçada e destruída...

...Naquela noite, quando seu Aniki foi ao sótão para descansar, espiou-o o tempo todo, fez isso durante aqueles dois dias: O de cabelos longos parecia um trapo, como se não fosse capaz de sentir muitas coisas naquele momento, sua mente presa numa espécie de torpor pesado. Além disso, parecia cansado, mas não com sono. Ele vigiou Itachi, viu seus olhos pesados demoraram a se fechar, provavelmente as horas passaram correndo, mas em sua cabeça tudo parecia estagnado. Seu irmão outrora mais velho ficou lá como se só restasse para sí, na noite escura, o vazio.

Itachi sofria, estava rasgado, obvio. Afinal perdera tudo em uma só noite cruel, perdeu a família, abandonou o irmão mais novo, perdeu os conhecidos, a honra, a pátria e tudo o mais. E além disso, era claro que a culpa de trair seus familiares corroía-o. Isso tudo certamente ainda doía em carne viva em seu Aniki.

Mas Sasuke, por mais que parecesse, não estava reconstruído: Ainda havia pedaços escondidos que estavam retalhados. Perdeu aqueles que amava em uma noite, sem aviso prévio. Ficou sozinho e desolado por muito tempo até se reerguer e buscar vingança.

Porém, a sensação de perda era simplesmente a pior coisa do mundo, era uma angustia desmedida e irrevogável, apertava o peito de um jeito tão excruciante e deixava não um vazio: Mas sim um abismo de dor e desilusão. E por mais que quisesse negar esta dor, ela sempre estava lá, escondida na penumbra de seu coração.

Tentou esquecer isso, esquecer aquela dor. Respirou profundamente, repetindo esse ato várias vezes até se sentir mais calmo: Diminuiu as batidas de seu coração e seu corpo ficou menos tenso.

Sakura tinha razão. Pensava que já estava mais doque na hora de sair dos bastidores e começar guiar seus amados familiares para uma vida melhor e menos conflituosa. Teria que trabalhar as próprias inseguranças e dar o passo inicial, mas tudo bem: Porque era crucial que resolvessem seus problemas emocionais e dramáticos para que juntos pudessem se movimentar e se fortalecer.

O julgamento estava tão perto que chegava a dar medo, e não podiam enfrentar isso sem que estivessem todos unidos e bem resolvidos.

Cada um estava lidando com um estresse diferente e isso estava descarrilando a vida em família, por isso algo tinha que mudar. Pensando assim, tentando ser corajoso mesmo sentindo-se ainda um pouco cansado e temeroso, perdeu os temores iniciais e adotou uma postura mais firme.

Aquela covardia inicial passou, ergueu-se muito rapidamente e logo era o homem vigoroso e másculo que tinha se tornado.

A rosada deve ter notado a mudança de postura, os braços dela se apertaram ao redor dele e assim eles deslizaram-se para mais perto um do outro. Ele não disse que a amava, mas esperava estar implícito em seu olhar. Suas demonstrações de afeto nunca foram extravagantes e não era agora que começariam a ser.

A mulher beijou-o levemente, pressionando seus lábios nos dele, o abraço se tornou mais forte ao seu redor e essa foi toda a resposta que Sasuke precisava para saber que ela acreditava nele.

‘’Vamos estar lá em baixo. Qualquer coisa é só chamar que viremos correndo!’’ Disse e, depois, sua esposa logo saiu dali sabendo que ele já não precisava da presença dela.

E assim o moreno conseguiu as forças que precisava para subir os degraus que restavam até estar junto de seu irmão. Seus pés rapidamente o levaram até o Sótão e abriu a portinha o mais levemente que conseguiu.

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Sarada P.O.V (Point Off View)

A morena levantou cedo aquele dia, por mais que estivesse cansada pela noite mal dormida e as olheiras denunciassem-na. Havia uma parte sua que estava inquieta com a situação de Itachi, não sabia oque tinha acontecido com ele, mas era notável o quanto estava sentido: Sabia que o outro estava sofrendo e por isso ela ira poupar culpa-lo ou fazer um julgamento moral sobre a fuga dele anteontem.

Por outro lado, por mais que fosse condescendente com a dor de seu titio, por mais que compreendesse a situação delicada e a pressão de passar por um Julgamento tão denso quanto aquele com acusações tão pesadas; a Uchiha era humana e não conseguia deixar de sentir um pouquinho de ciúmes dele e sua relação com seus pais: Afinal, ambos passaram duas noites inteirinhas vigiando-o e indo ao sótão só para verifica-lo e saber se estava bem, como se ele fosse uma criança pequena com medo de escuro ou um bebe que demandasse tanta atenção...

Não é que ela não gostasse de Itachi. Estava se costumando com ele, com a presença dele: E era verdade, ele não era uma pessoa tão ruim depois que se conhece melhor.

E por mais que Sarada estivesse sendo até egoísta, entendia porque teve esse sentimento de ciúmes: Nem quando estava doente ou coisa do tipo, não recebera nunca esse tipo de atenção.

Sabia que as circunstancias eram totalmente diferentes e que o outro moreno realmente estava passando por um momento obscuro que demandava cuidados. Ela não deveria ter se sentido assim, ciúmes naquela situação era algo besta que nem deveria ter surgido em seu coração, porem aconteceu e não podia simplesmente fingir que não.

Não queria pensar muito sobre isso porque afinal de contas, pensou já ter superado esse tipo de sentimento: Anteriormente, tiveram um conversa civilizada e se entendeu com Itachi, agora a morena estava tentando caminhar para alguma coisa que não fosse repeli-lo.

Queria mesmo acreditar nas palavras do outro quando conversaram: Queria crer que havia mesmo um motivo para tudo aquilo esta acontecendo em suas vidas, que aquilo iria fortalece-los e ajudar seu pai a atingir a Redenção. Queria crer que haveria espaço na vida de seu pai tanto para ela e sua mãe, quanto para Itachi. Que num futuro próximo todos eles iriam ser felizes. Mas parecia que isso tudo estava bem longe de se tornar realidade.

Seu pai continuava a olhar para Itachi como se ele fosse o centro do universo ou como se fosse o alvo de toda a sua devoção. Enquanto que sua mãe estava completamente dedicada e a disposição do cunhadinho. Até seus amigos pareciam um tanto ligados ao Uchiha de cabelos longos. Não queria sentir ciúmes, mas estava sentindo, fazer oque?

A grande verdade era que estava morrendo de ciúmes dele no momento. Observou o outro, sem que ninguém tivesse vendo. Viu desde os longos cabelos escuros até os traços finos e angulosos de seu rosto, para ser sincera, estava começando a invejar até a beleza de seu tio: Como ele conseguia ser tão deslumbrante mesmo enfrentando as piores situações?

Talvez isso fosse só sua impressão, mas de repente Itachi parecia tão fascinante aos seus olhos. Não sabia por que, mas tinha sentimentos mistos em relação a seu tio: Às vezes ficava cheia de ciúmes e ódio, às vezes se compadecia dele e se enchia de amor. Às vezes pensar nele a deixava frustrada e às vezes deixava-a bem. Ou seja, tinha sentimentos bons e ruins com relação a ele e isso estava deixando-a insana...

...Por isso, ao invés de remoer sentimentos corrosivos, resolveu colocar seu foco no treinamento: Os testes Jounnins estavam cada vez mais perto e por isso queria dar tudo de si. Saiu de casa, arrastando Boruto junto. E estavam ali já há alguns minutos...

O clima era agradável e o dia parecia muito bom. Estavam sentados numa mesa de madeira num campo de treinamento aberto e muito verde e arborizado, o vento era fresco e a manha era inovadora, o lugar estava vazio e tranquilo.

Certamente estava satisfeita com o progresso que estava fazendo. Estava focada em seus objetivos e queria tornar-se Jounnin com as mais altas honras. Estava mais doque determinada e nada iria impedi-la de alcançar aquilo. Diferentemente de uma outra pessoa ao seu lado, que estava impacientemente batendo o pé enquanto ela continuava freneticamente escrevendo em seu livreto de teste.

Mitsuki também estava ali e parecia inicialmente focado no simulado que estavam realizando: Ele rabiscou no final de seu caderno, oque ela pensou ser sua resposta para um dos problemas super difíceis. Mas quando arrancou a folha e colocou na frente de Boruto, soube que os dois estavam de conchavo com alguma coisa.

Relutantemente chamou-os a atenção: ‘’Oque vocês estão fazendo? Devíamos estar focados nisso. Fomos o melhor time no nosso tempo Genin, vai ser o maior vexame se um de nós não passar. Digo isso porque quero vê-los bem!’’.

Boruto fez uma careta, notava-se que ele não estava descontraído e relaxado como sempre. Seu humor estava seco e suas feições duras: ‘’Relaxa, Sarada. Agradeço sua preocupação, mas eu que não vou falhar!’’.

‘’E como tem tanta certeza?’’

‘’Fala sério, a prova escrita vai ser moleza, e as provas técnicas... Eu sou bom em ação. Você sabe. Podem me dar qualquer missão, eu arrebento!’’ O loirinho afirmou convicto.

‘’E você’’ Virou-se para o outro menino ‘’Também está assim tão seguro de sí?’’.

‘’Ahh, Sarada, o Mitsuki também vai se sair bem, né não?! Tenho certeza que ele nunca fracassou num teste antes’’ O loirinho respondeu por ele.

‘’Você é tão exibido! É sempre tão espalhafatoso e bagunceiro’’ Murmurou como se isso a deixasse profundamente irritada, mas no fundo gostava daquele jeito meio sem noção dele. Sorriu de canto, sempre achou o Uzumaki um tanto vivaz.

Mas dessa vez ele estava mesmo zangado e emburrado com alguma coisa: ‘’Você é que está sendo chata. Porque está tão neurótica com isso? Você sempre foi uma das melhores da nossa geração!’’ Ele respondeu distraidamente.

‘’Bem’’ Começou, vasculhando seus sentimentos para poder explanar: ‘’Há uma primeira vez para tudo. Eu apenas não me sinto assim tão preparada. Não sei por que, mas sinto que algo vai me aborrecer nesses testes. É uma sensação estranha... Não sei explicar direito oque é... Só sei que algo ruim vai acontecer. Isso tá me angustiando muito!’’ Resmungou fazendo uma carranca.

‘’Para de ficar tensa atoa, você não deveria atrair coisas ruins!’’ Grunhiu o Uzumaki, desgostoso.

‘’Até certo ponto ela até tem razão, Boruto. Pode acontecer outra invasão alienígena e-’’

‘’Besteira, Mitsuki. Quantas vezes demos um pé na bunda desses desgraçados? Eles vão se dar mal se tentarem isso!’’ Argumentou ‘’Sinceramente... Estou mais preocupado com seu tio, Sarada. Sabe, eu queria ter ficado na sua casa ao invés de virmos pra cá. Tá todo mundo dando apoio e nós aqui—(Da)ttebasa!’’ Resmungou novamente emburrado, colocando aos mãos na cintura e batendo o pé irritado.

Foi quando ela compreendeu. ‘’Então é por isso que está assim tão aéreo e com essa cara de bundão?!’’ Logo ficou na defensiva ‘’O que na terra é tão importante lá?! Como você disse, todos já estão com ele, prestando toda a ajuda e atenção do mundo. Nossa presença não é tão necessária!’’ A menina rosnou, cheia do indício de indignação em seu tom de acusação.

O clima entre eles começou ficar ruim e qualquer um que visse de longe perceberia isto.

Boruto ficou com uma expressão séria e irritadiça: ‘’Tú está dando uma de lesada?!’’ Jogou de uma vez, irado ‘’Viu o estado do seu tio anteontem? Ele está um caco desde então, precisa de toda a ajuda possível. Você como sobrinha deveria estar com ele nesse momento. E, tipo, como amigo eu deveria estar lá também!’’.

De repente, ela ficou extremamente chocada: ‘’VOCÊ NÃO É AMIGO DELE! Vocês mal se conhecem, SHANNARO!’’ Rebateu com ódio, seus punhos se fechando em raiva consternada.

Boruto era seu amigo. Não de Itachi. Era com ele que ela trocava boas risadas, tinha boas conversas, eles compartilhavam uma vida desde que eram pequenos. Certo que tinha momentos que o Uzumaki a tirava do sério, porém, eram muito próximos e podiam superar isso. O loirinho era um ótimo amigo pra ela: Não queria que ele ficasse dando atenção pra Itachi, como seus pais.

...E para piorar, seu celular começou a vibrar: virou-se de costas para os dois meninos e bateu o pé na terra. Uma imensa cratera se formando ao redor, só com a raiva dela. Rosnou.

Sarada já sabia quem era no telefone, sua melhor amiga. A Akimichi estava ligando sempre que podia, exigia saber oque estava acontecendo em sua ausência e queria saber a todo o momento como estava o ‘Titio Bonitão’, como ela mesma o havia apelidado.

A amiga queria que Sarada lhe narrasse detalhadamente oque estava acontecendo, de modo que a garota não perdesse nada mesmo estando longe. Isso estava irritando a Uchiha, chegaram a ter uma pequena discursão, nada muito sério.

O problema era que sua amiga ficava lembrando-a a todo o momento o quanto Itachi era alvo de todas as atenções: Porque a todo momento Chouchou acrescentava o quanto ele era ‘gato’; ‘fabuloso’; ‘admirável’; ‘lindo’ e ‘maravilhoso’ – Nas palavras dela, claro!

O celular continuou a tocar irritantemente, o som atingindo o ouvido de todos.

‘’Não vai atender?’’ Mitsuki questionou, inocentemente.

‘’NÃO!’’ A morena suspirou dramaticamente: ‘’A vida da minha família tá turbulenta, agente quase nem dorme direito. Acho que ainda tem muita coisa mal resolvida lá em casa. A pequena fuga do Itachi deixou a todos muito exauridos. Então, vocês podem só parar de tocar nesse assunto? Deixem-me em paz por hoje. Por que todo mundo só fala dele?’’.

‘’Só estamos preocupados. O julgamento é logo, logo. Todos os jornais só falam disso. Aliás, todos no mundo inteirinho só falam disso. E ele tá muito mexido, dá pra ver!’’ O loiro voltou a argumentar, com uma expressão preocupada. ‘’Mas se você não quer tocar no assunto e ficar de boas, fica aí focada nesses testes estúpidos, eu vou voltar e ver como ele está!’’.

Com aquela afirmação, ela ficou vermelha de raiva, virou-se na direção dele soltando foco pelas ventas como um dragão ameaçador: ‘’Mas você é um intrometido, hein. Por que isso é tão importante pra você? Shannaro!’’

‘’Qual o seu problema, hein, garota?’’.

‘’Nada! Nadinha! Eu só não quero você de papinho com o Itachi. Até porque, ele nem vai te dar bola hoje! Tá enfurnado no quarto e nem fala com ninguém. Parece que meu pai foi lá tentar uma aproximação, mas tenho certeza que ele vai expulsar meu pai de lá a safanão!’’ Informou um tanto alto demais, como se ninguém pudesse ouvi-la dali.

‘’Oque só prova o quanto ele tá mexido. Agente tem mais é que insistir em se aproximar e ajuda-lo, sua lesada! Ele é seu tio, você deveria saber disso—(Da)ttebasa!’’.

‘’Se você acha isso, então vai então! Vai ficar com seu novo amiguinho!’’.

‘’Acalmem-se vocês dois!’’ O outro tentou se racional e se colocou entre eles, mas o circo já estava armado.

Boruto continuou indignado e falando: ‘’Oque você tem contra eu ser amigo dele? Por que está agindo assim? Fico louquinha é?’’ Disse estupefato ‘’Deixa de drama, Uchiha! Sinceramente, oque deu em você, hein?! Sarada, não estou te reconhecendo—(Da)ttebassa!’’

Oque estava acontecendo com ela? Bem, como deveria agir? Oque deveria fazer? Ficar parada enquanto seu relacionamento com seus pais e com seus amigos estava sendo ameaçado devido à interferência de um rival? Era impressionante a forma como Itachi conseguia monopolizar a atenção de todo mundo.

Ohhh...

...Só depois de pensar aquilo, foi quando a menina se deu conta de que seus sentimentos ciumentos estavam pingando de sua boca como veneno. Quer dizer, esse tipo de sentimento era tão normal como qualquer outro, o problema era que estava sentindo-o em uma intensidade muito forte que estava sendo destrutiva: E isso só porque durante aqueles dois dias toda a atenção estava sob Itachi. E ele verdadeiramente precisava de ajuda.

‘’Ai, Boruto!’’ Disse, tentando se retratar.

‘’Que foi sua louca? Esqueceu de tomar seus remedinhos hoje, foi isso né?’’ Argumentou ‘’Tá doida, parece até uma namorada ciumenta. Que mina chata...’’.

Cara, ela estava se sentindo tão miserável agora que tinha se dado conta: ‘’Desculpe-me, é que vocês só sabem tocar nesse assunto. Estou farta disto!’’ Tentou contra-argumentar.

‘’Farta de que? Não posso me preocupar com ninguém mais não? O cara tá lá precisando de ajuda e você aqui fazendo cena desnecessária. Ná boa, qual o seu problema?’’.

‘’Como você disse, todo mundo só está focado nisso. Até os jornais só falam nele... As pessoas buchicham sobre ele em todos os lugares dessa cidade. E eu sei que ele precisa de todo o cuidado nesse momento, mas tá me desgastando isso. Até repórteres vieram me atormentar querendo saber oque eu achava disso tudo... Do Julgamento e tals...’’.

O loirinho olhou-a desconfiadamente, mas nada falou. Foi Mitsuki que respondeu cordialmente, tentando acalmar os ânimos por ali: ‘’Não se preocupe, Sarada, eles só estão assim porque ainda está muito recente. É natural’’.

Tudo começou a se acalmar dentro da Uchiha...

Talvez ela estivesse se precipitando mesmo, era verdade. Estava deixando aquilo que sentia domina-la. E sabia que se não se policiasse, aquele ciúmes iria contaminar suas relações sociais, tanto com seus pais quanto com as demais pessoas a sua volta.

Seu celular tocou novamente. Ainda era Chouchou. Resolveu atender de uma vez e deixar aquilo que sentia escoar para bem longe. Olhou para as questões de seu livreto de testes, matutando: Ciúmes era igual à álgebra, só trazia problemas!

Por que estava tendo tais sentimentos em relação ao tio novamente? Pensou já ter superado isto. Ao que parece, não era assim tão fácil se livrar daquilo. Mas iria fazer o possível para tentar.

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Itachi P.O.V (Point Off View)

Desde que voltara passou o dia enfurnado no sótão, convidaram-no a descer e comer decentemente, da primeira vez ignorou, da segunda disse que estava indisposto, depois disso seu irmão e a esposa passaram a ser bem insistentes. ‘Persistentes’ talvez fosse a melhor definição, a questão era: Eles não se dariam por vencidos tão facilmente e o Uchiha sabia que havia algo acontecendo para ambos estarem assim tão invasivos quanto a sua privacidade.

Às vezes ouvia passos aqui e ali, mas sempre que virava sua cabeça na direção da porta do sótão na esperança de ver uma luz acessa ou a sombra de alguém à espreita no vazio, deparava-se com o nada. Sabia, no entanto, que não estava ficando louco: Seu irmão e a rosada foram algumas vezes até ali para verifica-lo. A mulher para averiguar sua saúde, afinal ele ainda tinha que tomar várias medicações para sua doença autoimune não sair do controle. Sua cunhada parecia excessivamente preocupada e seu irmão estava ficando neurótico.

Sua ida ao cemitério deve ter causado alguma comoção neles, e aquela altura Kakashi já deveria ter contado tudo oque aconteceu. Felizmente ninguém fez perguntas demais, apesar dele saber que em algum momento elas viriam. Sabia que estavam lhe dando tempo para se organizar mentalmente, mas chegaria a hora em que lhe questionariam...

Era bom que não tenham começado a fazer perguntas descabidas, não conseguiriam nem sequer uma palavra dele: Seus sentimentos e pensamentos ainda eram uma confusão. No fim não conseguia focar em nada especifico por muito tempo, pois logo cai em pensamentos mórbidos.

Estava tentando aguentar tudo. Realmente estava. As horas se arrastavam lentamente e por mais que não gostasse sentia-se sufocado. Estava triste e irritado ao mesmo tempo, sabia que estava assim não só pelo oque aconteceu, mas também porque faltavam pouco até o temido julgamento e isso lhe deixava um tanto apreensivo. Às vezes perguntava-se porque estava passando por tudo aquilo, sua vida parecia errada.  Ele só queria gritar.

Foi assim que pegou o equipamento ninja que tinha surrupiado de sua sobrinha, certamente não deveria estar com aquilo. Certamente não deveria estar usando aquilo naquele momento. Mas ali estava escuro, estava sozinho e longe de qualquer pessoa que pudesse vê-lo.

Ali podia deixar suas fraquezas se fazerem presentes, o impetuoso e frio Uchiha Itachi não precisava esconder-se atrás da carapaça de força e indiferença que sempre esbanjava. Podia deixar a dor escoar da única forma que sabia, a única coisa que afastava os sentimentos ruins...

Lentamente a Kunai rasgava a pele branca de alabastro, várias e várias vezes, o vermelho de seu sangue escorria pelos braços e pingava no chão. Pois aquela dor ele era capaz de suportar.

Foi aos 13, quando fez o primeiro corte. Porque ninguém nunca ia notar, ninguém nunca se importaria, ninguém via o quanto aqueles sentimentos machucavam. As roupas sempre esconderiam o corpo. Mangas e calças longas. E além do mais, ele era o grande e temido Uchiha nukenin sem coração que assassinou seu clã, quem imaginaria que uma figura tão maquiavélica quanto ele tivesse tantos problemas emocionais?

Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado

Quem diz que me entende nunca quis saber

Aquele menino precisa ser internado numa clínica

Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças ruins

Dos sonhos que se configuram tristes e inertes

.

Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha

E ... está trancado no banheiro

E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete

Deitado no canto, sangra

E a dor é menor do que parece

.

Quando ele se corta ele se esquece

Pois é impossível ter da vida sempre calma e força

Vive em dor, o que ninguém entende

Mas tenta ser forte a todo e cada amanhecer

.

Ninguém me entende, não me olhe assim como se eu fosse doente

Como se toda essa dor fosse inexistente

Nada existe pra mim, não tente

Você não sabe e não entende

.

Esse vazio conhece muito bem

A falta de esperança e o tormento

De saber que nada é justo e pouco é certo

.

E a alegria já não tem mais endereço

Está trancado no seu quarto

.

Eu sou um pássaro

Me trancam na gaiola

E esperam que eu cante como antes

O lugar estava um total silêncio, um zumbido de nada tocava seus ouvidos, seu corpo ficou mole e a penumbra do quarto escondia seus atos. O mundo ficou vazio por um breve momento. E então só havia aquela sensação: O frio cortante de metal em sua pele. Ali estava a dor de sua alma refletida em seu corpo, pura e simplesmente.

Estava sentado em sua cama, concentrado na sensação. Era cedo e ele não deveria estar fazendo aquilo. A lamina estava afiada, ardia, mas quase nem sentia. Naquele momento, aquilo era sua salvação. Sabia que era errado, não era o ideal. Porém, pelo menos, naqueles poucos segundos sentia-se mais aliviado.

Suspirou baixinho. Aquilo durava pouco, só promovia uma distração de seus verdadeiros problemas, sem nunca os resolver. Dessa vez, porém, durou pouco não pelos motivos que imaginava: O sangue ainda pingava no chão quando, abruptamente, ouviu passos largos se aproximando. ‘’Merda!’’ Soltou um grunhido em aborrecimento.

Não queria que ninguém soubesse, porque não entenderiam e ninguém apoiaria aquilo, iam começar a fazer perguntas. Assim a calma que sentia antes evaporou, seu coração acelerou e parecia que estava batendo em seus ouvidos e não em seu peito, teve dificuldade em esconder a Kunai em sua roupa de cama, suas mãos tremeram um pouco.

Tacou as cobertas em cima da mancha de sangue quando a porta do sótão abriu: Seu corpo se agitou bruscamente e de repente sentiu vontade de vomitar, mas conteve-se. Baixou rapidamente a manga da camisa longa e escondeu os cortes, mesmo que a pessoa já estivesse lá dentro pra ver esse gesto. Quase foi pego!

Seu coração ainda martelava duramente em seus ouvidos, seu pulso estava rápido e sua respiração irregular. Aquela visita claramente não era desejada, estava de costas para o visitante, seu coração ainda martelando tão alto que qualquer um podia ouvir, a sensação de alivio que sentia antes evaporou quase que instantaneamente, quase foi pego!

Detestava ser pego desprevenido, o desconforto nisso era esmagador. Já acostumara a perceber a presença de pessoas alheias em seu entorno, era um ninja afinal, sabia que seu irmão estava ali, mas o outro ficou quieto e assim Itachi deixou-o só observa-lo. Respirou profundamente, tentando se acalmar um bocado.

Isso lhe deu algum tempo para refletir sobre oque acontecia e ficar neutro por fora, enquanto que seus pensamentos ainda estavam muito tumultuados. Seu braço ardia e talvez manchasse a manga da blusa hora ou outra. Mas ainda tinha tempo, podia despistar seu irmãozinho...

Ficou olhando para o chão enquanto Sasuke estava em silencio: Pareciam ter se passado minutos assim. Ao menos, conseguiu ficar mais calmo e indiferente, tudo estava sob seu controle novamente.

Seu irmão sempre ia ali em cima para conferir se estava mesmo lá, afinal parecia temer que ele simplesmente evaporasse do nada, como se temesse que sumisse da mesma forma que apareceu, abruptamente. Sasuke ia com tanta frequência em seu quarto que tornou-se consciente dele mesmo quando nem estava prestando a devida atenção: Mas não gostava de todo aquele cuidado. Muito menos naquele momento em específico.

‘’Precisamos conversar, Aniki!’’ Ouviu a voz intensa de seu irmão retumbar, e ainda parecia que o outro estava meio tenso. Pelo visto, a tal conversa não seria a das melhores...

...Por um momento pensou que seu irmão descobriu seu segredo vergonhoso, mas depois se deu conta de que ele poderia querer conversar por vários motivos distintos além daqueles cortes em seu braço.

Respirou fundo e foi sincero: ‘’Não tenho nada para falar com você no momento, Otouto. Deixe-me sozinho’’ Talvez estivesse sendo um pouco áspero, então tentou corrigir-se ‘’Não quero ser grosseiro, só quero ficar no meu canto por agora!’’

Antes, estava tentando se acostumar com aquela nova vida. Tentando compreender como conciliaria seu passado assombrado com aquele futuro cheio de possibilidades. Estava começando a se entender com sua sobrinha, sua cunhada era legal com ele e seu irmão estava estimando-o mais doque ele merecia.

Agora, seus desejos não estavam alinhados com a realidade: Pois, no fundo, queria mesmo que tudo se acertasse em suas vidas, para que ele e sua nova família pudessem seguir em frente de cabeça erguida. Mas como fazer isso? Como superar toda a aquela culpa e martírio pelo massacre dos Uchiha? Sendo que toda aquela chacina ainda aparecia em sua mente como um filme interminável. 

Estava se sentindo tão perdido e confuso. Sabia que iria acontecer mais cedo ou mais tarde, por isso queria ficar sozinho e se ajustar: Estava sensível demais, temia fazer e dizer merda naquelas condições emocionais.

Sasuke grunhiu com um indicio de sua irritação, parecia que ele não era o único ficando desconfortável: ‘’Qual é o seu problema, Itachi?! Estou tentando acertar as coisas... Estou querendo te ajudar. Ajudar a nós dois, aliás’’ Resmungou tentando ser cordial.

‘’Só quero um tempo!’’ Grunhiu de volta, de forma estúpida. Não conseguiu segurar o desespero em sua voz, justo ele que sempre foi uma pessoa séria e inexpressiva na maior parte do tempo, era estranho ter todos aqueles sentimentos saltando pra fora de si assim tão descontroladamente. Não estava habituado a tal coisa: Mas aquela situação lhe deixava tão tenso...

Era aquele cemitério, era aquela família nova que tinha, era aquele nova vida, era aquela marcação da data do julgamento, tudo estava fazendo-o surtar de uma maneira que nem sabia que tinha a capacidade.

...Isso o fazia se lembrar dos dias que antecederam o massacre: Tinha ficado muito estressado, ao ponto em que achou que teria um colapso nervoso. 

Foi trazido de volta a realidade quando ouviu seu irmão suspirar pesadamente, também irritado: ‘’Ficar sozinho nesse sótão não esta lhe ajudando. Talvez devesse finalmente virar e interagir comigo. Ajude-me, Aniki, eu não posso fazer isso funcionar sozinho. Estou aqui do seu lado para ajudar, então o melhor a se fazer em nome de nossa sanidade é se beneficiar disso’’ Postulou, mas a forma em que falou parecia mais uma ordem doque um pedido.

Itachi suspirou. O moreno de cabelos longos amava seu irmão, porém, naquele momento estava achando-o muito invasivo. Respirou fundo e ficou quieto por um longo momento, visualizando a situação toda analiticamente, depois deixou sua postura se endireitar e ficar séria: Tentou tampar os buracos de seu coração, esconde-los, e então assumiu o autocontrole total. Deixou seu coração se tornar frio pra lidar com a situação, ficou indiferente e vazio, podia assumir aquela postura facilmente.

‘’Itachi?’’ A voz de seu irmão voltou a tocar seus ouvidos, dessa vez parecia um tanto insegura ‘’Vamos, só quero conversar... Precisamos...’’ Ele parou e suspirou, tentando esclarecer sua mente ‘’Não vou conseguir sozinho. Ajude-me!’’ Rogou, e dessa vez a voz parecia menos mandona e mais amiga.

Aquilo lhe surpreendeu, seu olhos se abriram mais. Foi quando aquelas coisas que a mulher de seu irmão disse-lhe ecoaram por sua mente: Que ele não precisava ser forte o tempo todo e nem lidar com tudo sozinho. Ela tinha razão.

Seu autocontrole e frieza se foram rapidamente, desmanchou-se, pois percebeu que assim como Sasuke, também precisava de ajuda. A noite de anteontem foi a prova de que, ao longo do tempo, aquilo tudo oque tentava esconder e ocultar dos outros não ficava debaixo dos panos por muito tempo: Sua postura estoica e vazia se foi e resolveu não mais fugir. Talvez fosse bom mostrar o quão quebrado e estilhaçado estava.

E pensando nisso e em tudo oque a rosada já conversara anteriormente: Talvez ela estivesse realmente certa e ele estivesse meio depressivo. Talvez Kakashi estivesse realmente querendo lhe orientar quando disse-lhe para buscar ajuda o quanto antes...

O lugar estava calmo e um tanto escuro, tentou se tranquilizar para então virar e falar com o outro pacificamente.

Entretanto, parecia que seu irmãozinho já estava se enfurecendo com seu silencio prolongado, vendo essa atitude como desdém: ‘’Itachi!’’ Ouviu a voz de seu irmão trovejar intensamente pelo local, fazendo um pouco de eco. O timbre lembrava-o de seu pai, Fugaku. Era obvio que estava ficando raivoso: ‘’Não se faça de surdo. Eu estou falando com você!’’.

É claro que seu irmão começaria a ficar bravo, ele nunca foi o pilar da paciência. Suspirou brandamente: ‘’É, ao que parece você ainda está aqui!’’ Disse, virando-se na direção do outro em seu Futton, mas ficando sentado em cima de suas pernas. Quando seus olhos se cruzaram, encararam-se por alguns minutos.

Sasuke parecia um tanto retesado, como se estivesse pensativo e dominado por ideias apreensivas e problemáticas, dava para ver que estava um tanto aflito. Já Itachi, estava aborrecido.

‘’Você não parece feliz em me ver!’’ Seu Otouto grunhiu.

O tom da voz de Sasuke era um bocado desagradável. Por isso Itachi quis retomar os rumos daquela conversação embaralhada: ‘’Vamos do começo, só para eu me situar e saber se estamos na mesma página’’ Jogou, tentando se acalmar e manter a situação o menos conflituosa possível. ‘’Porque você está aqui? É cedo...’’ Resmungou devagar, como se estivesse querendo transparecer cautela. 

Entretanto, o outro olhou-o com repreensão: ‘’Você sabe porque estou aqui!’’ Seu irmão soou obstinado, seus braços cruzados sob o peito e sua expressão sisuda. Estava de pé, duro e inflexível.

A expressão de Itachi azedou imediatamente. Existiam tantos motivos para seu Otouto estar ali, um deles estava gritando naquele momento: O ardor em sua pele estava se espalhando e estava ficando mais difícil ignorar sua existência e, além disso, o motivo para sentir aquilo.

Seu braço ardia duramente, começou a sentir o sangue manchar demais a manga de sua blusa de forma que teve que segurar o local com a outra mão e apertar para tentar estancar por algum tempo e, ao mesmo tempo, para que Sasuke não vise aquilo.

Mas sempre foi bom na arte de fingir. Itachi olhou para o outro com uma expressão vazia em seu rosto, como se nada tivesse lhe acontecendo: ‘’Não. Eu não sei porque está aqui assim tão cedo. Você disse que quer conversar... Sobre oque?’’ Se fez de desentendido.

Foi quando outro se aproximou dele bruscamente, abaixando-se no Futton para ficar na mesma altura. E então Sasuke tocou-lhe os ombros com ambas as mãos e olhou-o penetrantemente: ‘’Você foi ao cemitério no outro dia!’’ Afirmou de uma vez.

O sangue de Itachi gelou: ‘’E... Você está zangado? Porque eu visitei o tumulo das pessoas que eu mesmo matei?’’ Começou devagar ‘’Olha, se for isso. Não se preocupe, não vou fazer de novo!’’ Assegurou com firmeza.

O outro fez uma expressão inesperada: ‘’Não... Não. Não é nada disso!’’ Seu irmão se explicou rapidamente. Sasuke atravessou o minúsculo espaço que havia entre eles e puxou Itachi para mas próximo de seus braços: ‘’Não é nada disso, eu só quero conversar. Saber como está, você anda tão distante!’’ Falou preocupado.

Aquele ato estranho foi alarmante e repentino demais. Não estava esperando isso de seu irmãozinho. Oque estava acontecendo? Sobre oque exatamente ele queria conversar? E desde quando seu irmão ficou tão meloso? Seu Otouto devia estar MESMO bastante preocupado para estar agindo assim de uma forma tão antiquada para os padrões dele.

Ficou inquieto com as atitudes estranhas do outro: Seu irmão estava lhe tocando suavemente, aquilo era uma pequena surpresa agradável. Mas seu braço ainda estava sangrando um pouco mais abaixo de onde seu Otouto estava segurando-lhe. Então, tudo oque conseguia pensar era que estava ardendo, sua pele estava pinicando e fervendo...

Afastou-se dos braços do outro delicadamente: ‘’Eu não estou muito bem, mas vou sobreviver, é só um período conturbado. Oque exatamente quer falar sobre isso, aonde quer chegar?’’ Questionou de uma vez. Queria que seu irmão abreviasse o assunto e partisse para que pudesse cuidar daquele corte... Ou fazer mais deles em sua pele, quem sabe?!

Seu Otouto olhou-o com cuidado, como se temesse falar alguma besteira: ‘’Depende... Foi um passo e tanto ir até seus túmulos. Você quer falar alguma coisa sobre sua ida até lá?’’ Questionou zeloso, como se tivesse pisando em ovos. Estava sendo tão afável de repente que chegava a ser bizarro.

‘’Eu acho que não tenho nada para falar sobre isso. Olha, eu não quero falar disso, mas... Eu estou bem!’’ Mentiu, era tão bom nisso que só um resmungo costumava servir. Era tão bom nisso que saia naturalmente: ‘’Então... É só isso?’’ Disse de forma um tanto rude novamente, mas isso porque temia que Sasuke visse oque tinha feito de sí. E também porque estava estranhando o comportamento do outro Uchiha.

‘’Você está estranho, Itachi!’’ Disse o outro, relutantemente.

‘’Não estou não. Você é que está!’’ Resmungou. Depois seu braço pinicou novamente, a culpa estava batendo nele fortemente e agora sentia vergonha por ter se cortado tão profundamente. Se seu irmão não saísse, logo ficaria impossível esconder o sangramento dele.

‘’Vamos conversar, por que está me evitando?’’

‘’Eu não estou lhe evitando. E eu estou bem, deixe de paranoia!’’ Repeliu-o com mais uma de suas mentiradas.

‘’Eu imaginava que fosse dizer isso. Sei que é mentira quando diz que está bem’’ Sasuke insistiu ‘’Não vou sair daqui enquanto não conversarmos, Itachi’’ Disse firmemente, parecia decidido em continuar com aquilo.

Não conseguiria fazer seu irmão desistir, mas poderia enrola-lo: ‘’Esse lanche aí é para mim?’’ Questionou, mudando de assunto, e na realidade estava mesmo com fome considerando que não comeu quase nada no dia anterior.

A principio o outro parecia ter caído na armadilha: ‘’Sim’’ Seu irmão murmurou e passou-lhe a bandeja calmamente. ‘’Mas ainda precisamos conversar! Não pense que vai desviar do assunto!’’ Disse com severidade.

Certo, estava tomando o caminho errado. Suspirou longamente e decidiu recomeçar: ‘’Vamos começar do início de novo. Bom dia, Otouto. Como você vai?’’ Disse com certa ironia. Nem sequer tocou na bandeja porque senão teria que tirar a mão que estancava o sangramento, que estava se tornando intenso. Como Sasuke ainda não tinha notado aquilo?

Ele só queria que seu irmão não visse aquilo ou o outro moreno ia surtar, Sasuke era meio bipolar, tanto que já estava deixando de ser preocupado e estava ficando raivoso com sua postura de descaso;

‘’Olha Itachi, estou tentando ser paciente com você, tá bom?!’’ Rebateu já ficando incomodado ‘’Depois de tudo o que aconteceu, sei que será mais difícil de se levar. Mas não conversar sobre isso não é uma opção agora. Não dessa vez. Então colabora comigo, vamos caminhar juntos, você e eu, e discutir o que aconteceu. Precisamos falar disso e do passado. A Sakura disse que-’’ Foi cortado bruscamente.

‘’Não!’’ Rebateu quase que automaticamente ‘’Eu não tenho nada pra falar sobre o passado. Não quero falar. Não com você. Não com você porque esteve envolvido naquele aquele massacre horrível. O passado deixou marcas devastadoras em ambos e temo vasculhar isso, foram experiências muito traumáticas. Por isso tudo, não quero compartilhar meus sentimentos com você’’ Disse de uma vez, surpreso consigo mesmo por ter dito a verdade tão cruamente.

Aquilo trouxe a memoria do cemitério tudo de novo, todas as memórias queimando em sua mente de forma dolorosa. De repente, sentiu a vontade insana de voltar a se cortar. Se Sasuke não estivesse ali... Por que ele não ia embora?

‘’Vá embora, Sasuke! Só vá embora!’’ Rogou com insistência.

...Ter ido aquele lugar deixou-o com sentimentos estranhos e controversos, a incerteza tomava conta de si. Uchiha Itachi sempre esteve certo de seu destino, pois tudo o que lhe aguardava tinha de ser uma eternidade de castigos, por todas as mortes horríveis que causou.

E não estava pronto para conversar com seu irmão, que estava próximo demais de sí em seu Futton, sentia-se tenso ao redor dele: Depois de tanto sofrer, estava um tanto esgotado, ter ido ao cemitério lhe fez sentir-se oco.

Começou a pensar que estava perdendo o controle novamente. E se seu irmãozinho não saísse, veria toda a sua dor estampada em sua pele.

O ambiente estava calmo e seguro ao seu redor, porém estava nervoso, perguntava-se oque exatamente os Ōtsutsuki queriam trazendo-lhe a uma vida após a morte. Sabia que seus tormentos sempre o seguiriam, mesmo que se abrandassem. A culpa o aniquilava, mas ao menos ter visto os túmulos de seus familiares fez com que ele pudesse compreender melhor seus sentimentos com relação a tudo oque aconteceu. Mas ainda doía tanto!

‘’Não vou embora, Aniki. Eu estou aqui com você. Pra você!’’

‘’Eu quero ficar sozinho, Sasuke!’’ Quase suplicou, sua voz deve ter saído quebrada e seu rosto deve ter transparecido seu sofrimento, pois o outro moreno olhou-o desesperado.

‘’Calma, Aniki!’’ Falou se aproximando novamente e querendo passar algum conforto, mas Itachi afastou-se dele num movimento rápido.

‘’Eu não quero conversar. Não estou pronto!’’ Revelou, sendo inteiramente franco quanto aquilo. Era uma observação sincera.  

Sasuke olhou-o com compreensão e sutileza: ‘’Entendo, eu também não estou. Começo a pensar que estamos nos acovardando...’’.

Levantou uma sobrancelha confusa: ‘’Como assim?’’ Sussurrou.

‘’Porque... Bem... Somos irmãos e mesmo que seja difícil precisamos nos entender, mas estamos nos acovardando. Mas, sabe oque me consola nesta situação toda?’’.

‘’Oque?’’.

‘’É que por mais horrível que seja nosso passado, o relacionamento fraterno que temos é um dos vínculos mais duradouros que existe’’ Sasuke tornou a ir a na sua direção, chegando ainda mais perto e dessa vez Itachi não se afastou: ‘’Sei que é difícil, eu mais doque ninguém sei que é. Mas se você não vai falar, só me escute então!’’.

Fez uma carranca dolorosa, tentando se afastar de novo, mas não obtendo sucesso: ‘’Eu não preciso escuta-lo, você quer falar do passado, mas oque eu sei do passado é que provavelmente lhe causei uma dor irreparável e que, ao assassinar nossa família, deixei-o impotente e desamparado... Então, falar disso... Não vai me fazer bem... Podemos não conversar?’’.

Sasuke suspirou, claramente já se cansando da rejeição continua dele: ‘’Agente vai ter que falar disso em algum momento Itachi... E eu não quero falar do meu ódio, você já sabe o quanto eu detestei você. Porque, sim, durante muito tempo eu te odiei. Você sabe disso e sabe dessa minha jornada de vingança. Isso é passado. Mas sabe oque eu descobri? Que dizem a verdade quando falam que amor e ódio são separados por uma linha muito ténue’’.

Balançou a cabeça em negação: ‘’Eu não quero falar sobre isso... Deixe-me em paz!’’ Dessa vez realmente suplicou.

E Sasuke claramente saiu do sério, sua paciência declinou. A expressão facial que tinha era dolorida e raivosa ao mesmo tempo, o moreno se levantou bruscamente e se afastou irado: ‘’Você pode escolher, ou vai ser aqui e agora. Ou será lá no tribunal na frente de todo mundo, com seus sentimentos ainda cru! E os meus também!’’.

‘’Não!’’

‘’Sim!’’ Rebateu Sasuke irritadiço e impulsivo, toda a sua frustração agora a mostra: ‘’Escute, estou lhe dando a oportunidade de trabalhar essas angustias aqui, hoje. E não na frente de vários desconhecidos pela primeira vez. Mas você faz como você preferir, tá legal!?’’ Disse com raiva ‘’Essa sua atitude já está me enchendo!’’ Ele começou a vira-se e sair bruscamente.

Era para estar contente que conseguiu faze-lo sair. Porém, não era bem assim que ele queria fazer seu irmão ir. Não queria arrumar mais confusão e brigas pra sí. E também não queria irritar o outro...

‘’Não! Espera!’’ Suplicou novamente, sem saber que tinha falado. Seu irmão se virou lentamente e observou-o clinicamente.

‘’Que foi? Eu estou indo embora, como você quer, não é?’’.

‘’Não. Eu...’’ Demorou alguns segundos, mas conseguiu dizer: ‘’Bem, você está certo... Sim... Eu... Tenho algumas coisas pra falar!’’ Suspirou em derrota.

O outro moreno estudou-o por um longo tempo, como se quisesse averiguar que estava finalmente falando a verdade. Quando viu que era: ‘’Agora estamos falando a mesma língua’’ Disse, se aproximando novamente.

Agora a expressão de Sasuke ficou mais neutra. Sentou-se na frente dele no Futton uma outra vez, estavam frente a frente e cara a cara novamente.

‘’Mas... Vamos aos poucos, certo?’’ Pediu, um tanto incerto com o futuro rumo daquela conversa.

Estavam ali para colocar as coisas a limpo de uma vez e temia que os rumos daquela conversa fosse afasta-los ainda mais ao invés de uni-los. Isso o deixava inquieto e receoso. Aquilo podia envolver coisas positivas, com resultados mutuamente satisfatórios no final. Ou então podia ser uma conversa totalmente destrutiva, envolvendo afetos negativos e com um resultado completamente insatisfatório. 

‘’Tudo bem, Aniki’’ Suspirou pesadamente ‘’Vamos começar com o mais essencial...’’.

‘’E isso seria?’’ Questionou lentamente, com medo da resposta.

‘’O julgamento é daqui a 48 horas...’’ Falou sendo um pouco ácido e malcriado. Como se ainda estivesse com raiva e precisasse descontar isso nele.

‘’Ohh!’’ Exclamou, um tanto aterrorizado ‘’E...’’.

‘’E já planejei quase tudo’’ Afirmou com certa amargura ‘’Eu estou com algumas copias dos papeis que enviamos ao júri aqui se você quiser dar uma olhada nisso. O papel que comprova a ordem da missão que lhe foi dada e algumas coisas do tipo...’’ Falou com pesar.

Isso suscitou um receio e medo irracional no Uchiha de cabelos longos. Lembrou-se de quando recebeu aquela missão, de tudo oque sentiu: ‘’Eu não quero olhar esses papeis. Se diz que está tudo certo, então confio em você!’’.

Sasuke suspirou cansadamente. Depois pareceu mais retraído: ‘’Imaginei que fosse dizer isso’’ Informou, depois pareceu um tanto chateado. ‘’Sabe, ver esses papeis... Pensei que isso fosse fazer meu estomago revirar, de certa forma até fez. Mas tem outra coisa que mexeu comigo...’’.

‘’Oque?’’ Disse em dúvida. Oque poderia ser pior que a ordem do Massacre?

‘’Um vídeo...’’ Afirmou relutantemente e Itachi ficou gelado e branco quanto um fantasmas, crendo que era sobre o massacre. Depois Sasuke esclareceu: ‘’É um vídeo de sua turma Gennin. Eu não sabia que você foi o orador de sua turma na academia. Claro, eu já deveria ter imaginado, você era excepcional em tudo. Então era razoável que lhe dessem a oportunidade de fazer o discurso de formação de sua turma ao posto de Genin’’.

O coração de Itachi voltou a bater. Que susto seu irmão tinha lhe dado. ‘’Oque tem de mais no meu discurso?’’ Questionou, sem entender o repudio do outro.

‘’Oque não tem de errado no seu discurso, você quer dizer, né? Na verdade, o discurso não foi ruim. O pior foi o juramento!’’ Retrucou Sasuke ‘’Você tinha só sete anos... Mas é estranho ver que desde essa época você já era tão abnegado à Konoha’’.

‘’O juramento é padrão. Até você recitou-o, quando se formou’’ Disse na defensiva.

Seu irmãozinho fez uma careta: ‘’Não foi o juramento em si. Mas foi você quem o recitou em cima daquele palanque, na frente de todos. E você não só leu aquela porcaria... Dá pra ver em seu tom de voz, você acreditava em toda aquela baboseira!’’ Disse me repulsa.

O Uchiha de cabelos longos revirou os olhos dramaticamente, e sabia que se abrisse a boca pra falar oque estava pensando iria irritar o outro. Entretanto, falou mesmo assim. Ainda que isso lhe colocasse numa situação de embaraço:

‘’A única base de todo o ensino moral de um Shinobi de Konoha pode ser dito, com a frase mais breve, e consisti no espírito de altruísmo. Portanto, humildade em lugar de ostentação, auto sacrifício em lugar de egoísmo, tolerância em lugar de impetuosidade e completa submissão à autoridade são as principais características do código moral Shinobi. Prega-se submissão à autoridade, prontidão total dando voz para o próprio senhor, e auto sacrifício de todo interesse privado, seja de si mesmo ou de família, para o bem comum. Assim, o que define o País do Fogo em ensino é a moral do auto sacrifício’’ Retumbou Itachi.

— Era aquilo que disse aos sete anos, oque todos os Shinobis declaravam, aquele era o juramento.

‘’Você ainda se lembra de cada uma destas palavras?’’ Rebateu seu irmão, completamente indignado. ‘’Então é verdade, você realmente acredita nessa besteira!’’.

Mas o moreno de cabelo longos continuou:

‘’Com esse juramento, assim se pauta nossas regras ninja: Um shinobi deve sempre colocar a missão em primeiro lugar. Um shinobi nunca deve mostrar suas lágrimas. Um shinobi deve ver os significados ocultos dentro dos significados ocultos. Um shinobi deve seguir as instruções do seu comandante. Um shinobi deve se preparar antes que seja tarde demais para fazer isso. Um shinobi nunca deve mostrar qualquer fraqueza. Um shinobi nunca deve demonstrar seus sentimentos. Um shinobi deve sempre suportar qualquer tipo de evento de forma paciente, neutra, complacente e subserviente. O shinobi que quebra as regras é como lixo’’.

‘’Filho da...’’ O outro rosnou de raiva, mas logo se conteve ‘’Oque fizeram com você? Uma maldita lavagem cerebral?’’.

‘’Estas são as leis e princípios que regem a vida Shinobi!’’.

‘’São’’ Concordou Sasuke ‘’Oque não significa que você deve segui-las ao pé da letra, seu grande idiota!’’

‘’São regras, princípios e normas que organizam uma sociedade. A culpa não é minha se as outras pessoas não levam as regras tão a sério quanto eu. Você, meu irmãozinho, tem uma clara habilidade em quebra-las. Não me culpe por não ser capaz de fazer o mesmo!’’

‘’Eu as quebro quando foram tiranos que as fizeram. Às vezes Itachi... Mas só às vezes, quebrar as regras não é imprudência, e sim a busca por justiça e liberdade!’’

Itachi refletiu rapidamente... E logo chegou ao veredicto: ‘’É... Talvez. Quando você ficou tão inteligente, Otouto?’’.

‘’Alguém aqui tinha que ser o gênio da família’’ Caçoou Sasuke, com um humor cínico.

Ia rebater também. Foi quando o braço de Itachi ardeu mais e o sangue fluía sem que ele quisesse. Já não dava pra esconder. Sua pulsação era frequente e intensa, o vermelho saia quente e feroz. Mais cedo ou mais tarde sabia que isso ia acontecer: E estava desconfortável e dolorido.

O moreno de cabelos longos abaixou o olhar, tirou a mão do corte deixando o sangue fluir livremente, descendo como cascata por seu braço e manchando todo o caminho de vermelho intenso. Sasuke parecia não ter notado, devia achar que desviou o olhar para não encara-lo. Mas minutos passaram-se e então, finalmente, seu irmão acompanhou seu olhar... 

O lugar estava escuro, mas isso não o impediu de perceber os detalhes, não com os olhos poderosos que seu Otouto esbanjava. E assim ficou em choque: ‘’Que- porra- é- essa?’’ Sasuke se aproximou ainda mais, invadindo seu espaço pessoal e tomou seu braço em suas mãos avaliando o dano. ‘’Quem fez isso? Quando?’’ Seu irmão respirou profundamente tenso, dali Itachi podia ouvir o coração dele pular uma batida, tudo pânico.

‘’Eu fiz isso, Sasuke’’ Disse claramente, já não dava pra continuar a mentir.

A face de seu irmão ficou ainda mais branca, pálido como se fosse desmaiar: ‘’Quando?’’.

‘’Hoje. Um pouco antes de você chegar’’ Murmurou fracamente ‘’Só não conte pra Sakura. Não ainda. Ela vai me olhar com aquela cara de ‘Eu sabia’!’’.

O outro olhou com pavor: ‘’Não!’’ Afirmou estarrecido ‘’Ela vai é te internar na ala psiquiátrica lá do hospital... E você não vai sair de lá tão cedo!’’ Rebateu ‘’Qual o seu problema? Porque fez isso?’’ Questionou num estado de inquietação e ansiedade.

O moreno só deu de ombros: ‘’Você ainda precisa que eu explique? Era você que estava esfregando na minha cara o quanto eu sou abnegado à Konoha, isso ainda agorinha, e você sabe muito bem onde isso me levou! ’’ Disse simplesmente.

E foi quando Sasuke explodiu de raiva e fúria novamente, levantando-se com uma carranca e fechando os punhos fortemente: ‘’Não vem falar merda pra mim. Eu também tenho problemas e não fico fazendo essa merda aí!’’ Rosnou ‘’Eu perdi tudo oque conhecia, todas as bases que eu tinha se foram. Foi difícil no começo, mas eu sobrevivi, não é? Eu não precisei fazer essa besteira. Olha isso! Você ficou maluco? Tá doido é?’’ Questionou frenético.

‘’Não! Isso não é coisa de doido!’’ Rebateu, na defensiva.

‘’ENTÃO ME DIZ! QUE PORRA É ESSA AÍ?’’ Grunhiu em pura indignação.

Foi quando Itachi achou que chegou a seu limite, seus olhos arderam e sentiu-se em sofrimento e tormento. Queria começar a explicar o mais honestamente que conseguia: ‘’Eu... Tentei... Tentei a todo custo me reerguer, reconstruir minha vida e reorganizar minha cabeça depois da morte dos nossos pais. Foi um grande desafio emocional... Mas você não sabe como foi...’’ Disse com os olhos transbordando de dor e um tanto marejados também.

‘’EU NÃO SEI?’’ O outro olhou-o com fúria transbordando em seu olhar: ‘’Eu fui oque mais foi pego de surpresa nessa situação e você vem dizer para mim que eu não sei como foi?’’

‘’Sasuk-‘’ Tentou acalma-lo e explicar. Mas Foi cortado duramente.

‘’CALA A BOCA, que agora você vai me escutar!’’ Gritou ‘’Você matou nossos pais e nossos familiares numa noite, me infernizou. PRÁ PUTA QUE PARIU QUE EU NÃO SEI COMO FOI! Aquele massacre acabou comigo, foi brutal!’’ Raiva. Sasuke estava transpirando raiva por todo o cômodo. ‘’E TUDO PORQUE? Por causa da MERDA de Konoha!’’.

Sasuke tinha um humor tão instável. Mas sabia que seu irmão era assim, quando algo machucava-o ele esperneava, gritava, agia com agressividade... Era assim que mostrava toda a vulnerabilidade de seus sentimentos.

...Mas olhando para o fundo dos olhos de seu irmão dava para ver, toda a dor e pesar: Seu Otouto ainda estava muito machucado com aquilo. E quando seu irmão estava ferido ele exibia raiva, ódio e violência.

Sabia como a mente de seu irmãozinho deveria estar com aquilo, uma grande bagunça como a sua própria; as lembranças tomam conta de sua cabeça, como flashes pavorosos, e o mundo todo se quebra e desaba. Itachi sabia como era porque vivia constantemente a mesma coisa.

‘’Era por isso que eu não queria conversar com você... Tá vendo!?’’ Sussurrou quase que em um soluço.

‘’Ah, VAI PRA MERDA, Itachi!’’ Disse, andando de um lado a outro do sótão: Ainda muito raivoso e cheio de ódio. Seu Chakra estava totalmente descontrolado e dava para ver a áurea assassina que emanava, uma coisa monstruosa e medonha.

Mesmo assim, o outro não se intimidou, sempre foi suicida: ‘’Você não me entende e eu, até te entendo, mas não posso ajuda-lo. Nós dois carregamos tristezas demais...’’ Retrucou destruído. Ah, cara, ele ia se cortar muito quando seu irmão saísse...

Ele causou aquilo, e aquilo marcou tanto ele quanto seu Otouto. As memorias pavorosas nunca sumirão pra ambos. Agora, sentia como se estivesse se afogando e não pudesse mais respirar com tanta angustia...

‘’E VOCÊ ACHA QUE SUA DOR FOI MAIOR QUE A MINHA?’’ Sasuke atirou, raivoso demais.

‘’Não sei. Mas me odiar fez de você mais forte, enquanto eu só podia me afogar na tristeza, na desilusão e na culpa. Você tinha um objetivo, isso te fez seguir em frente. Você colocou toda a sua raiva, rancor, dor e violência pra fora de você.  E eu apenas direcionei esses sentimentos ruins pra mim mesmo. Pois como você mesmo disse, matei nossos pais e nossos familiares numa noite. Como eu poderia não me odiar? Como eu poderia suportar isso?’’ Soltou um suspiro sufocado por lágrimas. Foi quando não pode mais conter...

...Agora seu autocontrole foi definitivamente pelos ares. Estava sentindo algo quente e salgado escorrer por seu rosto, e não resistiu mais, Itachi deixou os espasmos estremecerem seu corpo enquanto soluçava. Toda a tristeza veio de uma vez.

Eles o avisaram, quando aceitou aquela missão terrível, que seria difícil. Entretanto, nunca lhe falaram sobre o dano psicológico que causaria; nunca mencionaram os anos de isolamento, os anos em que teria de viver uma mentira, os anos sem família, sem pátria, sem nada. Os fantasmas quebravam sua mente. A dor também. E doía ainda mais saber que seu irmão menor ainda estava tão ferido com aquilo tudo, mesmo que não transparecesse tanto.

‘’Me desculpe...’’ Ele estava afundando para baixo, e para baixo. Afogando-se e caindo, sem chance de voltar à superfície. As coisas do passado assomavam-lhe. Estava perdido, aquela figura tão centrada que sempre foi à luz do dia estava desmoronando na frente do outro moreno.

‘’Porque me pede perdão?’’ Sasuke provocou-o com aspereza e desprezo em sua voz e atitudes ‘’Quando você voltou com o Edo, disse que eu não precisava lhe perdoar!’’.

‘’Eu lembro’’ Disse, ainda soluçando, as lagrimas ainda caindo. Já estava frágil psicologicamente, e aquela conversa só o desestruturou mais. ‘’Sei que digo pra me perdoar. Mas o problema é meu... Eu peço isso pra ver se alguma coisa nisso me consola, porque sei que mesmo que me perdoe, eu jamais vou me perdoar’’.

Seu irmão parou e observou-lhe, viu atentamente quando Itachi caia em prostração e lamentava. Ficou ali parado enquanto o outro deixava seu pranto rolar por seu rosto: Dava pra ver que enquanto chorava exprimia grande pesar, dor, desgosto e tristeza. Era até deplorável.

Sasuke percebeu a verdade nisso e se tocou, aproximou-se lentamente, sua raiva diminuiu e assim sentiu-se culpado por como agiu: ‘’O pior é que eu sei disso, Aniki! Sei que você não vai se perdoar nunca!’’ Resmungou, deixando a própria raiva de lado e percebendo sua mancada.

Itachi fungou. ‘’Que bom que sabe!’’.

‘’E por mais que eu fique irado com tudo e queira gritar e lhe odiar... Eu não posso deixar de me sentir um merda por fazer isso. Bater em cachorro morto não trás nenhum consolo pra mim. Sei que todos os sentimentos ruins já é penitência demais pra você!’’.

O clima se abrandou e já não sentia aquela coisa medonha no Chakra do outro. Seu irmãozinho já estava muito perto, então só estendeu os braços e abraçou-lhe apertadamente: Foi quando o corpo de Itachi ficou rígido com a atitude repentina.

Na maioria das vezes o relacionamento fraterno deles era uma bagunça sem limites. Então era meio estranho compartilhar um abraço juntos, principalmente depois de uma explosão de fúria como a anterior.

Seu irmão adulto não parecia ser exatamente carinhoso: Então, apesar de aquilo não ser ruim, era extremamente estranho. Porque, de repente, Sasuke estava lhe abraçando? Ele sentia tanta pena assim? Itachi não queria ser alvo de compaixão.

Não que ele não gostasse do afeto repentino do outro: Abraços eram melhores que aquela raiva e gritaria anterior. Ele poderia até ter dormido ali naqueles braços quentes, aquilo era confortável, principalmente depois doque haviam acabado de compartilhar. Mas aquilo ainda era bizarro e esquisito.

‘’Eu não quero seu compadecimento!’’ Retrucou, tentando sair dos braços do outro, desconfortável com aquilo.

‘’Não, isso não é pena... Isso é culpa. Eu estava sendo egoísta. Eu vim aqui pra conversar com você e só estou causando uma catástrofe maior’’.

‘’Oque?’’ Murmurou confusamente.

‘’Eu falhei completamente com você, não é?’’ Jogou seu Otouto, ainda lhe abraçando ‘’Eu deveria ter percebido. Deveria ter notado que você voltaria da vida após a morte e ainda estaria quebrado. Como eu. Aqui não cabe dizer quem sofreu mais. Ambos continuamos sofrendo e temos que lidar com isso!’’.

Itachi assentiu e se afastou para olhar em seus olhos: ‘’Sim. Você sabe oque eu fiz, eu só quero que saiba que eu sinto muito’’ disse com os olhos nublados de lágrimas.

‘’Eu sei. Estou vendo isso!’’ Disse-lhe o outro, mais calmo e também com lagrimas em seus olhos: ‘’E eu quero que saiba que eu ainda estou ferido com aquilo tudo que aconteceu... Mas eu vou viver. Então, me desculpe pelo acesso de raiva anterior. Eu não queria ter agido agressivamente. Mal posso explicar por que fiz isso. Eu também sinto muito!’’.

‘’Eu sei, Otouto! Eu sei!’’

Os dois olharam-se profundamente, podendo ver a dor que habitava dentro deles: Aquilo os fez sentirem-se impotentes. Os dois teriam que achar uma forma de lidar com a angústia que tinham. Ambos tinham sido consumidos pelas intrigas do passado e estavam profundamente feridos.

A visão de Itachi constantemente era bloqueada pelas lagrimas quentes, seu irmão parecia estar na mesma situação, embora tentasse esconder com relutância. Ambos eram esmagados pelos constantes pesadelos. Dois homens chorando, fungando miseravelmente.

‘’Eu não vim aqui para brigar com você ou pra jogar as coisas na sua cara. Nem vim aqui para te deixar triste. E nem me deixar triste. Esse não era o plano... Na verdade, isso foi horrível. Não era assim que eu queria começar essa conversa’’ Refletiu Sasuke ‘’Desculpe-me’’ disse abraçando-o novamente ‘’Me desculpe, Itachi!’’.

‘’Tá bem... Me desculpe também... Por tudo’’.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Agora grandes ataduras brancas e limpas cobriam seu braço machucado. E Sasuke ainda estava ali ao lado dele olhando-o preocupado, ele tinha lhe ajudado, mas ainda havia um olhar de desapontamento lá.

O clima entre eles estava melhor, mas abrandado. Estranho, aquilo tudo oque compartilharam anteriormente foi estranho e sentimental demais. Mas agora não há tanta dor quanto antes, e eles pareciam se sentir melhores. De cabeça clara, até. Itachi já nem sentia a necessidade de se cortar mais.

E falando nos cortes. Sasuke passa as mãos suavemente nas bandagens que colocou e suspira, e é com uma vaga sensação de surpresa que o Uchiha percebe que não consegue lidar com isso: ‘’Sabe... Nem acredito que fez isso. Não dá nem pra acreditar que você faz esse tipo de coisa!’’ Começou seu irmão devagar, não querendo começar uma discursão novamente.

Olhou a face de seu Otouto levemente, era obvio que ficaria chocado ao ver aquelas marcas angustiante, mas até que não estava lidando tão mal assim: Sua respiração era lenta e regular, chegava ser reconfortante saber que o outro Uchiha não surtou tão profundamente com os cortes, desde que foi Sasuke que colocou os curativos e as bandagens...

Isso o fez pensar em outras burradas que já fez a sí mesmo, pensado que ninguém entenderia. ‘’Você não sabe nem da metade’’ Disse desgostoso.

Alguma parte de Sasuke estava indignado: ‘’Pare com isso!’’ Seu irmão pediu, ainda estupefato com os profundos cortes em sua pele, e muitas cicatrizes mais antigas.

‘’Eu não sei se posso!’’ Assumiu com pesar. De certa forma, ainda se sentia constrangido por ter que revelar aquilo, entretanto, a dor o fazia-o esquecer das coisas que lhe faziam sofrer, em um nível que ninguém entenderia. A dor do corte era uma dor como nenhuma outra, estranha e vazia, era algo que anestesiava sua tristeza. Algo cheio de significados.

Mas aquilo era como uma droga, os efeitos eram sentidos imediatamente, momentaneamente era bom e o alivio era imediato. O problema vinha depois: Por outro lado, era verdade que ficava feio, marcava sua pele de porcelana descuidadamente.

Sasuke tinha a liberdade de odiar o assassino de seus pais, mas Itachi só podia odiar a si mesmo. Uma onda de tristeza o atingiu: Quando ele se tornou tão merda assim? Nunca pensou que o destino que lhe foi imposto seria tão amargo e ruim. Tentava até lutar contra a escuridão, mas seu coração se partia ainda mais quando tentava. Se mutilar era a única maneira que conhecia para aliviar o fardo.

Tentou esquecer essa linha de pensamento e se concentrou na face do outro Uchiha: Os minutos transcorriam lentamente, o silencio entre eles era terno.

Seu irmão continuava ali lhe observando, estava claro em seu olhar que teriam que dizer tudo o que precisava ser dito. Porém, seu Otouto estava incomodado com a situação, dava pra ver que Sasuke olhou para as bandagens e os curativos ainda meio ensanguentados e aquilo parecia querer faze-lo vomitar: como se fosse uma ideia inconcebível.

‘’Fale oque você quer falar, Sasuke!’’ Pediu de forma calma, mas dolorida. ‘’Eu não vou me sentir pior doque já estou...’’.

‘’Foda-se’’ O outro rosnou, um tanto incomodado. ‘’Queria pensar que foi tudo um mal entendido e que você é um cara durão. Eu só não consigo acreditar... Mas, tenho que aceitar a realidade dos fatos...’’.

Levantou uma sobrancelha: ‘’Como assim?’’ Questionou hesitantemente.

‘’Desde o massacre...’’

Jogou a cabeça para cima e suspirou, voltar a falar daquilo era a última coisa que queria fazer: ‘’Ah, não... De novo não!’’ Resmungou o Uchiha de cabelos longos. ‘’Já foi um desastre falar disso há alguns minutos atrás... Por que você quer continuar? Não podemos só nos apoiar e seguir em frente?’’ Pediu, já cansado daquilo. Cansado de sofrer.

‘’Não, escute!’’ O outro solicitou, com uma expressão insistente e com animo calmo como se quisesse lhe explicar algo: ‘’Por muito tempo eu nem queria ouvir falar de você. Eu sentia uma angustia tão grande daquilo que você fingiu se tornar, aquela figura maquiavélica e horrenda. Eu nem podia ouvir falar seu nome, destruí a maior parte das fotos de família em que você estava. Tinha tanta raiva de você... Era um misto de raiva e dor. Você estava sempre tão sério, tão frio e impenetrável. De certa forma eu ainda o via assim. Um cara valentão’’.

‘’Eu não sou assim!’’ Revelou-lhe ‘’Esse talvez seja o personagem que eu criei. Uma persona!’’.

‘’Eu sei disso agora. Não acredito que você faz essas coisas...’’ Disse, indignado: ‘’Porra! Eu sabia que você estava quebrado e ferido, eu só não sabia o quanto!’’.

‘’Eu sei...’’ Murmurou , com um humor mórbido.

‘’De certa forma, foi bom descontruir essa sua imagem de fortão que eu tinha na minha cabeça, sabe? Desde que éramos mais jovens e você começou a ficar distante, comecei a temer esse seu lado mais contido e frio. Então, é bom ver seu lado mais humano, mas sentimental... Sei lá...’’.

Itachi bufou: ‘’Diferente doque pensam... Eu sou fraco. Patético. Um fracassado!’’ Deixou a frustração, o desespero, a confusão e todas as outras emoções que o sufocavam transparecer ainda mais. Seu corpo inteiro tremeu e então ele cobriu o rosto com as mãos, envergonhado.

Sasuke revirou os olhos: ‘’Cale a boca, ou então pare de falar merda... É legal saber que você é como uma pessoa normal e tem anseios e tristezas, que nem sempre consegue ser perfeito. Eu não gosto de saber que você se machuca assim, mas eu não te acho fraco. Não foi isso que eu quis dizer!’’.

Isso o surpreendeu, Itachi levantou a cabeça e olhou-o: ‘’Não?’’.

Eles se olharam por alguns momentos, como se estivessem abraçando-se com olhares de consolo. Não tinha certeza de quanto tempo passou antes que seu irmão voltasse a falar, seus olhos se tornaram pesados e um tanto cabisbaixos, ficou obvio que iria admitir algo: ‘’Não. Porque só os fortes conseguem mergulhar em suas próprias angustias, em suas dores. E enfrentam isso’’.

‘’Eu não sei se isso é ‘enfrentar’ de verdade!’’ O moreno de cabelos longos reiterou.

‘’É melhor que eu, pelo menos’’ Sasuke admitiu ‘’Eu... Eu só fujo da dor... Você a enfrenta diariamente, pelo oque estou vendo...’’ Confessou.

‘’Do que está falando?’’ Itachi foi atraído para fora de sua própria tristeza pela voz melancólica de seu irmão. ‘’Isso que eu faço não é ser forte. E você não está fugindo da dor, está seguindo em frente enquanto eu... Eu não consigo fazer isso. Eu fico estagnado no mesmo lugar!’’.

‘’Não. Você está sendo forte!’’ Insistiu seu irmãozinho.

Viu que não seria bom contraria-lo. ‘’Por que acha isso?’’ Tentou entende-lo.

‘’Por quê? Porque você enfrenta essa dor. Não sabe como eu faço’’ Enquanto falava, algumas lagrimas nublavam seus olhos novamente: ‘’Eu não vou ao complexo Uchiha, nem na Delegacia e muito menos no cemitério. Jamais voltei a esses lugares e nunca visitei seus túmulos. Você foi bem corajoso indo lá ver’’.

Itachi olhou-o perplexo: ‘’Sério?’’.

‘’Sim. Eu tento evitar lembrar disso tudo. Finjo que superei quando, no fundo, sei que não. Eu que sou fraco...’’ Expôs tristemente, era claro que estava mostrando sua dor mais profunda. E era tão fácil perceber a dor em seus olhos agora, estava ali ao alcance como se Sasuke tivesse acabado de ter sido esfaqueado. Estava se abrindo e revelando informações confidenciais de si mesmo.

Tentou recomeçar devagar, para não ferir o irmão. ‘’Eu não sou forte, Sasuke. Se fosse, não precisaria disto!’’ Estendeu o braço com os curativos. Foi quando teve que aceitar a verdade: ‘’Sabe... Nós estamos sendo dois idiotas, depois de tudo oque passamos... Precisamos pedir ajuda, digo, procurar ajuda especializada!’’.

O outro olhou-o intensamente, depois suspirou. Como se aceitasse essa verdade também.

‘’Ainda bem que você notou que agente precisa de ajuda!’’ Sasuke murmurou vagamente. Depois ele suspirou e alocou a cabeça numa das paredes como se quisesse descansar ou refletir: ‘’A Sakura me disse isso algumas vezes, mas eu nunca dei ouvidos. Mas talvez nós dois juntos possamos enfrentar isso!’’ Sugeriu.

Itachi afirmou com a cabeça rapidamente: ‘’Talvez...Talvez alguma mudança ainda seja possível!’’ Murmurou lentamente.

Depois disso eles ficaram em silencio por minutos sem fim, ambos imersos em suas mentes quebradas. Refugiados nas memorias dolorosas, o inferno que eles chamavam de passado. Ambos ficaram ali, como estúpidos sentimentais, esparramados no chão frio: Isso era tudo o que restara.

Depois, aquelas coisas que seu irmão lhe revelou ainda martelavam em sua mente, e não pode mais fiar calado: ‘’Você evita ir ou nunca foi ao cemitério?’’ Questionou, sem saber se deveria ou não insistir nisso, mas curioso em saber a resposta.

A resposta demorou um pouco, ele hesitou, mas seus pensamentos e sentimentos estavam à mostra novamente, claro como agua. A dor nisso era aterradora, Itachi podia senti-la junto com seu irmãozinho.

Por fim, Sasuke balançou a cabeça negativamente: ‘’Quando eles foram velados, eu ainda estava muito abalado. E acharam melhor não me levar ao velório e nem ao sepultamento!’’ Revelou. Assim, Itachi olhou-o com enternecimento. Mas isso não pareceu deixar o outro melhor: ‘’Ei. Não me olhe assim. Não é tão trágico. E tem uns lugares que eu voltei a visitar!’’

‘’Quais?’’ Disse, ainda curioso, mas temendo que o outro ficasse ainda mais triste.

Como um milagre, uma emoção diferente de sofrimento surgiu nos olhos de seu irmão, foi quando seu exibiu um mínimo sorriso de canto: ‘’Evitava passar onde costumávamos brincar quando éramos bem pequenos. Mas agora isso me trás boas memórias’’ Informou.

Itachi encarou-o sem acreditar. Aquilo era algo que não esperava, então ficou um pouco pasmo: ‘’Oque? O lugar onde brincávamos? Você se lembra disso? Você era tão pequeno... E já faz tanto tempo...’’ Tagarelou, meio sem sentido.

A face de Sasuke se iluminou: ‘’De nossas brincadeiras? Claro, elas eram as únicas que faziam você parecer humano. Você sempre foi bom em tudo, mal ficou na academia ninja e logo se formou. Mas antes disso, lembra? Esconde-esconde, Caça ao tesouro, tínhamos tantas conversas boas e histórias pra inventar’’ Um sorriso realmente puxou-se em seus lábios...

...E de repente, a mente de Itachi se encheu com as lembranças destes dias felizes. Naqueles tempos eles eram crianças inocentes que corriam contra o vendo, crianças de sorriso fácil.

‘’Eu lembro...’’ Murmurou ainda perdido em lindas memórias. Depois, abruptamente, seu rosto voltou a se fechar: ‘’Depois que me formei na academia... Bem... Papai não gostava que eu brincasse com você, quando eu tentava ele achava que eu estava perdendo tempo demais em coisas infantis!’’ Revelou abatido. Todo o primor das boas lembranças se esvaindo rapidamente.

Sasuke arregalou os olhos, o pequeno sorriso também deixando sua face: ‘’Oque? Sério?’’ Disse embasbacado. ‘’Você só pode estar brincando!’’.

‘’Não é nada demais’’ Afirmou, mas a verdade das palavras não chegou aos olhos. ‘’Papai só estava focado demais no meu desenvolvimento e desempenho Shinobi’’ Tentou defender Fugaku, mas isso também não chegou aos olhos e dava para ver um tintilar de rancor em suas palavras. Tentou levar a conversa para outros rumos: ‘’Mas por que se lembra de nossas brincadeiras? Por que voltou a visitar estes lugares?’’.

Sasuke mordeu a isca e saiu do assunto que envolvia seu pai: ‘’Como não lembrar? Depois que descobri a verdade... Eu remexi vários papeis e quase não tinha mais nenhuma foto sua... Por isso quando encontrei aquela foto na cabana eu fiquei tão surpreso. Quando voltava pra Konoha depois de passar anos longe, eu passava nesses lugares e ficava triste... Só tinha me restado memórias e tinha medo de esquecer-me de como você era. De esquecer seu rosto, sua voz...’’Disse, tristonho.

‘’Você fala como se isso fosse possível, principalmente considerando o quanto eu influenciei sua vida, tanto pra bom quanto pra ruim!’’ Rebateu rapidamente. Às vezes, quando era espontâneo demais acabava sendo ácido demais, mas não significava que fazia por mal. Devia ser algum tipo de traço padrão dos Uchiha.

Sasuke olhou-o carrancudo num minuto: ‘’Não deboche de mim enquanto eu abro meu coração!’’ Disse o outro em rosnado, suas mãos se fechando em punhos bem apertados.

Se o de cabelos longos não se retratasse, começariam a lutar novamente. Itachi levantou os braços se rendendo: ‘’Tudo bem, tudo bem. Não foi minha intenção. Desculpe-me. Foi um comentário indelicado. E eu aprecio sua sinceridade! Muito! Fico feliz que esteja compartilhando tanta coisa comigo!’’ Rebateu honestamente.

O outro moreno se acalmou instantaneamente: Assim a calma voltou a tomar conta deles, invadindo-os. Foi assim por minutos confortáveis, ambos estavam quietos, mas com uma tempestade de sentimentos dentro de sí.

Então algo mais chamou a atenção de seu irmãozinho. O Uchiha de mais de 30 anos olhou novamente para os braços com ataduras do outro e depois olhou para seus próprios braços, e pareceu se lembrar de algo importante. Olhou para Itachi avaliando algo, como se estivesse decidindo ou não contar algo relevante. Depois murmurou: ‘’Tem algo que quero que saiba, Aniki!’’ Disse levantando a manga da camisa.

‘’Oque?’’ Questionou em curiosidade genuína, se aproximando para ver melhor.

‘’Só a Sakura sabe disso. Veja!’’ Sasuke estendeu o braço real que ainda tinha, expondo-o. Havia uma intensidade estranha no olhar do moreno, que avaliava a expressão de Itachi atentamente. Quase como se quisesse imprimir a imagem das feições do irmão de cabelos longos em sua mente pra sempre...

...E Itachi logo soube o por quê!

Olhou, achando que encontraria cortes iguais aos seus, ou cicatrizes de antigos cortes, mas a realidade era mais chocante. Então seus olhos se arregalaram, sua boca se abriu em surpresa. Não conseguia nem se mexer, perdeu o ar.

Mas não podia negar o que estava diante de seus olhos, por mais que quisesse. Tentou falar uma e outra vez, mas nada saiu. Estava tão incrédulo que nem conseguia se expressar coerentemente. Foi assim por vários e vários segundos, e Sasuke parecia estar achando alguma graça nisso.

Itachi estava encabulado. Porém, por fim levantou o olhar, encarando a face de seu Otouto: ‘’Você fez uma tatuagem minha no seu braço? E eu é que sou maluco?! Quando você fez isso?’’ Falou rapidamente, ainda bastante chocado.

Sasuke sorriu levemente: ‘’Há alguns anos atrás...’’ Admitiu com facilidade ‘’Uns três ou cinco anos atrás numa de minhas viagens... Quando comecei a pensar que estava esquecendo de como você era!’’.

Ainda estava tão surpreso que era difícil se concentrar, mas conseguiu rebater: ‘’Eu mal posso acreditar nisso... Você ficou louco!?’’.

‘’Louco? Eu?’’ O outro olhou-o de forma cética. ‘’É só uma tattoo. É você quem fica fatiando o braço como se fosse uma pizza!’’ Escarniou, Uchihas sempre tiveram uma língua afiada.

Itachi fez uma grande careta. ‘’Mas... Por quê? Eu não entendo...’’ Susurrou.

A expressão de seu irmão tornou-se fechada, por um momento, como se lembrasse algo ruim: ‘’Eu deveria ter notado que tinha algo estranho nessa historia toda. Pois eu não conseguia compreender a sua traição ao nosso clã e nem sabia o porquê da deserção, oque você usou como justificativa na época não era assim tão convincente... Ou pelo menos, não deveria ter sido, já que para mim você era ótimo em todos os aspectos, como irmão, como ninja, como pessoa. Você sempre tinha sido um grande irmão. E...’’ Empacou, as palavras travaram em sua garganta.

‘’E...’’ Incentivou-o a continuar.

‘’E você era como um herói pra mim, eu queria ser como você!’’ Admitiu em derrota.

Itachi fez uma carranca maior ainda: ‘’Não deveria querer ser como eu. Você esta vendo como eu terminei! Esse lixo aqui!’’

‘’Besteira’’ Sasuke atirou ‘’Você sempre foi melhor que eu em tudo, por isso sempre tive sentimentos um tanto mistos com relação a você, sempre tive afetos como competição, ciúmes e rivalidade. Porém, aquele massacre veio colocar em xeque esta identidade de homem perfeito que eu tinha de você. Entretanto... Depois eu descobri a verdade e não pude crer que eu realmente acreditei naquela mentirada toda que você criou’’.

Seu irmãozinho já estava deixando as memorias saírem sem tanto pesar. Mas isso não significava que era seguro começar a falar do passado novamente...

...Resolveu ponderar. Respirou fundo e prosseguiu: ‘’Foram mentiras bem elaboradas. Todos acreditaram. Não se culpe por não ter notado. Você era pequeno!’’ Tentou consola-lo.

Não pareceu funcionar, o outro se agitou ainda mais e pareceu irritado consigo mesmo. Massageou as têmporas como se quisesse fazer a tensão sair um pouco: ‘’Não! Porque é diferente. Eu era seu irmão. Eu adorava você. Como pude ser tão cego em acreditar que meu irmão gentil, perfeito e impecável faria algo assim do nada?’’ Atirou, como se tivesse perdido nos próprios pensamentos e lembranças.

O Uchiha de cabelos longos fez uma careta um tanto engraçada: ‘’Eu nunca fui perfeito... Impecável passa longe de mim. E gentil, nem sempre!’’ E assim seu irmãozinho pareceu voltar pra realidade...

...Observava-o cheio de sentimentos nublando seu olhar: ‘’Aos meus olhos você era isso tudo. Pois nunca tivemos uma posição igualitária na família, papai gostava mais de você porque você era perfeito e incrível. Naquela época, eu daria tudo pra ter a mesma atenção que você recebia’’ Admitiu.

Suspirou pesadamente. Porque o assunto sempre voltava pra sua família? Não queria falar disso. Mas ainda sim rebateu: ‘’Não deveria querer isso. Eu já disse que não sou perfeito, nunca fui, eu era apenas útil aos planos’’.

‘’Como?’’ Sasuke questionou rapidamente, sem entender.

Recostou a cabeça na parede, lembrando-se do passado. Sua cabeça latejava se de recordar, sua boca ficou amarga e teve que engolir em seco. Demorou um bocado, tentando organizar seus pensamentos, mas respondeu a pergunta...

...‘’Essa minha personalidade mais aberta e gentil e meu idealismo por um mundo de paz sempre entrou em conflito com os quereres do nosso clã e o alto escalão da vila, pois ambos queriam me usar, usar meus talentos para seus próprios benefícios’’ Explicou-lhe rapidamente ‘’Acho que sempre me dividi entre oque eu queria, minha lealdade ao Clã e a minha lealdade à Konoha. No fim, ambos os lados só me usaram, me vendo mais como uma ferramenta doque como uma pessoa’’ Disse, transbordando mais melancolia e amargura doque queria.

‘’Mas, o papai adorava você!’’ Seu irmão falou quase que automaticamente. Acusando-o. Suas mãos já estavam até se fechando em punhos novamente, olhou-o carrancudo.

‘’Não!’’ Rebateu imediatamente, com amargor. Parece que conversar sobre seu pai estava se fazendo necessária e no fundo não queria isso porque lhe trazia certo desgosto: ‘’Não me entenda mal, Sasuke, mas quem queria a adoração do papai era você. E você sempre esteve cego com relação a isso porque era uma criança tola e só via o lado bom dos nossos pais. Como eu disse, não me leve a mal, no fundo eles eram bons pais, de verdade...’’ Começou.

‘’Mas...’’ Sasuke incitou-o a continuar, mostrando estar claramente zangado com oque o irmão estava sugerindo.

Olhou-o sério e prosseguiu: ‘’Mas as pessoas tem a tendência a acreditar que amor dos pais deve ser incondicional e com uma postura de abnegação da própria vida em função dos filhos, isso não é verdade. Tanto que nossos pais não eram assim... As pessoas são mais complexas e multifacetadas que isso’’.

‘’Oque você está querendo dizer?’’ Disse seu irmãozinho trincando os dentes, seu chakra já dando leves indícios de que estava ficando instável novamente.

‘’Acalme-se!’’ Pediu, exasperado.

‘’Me diz oque está querendo dizer!’’ O outro rosnou...

Tentou ficar calmo e dizer o mais pacificamente possível: ‘’Bem... Estou dizendo que o amor aos filhos não é uma coisa inerente aos pais. É algo adicional. Isso não quer dizer que nossos pais não nos amavam, porque eu sei que amavam. Só estou dizendo que o papai não me adorava como você pensa, ele só via as vantagens que podia tirar de minhas habilidades. E além disso, eu era o primogênito e herdeiro do Clã; era natural que ele estivesse mais próximo de mim, oque não significa que ele gostasse mais de mim. Ele nos amava, claro, mas do jeito dele...’’.

‘’Você está sendo ingrato’’ Rosnou irritado, mas seu chakra se abrandou e relaxou.

‘’E você está sendo ingênuo, Otouto. O papai e o Clã estavam usando-me como espião, e Konoha também só estava me usando a seu favor. No fim, eu acabei preso na armadilha que ambos os lados me forçaram a cair. Não tinha pra onde eu correr! Quem tem a habilidade de mudar a mente das pessoas com palavras é o Naruto. E isso porque ele é a criança da profecia, que acabaria com o mundo de ódio onde vivíamos’’ Bradou.

Sasuke olhou-o com olhos desconfiados, com um pouco de rancor: ‘’Então não acha que nossos pais davam mais atenção a você porque você era um prodígio genial?’’ Atirou claramente enciumado.

Querendo silenciar todo o acesso de ciúmes do outro, resmungou: ‘’Eles me davam atenção, sim. Mas pelos motivos errados’’ Afirmou, um tanto zangado também ‘’Na verdade, a mamãe só prestava atenção as suas necessidades. Enquanto assumia que eu já era grandinho e autossuficiente demais para receber a atenção e carinho dela. E o papai? Ele só estava interessado nas minhas habilidades, nunca se importava com meus sentimentos, desejos ou vontades...’’.

Por um momento o outro ficou estupefato. Não conseguia nem formular frases, mas acabou sussurrando: ‘’Oque é que você está dizendo?’’.

Agora era o Uchiha de cabelos longos que estava ficando irritadiço. As memorias correram sua mente. Tentou se controlar, mas parecia tudo tão injusto. A raiva estava queimando dentro dele. Por que seu irmão não podia entender?

...Então resolveu explicar claramente: ‘’Você queria ser como eu porque acha que era uma maravilha, você só via o lado da glória, só via os elogios e o quanto eles se gabavam por ter um prodígio na família. Mas não era assim tão incrível, não sabe de quanta coisa tive que abdicar. Eu tinha uma vida de adulto aos 7 anos. Minha agenda estava sempre cheia de atividades e muitas vezes eu estava estressado com isso tudo. Eu não tive muito tempo pra me divertir, brincar. Todos estavam sempre me tratando como se eu fosse uma super-máquina!’’ revelou, ou ia sufocar com aquilo.

O outro observou-o com um olhar profundo, como se tivesse tentando ler sua alma e verificar se aquilo tudo que ele vomitou era verdade. Então, Sasuke bufou pesadamente: ‘’Certo, não sei oque você realmente quer falando mal assim da idoneidade do nosso pai e Clã. Mas sei que você não teve lá a melhor infância... E, certo, eu tenho que admitir que eles tem suas parcelas de culpa nisso!’’.

Itachi suspirou aliviado. Seu coração se acalmando: ‘’Bem... Pelo menos não estamos brigando por conta disso’’.

‘’É...’’ O outro Uchiha concordou ‘’Eu não quero mais brigar com você, aniki!’’.

Escondeu sua cabeça nos joelhos, antes de declarar: ‘’Sabe oque é engraçado?’’ Divagou.

‘’Oque?’’

‘’Você me invejava e queria ser como eu. Enquanto eu estava lá, querendo só uma vez ter uma infância menos corrida e mais apropriada a uma criança. Como a vida que você costumava ter, antes de eu acabar com nosso Clã. Você não tinha tantas obrigações e não exigiam tanto de você!’’ Revelou mais uma coisa, uma mistura de emoções deslizando por seu rosto anguloso.

Seu Otouto arregalou os olhos: ‘’Você tinha inveja de mim?’’ Questionou, admirado e pasmo ao mesmo tempo.

Levou algum tempo, mas finalmente ergueu a cabeça e respondeu-lhe: ‘’Um pouco!’’ Admitiu.

Depois disso o silencio suave tocou-lhes os ouvidos, e foi assim por longos minutos, talvez horas. O alivio que os inundava por ter conseguido compartilhar tanta coisa era imediato. Um futuro novo estava se pondo em vista: Eles podiam estar quebrados de maneiras inimagináveis, mas certamente não era o fim do mundo. Eles iriam conseguir virar as páginas, encontrar um novo caminho.

Mas algo ainda o preocupava e o machucava. ‘’E agora , hein, Sasuke? Oque restou de nós? Aquelas crianças felizes e sorridentes que costumavam brincar nos bosques, antes de nossas vidas virarem um inferno... Oque sobrou delas?’’ Sussurrou, seus olhos perdidos e desolados.

O outro pareceu sair do estupor em que estava, espreguiçou-se lentamente e se aproximou dele calmamente, com passos destemidos e confiantes, como se estivesse seguro de tudo. Tocou-lhe os ombros com as mãos, e olhou-o penetrantemente...

...Minutos se passaram assim e começou a ficar um tanto constrangido com a atitude de seu irmãozinho. Itachi levantou uma sobrancelha elegante: ‘’Por que está me olhando assim?’’ Perguntou finalmente, afinal, Sasuke estava tão perto que dava para sentir suas respirações quentes tocando seu rosto e balançando seu cabelo levemente.

Pelo menos, o outro falou alguma coisa: ‘’Você quer saber oque restou daquelas crianças?’’.

‘’Oque?’’ Disse aflito.

‘’Bem... Acho que ainda há uns resquícios delas aqui e ali. Pois acredite, eu já tentei te odiar com cada fibra do meu ser... Não consegui. Eu posso até morrer de raiva de você às vezes, porém, nunca dura. Aquelas crianças inocentes que costumávamos ser, elas se amavam. E, bem... Oque restou? Eu ainda te amo Itachi!’’.

Itachi sentiu as lágrimas voltarem aos seus olhos, quase transbordando e deixando tudo marejado. ‘’Verdade?’’ Sussurrou.

O outro afirmou com a cabeça: ‘’Mesmo depois de toda a história sangrenta que temos um com o outro, mesmo depois de odiá-lo e repudiá-lo por anos pela traição contra a nossa própria família, mesmo depois de assassina-lo para vinga-los; quando eu me lembro da verdade por trás de tudo, quando lembro-me do irmão amável e adorado que eu tinha quando criança, toda aquela afeição boa que eu tinha por você volta em força total. E nada vai apagar isso!’’.

Itachi não pensou que ouviria uma coisa assim de seu irmão, assim tão abertamente, as lagrimas ameaçavam cair, embora tentava segura-las firmemente.

Ao que parecia, Sasuke estava uma montanha russa de emoções aquele dia, oque mostrava o quanto ele estava quebrado também. Mas eles iam se reerguer, juntos. ‘’Eu também te amo, Otouto!’’.

‘’Digo por que é a verdade...’’ Explicou o outro ‘’Lembro-me do passado, de minha adolescência. Durante muitos anos realmente tentei odiar aquele temido Uchiha Itachi, mas dentro de meu coração a verdade sempre esteve lá. Mesmo que quisesse odiá-lo profundamente por tudo oque fez, como odiar o homem que já havia sido meu herói na infância? Você era meu irmão mais velho adorado, como poderia eu odiar profundamente aquele que sempre admirei e secretamente invejei?’’.

Itachi sentia como se seus sentimentos tivessem lhe traindo, lutou para segurar as lágrimas quentes: ‘’Eu realmente não sei como você ainda gosta tanto de mim’’ Disse indignado.

Sasuke finalmente se afastou um pouco. ‘’Não me leve a mal. Eu nunca te perdoei verdadeiramente pelo que fez com nossa família. Aquilo foi horrível. Eu não sei se teria feito o mesmo se estivesse numa situação parecida. Entretanto, por mais que eu deteste seus atos, por mais que eu te odeie por fazer oque fez, acho que eu te amo mais. E esse amor... Esse sentimento sempre se sobrepõe ao ódio!’’.

‘’Bem...’’ Limpou os olhos, afastando as lagrimas ‘’Se tratando de amor e ódio... Você mesmo disse que uma linha muito fina separa os dois. Acho que andamos tempo demais no lado ruim dessa linha. Mas podemos tentar mudar isso, não é?’’ Propos.

‘’É isso que eu estou tentando fazer. Era isso oque eu queria quando vim conversar!’’ Afirmou como se fosse obvio. ‘’Quem sabe você passe a compartilhar mais coisas comigo?!’’ Sasuke olhou as bandagens brancas que cobriam os cortes novamente: ‘’Tente ser um cara legal da próxima vez, ao invés de fazer isso aí, tem um monte de gente aqui para lhe escutar quando estiver passando por mals bocados!’’

Itachi fez uma careta, mas concordou: ‘’Eu vou tentar me lembrar disso da próxima vez’’.

O outro Uchiha sorriu de canto: ‘’Já é um começo’’ Rebateu, pegando a mão do irmão e apertando-a suavemente, com carinho.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Eles ficaram horas trocando um momento particular de carinho. Ambos nunca foram exatamente afetuosos, porém estavam precisando daquilo. Mas o moreno de cabelos longos ainda estava aflito com o futuro, depois de um longo tempo, teve que questionar: ‘’E oque acontece agora?’’.

A expressão de seu irmão voltou a ficar séria: ‘’Você acha que está pronto para depor? Acha que está pronto para falar a verdade e tudo o mais lá no tribunal?’’.

Itachi suspirou profundamente. ‘’Sinceramente? Não’’ Revelou ‘’Mas eu sempre fui bom em manter os sentimentos longe de minhas ações quando necessário. Provavelmente darei um relato conciso e pouco sentimental. Oque não significa que não estarei quebrando por dentro!’’ Afirmou.

‘’Já eu... Bem... Não me culpe se eu explodir de raiva na frente de todos...’’ Os dois bufaram juntos e depois sorriram um pouco.

‘’Você acha que eu não sei? Eu te conheço bem... Isso é a sua cara!’’ O Uchiha de cabelos longos brincou, ainda sorrindo, embora a felicidade nem de longe chegasse aos olhos.

 ‘’Sabe mais uma coisa?’’ Seu Otouto voltou a falar sério: ‘’Provavelmente, depois que isso passar, devemos receber uma interdição, que só será retirada com a condição de comparecermos a um aconselhamento psicológico ou uma terapia. Cortesia de Sakura, pode apostar!’’ Elucidou.

‘’Se essa é a opinião de uma especialista, quem sou eu para dizer não? Não é?’’ Murmurou tendo em vista a realidade: ‘’Kakashi acha que devo buscar ajuda, de qualquer forma. E eu acho que concordo com ele’’ Afirmou alisando o braço com o curativo.

Sasuke bufou novamente: ‘’Várias sessões de, digamos, uns 45 minutos? Uma vez por semana? Ou duas? Eu acho que vou surtar!’’.

Itachi também apontou seus receios: ‘’E eu não acho que vai funcionar. Sinto que estou quebrado demais’’ Sussurrou ‘’Mas quem sabe? Pode ser uma experiência interessante’’.

Ainda estava com a cabeça recostada nas pernas de seu irmão, enquanto o outro passava as mãos por seus longos fios de cabelo agradavelmente. Aquele afago no couro cabeludo era muito bom, e parecia que ambos estavam achando prazeroso. Itachi podia, mesmo com tantas preocupações e temores, até adormecer com aquele mimo.

Foi quando seu irmão falou, de repente: ‘’Então, depois de tudo oque aconteceu hoje... Vamos fazer um pacto? Só nós dois!’’.

‘’Que tipo de pacto?!’’

Sasuke transpareceu calma e sorriu abertamente, um tipo de sorriso que não costumava dar há muito tempo: ‘’O pacto de fazer as pazes com nosso passado, para não estragarmos nosso futuro!’’.

O outro Uchiha também sorriu, e dessa vez chegou aos olhos: ‘’Eu gostei disso. Pode ser, Otouto!’’ Disse e, mesmo deitado nas pernas do outro, levantou os dedos indicador e médio tocando a testa de seu irmãozinho com os dedos, como sempre fez.

Havia lágrimas ainda secando no rosto de ambos, mas eles não se importavam em expor isso assim tão abertamente. Não estavam prontos para deixar o passado para trás, mas almejavam seguir em frente juntos. Cada um deles teria que supera seus próprios desafios, mas no final teriam que sair mais fortes desta batalha.

Isso que estavam vivendo era apenas mais um desafio que teriam que enfrentar, mas estavam juntos nessa, completamente diferentes daquelas outras vezes onde estavam acostumados a estarem um contra o outro. Eles iriam superar isso tudo.

E se Kami quisesse, algo completamente novo e bonito iria surgir no futuro de ambos e eles trilhariam um belo caminho. E eles enfrentariam esse novo caminho desconhecido juntos, como deveria ter sido sempre.

Eu sou um pássaro

Me trancam na gaiola

Mas um dia eu vou conseguir resistir

E vou voar pelo caminho mais bonito


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham gostado❤
A música é do Legião Urbana, e eu só coloquei trechos aleatórios dela (E eu modifiquei a letra um pouco, pra encaixar na fic - Porque na verdade, a letra diz respeito a uma menina, tanto que o nome da música é "Clarisse").



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