(Esse capítulo vai ser um flashback no ponto de vista do Aaron.)

Aaron

"- Mas não é justo! - teimei com minha mãe - Por que ela pode ficar aqui e eu tenho que desperdiçar meu verão inteiro em um retiro político?! 

— Vai ser legal, meu querido. - disse tentando não perder a calma - E Ela vai começar seu treinamento Padawan.

— Mãe, eu tenho 12 anos, não vai ser legal.— bati o pé.

— Aaron, abaixe o tom quando falar com sua mãe. - meu pai me repreendeu - Você vai e pronto.

— Mas pai...

— Assunto encerrado. 

Bufei, irritado. Não queria ir para o retiro do Parlamento e também não queria que Elara fosse embora. Estúpidos Jedis. Estúpidos políticos.

Subi para o meu quarto e fui me arrumar para o jantar. Tomei banho e me vesti, ouvindo a conversa lá embaixo. Quando desci, estavam todos me esperando para que pudéssemos comer. Meu pai estava em uma ponta da mesa, como sempre, enquanto minha mãe estava na outra. Me sentei ao lado de Ela, reparando como estava bonita. Tinha longos cabelos negros, o rosto moreno com algumas sardas que desapareciam conforme ficava mais velha, e grandes olhos escuros que refletiam o céu lá fora. Elara era dois anos mais nova, mas nunca tivemos problemas. Sempre fomos melhores amigos e eu sentiria a falta dela. Quer dizer, eu voltaria do retiro. Mas não poderia dizer o mesmo dela, em relação ao seu treinamento Padawan. 

— Está ansiosa, querida? - meu pai perguntou, enquanto se servia.

— Não muito. - Ela foi sincera - Mestre Satoro não parece ser o tipo de cara que gosta de brincar de pique.

Rimos de sua inocência. Também sentiria falta desses momentos; todos juntos rindo das palhaçadas de Elara. Me perguntava se conforme o tempo ela ficaria séria e se esqueceria de toda a magia de nossa infância. Se esqueceria de toda a nossa amizade. 

Terminamos de comer em silêncio e depois fomos dar uma volta no jardim. O clima estava quente e as estrelas brilhavam no céu. Eu evitava olhar para Ela; sabia que se olhasse ficaria vermelho.

— Então... - quebrou o silêncio - Quando parte?

— Amanhã cedo. - falei, tentando não me enrolar nas minhas palavras - E você?

— Amanhã a noite. - suspirou.

— Vai voltar a morar aqui, quando voltar?

— Não é bem assim, Aaron. - se entristeceu - Só vou acabar meu treinamento quando tiver 20 anos. Não seremos mais crianças e acho que não haverá mais necessidade de seus pais cuidarem de mim.

— Quer dizer que não vai voltar?! - me revoltei. 

— Não sei...

Mas não a deixei terminar. Fechei os olhos e lhe dei um selinho, sentindo minhas bochechas esquentarem. Elara arregalou os olhos e recuou.

— Por que fez isso?! - sussurrou exasperada.

— Queria ser o primeiro a te beijar. - coloquei a mão na cabeça, embarassado - Assim não irá se esquecer de mim.

— Não vou me esquecer de você. - disse colocando os dedos nos lábios, estava toda enrubescida - Não depois disso.

— Foi importante para mim. Espero que para você também.

— Mas você disse que já beijou várias garotas e... - então caiu na real e me deu um tapa fraco no braço - Mentiroso!

Eu ri e a abracei, apoiando o queixo em sua cabeça. 

— Sempre gostou de mim, não é? - zombou rindo.

— Você ainda tem alguma dúvida? - suspirei, falando a verdade - Mas prometa que vai manter segredo!

— Não se preocupe. - se soltou do abraço, indo para dentro - E Aaron...

Me virei para ela, preocupado com que essa fosse a última vez que pudesse a observar e pensar em como estava bonita.

— Também foi importante para mim. - e se foi.

Bufei, deixando uma lágrima cair. O que eu estava pensando? Quantas garotas iriam entrar e sair da minha vida? Porque estava sofrendo tanto por causa de Elara? Conforme mais ela se afastava, mais eu sentia um buraco se abrir no meu peito. Eu estava perdendo uma melhor amiga. Não queria me sentir.

— Aaron, querido, está na hora de ir para a cama! - ouvi minha mãe gritar. Subi para o quarto e bati a porta, pulando na cama. Fechei os olhos e abri, na esperança de que acordar desse pesadelo. Mas a mala continuava lá, feita. Olhei para um quadro na minha mesa. Estavam eu e Elara, encobertos de terra, e com sorrisos banguelas. Ri me lembrando desse dia e de como as coisas eram mais fáceis nesse tempo. Senti meus olhos abaixando, pesados de cansaço, e adormeci."

Gritei, levantando rápido. Estava suado e com a respiração acelerada. Calma, foi só um sonho. Olhei para a janela e ainda estava escuro; poucos carros passavam lá fora. A porta se abriu e por ela Elara entrou. Usava uma longa camisola azul de alças finas; os cabelos caíam em cachos até o meio de suas costas. Ela estava descalça e com o rosto marcado. Se olhasse atentamente, ainda encontraria algumas sardas. Deus, como estava linda.

— Ouvi você gritar lá do meu quarto. - disse preocupada - Você está bem?

— Sim, foi só um sonho. - me deitei novamente.

— Vai ficar bem? - assenti com a cabeça e ela estava se retirando.

— Elara. - a chamei.

Olhou para mim, calma, como se fosse a primeira vez que nos víssemos.

— Fica.