Prelúdio das Sombras - O Inferno de Richard escrita por Damn Girl


Capítulo 11
Capítulo 10 (parte 01)


Notas iniciais do capítulo

Olá Vampiros e Vampiras!! Tudo bem?! Resolvi dividir o capítulo para não ficar muito cansativo, mas não sei se fiz certo me digam se preferem assim ou se gostam da forma que eu estava fazendo antes, postando ele todo de uma vez... Ah!!!! Vocês devem ter notado algo de diferente, ou não kkkkk... Finalmente o primeiro livro da série "O Inferno de Richard" tem um Título! (84 anos depois, kkkkk.) Queria saber tbm se gostaram, se é atraente ou mesmo se tem alguma outra sugestão de título que se adeque? Já que vocês conhecem boa parte do conteúdo devem ter ideias interessantes para batizá-lo. Estou querendo registrar o livro, porem sou muito indecisa e péssima nessas coisas... XD Enfim não vou nem falar da capa nova por que já é a quinta vez que troco e já até perdeu até a graça kkkk Boa leitura!!



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"Só torço para quando me olhar no espelho ainda me reconhecer." ( Ponto de Fissura - Felipe Bechara)

 

           A escuridão prevalecia de forma absoluta pelos arredores do castelo. O silencio pós festa se fundia com o canto baixo e rouco dos grilos, e barulhos de folhas secas que dançavam de acordo com ameno vento dentre as árvores. Sons de uma certa agitação na floresta também chegavam aos meus ouvidos, aos quais deduzi - e torci. - que seriam provenientes dos animais que nela vivem. Embora tivesse a sensação de que parte do crédito se deviam a alguns da minha nova espécie, espreitando o banquete de humanos disposto há poucos metros.

          A maioria dos convidados resolveram pernoitar nos aposentos dos hospedes, motivados pelo receio em retornar a suas casas. Uma sábia decisão. Nenhum ataque grave havia acontecido por conta do Criador, que devo admitir, vigiara a maior parte de tempo como disse que faria. Entretanto eu possuía o estranho pressentimento que quem cruzasse os portões nunca mais seria visto. A pouca luz que vinha do luar era insuficiente para que um humano enxergasse o denso caminho além do castelo sem o auxilio de uma outra fonte de iluminação. As pequenas tochas que haviam colocado no caminho antes da comemoração se apagaram, restando apenas cinzas e um forte odor de queimado que incomodava, em alta escala, meu olfato apurado.  

          Com sorte o aroma desagradável afugentaria os outros vampiros, mas eu duvidava muito. A essência humana prevalecia no ar, mais forte e sedutora que nunca, anulando qualquer coisa que pudesse surtir efeito e repeli-los. Se eu não bebesse da princesa em minha cama a esta hora teria enlouquecido.

         Fitei a casca sem vida que acentuara tanto meus sentidos, a ponto de usufruir de todos os esses sons e aromas sem sequer deixar o aposento. E me aproximei dela, deitando ao seu lado na cama suja e escorando minha cabeça com o apoio do cotovelo. 

         Catherine encava o teto com olhos foscos e apáticos, seus delicados lábios entreabertos num último suspiro eterno. Os respingos de sangue se destacavam por todo seu rosto moreno, - agora um pouco mais claro por conta da ausência de sangue e palidez. - e seus cabelos desgrenhados de forma aleatória, transformam-na em uma obra de arte abstrata e inacabada. Corri meu indicador pela moldura de sua face, cravando meus olhos nos dois discretos e obscuros furos em seu pescoço. Me prolonguei admirando-a demoradamente, assimilando o que eu fizera, desta vez conscientemente. E enfim, a contra-gosto, passei meu braço sob seu corpo horrendamente esculpido e me ergui, trazendo-a de encontro a mim. 

           Com a princesa em meus braços, coloquei uma capa com capuz e fui em direção ao parapeito da janela, alcançando o jardim do castelo com facilidade. Me esgueirei entre as roseiras altas de minha mãe, escondendo-nos dos guardas que vigiavam o perímetro. Memorizando o percurso que faziam, procurei uma falha em sua ronda que me desse tempo suficiente para escalar a muralha com ela. E assim que achei, não pensei dua vezes; corri em direção ao muro de mais de quarenta metros de altura e, tomado por uma confiança repentina, friccionei meu pés em sua lateral rochosa, tomando impulso e executando um salto maior do que eu imaginara. Pulei alto o suficiente para vislumbrar a infinda escuridão do outro lado e pousar com exuberância e suavidade ao topo.  

           Eu nunca tinha me sentido tão transcendente, tão poderoso, tão... magnifico, inigualável. Pela primeira vez eu não carregava a maldita culpa em minhas costas e o Criador tinha plena razão, a sensação era indescritível. Contemplei a lua minguante no céu ausente de estrelas, sentindo o vento agitar a capa e varrer o resto do meu receio quanto ao que eu me tornara. E um sorriso involuntário surgiu em meus lábios.  Finalmente eu estava em sincronia comigo mesmo; Vampiro e  humano. 

          No entanto minha paz durou menos do que eu imaginara. Uma voz áspera e rouca chamou minha atenção, me trazendo de volta a minha conturbada vida dupla. O vento se tornou mais gélido ao lembrar que eu de fato me encontrava no alto da muralha do castelo, segurando um corpo, e que poderia ser facilmente descoberto. 

— Quem é você? Como chegou aqui em cima?! 

          Me virei pro guarda e ele estreitou os olhos, erguendo a tocha que carregava, tentando assimilar o que eu transportava em meio o breu. Permaneci em silencio observando cada ruga em seu rosto. Ao contrário dele, eu enxergava perfeitamente. E após um tempo me contemplando seus olhos se esbugalham em horror e ele deu um passo para trás, erguendo sua espada de forma defensiva com a mão livre.

— Fique parado, monstro dos olhos vermelhos! Aberração! Eu não tenho medo de você. - O guarda foi chegando para trás até bater na mureta de contenção. Seus olhos se voltaram para meus braços, inquisitivos. Baixei meu olhar para Catherine e escondi seu rosto com a capa, temendo que ele a reconhecesse e me desmacarasse. E o cheiro dele mudou drasticamente. O homem tentava controlar a respiração e se manter em seu posto, no entanto estava apavorado, contradizendo suas recentes palavras. - Você me entende? P-ponha a m-moça no chão e vá embora, agora. - Ele apontou lentamente para baixo. - Chão. Você sabe o que é? 

         Soltei um rosnado repentinamente e ele gritou, deixando a tocha cair do alto da muralha até o solo no jardim do castelo. Essa mania dos humanos rotularem os vampiros como seres irracionais estava me irritando, especialmente hoje que me sentia tão... tão sublime.

— Quem pensas que és para me proferir ordens, humano? - Disfarcei a voz mudando para uma mais gutural e dramática. Cheguei mais perto dele a passos lentos e firmes, não tão perto para que me reconhecesse, contudo perto o suficiente para desencoraja-lo. Apoiei Catherine no chão, exibindo minhas presas. - Tenho certeza de que posso carregar do corpo dela e o seu, se continuar a me irritar.

— Pelos reis, você fala!!! - Ele sibilou, perplexo. revirei os olhos com sua estupidez, e minha impaciência não lhe passou despercebido. - Me perdoe, fique com a sua comida. Por favor não me mate... E-eu tenho família! Tenho uma esposa e três filhas pequenas.

— Kyle, o que está acontecendo aí?

         Outro guarda se aproximou a passos largos, com um arco de madeira precisamente apontado em nossa direção. Eu não guardava o nome de todos os meus soldados, entretanto reconhecia o rosto de cada um deles e possuía plena certeza de que o primeiro soldado não era casado. Ao se deparar comigo o segundo guarda baixou o arco, chocado.

— Vampiro. - Sussurrou.

— Ele fala!! - Arfou o primeiro soldado, tremendo. - Uma voz bestial.

          Dei as costas aos dois e subi na mureta de contenção, rindo. Não ia matar meus soldados, somente almejava que entendessem que vampiros são mais inteligentes do que imaginam. Ao me verem de costas e de guarda baixa, os dois retomaram a coragem e ouvi o barulho baixo do arco se tencionando novamente. Mas antes que ele pudesse disparar, pulei da mureta, descendo em queda-livre os quarenta metros e aterrissando graciosamente no chão. O solo rachou e cedeu com o impacto, formando uma pequena cratera circular à minha volta e, quando tornei a olhar para cima, os dois estavam debruçados na mureta de contenção, boquiabertos. Lancei-lhes um sorriso presunçoso antes de disparar floresta adentro, perplexo ao passo que aliviado por não terem me reconhecido.

           Disparei em direção ao vilarejo paralelamente à estrada, mais veloz do que qualquer coisa ou animal com o qual eu possa comparar. Ao avistar a iluminação do centro no entanto, me vi mudando drasticamente de direção, virando à direita e adentrando a floresta. Minhas pernas tomaram seu rumo sozinhas e quando dei por mim estava diante de um dos muitos lagos das redondezas, um mediano e discreto dentro da mata fechada. Pus um pé sobre a água turva levemente ondulada e uma forte sensação de Deja vú me invadiu. Definitivamente não era a minha primeira vez ali. Aspirei o familiar e ao mesmo tempo desconhecido cheiro de lama com folhas em decomposição e algo mais; Uma leve podridão brotando da água e impregnando o ar. 

         Lembranças da floresta escura e do vento batendo em meu rosto enquanto carrego algo em meus braços invadiram minha mente de forma continua e repetitiva. Vários de mim, em diversos dias, executando o mesmo percurso que eu havia percorrido, até onde me encontrava parado. Observei minhas cópias enevoadas lançarem o conteúdo de seus braços água, e de repetente tudo fez sentido.

         Arfei e me escorei no tronco de uma árvore próxima, deslizando com Catherine até o chão úmido, a verdade me assolando de forma perturbadora. Escondi o rosto com as mãos, escorando meus cotovelos no corpo frio em meu colo. No entanto as lembranças continuaram, mais e mais vívidas. 

          É nesse lago que, inconscientemente, me livro de minhas vítimas.

— Pelos reis...

          Toda aceitação e liberdade que sentia mais cedo desaparecera, a maldita culpa tornando a me assolar. Pensei em quantas pessoas há no fundo do lago por minha causa e não consegui ao menos fazer uma estimativa. Achava que havia matado quarenta desde que tudo acontecera, mas não tenho mais certeza de nada. Firmei meu olhar nos olhos foscos de Catherine, ponderando se sou capaz de livrar-me dela de forma consciente e sinti a mesma vertigem de quando estava faminto. A floresta se fechou ao meu redor e a terra pareceu me engolir lentamente, afundado em meu próprio desgosto por minhas transgressões.

          Ela não era uma pessoa agradável, contudo sinto que usei isso como uma desculpa para matá-la e esse pensamente me traz a tona toda dimensão do que eu fizera com ela. A perversidade com que a mordi e rasguei seu corpo, seus gritos desesperados, minha falta de misericórdia; Esse não sou eu.

— Não posso, não posso fazer isso... Largá-la aqui para apodrecer.

          Claro que pode, já fizemos isso antes. Jogue-a.

— Não. 

         Balancei a cabeça, tentando me livrar daquele novo delírio. Contudo ouvi um passo próximo e senti um dedo levantar levemente minha cabeça. Olhos vermelhos e um sorriso perverso me encararam. Os meus olhos e meu sorriso. A visão era tão perfeita que me encolhi, sentindo o tronco pressionando minhas costas e escondi Catherine em meio as minhas pernas, com medo que ele a levasse.

— Se não quer fazer, eu faço.

— Então terei feito eu de toda forma. - Resmungo, sorrindo sarcasticamente para minha própria imagem de pé diante de mim. Ele apenas assente, exibindo suas presas gloriosas. - Estou ficando louco...

          O vampiro não me responde, apenas vejo-o se escorar em uma árvore a minha frente e deslizar pro chão, imitando meu gesto. Pisquei os olhos com força e sua imagem permanecera ali, sólida, me assombrando enquanto decidia o que fazer com ela. Uma eternidade se passou, até que um cheiro fraco, muito familiar, invadiu minhas narinas, alarmando todos os meus sentidos. Abandonei Catherine e me levantei em sobressalto, seguido pelo vampiro ao meu lado. 

          Ambos farejamos o ar, tentando assimilar onde sentimos esse sangue tão peculiar antes, de essência tão deliciosa e única. Um grito agudo e assustado ecoou pela noite e nos entreolhamos, tomados pelo reconhecimento. Logo o vampiro parte de meu delírio virou fumaça e voltei completamente a mim.

— Bethanny!

          Num rompante esbaforido ergui Catherine do chão e a joguei no lago, sequer lembrando porquê relutava em fazê-lo antes. Virei as costas, fechei os olhos e aspirei novamente o cheiro buscando uma direção em que ele se destacasse. Um confusão de aromas e sons se instauraram em minha mente, contudo me concentrei no que eu queria, seguindo meus recém adquiridos instintos e me entregando ao meu lado predador.  E quando tornei a abri-los, eu sabia exatamente onde ir.

         Refiz todo o caminho de um jeito nada usual, saltando de árvore em árvore, como o monstro que todos pregavam que os vampiros eram. O odor se ampliava na mesma velocidade que minha inusitada preocupação, se solvendo em outros tipos de sangue, de outras vítimas, contudo ainda reconhecível. Me encontrava num frenesi tão grande pelo cheiro que após míseros segundos de corrida pude ver os primeiros sinais da iluminação artificial da cidade. WindHeart reluzia a luz de tochas e algumas piras, mas a agitação usual da noite era mínima, quase inexistente. 

          Desde que eu voltara não saí - ao menos conscientemente - do castelo, não tinha ideia do quanto a situação estava ruim. Ver as ruas do lugar onde eu nasci e cresci para governar assim, tão vazias, me causava uma tristeza imensurável. E saber que eu tinha parte de culpa nisso, não me deixava nada melhor.

          Os moradores depositaram bastante esforço em precaver sua segurança, porém nem mesmo o próprio sol afastaria os vampiros que ali se encontravam. Haviam mais deles do que eu imaginara e, se não fosse o fato de que não podíamos entrar em suas casas sem autorização, estava certo que aconteceria um banho de sangue. Os humanos tinham sorte dessa excêntrica força imperar sobre nós, não obstante ainda possuíam o instinto natural do medo que os faziam correr para se esconder ao cair da noite. No entanto alguns vampiros se regojizavam com o banquete de alguns mais imprudentes, os gritos e cheiros não escondiam seus atos. E na primeira rua de pedras em que pisei avistei um deles pressionando um homem corpulento contra a parede, um guerreiro. Em outras circunstâncias ele jamais seria deixaria abater de tal forma, porém nas mãos de um predador era tão fraco quanto o mais franzino dos homens.

          Observei ele pender a cabeça para um lado,  seu pescoço aberto pintando a parede e sua armadura em um tom avermelhado. Seus batimentos diminuíram em consequência da perda de sangue, transformando-se em algo semelhante a um tilintar ressoante em um copo, um eco  fraco se propagando peguiçosamente. Aqueles seriam seus últimos minutos.

          Como se só percebesse que eu observava agora, seu predador virou o rosto em minha direção e rosnou, furioso. Isso fora algo que eu aprendera no dia em que matei Anastácia; os de minha espécie não gostam de platéia. Não obstante em rosnar para mim, o Vampiro largou sua vítima e voou em minha direção, me erguendo pela lapela. Notei que suas presas eram o triplo do tamanho das minhas, enquanto ele me encarava com seus olhos bem mais claros de forma tempestuosa. 

— Qual é seu problema? - Ele aproximou o rosto do meu, me estudando. - Assistindo como um vampiro torpe algo tão intimo e particular.

— Particular? Estamos em âmbito publico.

— Isso não te dá o direito de ficar parado aí olhando, seu verme! - Rosnou com grosseria, franzindo os lábios.

            Respirei fundo, exercendo de todo meu controle. Se tem algo que não sou acostumado e não lido bem é quando sou tratado mal, mesmo que minimante. A minha vontade era gritar que sou o príncipe, mesmo que soasse como abuso de autoridade e mandá-lo calar a boca. Contudo me lembrei que, além de estar disfarçado, em meio aos vampiros não sou mais que um qualquer. Então ergui o queixo, e proferi com a voz mais contida que pude: 

— Me desculpe, estou seguindo um cheiro e me confundi.

— Novato idiota. - O Vampiro me soltou e reergueu sua vítima, resmungando. - Quando nosso Senhor retornar e der de cara com esse excesso de recém criados... 

         Nosso Senhor?... O Rei Vampiro!! 

         Meu humor mudou drasticamente para uma atípica ansiedade, me tentando a sobrecarregá-lo de perguntas sobre nosso mundo e sobre o nosso líder desconhecido, já que O Criador se recusa a me instruir sobre qualquer coisa que tenha relação com minha nova vida. Contudo logo suspirei e desisti. Além do vampiro não ser nada sociável o tempo era escasso, e sentia Bethanny mais próxima. 

          Contenho a muito custo minha curiosidade e me afasto, rondando as ruas com atenção, fitando cada vítima mulher. No entanto nenhuma se assemelha a ela, tanto na aparência quanto no cheiro. Estava prestes a desistir e assumir oficialmente minha loucura, quando o aroma me invadiu novamente; doce, misturado com o cheiro das rosas do castelo. Divino. Indescritível. Forte. Segui enfeitiçado, e pude ouvir sua voz a distância. O sangue magnifico mudou um pouco para algo azedo e metálico, indicando que Bethanny estava com medo. Aumentei a velocidade, ignorando os outros vampiros nas ruas e focando apenas em encontrá-la. 

         Se alguém tem de mordê-la, esse alguém sou eu.

          Assim que me aproximei de uma das tabernas mais conhecida que há na cidade a voz se tornou mais clara e alta, revelando sua localização. Caminhei silenciosamente até uma janela velha de uma das laterais do prédio e me abaixei, escondendo-me em seu peitoril. Conhecia o local vagamente, das poucas vezes em que fui convencido pelos outros príncipes a acompanhá-los, com a desculpa de que vivíamos em reinos distantes e quase não nos reuníamos. Uma desculpa torpe para festejar com as mulheres e escarnear sobre minha fidelidade a Anastácia. Definitivamente não era o lugar adequado para alguém como ela estar. Porém era exatamente onde Bethanny se encontrava. 

           Próximo à bancada do balconista, cinco vampiros cercavam-na de forma intimidadora. 

           Bethanny não vestia mais o lindo vestido que usara na festa. Trajando uma calça de couro marrom e um espartilho preto por cima de uma blusa branca modelo cigana, ela parecia mais com uma das mulheres que costumavam atender e dançar no local. A maquiagem forte nos olhos e nos lábios só reforçavam meu palpite, e sua aparência vil me desagradou profundamente. Muitas mulheres do castelo trabalhavam secretamente em outros lugares pelo desejo de ter uma vida luxuosa, temi que fosse o caso dela, ao passo que desconfiei, pois ela nunca me pareceu interesseira. 

          E que homem melhor para oferecer uma vida de luxo a uma mulher do que um príncipe? Um rei? Desde cedo eu recebia cortejos em demasia por parte do público feminino, e desde cedo fui instruído a suspeitar de todas mulheres que não possuíssem uma posição social semelhante a minha. No entanto Bethanny parecia genuinamente interessada em mim pelo que eu era e não pelo meu título.

          Ou eu estava cego, afinal...

           Pequenas gotas de sangue pingavam sedutoramente da mão esquerda de Bethanny até o chão e um dos vampiros levou a adaga, que provavelmente a usou para cortá-la, à boca sem qualquer pudor. Ele percorreu a língua pela lâmina vagarosamente, saboreando o gosto, seus olhos negros chamuscando em luxúria. E mesmo com medo, ela não se deixava intimidar, encarava-os com a postura reta e um olhar altivo e determinado, como se fosse uma de nossa espécie.

— Que sangue...!

— Deixe-me provar. - Outro vampiro aparentemente mais novo tomou a adaga de sua mãos, lambendo o resto do líquido de forma mais afoita. Suas pupilas se dilataram e um sorriso sádico se esticou por sua face. - Como dizem os humanos: Pelos Reis!! Quantos séculos não encontro um desse tipo... 

— Minha nossa!  - Completou o outro num sussurro, ainda com sua face incrédula.

          Uma tensão quase palpável se estabeleceu no ar e a postura dos homens mudaram significativamente. Eles, que antes encaravam Bethanny com desprezo, agora a fitavam com uma adoração quase que doentia, ao passo que se entreolhavam com desconfiança. Pareciam querer disputá-la entre si; como bárbaros em uma arena ou lobos famintos em meio a uma nevasca. Minhas mãos se fecharam em punho, trêmulas, e minha garganta ardeu com o novo sentimento de posse, se espalhando como veneno por cada veia de meu corpo. Franzi o cenho e contraí a mandíbula, segurando um rosnado que brotou de meu âmago.

          Ela é minha presa!

          Completamente ensandecido, fiz menção de me erguer e quebrar o vidro da janela. Queria cortar cada pedaço dos homens à minha frente, drenar seus corpos e vê-los tornarem cinzas em minhas mãos. Contudo a voz doce de Bethanny me fez parar antes mesmo que me levantasse.

— O meu assunto não é com vocês. - Alegou ela com certa calma e ergueu os cabelos, expondo sua nuca ao grupo. - Procuro o vampiro que fez isso.

          Os cinco encararam sua pele com curiosidade e arfaram. Eu estava perplexo demais para esboçar qualquer reação. 


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Notas finais do capítulo

E ai pessoal, chegamos ao fim dessa parte! Não esqueçam de dizer se preferem em duas partes ou ele inteiro heim... Beijão!! ♥



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