Legião [Gênesis - Livro I] - A Espada do Arcanjo escrita por Eye Steampunk


Capítulo 2
O Solar dos Abençoados


Notas iniciais do capítulo

"E então a vida é apenas um fragmento de grão que cai no conteúdo da Ampulheta de Tempus."
O Autor
Boa Leitura.



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O garoto que pronunciava o meu nome era alto e magricelo de cabelos platinados, parecia ter uns sete ou oito anos a mais que minha idade. Aliás, eu nem pensei em quantos anos eu tinha? Nove, dez ou onze talvez?

Um grupo bem bizarro de meninos e meninas se aproximou e me rodearam. Alguns ainda estavam de pijama, outros estavam vestidos com um tipo de túnica longa de cores berrantes, alguns tinham cabelos coloridos, outros tinham a íris de cores vibrantes, alguns tinham desenhos tatuados pelo corpo, brincos, tatuagens, maquiagens e excentricidade coloria o grupo, tanto em meninos, como em meninas. Era um grupo bem seleto vindo dar as boas-vindas.

Entre abraço, aperto de mão, assovios e palmadinhas nas costas, de longe também estavam outros jovens que olhavam com raiva a mim ou até debochavam de eu estar no meio daquele grupo, alguns apenas voltaram para seus postos na muralha. O garoto de cabelos platinado então se apresentou em meio à euforia.

— Oi, meu nome é Jack Mac’night! Eu sou o capitão-mor da casa Arturiliano, bem vindo, aliás, você já tem o kit de magia? — perguntou.

— Kit o que?

— Kit magia, você já tem alguns instrumentos consigo ou algum artefato mágico. Esqueça, vou mandar um de meus tenentes lhe ajudarem! — disse Jack, então se virou ao grupo — Ok, clã cinco, dispensar!

Quando o último garoto, um rapaz alto e com verrugas pelo rosto apenas bagunçou o meu cabelo em cumprimento, Jack me orientou pelo local. Comecei a mexer em meus fios de cabelo castanhos cacheados que desciam pelos olhos.

— Eu tenho cabelo! — disse eufórico. — Eu tenho cabelo! — repeti feito um bobo.

Jack explicava algo, mas eu não estava prestando atenção, nem tinha reparado no meu físico, mas depois que adentrei o portal minhas imperfeições surgiam; corri para diante uma série de espelhos que margeavam a entrada com diferentes molduras, de madeira a metálica. Observei ao reflexo um garoto com algumas espinhas no rosto, uma marca no queixo de uma queda que juro que foi de bicicleta, e uma mancha de nascença no braço, esta se parecia com um pássaro.

— É o portal. — disse Jack. — E estes são os espelhos da aparência, são mágicos, apenas para que olhe apenas uma vez... Não queremos que as pessoas se sintam desanimadas por sua aparência, que não se importe por elas, que seja o que você é...

— O que? — olhei para minhas mãos, até o tom de pele tinha alterado, eu tinha uma cor de pele parda.

— Você deve está se sentido mais forte, mais vivo e mais... Você! — respondeu. — São os efeitos de sua estadia do Grande Deserto para cá, somente os escolhidos podem adentrar o Solar! Nunca sei como os Infinitos classificam, mas pelo o que conheço do nosso clã bastante diversificado, acho que Matias não tem estereótipo, ele apadrinha qualquer um que possa ter dom na magia.

Quando olhei novamente para o reflexo do espelho, minha imagem tinha sumido, na verdade qualquer imagem, no lugar de onde deveria está o vidro espelhado havia uma placa de metal translúcido, que mesmo com seu brilho, não revelava mais a minha imagem.

— Eu não entendo um terço do que você diz! — digo, ainda admirando as minhas mãos, sem precisar dos espelhos, então olhei ao redor e abri os olhos para aquele mundo, a minha frente tinha uma fonte, suas águas jorravam para o interior, o contrário de uma fonte comum que expelia água para o exterior, alguns jovens bebiam da fonte.

— Beba! Talvez isso ajude! — disse Jack, ele retirou um cantil da cintura e encheu do líquido da fonte. Além do cantil, Jack estava repleto de objetos, talismãs, pedras, um chifre encurvado e o que parecia ser uma varinha torta feita de marfim — Água de Mnemosine, efeito contrário ao Lete, não ajudam a recuperar a memória, mas a aperfeiçoa.

Ele mergulhou o cantil na fonte e ofereceu a bebida, bebi um pouco do conteúdo, o gosto era como água e sal, eu engasguei um pouco pelo sabor, entreguei o cantil a Jack e enxuguei o canto do lábio com a mão. Não senti nenhum efeito, mas estava menos nervoso, minha garganta não se sentia tão seca, mesmo pelo gosto salgado, a água era refrescante.

— Onde estou?

— Q.G. da Cidade do Sol. Local de treinamento para futuros magos, adivinhos, necromantes, elementais, domadores, combatentes, produtores e curadores. Oito anos servindo a Ordem, o Supremo Sacerdote-mor e seu Capitão: eu; para combater as trevas e criaturas do Caos e impedir que o mundo Fantástico e o Real se encontrem.

— E só isso que vocês fazem? — perguntei espantado.

— Não! — ele disse — Também somos guerreiros da defesa Final da Ordem, quando enfim o fim chegar.

Não fiz mais perguntas, suas últimas palavras me deixaram assustado, algo que eu não queria saber. Defesa final da Ordem, isso parecia era uma tremenda responsabilidade.

Eu olhei em torno, o castelo de cristal que vim antes na entrada desaparecerá e fora substituído por uma cidade, a minha frente a grande fonte de Mnemosine ficava ao centro de uma praça com caminho de pedregulhos, outras quatro fontes estavam em cada canto e jardins gramados e floridos.

Contornando a praça um corredor sustentado por colunas gregas, alguns adolescentes brincavam em suas sombras, andando de bicicleta, outros jovens se encostavam e trocavam beijos, outros se reuniam e conversavam.

Prestando mais atenção, notei que não eram somente humanos, existiam outros seres e ai meu Deus! Aquele garoto tem no lugar de pés, casco de bodes. Uma das garotas que me cumprimentara de longe tinha cabelos realmente feitos de galhos e folhas, e garotas com asas e cabelos ruivos.

— Quem são todas estas pessoas e criaturas? — perguntei — Aquele cara no lugar das pernas tem um traseiro de cavalo?

— Meios-seres, às vezes alguns jovens despertam seu antepassado mágico, isso ajuda na escolha de seu clã, descendentes de centauros são geralmente curadores, de ninfas são domadores de seres; então se você for descendente de deuses, espíritos, entidades ou quaisquer seres mágicos, você também vem parar aqui, treina até que seus dons se desenvolvam. — explicou Jack — Talvez você possa ter alguma habilidade de algum ancestral mágico.

— Espero que não! — disse vendo um dos meios-seres centauro cortejar uma meio-ser ninfa.

— Mas se considere um fraco se pensar em ser apenas um mero humano. Eu por exemplo tenho parentesco do Mago Flamel, então tenho alguns certos dons do mesmo. — disse batendo de leve em minhas costas. — Se você for o primeiro de uma linhagem, deve desenvolver alguma habilidade que marque gerações de seus futuros sucessores!

Eu não pensava nem em sucessores. Futuro? Como se ainda não conheço o meu passado. Tenho vagas lembranças de uma mulher e de um homem, provavelmente meus pais, conforto; assim como tenho lembranças de uma criatura sobre natural feita de várias partes de animais, medo.

Olhando ao Leste, uma grande capela, deduzi pelos seus vitrais que lembravam as igrejas góticas europeias, em lado oposto o muro e portal em que adentrei. E em torno da praça, cobrindo todos os cantos, moradias residências, a maioria com mais de dois andares.

— Pensei que você disse ser um solar? — disse.

— No começo éramos um grande castelo feito de cristal, mas as coisas mudaram muito nos últimos tempos. — disse Jack — O Solar dos Abençoados, mas popularmente conhecido como Cidade do Sol, agora é uma metrópole, é claro que ainda não temos carro, nem tecnologia ou indústria, com exceção dos produtores que são manufatureiros, mas a tecnologia do mundo mortal nem se compara a...

— Um momento, como eu vim parar aqui? Quantos anos eu tenho? Quem sou eu? Eu... Eu sei que meu nome é Marcus Miller, mas o que eu era antes? Eu sei que eu tive uma vida antes, só que eu não me lembro de nada. E misteriosamente eu estou aqui. — disse o interrompendo.

— Primeira pergunta, dependem, alguns são trazidos até aqui quando morrer antes dos dez, a idade geralmente dos guerreiros, os Infinitos se compadecem e trazem seus espíritos para cá... — ele olhou minha expressão talvez susto. — Mas calma, com toda certeza você não morreu. A outra forma é que os Infinitos deixam objetos mágicos ou até mesmo abrem portais para os seus apadrinhados.

— Não queria interromper novamente, mas o que são esses Infinitos, as runas disseram o que eram, mas ainda estou confuso. — disse.

— São as oito entidades que vivem para sempre, por isso “Infinitos”, eles existem antes mesmo da origem do mundo e viverão depois que partimos — disse —Tempus, o Infinito do Tempo; Vita da Vida, Nekros da Morte, Stela dos Elementos, Matias da Magia, Gnosis da Razão, Senturia da Emoção e Kosmus da Ordem.

— Matias! Era a palavra que surgiu quando atravessei o portal, ele me apadrinhou? — perguntei.

— Sim, todo aquele grupo que lhe deu boas-vindas são os descendentes da magia, somos como filhos adotivos de Matias, seu Infinito padrinho! — Jack explicou.

Eu não me sentia nada mágico, mesmo com um tanto de loucuras acontecendo somente hoje: obeliscos que se movem sozinhos, portais que nomeiam e águas que revigoram a memória. Eu não carregava nenhum amuleto ou anel além daquele penduricalho nos braços com oito contas, provavelmente simbolizando cada Infinito.

Esse tipo de bracelete se encontrava no braço de cada um presente, alguns continham mais de uma conta apagada, deduzi que quanto mais velho, mais runas se apagam, olhei ao que se encontrava no pulso de Jack, ele possuía todas as setes apagadas, restando apena a runa de Matias.

— Quanto tempo tem o Solar? — perguntei.

— Desde a aurora da humanidade. — respondeu — Os nômades já consagravam a existência de magia, o primeiro fogo foi produzido por descuido de um elementar, a pós-morte de um faraó era sua vinda aqui, milhares relatos de gregos e as aventuras de alguns legionários, mas os nórdicos eram os melhores, já conheciam sobre um mundo de guerreiros, recebemos muitos nomes, Valhalla, Ilha dos Afortunados, Oásis de Osíris, etc. Convocamos legionários a milhares de anos das diversas maneiras.

— Eu não trago nenhum objeto mágico, se eu não morri, então talvez eu descobri algum portal ou algo do tipo... — sugeri.

— Provavelmente. — disse Jack, me olhou como se tivesse pena de mim.

— E você? Como veio parar aqui, algum objeto? Portal? — perguntei curioso.

— Nenhum, trilhei o caminho mais doloroso. — disse Jack — Vamos!

Então entendi a mensagem, Jack veio pelas mãos da morte e sua alma ganhou uma segunda chance. Então andamos em direção à capela, mas dobramos a esquerda, dando de encontro a três prédios unidos.

— Estes são os prédios do Q.G. do clã Arturiliano. — disse Jack estendendo o braço ao conjunto de residência altas de dois e três pisos. — Cada clã tem direito a três residências.

Então ele apontou a cada canto da praça. As que se encontravam a esquerda do portal era o clã um, Delfilianos: a ordem dos adivinhos, ele disse que em um dos prédios existia uma taverna no piso inferior, onde poderiam as pessoas consultarem suas profecias. O Clã dois ficava escondido por trás do Clã um no extremo sudoeste, Centaurianos: a ordem dos curadores, eles eram tipo os médicos de combate do Q.G., são também ótimos combatentes.

O Clã três e quatro, Anubisianos e Algonianos cobriam o sul da praça, Jack não contou muito sobre os Anubisianos, olhando para o local, os três prédios pareciam vazios, mas em uma das casas um garoto me observava do último andar. Já os Algonianos eram elementais, era costume suas casas inundarem ou entrarem em combustão por experimento de um dos moradores, mas parecia um grupo bem amigável pelo tanto de meio-seres e humanos que havia na frente de seus prédios.

Retornando ao lado oposto cobrindo o Norte da praça, o clã cinco e seis, o sexto era os Talurianos, era constante o som de metal batendo em metal do interior de seu prédio, Jack disse que eles arranjam as melhores armas. “São nossos ferreiros, oradores, engenheiros e todo que requer construção, são esperto, mas não ligam muito as aparências” disse Jack.

Concluindo o círculo, escondido no extremo noroeste o clã sete e à direita do portal o clã oito, Tzulirianos e Maaturiano. O Tzulirianos eram guerreiros e combatentes, era notável pelo perfil encontrado entre os jovens, grandes e musculosos. Os Maaturianos eram um grupo pequeno, Jack disse que eram pacíficos e bastante acolhedores, mas eram muito perfeccionistas e mandões, então entendi que nem sempre era bom enturmar com eles.

— Venha, vou apresentar sua turma de quarto! — disse Jack em direção ao clã cinco, Arturiliano.

Os prédios não eram diferentes dos demais em questão de matéria-prima, mas o clã cinco emanava um tipo de energia poderosa; de vez em quando alguns estavam sentados à janela e brincavam com magia. Sim! Faziam truque e moldavam com um tipo de luzes cintilantes, cada um tinha uma cor: dourados, róseos, rubros, etc.

Fui conduzido ao prédio da esquina, um prédio esguio de quatro pisos, eram o maior, entretanto o menos espaçoso, e a não ser o topo onde dois jovens jogavam xadrez movimentando as peças com magia, os dois primeiros pisos não havia muitos fazendo mágica.

Na entrada da porta havia uma placa com o símbolo do clã, explicou Jack, o símbolo era um rabisco com uma ponta triangular, parecia um cajado com uma ponta de cristal, ou uma varinha de condão curva.

— Clã cinco! — disse Jack na entrada do prédio de portas de madeira de carvalho aberto — Ordem um de pé!

Dois jovens em suas camas conversando se levantaram e mais cinco vindo do piso superior, todos pareciam ter a minha idade com exceção de um com cerca de sete anos e duas garotas de armadura de couro que pareciam ser a autoridade do grupo depois do capitão-mor Jack. Outro era enorme e tinha caroços pelo corpo, além de pele arroxeada.

— Apresentação ao novato peregrino! — disse Jack e todos obedeceram como seu capitão-mor ordenou.

— Susi, dez anos, meio-ser da feiticeira Circe. — disse uma garota de cabelos negros com um mamífero nas mãos, curiosamente um porquinho rosa.

— Gê, onze anos, magia dos ogros da caverna. — disse o garoto-ogro.

— André, sete anos, mágica Houdinni — disse um afrodescendente de olhos dourados, o mais novo do grupo.

— Anu, dez anos, meio-ser de Ísis, magia do Egito — um garoto com os olhos marcado por delineador negro e rosto astuto.

— Dakota, dez anos, meio-ser de Hecáte, magia da Lua — uma garota com os cabelos longos loiros prateados como a lua.

As duas jovens, uma era uma loira californiana, parecia vim da Costa Oeste da América possuía uma simpatia, se apresentou como primeira tenente da Ordem Um: Blaineley, quinze anos, mas preferia ser chamada de Blair pelos amigos.

— Clear, segunda tenente da Ordem Um, quinze anos. — disse uma garota de cabelos negros e pele alva como uma personagem famosa de história de contos de fadas, mas qual seria o nome mesmo?

Todos puseram o palmo da mão direita sobre o peito, do lado do coração, fez uma referencia inclinando o corpo para frente e disseram em uníssono: Saudações!

— Peregrino? — olhou Jack a mim. Sim, me apresentar, eu pensei sobre a minha apresentação por um momento.

— Marcus Miller, eu não sei quantos anos eu tenho, e acho que... Magia? — respondi.

Eles riram.

Jack balançou os braços em ordem para repreender os risos, os garotos cessaram os sorrisos, então Jack virou a mim.

— Não se preocupe Marcus, a noite durante a cerimonia de...

— dez anos. — disse Dakota, interrompendo Marcus.

Por um momento achei que ela receberia uma bronca ou repreensão, por que todos os presentes exclamaram em surpresa, a garota tinha um brilho travesso prateado nos olhos como... Como se pudesse olhar para a lua cheia.

— O que? — perguntou Jack confuso.

— Desculpe interromper Capitão Jack, mas ele tem 10 anos, cerca de cento e vinte e cinco ciclos lunar... — explicou Dakota.

Todos ficaram em silêncio, então um dos garotos cortou o silêncio, Anu.

— Bem, Dakota acaba de estragar metade da surpresa para hoje à noite. — disse, e todos caíram na risada, inclusive o capitão Jack.


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Notas finais do capítulo

Olá jovens!
É um prazer continuar essa história, primeiro porque é um desafio mesclar cultura e estou pesquisando muito em sites, baixei até dois livro: O Livro De Ouro da Mitologia (Thomas Bulfinch) e O Livro Dos Seres Imaginários (Jorge Luis).
Então se você quiser que eu adicione algum ser que goste, é só deixar nos comentários, ou sugeri um livro (bestiários principalmente) agradeço.



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