Hope Tanner escrita por Moriah


Capítulo 3
Capítulo Dois: Sobre Ver


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente peço que todos leiam o primeiro capítulo outra vez. Sim, reescrevi de novo, não desistam de mim :c
Leias as notas iniciais do primeiro capítulo, muito importante!

Capítulo betado pela minha maravilhosa crush, @Girl_Unicorn ♥



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Capítulo Dois:

Sobre isqueiros

 

 

— Hope? — Fran cantarola. — Em que mundo você está?

— Em um bem bizarro — Hope responde sonolenta, batucando os dedos na madeira branca do balcão.

— Você está bem?

Hope preferiu não responder aquela pergunta pois, desde que aquela carta estranha apareceu, estava passando por uma crise existencial avassaladora.

 — Tem duas cartas para você aqui — Fran disse, esperando uma reação da garota.

— Faz um favor para mim? Jogue-as fora.

— Não vai ao menos ler? — perguntou confusa, logo se virando e começando a mexer em uma panela no fogo.

— Quem entregou elas? — Hope perguntou curiosa.

— Veio junto com as caixas de frutas. O entregador não soube me explicar como apareceram lá. Eu ia jogar fora, mas... Vi que era para você. Então resolvi guardar — Fran dá de ombros, ainda de costas.

Jogue-as fora — repetiu. 

— Hope, pense bem, a pessoa deve estar desesperada para falar com você.

— Fran, eu... Olha só... — respirou fundo procurando um motivo para não ler. Procurando argumentos para negar e não parecer uma fã louca de teorias da conspiração.

— Apenas leia e se depois não valer sua atenção, jogue fora. Pode ser? — a mulher pediu, virando-se para Hope e se encostando em um armário ao lado do fogão.

 — Por que se importa tanto? — a garota de madeixas roxas cerrou os olhos verdes, perguntando vagarosamente.

Os olhos da mulher se suavizaram.

— São pedaços de papeis, Hope, não me importo com eles. Eu me importo com você.

A garota observou o rosto da mulher procurando qualquer sinal de pura curiosidade, mas não encontrou. Fran parecia animada e feliz, apenas isso.

— Estão aí com você? Me alcance logo. — Hope bufou, vencida pelo cansaço e curiosidade.

Fran tirou dois envelopes amarelados de algum bolso da calça jeans que vestia. As duas cartas eram idênticas à primeira.  

— Acho que estou sendo perseguida.

— O que disse? — Fran já se encontrava virada outra vez, agora cortando legumes.

— Fran, acho que estou sendo perseguida.

— Por quê? 

Hope balançou as duas cartas como se fosse óbvio demais assim que a mulher se virou outra vez para ela.

— Recebi uma igual a essas ontem, todas dizendo a mesma coisa e são assinadas por esse tal de Matthias.

— E o que dizem? — Perguntou, pouco interessada. 

A garota alcançou a carta aberta para Fran, que passou os olhos pela mesma antes de tornar a encarar Hope, dessa vez com os olhos inexpressivos.

— Vê? — pergunta baixinho Hope.

— O quê exatamente?

— Não vê?

— Hope... — a mulher começou, mas então após apertar os olhos e franzir as sobrancelhas, mordeu o lado de dentro da boca se calando por um tempo — querida, não há nada aí.

— Você também não vê — a conformidade da garota com a situação era tão espontânea que assustava, como se ela já esperasse ou simplesmente não se importasse.

— Pelos céus Hope. O quê não vejo, menina?

— Esquece, eu mesmo vou jogá-las fora. Até, Fran. — Hope pulou da cadeira e se pôs a andar em direção a porta lateral.

— M-mas e o seu café?

— Sem café por hoje.

— Tem certeza? — Fran perguntou, surpresa.

— Não, estava sendo dramática, quero o meu café.

Enquanto andava outra vez em direção ao balcão, Hope ouvia a risada leve de Fran. Quando chegou lá, seu café a esperava no balcão.

— Queria saber fazer café tão rápido — Hope se permitiu murmurar.

Fran riu outra vez antes de começar a ajeitar uma mesa próxima onde as crianças iam para pegar os talheres, copos e pratos para  se servir. Foi vendo Fran e outras ajudantes trabalhando que uma pergunta caiu como um raio na cabeça de Hope, a menina nem processou muito apenas começou a divagar em voz alta:

— Fran, você disse que viu que a carta era para mim, certo?

— Hã... Sim?! — Fran respondeu hesitante.

— Não pare para pensar, seja sincera — Hope ralhou antes de continuar: — É que, veja que estranho, ontem eu mostrei uma dessas cartas para Adora e Tracey e elas falaram que eram apenas um papel em branco, como você viu que era para mim?

— Eu vi o envelope, querida, no envelope diz que é para você.

— E como está escrito lá?

Para Hope Tanner. — Fran cita vagarosamente.

— Engraçado. — Ela murmura, lembrando-se de como no envelope que o diretor e ela leram estava escrito a localização completa dela, não apenas o nome.

Hope começa a tatear os bolsos onde havia guardado as cartas enquanto ia em direção ao pátio, pegando um dos envelopes lê em voz alta:

— “Hope Tanner, Orfanato Rainbow, segundo andar, corredor azul, quarto 221G”, exatamente como a outra. Por que você está mentindo para mim, Fran? Porque, veja bem, se você não consegue ver como sabia que era para mim? E se você consegue ver, sabia que não estava escrito apenas “Para Hope Tanner”, então está mentindo. Por quê?

O sinal tocou e magicamente, com tamanha rapidez, o refeitório se encheu de adolescente emburrados e sonolentos. Hope ainda esperou um pouco pela sua resposta, mas não a encontrou e sendo empurrada pela multidão de esfomeados foi obrigada a deixar seu posto na frente do balcão. Saiu para fora e deixou a pequena porta branca bater atrás de si, uma das cartas ainda na mão. Foi um pouco depois de se sentar no balanço um pouco molhado por causa do orvalho que de repente uma onda de fúria a inundou:

— Merda, merda, merda, merda! — rasgava as duas cartas rapidamente em pedaços pequenos que logo seriam levados pelo vento.

— Ainda com essas cartas, Hope?

— Já lhe dissemos que não há nada aí.

As irmãs apareceram de repente, ambas com cabelos castanhos escuros e olhos profundos. Tão parecidas e antonimas ao mesmo tempo. Adora tinha um rosto mais triangular e olhar feroz, Tracey trazia consigo um rosto grande e chamativo, com uma boca quase inexistente e olhos pretos pequenos demais.

— O que querem? — Hope rosna, irritada.

— Um casal está programado para daqui à uma hora. — Tracey explica.

— Eu sei.

— Você devia se arrumar — Adora aponta, enquanto falava o coque frouxo feito com seu cabelo aos poucos ia se desmanxando.

— Para eles não me adotarem? Não obrigado, eu vou ficar aqui por trás mesmo, sozinha.

— Tem certeza? — Adora pergunta.

— Quero ficar sozinha, mas boa sorte, vocês duas merecem... Só espero que não separem ambas.

— Nós podemos te ajudar a se arrumar... — Tracey tenta outra vez.

— Quero ficar sozinha, dá para entender?

— Não precisa repetir. — Adora murmura, puxando Tracey, ambas entrando no refeitório e deixando Hope para trás.

{...}

Outras três cartas apareceram, todas ao mesmo tempo, um dia depois de tudo aquilo. Elas pareceram presas em sua janela, um pouco molhadas pela chuva que caiu a noite. Hope as pegou e correu para o refeitório, ainda de pijama, sem se importar muito.

As únicas amigas que tem ali são Adora e Tracey e, depois do jeito que as tratou, duvida muito que elas ainda queiram conversar. Fora elas, pouca pessoas olham para Hope sem ser para julgá-la, o mundo a deu um titulo de “Zé Ninguém”, isso é como uma licença grátis para não se importar.

Foi divagando se hoje finalmente teria suas respostas de Fran que sem perceber trombou com alguém no corredor.

— Qual é o seu problema? Ficou cega?

— Fiquei. — Hope responde para Wanda.

Após conseguir manter o equilíbrio Hope volta a andar em direção ao refeitório, sem se importar com a outra garota.

— Espere aí, e minhas desculpas? — Wanda puxa Hope pelo braço.

Hope abre a boca para responder algo mal criado, mas apenas suspira murmurando um “desculpa”.

— O que é isso? — Wanda pergunta, arrancando as cartas da mão esquerda de Hope. — Envelopes em branco? Por que está andando com essas merdas, Tanner? Pretende enviar para alguém? Parece que esqueceu que não há ninguém lá fora por você.

— É uma coisa minha, pode devolver?

— Deixa eu pensar... Não. — Wanda pega um dos envelopes e abre uma das cartas, divagando se talvez a garota estranha de cabelos roxos tivesse recebido algum vale compras.

Hope se contorce de agonia ao pensar em como seria zoada se a menina lesse a carta enquanto Wanda passa os olhos pelo papel.

— Uma carta em branco? Só podia ser, ninguém nunca te enviaria uma carta.

— Eu nunca disse que era para mim. — Hope dá de ombros arrancando suas cartas e o envelope da mão de Wanda. — Agora se me der licença, é recém sete e meia da manhã e não estou com paciência para ver você estragar meu dia.

Não esperou uma resposta — isso já virou uma mania de Hope — simplesmente se virou e continuou o seu caminho, entrou no refeitório e correu até a frente do balcão.

— Fran! Fran? — vasculha com os olhos o pouco da cozinha que consegue ver, mas nada da mulher.

— O que faz aqui tão cedo? — a voz de Wilbur invade o local.

— Diretor Wilbur? O que faz aqui tão cedo? — Hope pergunta no automático, então assim que suas palavras assentam percebe o quão idiota foi e tenta consertar — Tomo meu café mais cedo que as outras crianças, e o senhor?

— Vim conversar com as ajudantes da cozinha.

— Você viu Fran por aí?

— Francine?

— É.

— Quem quer saber?

Eu. — Hope responde como se fosse óbvio, revirando os olhos.

— Ah, bem, ela tirou um mês de férias, para ficar mais próximo do neto enquanto ele ainda não foi para o colégio interno. — Wilbur responde.

Wilbur é aquele tipo de homem que passa segurança, ao mesmo tempo em que parece ter saído de algum desenho em quadrinhos. Ele fala sério, mas brincando, tem um jeito espalhafatoso de falar com as mãos e sempre tenta explicar tudo. Um homenzinho sério demais que faz você chorar de rir. Tem sido um avô para Hope desde que pintou o cabelo de roxo e começou a meio que sofrer bullying por aqui.

— Ela nem me avisou nada. — Hope murmura tristemente.

— Foi de ultima hora, minha querida, tenho certeza que gostaria de ter te avisado. Há algo em que eu posso te ajudar?

— Francine não consegue ler o que tem na carta, mas você e eu conseguimos. — Hope levanta as três cartas na altura dos olhos do diretor.

— Eu li o que estava no envelope, não na carta. — Wilbur responde vagarosamente, puxando um banquinho (e ganhando de brinde todos os outros daquele lado) de uma das mesas brancas próximo de onde Hope estava.

— É, Francine disse a mesma coisa, mas o que eu e você lemos no envelope foi diferente do que ela leu. Ela estava mentindo para mim, eu só queria saber o porquê.

— Não acho que ela mentiu. Eu e você somos diferentes, e mais uma vez eu acho que você já percebeu isso. Se sair mostrando essas cartas para todo mundo, vão pensar que você é louca e isso não vai ser nada legal.

— Mas eu não sou louca.

— Não é — Wilbur concorda, balançando a cabeça negativamente.

— Você vê? — Hope aponta, saindo como uma interrogação espontânea.

— Vejo. — Wilbur sorri antes de se levantar e deixar Hope sozinha no refeitório.

Hope ficou um tempo pensando em tudo aquilo, sabe quando uma pessoa fala por entre linhas e Wilbur estava fazendo isso. O que mais a deixa irritada é que diferente de todas as outras vezes, ela não consegue encontrar o X da questão e sempre foi muito boa em encontrar o X.

— Precisa de algo, docinho? — uma das ajudantes que não devia ter mais de 16 anos pergunta para Hope.

É por isso que ela ama tanto aquela mulher de cabelos brancos, Francine a tratava como se tivessem a mesma idade, não como se Hope tivesse quatorze ou ela seus cinquenta e tantos, elas simplesmente falavam na mesma sintonia, diferente das ajudantes que eram só alguns anos mais velhas que Hope e a tratavam como uma criança. Isso fez sua raiva aflorar, andava sensível ultimamente demais.

Hope adora rasgar papeis, adora queimar coisas, adora riscar palavras ao meio, adora desenhar em fotografias, ela é uma vândala e não esconde isso. Gosta e gosta mesmo dessas coisas. Nunca fez nada de errado na rua, mas dentro de si essa coisa... Isso — algo ali dentro — borbulha como se esperando para ela aprontar, se pôr a prova. Hope tem necessidade de se alto sabotar, se por em perigo, testar seus limites. Ela ama isso e olha que dificilmente ela ama algo.

— Quero um isqueiro.

A garota com um chiclete gosmento na boca torna a olhar com atenção para Hope.

— Não é perigoso? — pergunta, observando a garota vagarosamente fazer um coque firme com o cabelo roxo.

— Vai ser se você não me entregar a porra do isqueiro.


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Notas finais do capítulo

Espero que comentem o que estão achando :3 Tá mais originalzinha, né?
Algum conselho ou critica?

*-*-*

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Curiosidade:
Rowling colocou Harry a usar óculos para que os leitores nunca se esquecessem da sua fragilidade.



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