Delta escrita por Rodrigo Silveira


Capítulo 7
Fugitivos: Fim do Ato I


Notas iniciais do capítulo

Esse é o final desse ato. Nos vemos no próximo.



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— Reen. Reen. REEN. — Berrou meu pai.

Eu estava sentado no sofá olhando fixamente para a TV. Inusitadamente, ela estava desligada. Voltei meu olhar desnorteado para ele.

— Ouviu o que eu perguntei?

Neguei, balançando a cabeça.

— Precisa comer alguma coisa — Ele insistiu — O que você quer? Tem que almoçar algo.

— Não tô a fim. — Disse me levantando. — Tô indo pro meu quarto.

Dentro do quarto, tirei a camisa social e me joguei na cama. Junto com o próprio peso, eu podia sentir o peso de tudo o que estava acontecendo. O plano do meu pai de ir embora era mais tentador agora do que nunca. A solidão me abatera de novo. Mas não era só a falta de Dex. Lea havia desistido e até mesmo Taka já não dava sinal de vida. Aquela era a hora de desistir. De pôr o rabo entre as pernas e me esconder. Mas eu precisava ficar. Por Dex. Ou talvez pelo meu próprio ego.

Sentei-me rapidamente na cama e olhei minhas mãos. As mesmas mãos que tinham disparado labaredas de fogo nos homens que nos perseguiram no shopping. A mesmas mãos que não puderam fazer nada para salvar meu melhor amigo. Eu odiava essas mãos. Desde que tudo começou, todos os dias, em algum momento, eu me perguntava se aquilo era real.

Fechei as mãos com força e em seguida abri. Mirei-as para o guarda-roupa à minha frente. Nada. Nem fumaça. Assim como muitas outras coisas no mundo, eu não conseguia entender como aquilo funcionava. Talvez precisasse de raiva para dar certo.

Vamos lá, pensei, preciso de ódio. E isso eu tenho muito agora. Pensei nos homens que correram atrás de mim e de Lea, na IRIS, até em Taka e no possível assassino de Dex. Pensei em mim mesmo e em como eu era inútil diante de tudo o que aconteceu. E com isso, uma pequena labareda começou a formar-se na minha frente.

Assim que fiz um gesto para comemorar, a chamas se desfizeram.

Levantei-me, entusiasmado. Corri e revirei o quarto, tentando arrumar uma maneira de afastar tudo que pudesse facilmente resultar em um incêndio graças a minha falta de prática. Virei a cama de lado e afastei, o máximo que consegui, o guarda roupa.

O som da banda Black White Fears era pra evitar que meu pai eventualmente ouvisse os gritos de frustração que dava a cada tentativa falha. E, acreditem, elas foram muitas.

Por fim, deitado na cama, exausto e completamente suado — não pelo calor, mas pelo cansaço — ouvi o senhor Erik bater à porta.

— Reen, sai daí. Vem jantar. Já são sete horas e você nem almoçou.

— Tá. — Respondi, sem muito ânimo. — Já vou.

Depois de um banho rápido, juntei-me a ele na sala. Por mais que fizéssemos o café da manhã na cozinha, nós dois sempre almoçávamos e jantávamos juntos em frente à TV. E ali estávamos nós dois novamente. O aparelho estava com um volume bem reduzido, reproduzindo o noticiário local, que exibia alguma matéria que eu não sabia o que era e nem me importava.

— Tem alguma coisa errada com esse frango. — Falei, de boca cheia. — Não foi você quem fez.

Meu pai olhou para mim.

— Eu estava cansado. Tenho direito de errar no sal uma vez na vida. Temos que agradecer o senhor Richard por ter nos levado e nos trazido.

Assim que voltei meu rosto para a TV, tive o maior susto do dia: O rosto de Zac Nelos estava no noticiário, exibindo um carismático sorriso que, depois da informação vinda de Taka, parecia bem mais assustador.

Meu pai teve que dar dois tapas nas minhas costas para me desengasgar e em seguida indicou com o braço para que eu pegasse o controle no sofá e aumentasse o volume. A voz de Nelos preencheu a sala e percebemos que o carisma não se restringia à sua aparência. Ele falava como um bom político e as palavras saíam como se ele entoasse um belo cântico. Estava mais uma vez gloriando-se da segurança das cidades suspensas, coisa de que agora eu duvidava:

... E temos orgulho de tudo o que conquistamos. No passado, Nicolas Albuquerque, antigo prefeito de Éden e fundador da IRIS, acreditava que o futuro da humanidade fosse a evolução biológica. Ele acreditava que, tendo corrigido todos os defeitos da genética e da psicologia, o ser humano melhoraria o seu relacionamento com o outro e, assim, chegaríamos à paz. Por isso, por quase dez anos, nosso fundador investiu em estudos na área da bioquímica. Mas era só mais um delírio que restava das civilizações de baixo, que já tiveram seu fim.

Até mesmo o som da perna metálica do meu pai se mexendo parecia uma grave interrupção no discurso de Nelos. Meu pai estava rígido, sentado de forma séria na sua poltrona. Os olhos, fixos na TV, como se tentasse prever o que ele fosse dizer.

... Quase quinze anos depois, em nenhum momento, deixamos de acreditar que encontraríamos essa paz. Porém, a IRIS volta seus olhares a novos horizontes. A tecnologia. Esse é o futuro em que acreditamos. É o futuro que nos deixou habitar os céus. Juntos, trouxemos para o povo das treze cidades suspensas o que há de melhor em monitoramento, para garantir que chegássemos a essa paz que Nicolas Albuquerque tanto almejou em vida. Ainda assim, não deixamos de ajudar as pessoas em suas dificuldades, e a IRIS Tecnologia tem investido em próteses super avançadas para pessoas com deficiência...

Nesse momento, entendi meu pai por jamais querer trocar sua prótese ultrapassada.

...Mas a IRIS não pode deixar seus compromissos com a segurança. Zac movimentou-se, ajeitando o sobretudo branco que vestia. E é isso que me traz aqui. Em rede nacional, eu tenho um comunicado muito importante para fazer a todos os cidadãos...

Quando ele disse isso, senti meu estômago embrulhar. Em algum lugar em minha consciência, eu sabia que tinha a ver comigo.

... Há quase cinco anos, muito se tem falado em casos de confrontos em todas as cidades. Em todas elas, os envolvidos eram jovens. Eles se autonomeiam Os Revolucionários. Reivindicam para si a autoria da queda da antiga Éden e de outros atos de terrorismo.

Concluí que Lea estava certa. Mas por que iriam falar disso agora, já que passaram anos escondendo? A dúvida estava me fazendo suar frio.

Durante muito tempo, a IRIS preferiu manter toda a investigação em segredo, negando todas as informações que se tinha, assim como os confrontos que travamos. Porém, hoje nós finalmente temos o que dizer. Nossa corporação tinha um evento marcado para a cidade de Nova Eufrades. Um evento em que poderíamos expor melhor nossas ideias para o futuro. Infelizmente, um terrível caso de assassinato ocorreu na cidade. Uma série de falhas técnicas deixou nossas câmeras cegas. Naquela noite, uma criança de doze anos foi morta e no local os investigadores chegaram à conclusão de se tratar de um ato da própria Revolução terrorista.

Ouvir sobre a morte de Dex por alguém que eu sabia que tinha envolvimento nisso fazia meu coração arder. O sangue subiu à minha cabeça. Eu sabia que a qualquer momento eu deixaria saírem as chamas que resultavam toda vez que o ódio me dominava.

Nós não podemos deixar isso impune. Chegou a hora de agir. Nós pusemos tudo o que tínhamos nesse caso e conseguimos chegar a uma conclusão. Mas antes, permitam-me apresentar uma coisa ao povo das treze cidades:

Na TV surgiram imagens de policiais vestidos com um tipo de vestimenta diferente. Eram coletes brancos que protegiam todo o corpo, e capacetes de mesma cor. As viseiras vermelhas impediam de visualizar o rosto.

Esse é o novo investimento do governo. — Disse o homem de pele albina. — Os Arcanjos iriam ser apresentados na nossa convenção em Nova Eufrades, mas nós concluímos que eles seriam necessários aqui. Por fim, a inteligência governamental usou das nossas câmeras para chegar aos assassinos de Dex Lithman. Eles são Reen Kosh Odon, de dezesseis anos, e um rapaz chamado Taka, de sobrenome desconhecido, de dezessete.

Na TV, surgiram o meu rosto e o do Taka, tirados de alguma das câmeras. Aquilo era surreal. Eu estava sendo acusado de assassinar meu melhor amigo em rede nacional. Eu queria levantar e sair correndo para qualquer lugar. Em vez disso, apenas olhei para meu pai. Ele tinha uma expressão vazia em seu olhar, talvez incredulidade. A voz de Zac soou como uma facada em seguida.

Ninguém mexe com os cidadãos das treze cidades que a IRIS jurou proteger. Os criminosos serão localizados e capturados, agora.

Luzes. Vermelhas e azuis.

Elas entraram em minha casa vindas do lado de fora. Uma fração de segundos depois que meu pai e eu nos voltamos para a entrada, a porta foi arrombada pelo chute de um policial. Ele entrou armado com algo que eu soube que seria extremamente letal pelo seu tamanho. Levantei-me rapidamente, me preparando para fugir. Fui até meu pai tentar ajudá-lo a andar, mas Erik rejeitou ajuda. Seria muito difícil sair dali agora que mais dois homens, vestidos da mesma forma que fora mostrado no telejornal, entraram na casa. Um deles apontou a grande arma em suas mãos para mim.

— Pro chão! — Gritou o homem.

Assustado, cambaleei para trás. Instantaneamente, meu pai jogou-se em minha direção, procurando me proteger. Rajadas de uma espécie de energia verde abriram um enorme buraco na TV. E quando pus as mãos na frente do rosto por reflexo, delas saíram chamas que foram em direção ao policial.

— Foge, Reen! — Gritou meu pai, estirado no chão.

Minhas pernas tremiam enquanto eu corria pelo corredor até chegar ao quintal. Eu podia ouvir os passos pesados dos homens que me perseguiam. Eu poderia tentar lançar as chamas novamente, mas preferi não fazê-lo, pois como bom idiota que sou, não sei se conseguiria repeti-lo, nunca conseguia.

Quando cruzei a porta do quintal, senti mais um tiro da energia desconhecida passar quente bem perto da minha cabeça. Ao chegar lá, a aflição tomou conta de mim e mais uma vez me senti perdido ao olhar para os lados e não ver saída aparente. No momento em que me virei, um chute acertou meu peito, me derrubando no chão, sem ar. O policial agora estava com a arma colocada bem no meio da minha testa.

— Sem truques, monstro! — Disse ele. Sua voz através do capacete era metálica.

O outro policial estava de pé ao lado dele. Tudo o que eu enxergava era apenas o céu através da arma. Nuvens escuras pareciam unir-se no céu acima. Relâmpagos surgiam sorrateiramente. De repente, o homem que me imobilizava teve seu corpo jogado para longe. O companheiro dele sacou sua arma rapidamente, procurando, confuso, o responsável por aquilo. No céu, o som de um trovão rugiu e em seguida um raio atingiu o homem que simplesmente caiu imóvel no chão.

Eu me sentei para recuperar o fôlego. O homem que apontara a arma estava caído junto à cerca do quintal que estava toda despedaçada. Quando me voltei para a entrada da casa, Taka estava de pé escorado junto à porta com um sorriso em seus lábios.

— Olá. — Disse ele — É melhor ficar em um lugar seguro. Essa noite, teremos muitos trovões.

— O que tá acontecendo aqui? — Eu perguntei, levantando-me e indo até Taka. Ele estava vestido de forma diferente agora. Era apenas uma única peça, parecida com um couro de cor escura, quase preta, bem colada ao seu corpo. Podia-se até perceber que sua musculatura era mais definida do que aparentava. Não que isso me interessasse.

— IRIS. — Taka respondeu, aparentando uma naturalidade que não cabia no momento.

— Isso eu sei... — Eu me interrompi ao olhar para o céu e perceber que havia escurecido completamente. — Foi você... Quem fez isso tudo?

Taka apenas deu de ombros e me puxou pela camisa, me trazendo de volta ao fundo do quintal onde o policial ainda estava deitado junto à cerca.

— Precisamos voltar — Eu disse, desesperado. — eles estão com o meu pai.

— Não vão fazer nada contra ele. Precisam dele tanto quanto precisam de você. Vem. Temos que sair daqui.

Indignado, desvencilhei-me das mãos de Taka, cobertas por luvas negras de borracha, e caminhei de volta para a porta da casa. Deixei todos os pensamentos de ódio possíveis preencherem minha cabeça, talvez isso fizesse as chamas funcionarem. Eu já podia até sentir as mãos esquentarem.

Um tiro.

A rajada de energia me fez atravessar o quintal e cair ao chão, me arrastando pela grama. As minhas costas doeram rasgadas e meu peito, que fora atingido pela energia, estava dormente, anestesiado.

Mais policiais entraram no quintal, saídos de dentro da casa. Todos empunhavam enormes armas de cor branca miradas na nossa direção. As vozes de comando soaram de dentro de seus capacetes.

Taka estava de mãos levantadas como sinal de rendição. Naquele momento, soube que não era um bom sinal. O rapaz de pele negra caminhou até os policiais.

— Boa noite. Acreditem, isso é só um mal entendido.

Taka tirou uma das luvas, colocando-a delicadamente no chão. Os homens seguiram avançando, dessa vez, de forma mais feroz. Taka movimentou rispidamente a mão. O céu pareceu rasgar-se com um relâmpago. Os homens foram todos jogados contra a parede da minha casa.

— Digam aos seus superiores que eles não podem prender inocentes! Todos nós somos livres! Tirem seus olhos de nós.

Taka parecia um leão rugindo enquanto falava e caminhava na frente dos homens.

Minha cabeça estava zumbindo e eu não conseguia pensar em nada agora. Senti-me impotente, inútil. Taka correu em minha direção. Ele me agarrou pelo braço e me pôs de pé.

— Nós temos que sair daqui. — Disse ele. — Não estou a fim de ficar e esperar os reforços.

O som de mais viaturas chegando era mais nítido agora.

— Meu pai... — Foi só o que eu pude pronunciar.

— Eu prometo que nós vamos voltar para pegá-lo. — Falou Taka. Ele nunca parecera tão compreensível. — Mas agora temos que...

Taka se afastou repentinamente de mim e pôs a mão no ombro. Ela encharcou-se de sangue. 

— Eles estão atirando pra matar agora! Se abaixa!

Aquilo era confuso demais pra mim. Taka tinha acabado me levantar e já estava mandando me abaixar. Eu precisava de alguma explicação. E era urgente.

Uma chuva de tiros adentrou o quintal junto com mais policiais, esses porém, não eram Arcanjos. Taka voou sobre mim e me cobriu. Eu nunca pude imaginar que ele faria isso para me proteger. Eu até podia sentir seus batimentos cardíacos. O material quente da roupa que ele estava vestindo unia-se à sua forte respiração. Um pouco de sangue do ombro de Taka desceu sobre o meu rosto.

Em seguida, um enorme barulho de destruição veio detrás de nós, do quintal do vizinho. Parecia que estavam demolindo tudo. De repente, a cerca da minha casa foi lançada para todos os lados e um enorme veículo surgiu. Eu nunca havia visto nada parecido. Era muito maior do que qualquer carro ou ônibus, e parecia sair fumaça de todas as partes. Nessa hora, eu podia jurar ter visto o policial que ali estava ser esmagado por um dos pneus.

Taka ergueu-se prontamente.

— Certo. — Falou ele, revirando os olhos. — Nossa carona chegou. Pode levantar de novo.

Como sempre, eu demorei a reagir e Taka me puxou, levando-me para dentro do automóvel. Este parecia ser feito de ferro retorcido e seus pneus eram maiores do que eu. Quase gritei quando minhas costas atingiram o metal gelado da parte de trás do carro.

O veículo deu marcha a ré e voltou pelo quintal do vizinho, destruindo tudo por onde passava. Saímos pela avenida de trás da minha casa, perseguidos pelos sons de sirenes. Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego. Taka estava ao meu lado com a mão no ombro baleado. Ele parecia assustado agora. Seus olhos estavam arregalados e sua boca estava aberta enquanto ele respirava. Ele forçou um sorriso e falou ao motorista:

— Você tem uma noção de tempo perfeita.

— Vai se ferrar! — Respondeu a voz masculina da pessoa que estava ao volante, mas eu não pude ver quem era. — Isso tudo é sua culpa.

Havia outra pessoa ali. Ela estava no banco do carona. O veículo não era bem iluminado, mas as luzes de Nova Eufrades à noite e os holofotes mirados para o carro iluminaram o rosto de Lea quando ela se virou para mim.

— Você está bem? — Ela perguntou, saindo do banco e indo até a parte de trás onde estávamos.

Taka se pôs de pé.

— Não — Ele respondeu. — Eu levei um tiro... Ah. Sim. Você estava falando com o seu namorado.

Lea mordeu levemente os lábios. Sua expressão estava séria. Ela foi até Taka e tirou a mão dele do ombro e olhou de perto o ferimento.

— Isso é grave.

— Não diga.

— Lea? — Eu perguntei, como diabos ela tinha ido para ali? — Como diabos você veio parar aqui?

O homem que estava dirigindo tocou a buzina.

— Sem tempo pra cuidar dos dodóis agora, Zero-Dois. — Disse ele — Eles estão quase nos alcançando. Na pressa, não tive tempo de pegar munições. Usa teus dons aí.

Taka afastou-se de Lea e fez sinal para que eu fosse com ela, distanciando-me da porta traseira do veículo. Taka tirou a outra luva da mão e tentou estralar os dedos, mas nessa hora, gritou sentindo dor no ombro. Ele caminhou até a porta e a abriu.

As luzes brancas dos faróis dos carros uniram-se às vermelhas e azuis das sirenes, iluminando completamente o interior da van. Agora eu podia ver claramente o rosto de Lea. Ela parecia tão assustada quanto eu, mas algo em seu semblante revelava confiança.

Um tiro da energia esverdeada foi lançado em nossa direção, mas o carro desviou. E aquilo foi assustador e barulhento, como se estivesse destruindo o asfalto por onde passava. Com o movimento, eu caí por cima de Lea.

— Toma cuidado. — Disse ela, sem esboçar nenhuma emoção.

Taka estava parado de frente para os carros policiais. Ele ergueu uma mão em direção ao céu e um raio desceu em direção dos carros. Eles, porém, não pararam de nos perseguir. Um dos três veículos disparou mais um tiro. Dessa vez, Taka desviou e a rajada entrou no nosso carro, atingindo o teto metálico, apenas fez barulho, mas não se rompeu. Lea deu um grito, assustada, quando a bala caiu ao seu lado.

— Volta para o banco — Mandou Taka. Ela obedeceu.

Eu sabia que minha cara de idiota que não sabia o que fazer estava ali naquele momento. Taka voltou a encarar os carros. Dessa vez, os raios lançados por ele vieram dos postes de iluminação, que imediatamente apagaram-se enquanto o raio atingia um dos carros dos policiais, que parou derrapando.

Taka começava a esboçar um gesto comemorando vitória, quando um tiro da energia verde o acertou. O impacto o vez voar e bater de costas, perto de mim. Taka me dirigiu um sorriso quase maquiavélico. Seus dentes estavam cheios de sangue agora.

— Se tu não fizer nada agora, bunda-mole, a gente vai morrer.

Tomei fôlego e olhei para fora, assustado. Caminhando até lá, pude ver melhor os dois carros que se aproximavam cada vez mais. Em cada um deles, havia um policial com o corpo do lado de fora apontando as armas para nós.

Certo. Aquilo que eu treinara durante toda a tarde precisava funcionar. E precisava agora. Eu pus as mãos para a frente. Tentei remoer tudo de ruim que estava acontecendo recentemente, mas nada disso estava vindo agora. Acredite. Confusões impedem garotos lesados de pensar. Enrijeci os músculos dos braços e endureci as palmas das mãos abertas. Fechando os olhos, eu podia sentir a onda de calor que saia delas e se projetava fora do corpo.

Quando abri os olhos, veio a decepção. Diante de mim uma pequena labareda de fogo, menor que minha... mão, havia se formado, mas antes que pudesse ao menos servir para aquecer o motor do carro, ela apagou-se no ar.

Mais um tiro de energia fez com que o babaca aqui se juntasse a Taka, caído no chão do carro gigante.

— Como é que uma pessoa nasce uma vez e nasce tão inútil? — Reclamou ele, pondo-se de pé com notável dificuldade. Taka foi até a porta novamente e, com uma mão — a outra já não se mexia mais. Derreteu o pneu de um dos carros.

Para sua decepção, Taka viu mais carros policiais unirem-se aos que já nos perseguiam. Ele esbravejou quando percebeu que eles haviam conseguido ficar lado a lado com nossa condução.

— Já estamos chegando? — Gritou Taka, desesperado, enquanto fechava a porta.

— Onde? — Perguntei, mais confuso que antes — Onde nós estamos chegando?

Taka me empurrou, fazendo-me sair do meio e cair no chão. O som de tiros atingindo a parte de trás soou abafado. Mais sirenes foram escutadas. Assim que me virei para frente, o motorista dirigiu o olhar para nós.  

— Estamos chegando às respostas — Ele respondeu.

Na nossa frente, através do para-brisa, eu pude ver a enorme barreira policial entre a Estrada de Diamante, que ligava nossa cidade a Silverado, a Cidade de Neon.

Fim do Ato I


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