Prelúdio das Sombras - O Inferno de Richard escrita por Damn Girl


Capítulo 12
Capítulo 10 (Parte II)


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!! tudo bem? Tardei, mas não falhei. Trago agora a parte 2 da história !! Boa leitura



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 "Só torço para quando me olhar no espelho ainda me reconhecer." ( Ponto de Fissura - Felipe Bechara)  

Parte II

          Os cinco encararam sua pele com curiosidade e arfaram. Eu estava perplexo demais para esboçar qualquer reação.   

          Pequenas depressões negras se destacavam entre a pele alva de sua nuca e o inicio do couro cabeludo. Singelas cicatrizes gravadas em sua pele, aparentemente pelo fogo. Traços finos e mal executados de uma lâmina, que se fundiam e revelavam o desenho de uma letra. O vampiro que segurava a adaga ergueu sua mão livre e, abismado, tentou tocar o trêmulo "S" com seu indicador. Contudo Bethanny se virou num rompante, escondendo-o novamente dentre os cabelos dourados e, batendo na mão dele. Seu semblante em chamas fez com que o predador recuasse.

          Franzi meu cenho, intrigado pelo que eu acabara de vislumbrar. Não notara tal cicatriz antes, enquanto dançávamos. Ansiei tocá-la também, percorrer meus dedos por toda extensão, desvendar a história dessa marca. Ela não era uma prostituta afinal, era apenas uma mulher que se disfarçara para se aproximar de seu agressor. A constatação de me deixara em parte aliviado. Todavia procurar um vampiro sozinha no meio da noite ainda não era uma boa escolha. Isso deve ser de muita importância para ela agir com tanta imprudência.

          Balancei a cabeça, genuinamente chateado com minha nova espécie e seus hábitos excêntricos.

          Marcaram-na feito um animal.

           Mas afinal quem sou eu para dizer algo? O homem que estupra mulheres e as joga em um lago. O homem que matou a própria noiva. Comprimi uma risada; Se tinha algo que eu possuía como vampiro, eram hábitos excêntricos. Não o fazia conscientemente, não. Tanto que não encostei um dedo em Catherine, não nesse sentido. No entanto, ao sair de meu juízo tudo era bem diferente. 

           Marcar alguém não é nada perto do que eu faço.

— Talvez eu conheça o responsável por essa... atrocidade em sua pele, humana. - Sugeriu o vampiro com uma voz mansa e diminuiu a distância que havia entre eles, removendo-lhe uma mecha de cabelo do rosto e segurando seu queixo. Um lampejo de esperança iluminou os olhos de Bethanny, contudo ele logo abriu um meio sorriso perverso, o que a fizera retornar para defensiva rapidamente. - Se for boazinha, pode ser que eu conte.

         Os outros Vampiros do grupo gargalharam e ele, encorajado pelas risadas de seu bando, desceu seus dedos dos cabelos até o decote avantajado da blusa, olhando fixamente para o elástico e fazendo menção de baixá-lo. Bethanny estremeceu e deu um passo para trás livrando do-se do toque indesejado, enquanto eu me esgueirei silenciosamente até a próxima janela, estudando atentamente o cômodo e procurando a melhor forma de entrar. 

         Ao fazer isso acabei me deparando com um senhor de uniforme abaixado atrás do balcão. Os olhos enrugados do atendente se cruzaram com os meus e pus o dedo sobre meus lábios, implorando que ele permanecesse em silêncio. Se ele abrisse a boca teria de entrar ali de forma afoita, arriscando a segurança de Bethanny, dele e minha própria.

          Os vampiros se encontravam distraídos o bastante para não notarem minha presença. No entanto eu sabia que mesmo que os pegasse desprevenidos não era páreo contra os cinco; no máximo dois ou com tremenda sorte, três. Contrariando meus novos instintos que diziam que eu deveria simplesmente me virar e ir embora, comecei a calcular distâncias e ângulos.Minha criação não permitiria que eu deixasse Bethanny ser violentada, pensar na mera hipótese do ato fazia minha respiração falhar. Também pelos simples fato de nossa intrigante proximidade e a inegável tensão que paira entre nós.

           Nos conhecíamos há menos de um dia, contudo parecia uma eternidade. Sempre achei esse tipo de frase banal e as pessoas que a pronunciavam fúteis, no entanto o dia se tornara tão longo e infernal que não poderia ser haver sentença mais apropriada. 

          Estava quase considerando-a uma amiga. Havia ainda a inegável tensão entre nós. Eu nunca fora de grandes casos como os outros príncipes, tampouco de beijar alguém em público. Esse meu comportamento com ela me intrigava; por não saber se fazia parte de ser um vampiro ou se eu estava realmente interessado nela ou somente no sangue.

          Sangue. Meu sangue.

          Nada tentava-me mais a salvá-la do que a lembrança do sabor de seu sangue em minha boca. Saber que eles provariam dela antes de mim me causara uma inexplicável sensação de posse. O risco de perdê-la me deixara demasiadamente cauteloso. E mesmo com o sangue de Catherine me proporcionando uma falsa sensação de ser invencível, sou obrigado a me conter e esperar. 

          O homem de trás do balcão parece entender que por mais que eu seja um deles, minhas intenções são boas, pois assentiu com a cabeça e, para meu alivio, manteve minha presença em segredo.

— O que você quer em troca da informação? - Questiona Bethanny cruzando os braços frente à blusa, numa tentativa torpe de disfarçar seu decote.

— Pensei que fosse óbvio. - Seu sorriso se alarga. - Vamos, pense um pouquinho humana.

— Meu sangue? - Sussurrou ela após um tempo e um suor se formou no canto de seu rosto. Ele negou com a cabeça e seus olhos lascivos revelaram suas verdadeiras intenções. - Ah.

          Bethanny fechou os olhos. Supus que ela iria perder os sentidos e desfalecer, contudo sua respiração se tornou mais pesada e seu coração bateu descompassado, veloz. Quando enfim os tornou a abrir eles estavam desfocados, e o seu rosto ausente de qualquer expressão. Os vampiros diminuíram o cerco se aproximando mais dela, e eu aproveitei para diminuir a distância, encontrando finalmente uma brecha em suas guardas.

         Encontrei a porta dos fundos e, ainda abaixado a empurrei lentamente, temendo que suas audições excepcionais detectassem o ruído do trinco e o ranger da madeira sob meus pés. Me movi com cautela, passando por uma escada lateral - onde provavelmente ficavam os quartos onde as dançarinas se envolviam com seus clientes - e me escondendo atrás do balcão, junto com o senhor o qual eu trocara olhares há pouco. Ele fixou o olhar em minha boca e gesticulei novamente para que mante-se em silêncio, estreitando o tempo que ele possuiria para notar minhas presas. Eu sabia que estavam parcialmente expostas, pois sentia-nas constantemente pressionado minha carne, arranhando meu lábio inferior.

         Minha estratégia aparentemente funcionou, pois ele desviou o olhar de minha boca e se concentrou em confirmar novamente que não iria me entregar. Ou não, dado que seus olhos se arregalaram ao encontrar com os meus. De repente ele abriu a boca, ameaçando gritar e eu a tapei com minha mão, balançando a cabeça com demasiado furor. Fitei meu reflexo através de uma das garrafas do bar e compreendi enfim por que ele se assustou; Meus olhos vermelhos pareciam mais duas orbs de fogo em meio a capa preta. A sombra que se formava em meu rosto aumentava negativamente o destaque neles, dificultando a leitura de minhas expressões. A fim de acalmá-lo, retirei e a capa e esbocei um sorriso.

         O homem cambaleou para trás. Mais sobressaltado que antes, ele esbarrou na estante, fazendo-a estremecer. Uma das garrafas caiu e em meio a nosso desespero mútuo pelo som que ela faria, antecipei sua queda e a agarrei no ar. Outra garrafa caiu e fiz o mesmo processo, num movimento mais rápido do que seus olhos acompanhariam. Meu acompanhante arqueou as sobrancelhas impressionado com meu excelente reflexo e ligeiramente mais tranquilo. Contudo sua face logo assumira uma expressão de incredulidade, ao finalmente reconhecer meu rosto.

— A-alteza?!

          Mais que desgraça!

— Quieto. - Sussurrei, esperando um deles vir verificar o barulho.

          Ninguém veio. Os vampiros estavam tão entretidos com Bethanny que se esqueceram de vigiar o perímetro, ou mesmo não se importavam. Cheguei até a lateral esquerda do balcão, fitando o grupo de soslaio, à não mais que uns seis metros distante de mim. Minha súdita suspirou e manteve os olhos no vampiro com quem conversava. Eu não conseguia ver seu rosto de onde estava, mas pelo seu cheiro e batimentos, ela parecia conformada com seu destino.

— Está bem, eu durmo com você. - Arfei ao ouvi-la confirmar minhas suspeitas, sua voz pesarosa. - Mas eu quero a informação primeiro.

          Minha veia pulsou e fechei as mãos em punho, tentando conter minha raiva por ela ser tão ingênua e concordar em se entregar assim, a troco de um blefe simples. Pois a essa altura era nítido que ele não possuía a informação que ela tanto desejava, somente ela não percebera ainda.

— Isso não é uma negociação, humana. - Ele franziu o cenho. - Tampouco disse que você deveria dormir comigo. E ainda ousam dizer que os Vampiros são irracionais.

— Ah, eu.. eu - Bethanny enrubesceu. - O que..

— Terá que dormir com todos nós. - Anunciou vitorioso. Outro Vampiro a segurou pelo cotovelo. -Leve-a lá para cima Karu, junto das outras.

— Outras? - Questiona ela, como se lesse meus pensamentos.

— Não se preocupe, humana. - Karu, o vampiro que a mantinha presa, se aproximou de seu ouvido e sussurrou com um olhar psicótico. -  Elas já estão mortas. Nossas atenções serão somente para você...

         Num rompante de pânico, Bethanny pegou com a mão livre uma pequena garrafa escura do bolso de sua calça e antes que pudessem impedi-la, abriu com os dentes a rolha e atirou todo seu conteúdo no Vampiro que a segurava. O liquido espesso escoou pelo rosto de Karu e deslizou pela extensão de sua roupa. Ele a largou e deu um passo para trás, limpando o liquido de forma afoita e angustiada. Imediatamente Bethanny pegou outra garrafa, repetindo o processo e ameaçando jogar nos outros homens que agora mantinham distância, observando Karu como se ele fosse algo inflamável. 

         Bethanny contudo, não parecia nada satisfeita com o resultado. Franziu o cenho, como se esperasse que algo mais acontecesse. Minha curiosidade foi mais forte do que a vontade em ajudá-la e por mais perverso que fosse acabei optando ver o que ia acontecer.

— Ora sua... Estou fedendo. Fedendo. Eu vou matar você! - O rosto dele se contorceu e seus olhos mudaram de um preto para um Bordô escuro.-  Vou estuprar você até dilacerá-la de dentro para fora, cortar cada membro de seu corpo e depois... comerei seus órgãos! 

— Karu contenha-se, é somente alho. - O vampiro que antes conversava com Bethanny mordeu o lábio inferior, contendo um sorriso divertido. E se voltou novamente para Bethanny. - Senhorita, baixe essa garrafa. Não comemos órgãos, o meu amigo está exaltado. Não somos canibais, quanto ao sangue eu já não posso garanti nada, mas vamos... pode me entregar. - Bethanny sacudiu a cabeça, negando e segurando o objeto como se ele fosse um escudo. Em um milésimo de segundo o Vampiro a alcançou e tomou-o de suas mãos, rindo. -  Ora, o que a senhorita pretendia com isso? É melhor que não nos negue mais seu corpo, se não irá sofrer o dobro.

         Sua voz macia combinava com a sutil ameaça que escapou de seus lábios. Ele derramou o conteúdo da segunda garrafa no chão e os outros vampiros fizeram uma careta. 

— Achei que...

— Achou que fosse nos transformar em cinzas utilizando-se dessa porcaria. - Ele completou, a voz seca. - A senhorita é bastante divertida, e ainda possuí um sangue precioso. Talvez eu a leve comigo como minha escrava.

         Transformar em cinzas? Mas isso é alho...

          O cheiro terrível se espalhou por todo o salão e involuntariamente dei um passo para trás, cobrindo o nariz. Bastante desagradável, principalmente para meu olfato apurado, onde o odor se ampliava e parecia se infiltrar por cada poro de minha pele. Mesmo quando humano o detestava, lembrar o gosto me causava ânsia, contudo era somente alho. Não compreendi por que ela achava que um tempero de cozinha poderia, de alguma forma, machucá-los.

— Boatos, boatos e mais boatos! - Bufou um outro vampiro que até então se mantinha calado a observar. - O que os humanos tão superiores e inteligentes inventarão agora? Alecrim? Krifias? Dandelions? - Ele rosnou, cravando seus olhos sádicos em Bethanny. - Venha comigo meretriz, eu mesmo a cortarei inteira.

         Repleto de frieza, ele se aproximou de Bethanny e, acompanhado por outro de seu grupo, arrastou-a pelos cabelos em direção a escada próxima ao balcão onde eu me escondia. E em seu ato finalmente vi minha chance de obter alguma vantagem. 

          Com extrema cautela para não alertá-los, desembainhei minha espada e, antes que se aproximassem demais da escada, enfim me revelei, tomando impulso com a mão livre e subindo na superfície de madeira. Encarei-os de cima, memorizando a expressão de espanto de ambos.

          Sem querer perder mais tempo saltei do balcão na direção deles, e com minha espada empunhada frente ao corpo, desabei de joelhos ante o primeiro, cravando-a fundo em seu peito e descendo por todo o estômago. Suas vísceras saltaram imediatamente do corpo e seus gritos ecoaram pelo ambiente arrancando-me um sorriso macabro de satisfação com meu próprio feito. Passei a mão lentamente por seus órgãos, e quando ele tentou agarrar meu antebraço, virei minha cabeça e mordi seu pulso, rasgando-o com minha boca. Um gesto impulsivo que me proporcionou tremendo deleite. Cuspi a pele que havia arrancado de seu pulso e lambi os dedos que percorreram seu ferimento. Seu sangue não era dos melhores, todavia a expressão de horror estampada em seu rosto e o desespero em seus olhos compensavam o sabor.

         O Vampiro não morreu - e uma parte de mim nem esperava que isso fosse acontecer. - , contudo os ferimentos foram suficientes para que permanecesse no chão com os olhos girando pelas órbitas.

          Ele não teve tempo para clamar por ajuda e eu não tive tempo suficiente para apreciar sua agonia.

          Praticamente ao meu lado, o vampiro que segurava Bethanny rosnou, clamando minha atenção. Ainda sem soltá-la, ele sacou sua espada e antes que pudesse ao menos deferir um golpe levantei chão, removendo minha lamina do corpo inerte e girando-a ansiosamente em sua direção. A lâmina cortou o ar reverberando um zunido e decapitando cruelmente o vampiro. Suas artérias romperam e sua cabeça foi lançada ao ar, enquanto Bethanny gritava histericamente ainda tentando se livrar de seu aperto. 

          O sangue eclodiu de forma violenta, banhando-a no rosto e em parte do corpo, e a mim em parte do tórax e braço. Ela logo teve sua almejada liberdade, pois ele difundiu-se em chamas e se desfez em cinzas. Suas armas e roupas cederam à gravidade, caindo todas em conjunto no chão. 

          Tudo acontecera em uma fração de minuto e, enquanto ela limpava sua face coberta pelo liquido carmesim, nossos olhos se cruzaram brevemente. 

          Bethanny cobriu a boca com a mão encobrindo outro grito, consternada com a constatação de que eu era o autor daquela brutalidade. E antes que se afastasse de mim, passei meu braço por sua cintura e a ergui do chão, saltando com ela para o canto oposto do cômodo. 

          Enquanto brevemente no ar, ouvi as batidas do seu coração progredirem velozmente de forma descompassada, ao passo que sua respiração aumentou de ritmo e suas pupilas dilataram. Bethanny me empurrava e arranhava meu rosto, grunhindo sons indecifráveis em seus lábios pálidos e trêmulos. Sua essência arrebatadora retrocedeu de algo beirando o divino a algo metálico, ruim. E quando a coloquei no chão ela deslizou pro assoalho sem qualquer traço de cor no rosto, completamente transtornada. Sustentei seu peso pela cintura enquanto ela convulsionava e arfava, em absoluto colapso. 

           Eu a havia assustado para valer.

           Respirei fundo, tentando retrair minhas presas, porém o sangue estava em toda parte, tentando-me; Nela, em mim, no vampiro ferido, no assoalho onde o outro vampiro queimara, no andar superior... Ela tinha sorte de eu estar consciente e alimentado. E ainda, sorte por ter vindo fora dos limites do castelo descartar Catherine. Eu não devia me sentir mal, estava ajudando-a. Poderia simplesmente ter virado as costas, e não o fiz. 

          Então porquê me sentia péssimo? Por quê?! 

         Por que nossa mentira foi por terra mais cedo do que imaginávamos... 

          Fitei Bethanny, mais irritado comigo mesmo do que com qualquer outro monstro naquele cômodo. Vê-la tão apavorada por minha causa dilacerou o resto da minha humanidade, pois uma parte de mim sabia que, para proteger meu disfarce, eu teria de matá-la. Ela jamais aceitaria ficar quieta depois de toda sua experiência passada com nossa espécie. Por outro lado, perderia o sentido ter feito tudo isso para salvá-la e ceifar sua vida. Pensei por fim em dizer algo que a acalmasse. Suspirando, ergui seu queixo com o indicador forçando a encarar-me e suas pupilas imediatamente se dilataram. Achei que estivesse apavorada por minha proximidade, contudo uma revolta mão em meu ombro provou o contrário.

        Olhei de soslaio o Vampiro que sugerira mais cedo que Bethanny deveria dormir com os cinco. Seus olhos chamuscaram enquanto ele aumentava a pressão no meu ombro e tão rápido quanto fez valer sua presença, ele me ergueu do chão, lançando-me do outro lado da sala. O trajeto passou como um borrão e colidi horizontalmente com a parede, sentindo o baque do impacto em minhas costas. Um sibilo angustiado escapou de meus lábios ao ouvir o estalo em minha coluna e a dor tomou conta de minha mente, deixando-me tonto e confundindo minha visão.

          A estrutura cedeu parcialmente se dissipando em pequenos fragmentos de entulho e desmoronando, e acabei preso em sua cratera. O  vento do lado de fora acariciou minha pele e arfei com seu pequeno alívio. Ignorando a dor e minha ligeira desorientação, me impulsionei com as mãos e os pés no restante da parede tentando me desprender antes que eu fosse novamente atacado.

— Ora ora, o que a noite nos trouxe... Alteza

         Forcei meus olhos e, lentamente minha visão foi voltando ao normal, tornando-se novamente nítida. O Vampiro estava parado há alguns passos de mim, mais perto do que eu imaginara. Sua voz macia discrepava da expressão de ódio em seu rosto. E se ainda restavam dúvidas de sua raiva, a forma como ele pronunciou meu título as extinguiram. Encarei Bethanny por cima dos seus ombros, ignorando-o deliberadamente. 

          Sem meu apoio ela havia desabado ao chão de uma vez, de joelhos, e seus olhos cravados em nós não denotavam emoção alguma além de horror. Suas narinas se dilataram e ela respirava com dificuldade. E ainda a distância podia ver a inquietação em seu sangue, tanto quanto ouvir seu coração batendo.

          Desejei ter o poder do Criador, aquele poder psíquico que eu tanto abominava. Assim eu poderia projetar minha voz em sua cabeça e pedir que ela fosse embora.

— Ela não vai a lugar algum, assim como Vossa Alteza. - Voltei minha atenção para o vampiro à minha frente. Mais uma vez ele entoou meu título com demasiado desprezo e por fim balançou a cabeça, consternado. - Então os boatos são verdadeiros; alguém da realeza humana foi mesmo transformado. Espero que esteja apreciando; Não poder sair à luz do dia, beber dos humanos que tanto te veneram... 

         Sem que eu esperasse o vampiro agarrou meu antebraço e me puxou do buraco em sua direção. Mas minha calma me favorecia ante sua raiva. Fingi que tropecei com seu gesto, um pretexto para abaixar e pegar a adaga que eu mantinha em minha bota. Meus dedos deslizaram ansiosamente pelo cabo dourado e eu a removi, traçando uma linha horizontal e cortando sua jugular. Ele engasgou colocando a mãos sobre o corte e o sangue escorreu dentre os seus dedos. 

         Um corte com uma ferramenta dessas não seria fundo o bastante arrancar sua cabeça. De fato eu estava perdido, mas não iria me render tão facilmente. Contudo quando vampiro ergueu a cabeça abrindo o ferimento que eu mesmo fizera, exibindo aquela cascata escarlate, minha respiração pesada me entregou. Sua pele espremia a carne e a veias cortadas, fazendo com mais e mais sangue escorresse. Abundante o suficiente para que tragasse uma dose de arrependimento por tê-lo golpeado. E a escuridão em seus olhos era sedutora o bastante para que ele a usasse contra mim. E ele usou. 

         Venha alteza, pegue o que deseja.

         Ouvi meu próprio rosnado enquanto eu afundava as presas na perturbadora abertura, completamente ensandecido. Tão absorto no gosto de seu sangue, que mal senti a dor quando, em algum momento, ele roubou a adaga de minhas mãos e cravou-a em minhas costas.

         Novatos... tão previsíveis.

         Ele repetiu seu gesto e dessa vez a dor foi incomoda suficiente para que eu quisesse me afastar... ao passo que eu sequer tentava. O liquido passeava dentro de meu cérebro, queimando minha consciência e nublando tudo ao redor. Ouvi sua risada, mal se importando com a dor que eu também lhe infligia.


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Notas finais do capítulo

Acabou?

Não amados, não acabou, terá uma terceira parte XD Ou vai ser o cap 11, ainda não sei...

Sei que esse é o capítulo mais longo de todo o universo! Richard se meteu numa grande confusão por causa de Bethanny. Vai ser difícil sair disso agora né, ainda mais meio louco desse jeito.. O que vocês acham que ele vai fazer?

É isso gente, muito obrigada por lerem mais um capítulo, qualquer coisa estou aqui pra vcs, ou aqui ou no privado. Deixem suas opiniões, críticas, suspiros e votinhos pra nóis. Mil beijoss ❤

(ahhhh se a qualidade estiver decaindo ou estiver ficando chato por favor me avisem.)



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