Redenção escrita por AnneAngel


Capítulo 34
Oque um Futuro Julgamento nos Fez...


Notas iniciais do capítulo

Oi amores,
Sim, eu sei que sumi por dois longos meses. Mas saibam que por mais que eu demore a postar, não vou desistir da fic!
Agradeço a paciência ❤



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/676950/chapter/34

É na dificuldade que percebemos quem são nossos verdadeiros amigos

Itachi P.O.V (Point Off View)

O que poderia esperar quando encontrara Sasuke novamente e ambos voltaram juntos a Konoha? Era obvio que aquele lugar não ficaria nem um pouco feliz por revê-lo, não ele, aquele que julgavam ser um assassino frio, sem moral, louco e tudo o mais de ruim que alguém quisesse acrescentar na lista. Uma vez de volta, sabia que iriam com toda a sua disposição odiá-lo por sua presença: O Uchiha sabia que não deveria esperar muito da sua nova vida naquele lugar, pois seu passado sombrio cheio de suas mentiras faria o favor de arruiná-lo novamente.

Além disso, Konoha certamente não lhe permitirá mais nenhum tipo de normalidade, seja antes ou depois do Julgamento. Sua vida não vai voltar ou normal porque quando tiver que entrar naquele tribunal, independentemente do resultado final, sabia que seu nome ainda estaria na boca do povo: Fosse pra bom ou ruim, e teria que suportar isso.

Às vezes sentia uma nostalgia estranha, saudades do passado. Era bom estar novamente na sua vila natal, mas queria poder voltar no tempo em que podia andar por aquelas ruas sem que houvesse qualquer alvoroço com sua presença; Agora teria que se contentar com o que tinha. Seu nome e sua estadia ali eram sinônimos de desrespeito para todas as pessoas que viviam lá. E era altamente improvável que isso mudasse muito depois do julgamento, Itachi sabia que mesmo sendo inocentado, jamais seja amado e aceito quanto era num passado distante. Não podia negar o fato de que todo mundo iria o depreciar mesmo que não fosse condenado por seus feitos. E como não poderiam depois de tudo oque ele fez? Depois da imagem de crueldade que criou de si mesmo e fez todos acreditarem(...).

Estava devastado: Afinal de contas a noticia do julgamento já havia se espalhado por Konoha e até saiu no jornal internacional. O moreno já tinha que lidar com as consequências emocionais de tudo aquilo, mas era ainda pior saber sobre os bochichos que corriam a vila: Eles claramente ainda o viam como algo maléfico e repudiavam-no, desejando punição máxima e nenhuma clemencia para alguém como ele. Entendia-os plenamente, mas, ainda doía ser tão odiado.

Itachi já estava cansado dos boatos que rolavam País a fora, e mais do que isso: Queria que aquela dor que vinha de suas memorias do passado se esvaísse. Queria poder esquecer tudo aquilo por alguns minutos ao menos, mas não podia. Queria seguir em frente com a nova família que tinha, mas doía ter que relembrar as feridas do passado. 

Suas mãos coçaram sentindo falta de alguém para lhe segurar e dizer que tudo se acertaria, mas sentia seu corpo formigar com a solidão: Ficar pensando aquelas coisas era esmagador, mas oque podia fazer? Não podia negar o passado, ele havia mesmo se tornado um monstro cruel e sem emoções, matara sua família, abandonou Sasuke, virou um desertor, traiu seus amigos(...). As pessoas daquele lugar tinham direito de temê-lo, e ao menos elas poderia se afastar dele o quanto quisessem. Mas e ele próprio? Oque ele podia fazer quando simplesmente não era mais capaz de suportar o seu próprio eu?

Toda vez que pensava no futuro Julgamento ficava assim. Seus nervos estavam à flor da pele, seu coração disparado, e ao mesmo tempo estava paralisado: Ficou lá no sótão em seu futon sem dormir por horas seguidas e secretamente chorando a cada minuto. Maldito Julgamento, maldita foi à hora em que voltara para Konoha, malditos Ōtsutsuki que lhe trouxeram de volta para aquela agonia de vida. Era para tudo sobre o massacre do Clã Uchiha ser um segredo e agora tudo iria pelos ares. Todos ficariam sabendo. Então para que ele abandonou Sasuke? Para que ele suportou toda aquela vida como nukenin? Para que se agora toda aquela merda, a verdade, iria bater no ventilador!?

Desde que seu irmão recebera aquela intimação e seu julgamento fora marcado, não pregava os olhos. Toda vez que tentava tinha um pesadelo horrível, entretanto o pior era que não era apenas um pesadelo, não um desses que vão embora quando você acorda. Oque estava em sua cabeça era bem real e havia acontecido anos e anos antes. Itachi sentia que tinha sua parcela de culpa naquilo tudo, uma grande parcela. Tinha feito aquilo ele mesmo com as próprias mãos e jamais iria se esquecer disto em sua vida, nem se quisesse muito esquecer conseguiria: Matou a própria família e isso não saia de sua cabeça, quando fechava os olhos ainda podia se recordar de tudo detalhe por de detalhe, era agonizante. Por isso já não conseguia dormir. Não de cada sonho terrível, tinha medo de que se fechasse os olhos novamente veria a face de todos que matou, iriam perturbar seu sono como assombrações lhe culpando por mata-los e agora por difamar sua sagrada honra.

Socou o chão com certa raiva de si mesmo, ouvindo o som oco ecoar pelo lugar. Sabia que aquilo não estava ajudando, aqueles pensamentos mórbidos estavam sufocando-o. Sabia que não o levaria a nada ficar pensando besteiras, mas apesar disso, aqueles sentimentos angustiantes não o abandonavam, pensava seriamente que jamais o abandonariam. No fundo queria realmente ter uma boa vida com Sasuke e a família que seu Otouto formara, mas como apaziguar aquele tormento em seu peito? Aquele sentimento de culpa o consumiria até seu fim. Sabia disso.

Mas novamente, aqueles tipos de pensamentos não estavam ajudando porque sabia que tinha que se concentrar, tinha que tentar abrandar sua dor um pouco: Pelo menos só por alguns instantes tinha que parar de lamuriar.

Suspirou pesadamente, depois se sentou no futon tentado se acalmar, fungou um pouco. E aos pouquinhos foi conseguindo esconder os resquícios de seu pranto. Havia um motivo para tudo aquilo, um motivo para ficar o mais neutro que pudesse: Tinha que se recompor porque logo receberia uma visita, era bem tarde, de madrugada. Mas sabia que seu Otouto andava trabalhando demais e sempre passava no sótão para se despedir dele antes de voltar ao serviço. Por isso obrigou-se a se acalmar e adotar aquela postura estoica que sempre mantinha quando na presença de outras pessoas, ninguém além dele mesmo precisava saber o quão merda estava se sentindo. 

Minutos depois o Uchiha de cabelos longos pairava quieto no sótão, já não havia mais os sons de seus soluços de choro. Estava mais calmo, mas seu sofrimento ainda era obvio. Queria poder conseguir flutuar para longe daquele passado sombrio que teve nem que fosse por alguns segundos. Porém, por mais que tentasse a tensão sempre acabava se alojando em seu corpo e sempre podia sentia os vestígios da tristeza e dor de tudo aquilo que tanto almejava superar, mas sua história sangrenta e aquelas mazelas não o deixariam em paz.

Às vezes sentia-se como uma vidraça quebrada, anteriormente costumava ser um espelho inteiro, mas depois as expectativas dos outros começaram a refletir sobre este espelho; então ele tentou ser o filho perfeito que seu pai queria, então tentou ser o irmão mais velho perfeito, tentou ser o prodígio perfeito para seu clã pudesse se gabar, tentou ser o Shinobi perfeito que sua vila precisava. E quando tudo isso desmoronou, seu espelho perfeito se estilhaçou e se despedaçou irreparavelmente. Não havia mais concerto(...)

Saiu de seus pensamentos quando ouviu passos calmos se aproximando. Era seu querido irmãozinho, sabia disto.

Não conseguiu se acalmar a tempo, ainda havia vestígios de sua dor. Sasuke o veria desmoronando, a menos que se escondesse: Deitou-se desleixadamente e puxou as cobertas por sobre seu corpo até os ombros, resistindo ao impulso de cobrir sua cabeça também como uma criança assustada. Pregou os olhos fechados, porém seu coração martelava fortemente e sua respiração estava um tanto rápida demais...

...Tentou se acalmar, respirar com mais calma, abrandar seus batimentos cardíacos. Foi quando a porta do sótão fez um barulho um tanto estridente e o Uchiha se encolheu um pouco mais notando que alguém entrou, entrou e ficou ali olhando-o de soslaio.

Apesar de tudo, sentia que a pessoa estava levemente apreensiva. Seu irmão estava assim ultimamente, e não conseguia encara-lo porque sabia que ele próprio era o motivo das aflições de seu Otouto.

‘’Sei que não está adormecido, e sei também que há algo errado com você, Aniki’’ A voz pairou sobre o lugar e espantou Itachi, que ficou lá quieto sem mover um musculo ‘’Entretanto, estou indo trabalhar e não tenho tempo para exigir que explique esse seu comportamento estranho. Vou resolver toda essa bagunça de nossas vidas. Temos muitas coisas para conversar meu irmão, eu sei, mas... Talvez uma outra hora, Aniki’’ Murmurou duramente, sua voz era bastante audível naquele sótão tão silencioso. E depois que disse oque tinha para dizer, o outro Uchiha retirou-se do local rapidamente sem lhe dar opção de resposta.

•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•

Sasuke P.O.V (Point Off View)

Dois dias se passaram desde a intimação para o Julgamento e era bem uma verdade que tentou gerenciar tudo o melhor que podia, tinha que ser o adulto que era porque notavelmente seu irmão estava desconcertado pelo julgamento ser na semana que vinha adiante e isso o desestruturou-o: Itachi precisava dele naquele momento para dizer-lhe que tudo ficaria bem. Porém, era uma grande verdade que Uchiha Sasuke estava surtando, cheio de medos e inseguranças com isso também. Por isso não conseguia ficar muito tempo encenando aquele personagem centrado que criara para convencer seu irmão de que as coisas iriam se acertar. Por isso não conseguia encarar o moreno de cabelos longos por muito tempo, sem poder lhe garantir a certeza absoluta de uma boa vida no futuro.

Desceu as escadas nervoso, aquela sensação de impotência aparecia mesmo quando estava fazendo de tudo para que as coisas funcionassem, isso acabava com ele.

Caminhou para a saída de sua residência, andando com mais brusquidão do que de costume, a tensão em seu corpo fazia isso. E obviamente sua esposa notara seu extremo nervosismo com tudo...

...Era degradante, pois seus sentimentos de medo deveriam ser um segredo. Sentia-se fraco e envergonhava-se por demonstrar isso tão claramente, seus sinais de pânico era algo que queria levar para o seu túmulo. Mas Sakura podia ver tais sentimentos nele tão claramente. Talvez fosse porque ela já era uma Nin-Médica fazia anos e também cuidava daqueles ninjas com problemas psicológicos havia muito tempo também. Ou talvez fosse só porque era sua esposa.

Viu os olhos dela brilharem querendo se aproximar e dar-lhe ajuda, porém obviamente Sakura também sabia o quanto isso o faria se sentir fraco. E ele não podia se sentir fraco agora assim tão próximo do Julgamento. Então a rosada se aproximou apenas o necessário, e não lhe questionou abertamente sobre seus anseios: ‘’Como está?’’ A mulher perguntou (E aquela pergunta abria espaço para várias interpretações... Podia ser ‘como você está?’/ ou ‘como Itachi está’)

Entretanto, por mais aberta e gentil que ela estivesse sendo, Sasuke não falaria de suas angustias naquele momento, ou iria desmoronar – E ele tinha que ir trabalhar, então não podia desmoronar agora. Por isso desviou o assunto para seu aniki: ‘’Meu irmão andou chorando. Eu sei disso. Ele pode esconder muito bem os sinais, mas eu sei a verdade. Não caio mais em nenhuma ilusão ou mentira dele’’ Disse e por um instante a outra parecia quase surpresa. Entendia-a, pois durante muito tempo também pintou aquela imagem de durão sobre Itachi e imagina-lo chorando era quase impossível. QUASE.

Quando a face chocada dela sumiu, ficou preocupada: ‘’Não tentou falar com ele?’’.

‘’Não’’ Disse pesadamente ‘’Pode haver uma realidade paralela aonde eu toco os ombros de meu irmão e diga que sei de seu sofrimento e entendo-o, pois sinto o mesmo. Então ambos iriamos chorar e nos consolar. Mas essa não é a realidade. Se Itachi não quer desabafar comigo; Tudo bem. Porque também não estou pronto para conversar sobre essas coisas do passado com meu aniki. Não estamos prontos’’.

Ela olhou-o com afeto: ‘’Tudo bem se não se sentem bem para conversar agora. Mas você sabe que hora ou outra terão que falar sobre o assunto, não é?’’.

‘’Sei disso’’ Disse amargamente ‘’Mas não sei se vou conseguir. Entendo o sofrimento dele. Mas acontece que mesmo que eu tenha tido mais tempo de vida para aprender a esconder esse meu sofrimento. Mesmo que agora eu seja bem mais velho que meu Aniki, mesmo que eu tenha passado por um esforço enorme esses anos todos para me adaptar aos novos tempos, e mesmo que pareça superficialmente que eu estou lidando mais facilmente com isso tudo que esta acontecendo, no fundo não é verdade. Porque eu também sofro com isso tudo que aconteceu no nosso passado.  É por isso que é tão difícil conversar com ele...’’.  

Sua mulher ficou espantada com sua honestidade, depois a face dela se encheu de afeição: ‘’Você sabe que estou aqui para ambos, para ajuda-los no que precisarem!’’ Murmurou calmamente ‘’Sabe disso, não é? Se quiser meu auxilio para qualquer coisa que seja, estou aqui!’’ Lhe informou. Não havia pressão para que ele mostrasse seus medos, apenas um convite sutil de que se ele quisesse a rosada iria escuta-lo e ajuda-lo no que precisasse.

Aquele convite que sua esposa fez, dizendo que queria ajuda-lo... Talvez fosse por causa disso que se sentiu a vontade para ficar tão fragilizado: Talvez precisasse mesmo de ajuda. Olhou para a mulher bem em sua frente. Era tão bom saber que havia alguém lá para si, caso quisesse se abrir. A percepção disto o fez se aproximar um pouco dela se sentindo estranho.

Sentimentalismo demais assim tão de súbito era bizarrice demais: Mas estava tão sobrecarregado naqueles dois dias que estava variando de emoções muito abruptamente. Raiva. Medo. Amor. Ódio. 

Por um instante não conseguia ver direito, seus olhos ficaram embaçados e não sabia o porquê. E mas mais uma vez sua esposa notou isso: ‘’Ei, você está bem?’’ Questionou-o calmamente, porém preocupada.

A garganta de Sasuke apertou-se quando Sakura olhou para ele com aquele turbilhão de emoções em seus olhos verdes. Ela estava tão genuinamente preocupada, e abruptamente o moreno se viu confuso: Ficou ali se questionando quando foi que conseguiu conquista-la assim e traze-la para perto dele. Oque fez para merecer tanto afeto? Ele foi uma merda de parceiro de equipe, uma merda de amigo, depois uma merda de namorado e uma merda de marido...

...Mas isso não importava, pois por algum motivo Sakura sempre relevava isso tudo. Ela sempre estava lá de braços abertos para ele, aceitando-o mesmo com todos os seus defeitos. De repente seu corpo ficou mais mole. Seus olhos arderam um pouco.

‘’Sasuke?’’ Ela chamou novamente.

Foi quando ele levantou a mão para o rosto para esfregar um de seus olhos e seus dedos ficaram molhados. Estava... Chorando? Bem, se estava rapidamente tratou de se ajeitar: ‘’Eu sinto muito Sakura. Não sei oque aconteceu comigo’’ Disse tentando esconder tudo aquilo. Aqueles dias tão enervantes estavam mesmo tirando-o de sério: Porque se não fosse aquele maldito julgamento, certamente ele não estaria demonstrando toda aquela angústia honestamente. E estava tão mortificado por Sakura tê-lo visto assim

Sentia-se como se algo dentro de si tivesse afrouxado seu controle e feito-o demonstrar tais emoções daquele jeito, sem que fosse sua vontade realmente. O que diabos tinha de errado com ele? Ter esses sentimentos era uma coisa, demonstra-los era outra coisa totalmente diferente. Merda!

‘’Sasuke, oque foi? Eu sei que está acontecendo algo... Então me diga para que eu possa lhe ajudar!’’ Sua esposa suplicou.

‘’Não. Não é isso...’’ Disse limpando o rosto e ficando sério como sempre. ‘’Acontece que essa situação toda tá me deixando insano. E aí eu acabo ficando assim, meio alterado, meio nervoso. Sentindo-me muito exposto!’’ Se moveu em direção a porta ‘’Mas não se preocupe. Vou ficar bem... Tenho que ir trabalhar agora’’ Disse tentando se desvencilhar da compaixão dela.

Uma mão leve em seu braço o deteve enquanto puxou a maçaneta para sair. Sua esposa lhe deu um beijo suave nos lábios: ‘’Tudo bem, mas qualquer coisa me avise!’’ A simpatia dela era tocante. ‘’Quero poder ajudar’’.

‘’Eu sei, Sakura. E eu nunca agradeci... Bem...’’ Pigarreou antes de prosseguir ‘’Quero agradecer por estar aqui me dando suporte. Nunca demonstrei minha gratidão por tudo oque faz por mim, depois de tudo oque eu a fiz passar esses anos todos... Sei que tenho sido um babaca. E eu sei que quer fazer algo por mim. Mas agora preciso realmente ir...’’ Mentiu.

‘’Certo. Mas, não se esqueça de que estamos juntos nisso’’. 

‘’Tá... Obrigado por confiar em mim!’’ Disse incerto passando pela porta ‘’Te vejo mais tarde. Diga a Sarada que eu mandei um beijo!’’ E a porta se fechou atrás dele.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Andou pelas ruas vazias e tomadas pela escuridão por alguns longos minutos tentando espairecer, mas sentia-se aflito e um pouco culpado por mentir: Não precisava ir assim tão cedo. Porém não conseguia ficar em casa por muito tempo. Sua esposa, sua família e amigos eram adoráveis e era reconfortantes estar perto deles e tê-los como suporte. Mas por outro lado ficava cada dia mais temeroso em perder isso tudo novamente.

Estava realmente muito grato por todos estarem ao seu lado; E Sakura estava fazendo um nobre esforço para cuidar de todos, mas também não conseguia ficar perto dela por muito tempo pelos mesmos motivos que não conseguia encarar Itachi. Como poderia afirmar para eles que tudo ficaria bem, se nem conseguia convencer si mesmo?

Era bom e ruim ao mesmo tempo ter pessoas ao seu lado lhe apoiando tanto, entendia que estavam tentando tranquiliza-lo, mas às vezes atrapalhavam mais do que ajudavam porque se sentia pressionado e temia jogar toda aquela esperança que depositavam nele no lixo e falhar com todos.

Quando saiu ainda estava escuro demais e nenhum vislumbre de raio de sol sequer era visto, pois afinal era madrugada ainda. Estava trabalhando demais nos últimos dias e não se incomodava, era até melhor sair assim tão cedo porque não tinha que esbarrar com nenhum habitante daquela cidade esdrúxula e seus comentários desnecessários para sua sanidade.

Resolveu caminhar até se sentir menos incomodado. Gostava de tomar caminhadas assim, passear, sentir a brisa gélida em sua face e balançando seus cabelos. Talvez fizesse isso até dar a hora de entrar no trabalho. Mas... À noite lhe parecia sombria e até as estrelas estavam apagadas, apesar de não existir uma única nuvem no céu, talvez fosse só impressão dele e seu estado de humor melancólico que estava dando ao mundo inteiro uma sensação de prostração e abatimento.

Caramba! Estava tão raivoso, queria superar todos aqueles problemas de uma vez e queria que sua família pudesse estar feliz e tranquila. Mereciam paz. Mas não era assim que as coisas funcionavam e por isso ficava tão cheio de raiva: Pelo menos agora que estava longe de sua família podia extravasar isso tudo sem deixa-los atribulados.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Tentou ficar tranquilo, realmente tentou. Sua perambulação por Konoha durou até o sol raiar e as pessoas começarem a tomar as ruas. Mas podia ouvir os ruídos. Ouvia aquele burburinho em todos os lugares, nas manchetes, nos jornais televisionados, nos rádios, na boca do povo: Porque todos no mundo só sabiam falar disso, falar daquele Julgamento ridículo. Porém sempre que ele ia lá para dar sua cara à tapa, as palavras daqueles intrometidos eram facilmente dissipadas. Mas quando colocava distância novamente, quando se afastava dos fofoqueiros, os buchichos tornavam a aparecer. E isso o deixava com mais raiva ainda.

Queria esquece-los. Mas aquelas palavras que eles pronunciavam pesavam sobre sua sanidade. Isso porque odiava quando falava mal de seu irmão, depois de tudo oque seu Aniki fez para proteger aquela gentinha de merda, ainda tinha que escutar aquilo: Ouvir que seu irmão era um ser sem coração. Um traidor. Um psicopata. Maléfico. Serial-Killer. Um monstro que merecia a morte(...).

As palavras podiam não ser dirigidas a Sasuke, mas doíam do mesmo jeito. Doíam porque só ele sabia o quanto seu irmão adorado estava sofrendo. Doía porque só ele sabia o que aceitar aquela missão de extermínio fez com seu Aniki (E consigo próprio também): Lembrou-se de quando foi ao quarto de seu irmão e viu as marcas das lagrimas e os olhos levemente avermelhados que o outro tanto queria lhe esconder. Por Kami, talvez Itachi nunca fosse se recuperar daquela dor.

Já estava irritado, e quando chegou à DIIA e não viu determinados papeis que deveriam estar em sua mesa, destruiu parcialmente sua sala num ímpeto de fúria. Toda a serenidade que tentou conquistar com sua caminhada anterior se esvaiu instantaneamente e seus punhos estavam cerrados de tal forma que as unhas cravavam na palma dolorosamente, seus dentes apertados e rangiam em atrito, conseguia até mesmo sentir a adrenalina percorrer seu corpo, o coração galopava em seu peito e não importava o quanto grunhisse ou quebrasse as coisas ao seu redor, aquela sensação angustiante não ia embora. Todos os medos, anseios e a raiva que vinha de sua impotência perante o rumo daquilo tudo, todas aquelas coisas que não podia demonstrar em casa: Descontou ali. 

Aquele momento de espera até que as coisas se arranjassem até o julgamento eram os piores dias do moreno, primeiramente porque havia coisas que precisavam ser organizadas para defenderem seu irmão da melhor forma possível, e segundo, porque a ansiedade estava destruindo-o por dentro. A ansiedade era pior doque a situação em si, pois parecia que sua angustia se multiplicava cada dia mais e sua esperança cada vez mais ficava em frangalhos sendo sufocada.

Eram sete em ponto. Alguns funcionários já estavam lá para seu serviço; Sasuke ainda podia ouvir seus sussurros ecoando pelos corredores, frases ruins, embora ninguém tivesse realmente coragem para dizê-las em sua cara: Os caras da limpeza estavam irritados pela sala destruída, e também surgiam vários buchichos aqui e ali sobre ele estar assim por causa de seu irmão Nukenin e daquele julgamento terrível.

Olhou ao redor. Não sobrou muito, a sala estava irreconhecível de tão sucateada por ele. Pelo menos ninguém teria coragem de ir repreendê-lo. Ou assim pensava...

...‘’Que é isso, Teme!? Computadores não nascem em arvores’’ Grunhiu um certo alguém escoando-se na porta ‘’Olha só essa sala! Tava novinha em folha e agora... Sério?! Você tem que aprender a controlar esses seus nervos(Da)ttebayou!’’.

Virou-se para o recém-chegado em puro desgosto e desanimo: ‘’Se prefere que eu soque essa sua cara, é só dizer Dobe! Vai ser um prazer!’’ Disse azedo.

‘’Você sempre de bom humor, né Teme!’’ Resmungou irônico ‘’Aposto que é só para não perder a força do habito(Da)ttebayou!’’

‘’Cale a boca, Dobe!’’

‘’Hey!’’ Ofegou falsamente ofendido ‘’Eu vim te ajudar e você me recebe assim?! Se eu não te conhecesse melhor, diria até que nem gosta de mim!’’ Disse sorrindo um pouco ‘’Mas ainda bem que te conheço!’’

‘’Tire esse seu sorriso insolente da cara. Não sei por que está sorrindo!’’ O moreno grunhiu raivoso ‘’Tem tanta coisa para resolver... Tanta merda pra arrumar!’’ Murmurou já deixando seus medos aflorarem novamente contra sua vontade.

O Uzumaki olhou-o de forma séria, seu sorriso logo esmoreceu. Foi então que o Uchiha notou que aquela postura determinada e a aparente descontração do outro era uma fachada, tudo para esconder a própria angustia do loiro com a situação também: Com isso Sasuke sentiu-se um pouco culpado por ofendê-lo. Olhou para os olhos azuis de seu amigo, Naruto era um adulto agora, mas mesmo assim algo em seu semblante lhe lembrava daquele mesmo moleque irritante de quando se conheceram quando crianças. E aquele moleque irritante era seu melhor amigo agora.

Passou tanto tempo afastado de seus camaradas, arrependia-se de ter se afastado justo daquelas pessoas que tanto se importavam com ele. Agora, retomar toda aquela parceria era estranho e também o deixava ainda mais emotivo porque trabalhar juntamente com Naruto, Kakashi e ter ainda o apoio de Sakura lhe trazia lembranças antigas(...)

Sabia que seus companheiros estavam ali para ajuda-lo, e queria ser otimista e estar feliz por seus amigos estarem do seu lado. Mas sempre fora mais afastado e diferente deles: As coisas em seu passado o forçaram a crescer mais rápido que seus colegas de equipe. Porém, ter perdido sua família numa chacina orquestrada por seu irmão e por Konoha não o fez crescer rapidamente como deveria e se transformar num homem maduro, não foi assim. Ele surtou, tornou-se alguém maligno e tomado por ódio e vingança, praticamente abandonou o time 7.

Ele foi o único que não aprendeu muito bem oque era realmente trabalho em equipe: Mesmo anos e anos depois quando teve a oportunidade de ser perdoado e viver em Konoha, saiu em sua caminhada de redenção e praticamente se manteve o mais afastado possível de todos. Deixou sua mulher para trás, não viu sua filha por anos, via Naruto e Kakashi como nada mais que colegas de trabalho cujo falavam-se eventualmente. E agora, tudo mudou. Estava convivendo novamente com seus antigos amigos, morando com sua família como sempre deveria ter sido, e de brinde ainda ganhou seu irmão de volta para terem a chance de se acertarem na vida de uma vez por todas. Acontece que nem tudo eram flores e ele estava nervoso demais com todas as mudanças em sua vida assim tão abruptamente.

Naruto olhou para ele com olhos azuis brilhantes e Sasuke percebeu, estava fazendo de novo. Assim como Sakura, o loiro certamente estava vendo-o desmoronar bem em sua frente: ‘’Eu sei como está se sentindo, Teme! Mesmo fazendo de tudo, parece que ainda falta uma eternidade até essa confusão se acertar! Eu me sinto assim às vezes...’’.

‘’É... E eu me sinto assim sempre!’’ Rosnou, chutando e fazendo em pedaços uma parte da escrivaninha.

‘’Eu sei que é frustrante às vezes. Mas não deveria estar se cobrando assim. Por que você está tão irritado? Estamos fazendo progresso!’’ O Uzumaki questionou, ainda parecendo incomodado com a sala destruída.

Naruto já estava há dois dias engajado em ajuda-lo naquela empreitada e estavam já fadigados, as olheiras abaixo dos olhos de ambos denunciava todo o trabalho duro: Reunindo testemunhas de defesa, arrumando algum local em Konoha para as testemunhas que não tinham residência no local, treinando uma boa oratória e seus argumentos para convencer os jurados da inocência de Itachi. Foi bastante coisa para poucos dias. Mas sempre parecia que não andavam para frente.

‘’Progresso? Hatake ainda não chegou com os documentos que faltam. Sem isso nada vai valer a pena!’’ Grunhiu desgostoso, chutando alguma coisa já quebrada fortemente, descontando sua raiva.

O outro fez aquela postura determinada voltar a estampar sua cara: ‘’Calma, Kakashi disse que com certeza os laudos e a averiguação daqueles papeis serão positivos! ’’

A postura energética do outro não convenceu o moreno: ‘’É isso que ele disse, e por mais que eu queria muito acreditar nele, são apenas suposições’’ Grunhiu revirando os olhos ‘’E acontece, Dobe, que eu não posso contar apenas com suposições!’’

Naruto suspirou pesadamente, por um momento pareceu o homem adulto que era, o Hokage que tinha se tornado. Seus ombros voltaram-se para trás, barriga para dentro, sua postura mais ereta e sua voz mais arrojada quando ele falou: ‘’Eu entendo sua aflição. Eu tenho esperanças e fé que tudo ocorrerá bem, existe um outro lado meu que tem medo de falhar e que todo o nosso esforço seja em vão. Mas não podemos nos abalar assim. Então, vamos ter fé! Estamos falando do Kakashi! Eu acredito nele! Se ele disse que vai trazer os papeis com resultados positivos é porque ele vai trazer!’’

Olhou-o ceticamente: ‘’Muito lindo! Eu também adoro o Kakashi! Mas acontece que ele disse que esses papéis sairiam até ontem à noite... Era para isso estar na minha mesa hoje de manha. E eu estaria agorinha levando nossos planos adiante. Mas acontece que os papeis não estão aqui! E você quer que eu tenha fé?! Alguma coisa deve ter dado errado!’’ Sasuke bufou ‘’Que merda fazemos agora? Temos que nos planejar sim. Mas temos que fazer isso vislumbrando o pior resultado, não podemos apenas fazer as coisas esperando que aconteça como queremos’’.

‘’Cara, você precisa aprender a controlar esses seus nervos’’ Jogou ‘’Sei que acha que tudo pode dar errado. Mas eu confio no Kakashi, faça isso também. E, além disso, estamos dando um duro danado aqui. Estamos dando o nosso melhor! Não fique assim tão receoso, não precisa ficar com medo(Da)ttebayou!’’

‘’Pare de falar merda! Até parece, eu com medo! Grande asneira essa que você falou’’ Rebateu ‘’Oque eu estou tentando lhe dizer, Dobe, é que precisamos de um plano B’’ Resmungou ‘’Desculpe se eu não fui suficientemente claro para você entender, miolo mole!’’

‘’Tá, tá... Distorce a porra da coisa toda como você sempre faz. Porque isso não muda o fato desta sala estar destruída porque você está temendo o pior!’’ Jogou a verdade ‘’E se você quer tanto tramar um plano B só porque não quer crer no Kakashi, o nosso Kakashi, vamos lá então tramar um plano que será inútil no fim das contas. Mas primeiro, vamos para um lugar mais confortável porque essa sua sala toda aos avessos está me deixando grilado e com vontade de socar essas sua carinha de emo!’’ Reclamou ‘’Fala sério, Sasuke?! Eu te conheço muito bem! Somos amigos há quanto tempo?’’

Sasuke não rebateu, pois de repente mais alguém apareceu na sala olhando-os pesadamente: ‘’Eu me atraso alguns minutos e vocês já estão voando no pescoço um do outro?’’

‘’Viu, Teme. Aí está ele!’’

‘’E os papeis?’’ O Moreno grunhiu.

O grisalho levantou-os em suas mãos, balançando-os para deixa-los em evidencia: ‘’Estão aqui! Fiquem calmos. Os documentos da ANBU foram averiguados e foram considerados oficiais e verídicos de forma que podemos usa-lo como prova de que os atos de Itachi em massacrar o Clã Uchiha foram a mando de Konoha’’.

‘’Então tudo está dentro dos conformes!’’ Murmurou Naruto convicto e dando uma cotovelada em Sasuke: ‘’Eu lhe disse, Teme!’’

‘’Demorou porque não acreditaram nos resultados e resolveram fazer a testagem outras vezes. Deu positivo em todas as vezes que eles repetiram os testes para ver se os papeis eram mesmo verdadeiros. Uma cópia foi enviada a comissão que irá julgar o caso. E não só isso, depois que eles se deram por convencidos resolveram tomar providencias. Resolveram então convocar os anciões que naquela época sabiam de tudo e ainda estão vivos, agora eles também foram intimados a prestarem explicações lá no tribunal’’ Informou de uma vez ‘’Em resumo, Homura Mitokado e Koharu Utatane, antigos conselheiros do Terceiro Hokage, terão que dizer a verdade sobre oque sabem. Não poderão mentir ou omitir o fato inegável de que foi tudo uma missão a mando de Konoha!’’

‘’Vamos conseguir ajudar Itachi!’’ O Uchiha sussurrou, mas todos escutaram.

‘’Você tinha alguma duvida?’’

Aquelas palavras de Hatake chegaram-lhe os ouvidos como frases de conforto, Sasuke pode enfim suspirar aliviado depois daqueles dias exaustivos. Mas nem por isso devia baixar a guarda e fingir que estava tudo de mãos beijadas: ‘’Ainda temos detalhes a discutir, embora!’’ Avisou.

‘’Faltam ajustes pequenos até o julgamento. Acredito que demos um grande passo’’ O grisalho murmurou parecendo menos tenso também. Foi quando ele notou: ‘’Ei... Oque foi que vocês fizeram com essa sala?!’’.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Era realidade: Conseguiram arrumar tudo em dois dias. E ainda faltavam cinco para o julgamento. Mas mesmo com tudo organizado, Sasuke não estava menos nervoso(...).

Lá fora o entardecer já pairava no horizonte e logo o sol iria se por. Estavam discutindo o ultimo tópico agora e estava um tanto desgostoso: ‘’Tudo já está acertado. Meu irmão só precisará falar a verdade’’ Resmungou. Havia uma clara diferença entre Sakura e Naruto, seus antigos parceiros de equipe. Sakura levava mais sem sentimentos em consideração, ela não o pressionaria a falar com Itachi sobre coisas assim tão delicadas para ambos. Mas Naruto? Naruto, aquele grande cabeça oca, não se daria por vencido, era muito persistente.

‘’Ei, me escuta, tá legal? Eu sei que já faz muito tempo desde que você e seu irmão moraram na mesma casa. Sei que jamais conversaram sobre o passado honestamente. E sei que isso pode ser desconfortável no começo, mas com um pouco de perseverança vai se tornar melhor eventualmente. Sasuke, você sabe que terá que falar com o seu irmão sobre o interrogatório que será feito a ele lá no tribunal e isso meche com histórias do passado que vocês dois terão que desenterrar. Vai ter que falar com ele!’’ Explicou.

‘’Sei disso. Mas ainda temos alguns dias...’’ Disse olhando-o aflito ‘’Entendo que precisamos repassar as coisas, para que tudo saia como queremos lá no tribunal temos que ver e rever cada um de nossos passos minuciosamente. Acredite, vou conversar com meu Aniki, para que passamos ensaiar a coisa toda. Pra não abrir chance de erros!’’

‘’Exatamente!’’ Naruto afirmou.

Kakashi olhou seriamente, no entanto: ‘’Vocês têm alguns dias, é verdade. Mas sugiro que pare de postergar a conversa’’.

‘’É, ele tem razão, Teme!’’

Sasuke levantou-se de onde estava, já agoniado o suficiente: ‘’E como eu deveria começar? Eu já disse. Sempre que vou lá pra conversar, ele fingi que está dormindo ou que está ocupado lendo algum livro ridículo ou se tranca no banheiro(...)!’’

‘’Ele está fugindo do assunto tanto quanto você. Mas não pode deixar as coisas continuarem assim, você é o Uchiha mais velho agora, tem que aguentar o tranco. Tem que ser firme com ele(Da)ttebayou!’’

O moreno resmungou: ‘’Olha só quem fala. Você não consegue por ordem nem na sua casa, e quer me dar conselhos de como gerir minha família!’’.

‘’OLHA SÓ! Já esta fugindo do assunto novamente!’’ Apontou o loiro ‘’Escute. Terá que falar com ele e ponto final!’’

O rosto do moreno se contorceu furiosamente, suas mãos fecharam em punhos de tanta raiva. Entretanto, no fim apenas rosnou e mordeu a bochecha tentando controlar-se para não ficar insano. A carranca do Uchiha se amenizou, realmente queria ficar com raiva de Naruto: Mas já não conseguia. Afinal de contas, o idiota tinha razão assim como Hatake. Percebeu em suas próprias atitudes e notou estar agindo feito criança novamente.

Kakashi e Naruto só estavam prestando-lhe ajuda e dando-lhe os conselhos necessários, assim como Sakura. Por mais que quisesse queima-los com Amaterasu tinha que acalmar-se.

O rosto de Naruto se abrandou: ‘’Olha Sasuke, se não puder fazer isso sozinho não tem problemas porque vamos lá falar com ele junto com você, e ele terá que nos escutar!’’ O Uzumaki instigou-o ‘’Não é como se você precisasse estar sozinho nessa tarefa!’’ Disse condescendente.

O Uchiha suspirou pesadamente dando-se por vencido, afinal ambos estavam lhe ajudando muito e sentia-se uma bosta por estar recusando ajuda desde o começo, primeiro fez isso com sua esposa e agora com seu melhor amigo e seu antigo Sensei. Isso não estava certo e só estava atrapalhando o andar das coisas, a longo prazo isso só os prejudicaria no julgamento e não podia continuar temendo: ‘’Tem razão, eu só estou fugindo do assunto!’’ Admitiu abertamente, sem esconder seu temor com tudo. Foi quando seus ombros ficaram mais moles e confessou: ‘’É complicado, sabe?!’’

O grisalho olhou-o com preocupação, e o moreno podia entender porque afinal de contas aquele homem sabia de sua história e do quanto ele sofreu seu passado, por trás de todo o ódio e rancor que exibia antes havia uma imensa tristeza e o Hatake sabia disto. ‘’Você prevê o pior antes mesmo de ter ido falar com ele. Mas escute, ansiedade é o maior tiro no pé que pode existir, afinal você só saberá o que vai acontecer quando tiver acontecido’’.

‘’Eu sei!’’ Disse exasperado ‘’Mas ainda não tive coragem de conversar com Itachi sobre esse assunto, sabe!?’’ Disse em afligimento ‘’Você não entende como ele está. Ele está mal, mesmo que não queira demonstrar isso abertamente. E além disso... Essa história do massacre não meche só com ele!’’ Confessou.

‘’Sabemos disso!’’

‘’Esses dois dias quanto àquela intimação chegou, tentei transparecer calmaria e centralidade para meu Aniki, mas sabia que apenas isso não era o suficiente para acalma-lo porque mesmo que eu estivesse dando tudo de mim e trabalhando duro para ajuda-lo o quanto possível, no fundo eu sempre soube que a maior luta que enfrentaríamos é essa que travamos nós mesmos com nossas consciências. Pois por mais que eu não deixe muito obvio, ainda sofro com o assassinato de meus pais e de seu clã bem na frente de meus olhos. E sei que Itachi também é assombrado pelo massacre. E agora ambos teremos que desenterrar isso de nossos corações e voltar a falar sobre o assunto bem na frente de várias pessoas naquele maldito tribunal(...) Por céus, meu irmão vai ser interrogado lá... E eu nem sei como ele vai lidar com isso. E nem como eu vou lidar!’’

‘’Por isso você tem medo do que pode acontecer’’ Afirmou Kakashi, resumiu o obvio. E por mais que o Uchiha quisesse negar até o fim, estaria mentindo para si mesmo se tentasse. Então ele só assentiu e admitiu quietamente a verdade que era um tremendo vexame.

Sasuke e Kakashi trocaram um olhar afável. E a pessoa menos improvável foi quem explodiu: ‘’COMO É? VOCÊ TÁ COM MEDO!’’ Berrou Naruto ‘’Que palhaçada é essa, dobe!?!’’

Conseguia compreender o espanto do amigo. Como pessoa, Sasuke estava ali sofrendo com suas enormes cicatrizes emocionais advindas da morte de seu clã e todos os seus traumas passados, algo que sempre tentou esconder por trás de toda frieza, arrogância e orgulho. E por mais empatia que Naruto tivesse por ele, por mais que entendesse sua dor, Naruto nunca o viu desmoronando assim a ponto de tornar-se tão fraco e covarde que nem sequer tinha forças para falar com seu próprio irmão cara a cara. Então aquilo era um enorme choque para o Uzumaki.  

‘’Finalmente você pode me entender completamente, Dobe!’’ Explicou ‘’Isso me faz lembrar-me de quando éramos crianças, naquela época estávamos quase exatamente nas mesmas circunstâncias. Você não tinha amigos e nem família, assim como eu. Mas éramos diferentes porque mesmo que tivéssemos as mesmas desvantagens, sua infância toda você foi carente de atenção, era aquele garoto queria provar tanto a si mesmo e mesmo que tentasse tanto sempre acabava sempre como um idiota, enquanto eu estava sempre acima da média, eu era considerado extraordinário e inteligente, diferente de você’’.

‘’Não estou entendendo onde você quer chegar’’ Grunhiu o loiro.

‘’Você estava queria poder se relacionar com as outras pessoas e ser reconhecido. Enquanto eu, depois da traição de meu irmão, fiquei profundamente desconfiado de todos e por isso evitava formar laços com qualquer pessoa porque temia que as perder ou decepciona-las’’ Continuou ‘’Então, você adotou um objetivo de vida, se tornar Hokage para deixar de ser visto como alguém inferior e ter sua força reconhecida, ser estimado pelas pessoas. E eu tinha o meu, minha única fonte de motivação era matar meu irmão e reestabelecer o clã Uchiha. E eu estava tão focado em meus objetivos que não notei quando me perdi pelo caminho, eu estava tão determinado a matar Itachi e obter justiça para minha família(...)’’.

‘’Eu ainda não estou entendendo onde você quer chegar, Teme!’’ Resmungou.

‘’O ponto é, todos atingiram seus objetivos. Você se tornou alguém respeitável. Sakura deixou de ser aquela menina boboca que babava por mim, aquela garota que só estava interessada na minha aparência, ela cresceu e desabrochou como deveria ser. E eu... Segui o caminho mais obscuro que poderia ter tomado, fui consumido por vingança’’.

‘’E daí? Você também mudou, Sasuke! Você é alguém merecedor assim como nós(Da)ttebayou!’’

‘’Não! Porque todos nós passamos por circunstâncias trágicas, você, Sakura, o Kakashi’’ Disse apontando para o grisalho ‘’E todos vocês superaram, enquanto eu continuo falhando e não excedendo as expectativas’’.

‘’Isso não é verdade!’’

‘’É Sasuke, as coisas não são assim!’’ O mais velho deles falou finalmente ‘’Naruto tem seus problemas, eu... Bem eu ainda tenho muitos problemas com certeza... E toda vez que eu penso que superei meus fantasmas eles voltam para me assombrar e eu me sinto fraco’’ Admitiu o homem ‘’Por mais que você pense assim, acredite, a vida de ninguém é perfeita’’.

‘’É Teme! Minha vida é uma bagunça... Eu trabalho demais, às vezes decepciono minha família. Boruto guarda rancor de mim por isso eu sei... E às vezes eu tenho vontade de jogar tudo pro ar. Às vezes eu fico me questionando se eu queria tanto assim esse cargo que tenho hoje. Às vezes parece que isso foi a melhor coisa que me aconteceu, e às vezes parece a pior. Mas olha... É assim na vida de todo mundo. Todos têm altos e baixos. Estamos sempre oscilando entre erros e acertos. E oque nós faz fortes não é o quanto conseguimos vencer os problemas, mas o quanto conseguimos ter resiliência para suportar as adversidades!’’.

‘’Tá! Se vocês tem tantos problemas, como fazem parecer que não?! Como contornar isso?’’

‘’Não existe uma formula, Sasuke!’’ Hatake lhe informou ‘’Mas é mais fácil quando não se está suportando tudo sozinho!’’

E podia ser a coisa mais ridícula e clichê, mas observando-os tão cheios de determinação em ajuda-lo começou a fazer do Uchiha alguém mais forte. E assim esperava que até o final do dia poderia ter a coragem necessária para ir até seu irmão e finalmente conversarem honestamente, talvez pudesse também dar as boas novas sobre os documentos que Kakashi conseguiu que fossem aprovados, podia levar boas noticias sobre o futuro. Talvez agora tivesse coragem para encarar as pessoas que amava e assegurar que tudo iria REALMENTE ficar bem.

•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•

Itachi P.O.V (Point Off View)

Fez de tudo para tentar aplacar aquele martírio. Apesar de tudo ainda estava muito agoniado e aflito, certamente que ele escolhera aquele caminho de livre e espontânea vontade; Escolheu assassinar sua família, por sua adesão a Vontade do Fogo, aceitou aquela missão e teria que viver com essa escolha terrível. Uma missão que lhe trouxe consequências terríveis.

Entendia que ficar se afundando em pensamentos pessimistas e depressivos não o levariam a nada. Sabia que toda a nova famiia que tinha estava se esforçando muito para que tudo desse certo em suas vidas, no fundo não queria decepciona-los. Mas se por um lado queria viver uma nova vida e ser feliz pelo menos uma vez, o outro lado não sabia como sobrepujar aquele sentimento ruim que tinha no peito. Como seguir em frente se jamais conseguiria se perdoar?

Não sabia como lidar com aquilo ainda. Podia ter se passado anos, mas ainda era difícil; Tentar refletir sobre aquilo era árduo e obscuro. Sua mente estava tumultuada e por isso tomou uma decisão impensada: Estava do lado de fora da casa de seu irmãozinho. Era por volta das 20h31min e as ruas estavam apinhadas de pessoas, porém ele foi discreto...

Enquanto se deslocava pelas ruas, podia ouvir em sua cabeça e antecipar as reclamações que todos fariam: Sakura ficaria desapontada com ele, pois mais cedo a mulher tentou sonda-lo e disse-lhe que queria ajuda-lo. A esposa de seu irmão realmente tentou compenetrar em seu sofrimento e ajuda-lo naquilo que ela podia. Obviamente se esquivou dela e de sua benevolência e compaixão. Não merecia o auxilio dela, justo ele que estragou a vida de seu irmão e obviamente estragou o homem que ele era e o pai e marido que ele deveria ser. Não intendia porque Sakura se importava tanto com ele. E Sasuke, quando descobrisse sua escapadinha iria ficar furioso, certamente. Iria perder a cabeça e se enraivecer dele.

Mas precisava sair... Passou o dia inteirinho sozinho, trancado naquela casa com seus pensamentos para assombra-lo. Sakura tentou lhe dar apoio o quanto pode, mas ela tinha que ir trabalhar. Sarada foi trinar para os testes Jounnin. Sasuke foi trabalhar.

E ele também precisava sair um pouco. E, além disso, o lugar aonde ia era improvável que houvesse alguém. E de fato, estava vazio. Mas precisou de muita coragem para entrar no lugar e procurar as lápides das vitimas, sendo que foi ele mesmo que as assassinou e sua alma estava cheia do sangue daquela chacina.

Era verdade: Estava no cemitério. Jamais teve a oportunidade de ir lá sequer uma única vez, nunca viu a sepultura de seus familiares(...). Viu que todo o clã foi colocado lado a lado, havia um memorial destinado a eles, o lugar era gramado e organizado. Chegou perto, bem perto, seus familiares foram sepultados como pessoas de bem, ninjas honrados.

Estava tudo silencioso até demais. Nem o vento zunia, como se respeitasse o momento.

*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*

Em memória do Clã Uchiha

Guerreiros excepcionalmente talentosos que não hesitavam em batalhar pelo bem de Konoha. Que suas vidas não tenham sido ceifadas em vão, enquanto forem amados pelos que ficaram, nunca morrerão por completo. Às recordações do Clã nobre e honrado que foram triunfará e mostrará aquele que lhes ceifou a vida que no fim os bons e justos serão lembrados como uma bênção, porém os maus logo serão esquecidos.

*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*…*

Era mais do que torturante poder ver aquilo pela primeira vez. Fora pura impulsividade que levou-o ali, um risco desnecessário, mas pensou que pudesse acabar com sua inquietação e irritabilidade indo enfim aquele lugar. Achou a lápide de seus pais...

Uchiha Fugaku

Uchiha Mikoto

Oque mais doía era saber que jamais poderia vê-los novamente, e depois daquele julgamento as honrarias que fizeram ao Clã seriam provavelmente revogadas, já que eles tramavam um golpe. Doía porque jamais perambularia por Konoha com Sasuke nas costas, como duas crianças inocentes. Jamais ouviria seu pai encher o peito de orgulho para se gabar que aqueles eram seus meninos. Jamais veria o rosto amoroso de sua mãe ao chegar em casa depois de um longo dia cansativo. Jamais poderia acordar no dia seguinte e logo sair para treinar junto a Shisui.

Pensamentos indesejados voltavam para assombra-lo. Aquilo era agoniante. Fora tomado por uma melancolia profunda. Oque poderia ele fazer para aplacar aquela dor no seu coração já esmigalhado? A culpa o dilacerava.

Ficou lá, suas lagrimas queimavam em seu rosto. Seu peito dolorido de remorso. Sua mente voando longe, atormentada por imagens e sons alucinantes que desejava nunca ter ouvido: Sua katana cortando o ar e matando toda a sua família em uma única noite. Isso o angustiava. Estava bem mais do que arrasado, a dor que sentia ia para além da dor física, uma emoção indescritível.

“Perdoem-me! Por favor, me perdoem!” Lamuriou baixo, as lagrimas ainda rolando como cascatas em seu rosto de porcelana. Não sabia o que fazer para desarraigar aquela agonia de seu peito. Como fazer parar de doer? ‘’Me perdoem! Por favor!’’ Lamuriou-se mais. Entretanto a dor só parecia aumentar assim como seu pranto. Para o que ele fez não deveria haver perdão e isso o quebrava ainda mais.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Não soube por quanto tempo ficou lá, a lua no céu estava um uma posição muito diferente: Sinal das longas horas que haviam passado. Seus olhos doíam e tinha certeza de que depois do tanto que chorou, não conseguiria esconder a vermelhidão aparente e os cantos ainda úmidos.

Nunca havia chorado tanto na vida, tinha certeza. Estranho, chorou até suas lagrimas secarem, até não conseguir pensar mais nada, sua mente totalmente vazia. Sentia-se oco por dentro. Assim, começou a caminhar de volta até a casa de Sasuke. Andando como um moribundo pelas calçadas. Estava mesmo tarde, as ruas estavam completamente vazias e as lojas fechadas. Provavelmente seu irmãozinho, a esposa e a sobrinha já estavam em casa agora, todos deveriam estar preocupados ou mesmo procurando-o naquele momento.

Foi pensando nisso que viu um vulto a sua direita. Virou-se lentamente na direção... E não acreditou no que viu... ‘’Shisui?’’ Sussurrou.

‘’Parado aí mesmo, Uchiha Itachi. Você está preso. Se não colaborar comigo, terei que mata-lo!’’ A pessoa rosnou irada, uma voz feminina. Olhou com olhos arregalados: Não era Shisui. Podia notar agora, era uma menina e ela empunhava as famosas Lâminas de Chakra que antes pertenciam a Asuma Sarutobi. Mal pode acreditar. Ficou olhando embasbacado sem nem sequer se mover.

Mas a verdade era que estava ferrado. Não porque temia aquela garota, mas sim porque tinha sido visto. Foi MESMO visto e ainda por cima por um ninja. Merda!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso! Qualquer coisa, crítica ou comentários, é só mandar.
Estou doida pra saber oque acharam do cap!!

—--
Obs: Já sabem que interceptou o 'Tachi, né!