Legião [Gênesis - Livro I] - A Espada do Arcanjo escrita por Eye Steampunk


Capítulo 1
O Grande Deserto.


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo de uma saga (trilogia.).
"Bem vindo aonde tudo é possível" - o autor.
Boa Leitura!

*Última edição [19/11/2016]



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“No início era um verbo e assim ele se tornou...”.

Areia. Onde eu estou?

Uma dor no estomago me desperta do torpor, eu não tenho palavras para descrever como era: agonizante, febril e aguda. Contorce-me por um tempo enquanto um par de membranas se abriam em meu rosto, olhos.

O vento cortava o meu corpo e levantava pequenos grãos de areia sobre a minha face, encontrava-me deitado de barriga ao terreno seco de uma duna. Os olhos não se assimilavam a luz intensa do ambiente, a garganta seca parecia querer algo frio, mas eu não sabia o nome, nem o gosto, nem o sabor. Eu não tinha conhecimento sobre existência de nada até então.

Quando finalmente minha visão se tornou nítida e os tons de cores definidas, pude ver onde eu me encontrava; sentei-me com dificuldades e senti os meus músculos e ossos em dor sobre o solo arenoso do deserto, sim, um grande deserto que se alastrava a cada canto que meu pescoço dolorido pudesse enxergar a mais, nada além de dunas e mais dunas de areia.

No horizonte, o calor emanava, formando uma camada tremulante de ar na linha do horizonte. A areia parecia diferente, mais fina e inteiramente apenas areia, não havia outro material que a formava, como se a presença humana no local fosse inóspita.

—...! — assustado, pronunciei algo inelegível, ruídos sem sentidos, palavras incompreendidas.

Eu fiquei confuso por nenhum ou qualquer som ser expelido de minhas cordas vocais, me senti como uma criança que ainda não tinha capacidades de falar, a sensação parecia ser a mesma de tempo atrás, no ventre de minha mãe. Quem era a minha mãe? Quem sou eu? Quando foi “tempo atrás”?

Tive vagas lembranças de um rosto de uma mulher, cabelos castanhos, olhos afetuosos, um sorriso afagante, mas nada mais, depois apenas lampejos, uma sombra e dentes de alguma criatura. Medo?  Talvez tristeza? Confuso, eu não conseguia descrever o que eu sentia, eu não conseguia descrever o embaraço em minha mente.

Olhei para baixo, para minhas vestes, mais tarde eu saberia o nome de cada peça ali encontrada: calção e camisa de linho de cor negra. Eu estava descalço, meus dedos do pé tocavam o morno terreno. Até aquele momento, eu não sabia a cor dos meus olhos, ou mesmo de que tons eram os meus fios de cabelos, até aquele momento eu não sabia os nomes das cores.

Na verdade, estive pensando por um lado, eu não tinha nenhum fio de cabelo sobre a cabeça. Deslizei a mão por cima da calvície, inteiramente lisa, eu não tinha pelos pelo corpo em parte nenhuma, uma pele lisa como a de um bebê recém-nascido; mas algo em minha mente dizia que eu já tive a sensação de calor e proteção, como a de um afago de um ente querido que eu não lembrasse o nome.

Não importo no momento, eu gostaria de saber onde estou? Um deserto claro, mais qual deserto? Mais uma vez tento pensar sobre existência dos nomes de desertos que conhecia das aulas de geografia, nenhum me vem à mente, então noto que nem eu sei o que é um deserto.

Eu não teria nenhuma resposta se continuasse parado ali, além do calor e da sede, e até então eu não tinha conhecimento de palavras, emoções, sensações ou ações; senti-me que se continuasse sentado, poderia definhar lentamente, por falta de esperança, por falta de reação; e algo me instruía a seguir em frente, mas para onde eu não sei.

Levantei e caminhei sem rumo a sentido nenhum.

 O tempo era silencioso também, não havia astros acima, nenhum sol, nenhuma lua, nenhuma outra estrela e muito menos nuvens em um céu anil e limpo, num certo momento parei e tentei ouvir algo, dei liberdade aos meus outros quatros sentidos.

Além do vento que parecia vim de todas as direções e indo a direção nenhuma, tudo era quieto, o local parecia gravitar no espaço imóvel, em repouso, sensações que só pude notar mais tarde e contar aqui neste livro. Batidas ritmadas pulsavam de mim, toquei sobre o peito do meu lado... Esquerdo ou direito? Coração. Norte? Não existia, alguma referencia? Nenhuma. Projeção de uma sombra? Não havia.

Então depois de um tempo, não sei se foram segundos, pareciam minutos, em outros momentos pensei serem anos, décadas, séculos; notei sombras cinza surgindo à frente, à distância de alguns metros, ou quilômetros; com o efeito do calor, os corpos pareciam miragem na linha do horizonte, como se o deserto criasse dentes pavorosos, é uma tristeza que eu não conhecia a sensação nem de medo e nem de coragem, apenas sentia que eu possuía uma das duas.

Aproximei das estruturas e pude distingui melhor o que eram: oito obeliscos posicionados em espaços uniformes formando uma circunferência em torno de uma área elevada ao centro, tanto os obeliscos como a área ao centro eram feitos de um material negro e cromado, supus ser obsidiana ou outra pedra negra parecida.

—...! — acrescentei surpreso mais uma vez, disse algo que não saía por minha boca.

Parecia que as palavras queriam ser vomitadas; eu senti uma sensação de peso na barriga, uma âncora ou uma corda presa ao estômago que puxava para o centro das estruturas, meu corpo apenas obedecia, caminhando em direção ao centro-altar.

Após cruzar o espaço dos mosaicos, me senti mais vivo, respirei profundamente o ar, parecia está enchendo de energia e poder. Não tive tempo para apreciar a sobrecarga de força, posicionei-me em meio ao altar, abri involuntariamente a boca, pensando em novamente dizer algo sem sentido, quando uma palavra pegou-me de surpresa.

— Olá! — o som de minha voz, grave e alta, minhas primeiras palavras naquele “mundo”, ecoou livremente entre os obeliscos.

Então do ponto em que estava em pé surgiram linhas de luz branca como uma estrela de oito pontas, cada uma seguiu para cada um dos obeliscos, iluminando signos grafados sobre a superfície lisa de cada. Assustado, cai de costa ao chão, pus a mão à boca, incompreendido com aquele som desconhecido e encantado com as figuras que se formavam na camada irregular do cromado negro.

Mais tarde, eu não consegui lembra-me de nenhum daqueles símbolos até o momento em que entrei no Q.G., outra história a outro momento. Enfim, os sinais brilharam constantemente, uma luz mais intensa, pus o braço em frente ao rosto. E por fim os signos apagaram, uma voz em minha mente disse, não, vibrou nos meus ouvidos em diferentes tons e alturas.

 “Forasteiro!” — sonorizou — “Vinde do nascente, terras orientais do além-mar de onde nasceu o Criador, filho de Adão, primeiro de seus, entenda a nossa crônica antes de peregrinar pelas brandas terras do Grande Deserto do Nascimento. Foi aqui neste local, antes do êxodo dos deuses, e mais além do apocalipse dos viventes; que se deu o surgimento do universo”.

“E no início era apenas o verbo, e do verbo surgiu o Ser, o primeiro Infinito veio nu, sem face, sem idade, o Destino veio cego; dado a ele a ampulheta, o primeiro grão se derramou no receptáculo, a primeira palavra no livro do tempo, o primeiro caminho no labirinto do livre-arbítrio, a primeira letra, a primeira nota”.

Cada sussurro em minha mente era como uma canção tocada em uma harpa, uma mãe contado história a uma criança, uma lenda vocabulizada do ancião ao jovem guerreiro. Um vórtice de areia formou-se em torno do altar como se fosse o epicentro da tempestade, sombras de figuras surgiam e interpretavam a história. Então continuou a entoar.

“Do primeiro projetava a luz, o brilho, que a Vida encheu e sua alusão, as trevas, a penumbra, que a Morte pereceu. Os dois irmãos surgiram, o segundo e o terceiro Infinito, a presença de um, as nascentes fluíam, as flores brotavam, os seres saciavam; a presença do outro, as folhas secavam, as ondas quebravam, e o homem que do pó veio, do pó retornará”.

“O éter clamou por abrigo, das veias de seu coração formou-se dois seres, um sendo modificado pelo outro, às vezes moldado e às vezes sendo o moldador. O quarto e o quinto Infinito, Elementos e Magia, agindo e modelando. Matéria cobria o corpo irregular, energia exercia trabalho e abrigo ao sem-forma”.

 “O sexto e o sétimo Infinito surgiram depois do primeiro homem, Emoção e Razão nasceram dos nervos do primeiro Sapiens, o pulmão alimentou, o coração nutriu. E brotaram distintos de cada um dos hemisférios do cérebro, ambos opostos, ambos unidos. O fogo, o presente proibido, acendeu da mente e do coração”.

“E o universo ainda continha rastros do Caos, e do caos nasceu a Ordem, a contê-la, o novato, o oitavo Infinito. Carregando a justiça e o senso, e dele o fardo divino de instruir a hereditariedade, receber da Vida e devolver a Morte, organizar os espaços e controlar os fenômenos”.

“E assim os oitos regem o éter, e no fim; quando o destino derramar os últimos grãos da ampulheta do tempo, a vida perecer; a morte renascer; quando matéria e energia se esgotar; quando o homem regredir a inocência e a ignorância, meu guerreiro, você lutara ao nosso lado contra as forças da desordem no fim, e impedirá que o Caos retorne”.

“E assim nasceu o refúgio dos refugiados, o abrigo dos abrigados, o lar dos guerreiros, formada pelas qualidades de cada Infinito, fundada fora dos limites do tempo, localizado no centro de quaisquer terras, Cidade do Sol, aurora de todas as civilizações.”

“Atravesse caminho e descubra se é profético como Delfos, erudito como Quíron, justo como a tribuna de Osíris, se é cultural como a majestosa Roma Antiga, ou inusitados como o mago Merlin, se tem as perícias das forjas de Hefesto, ou poderoso como os dragões das montanhas nipônicas, se as ordens lhe convêm.”

Pausa. O tornado de areia cessou.

“Oito profecias ou prosseguir caminho?”

Então tudo ficou em silêncio. As runas brilharam em intervalo, até que apenas uma permaneceu acesa, o desenho eram dois rabiscos parecia ser de um relógio solar ou algo do tipo. Suas últimas palavras foram “Oito perguntas ou prosseguir caminho?”. Seria uma ordem? Ou eu poderia sair daquele mundo maluco e procurar algum lugar onde ache comida.

Sim, depois que recebi aquela força misteriosa, tudo sobre conhecimento de nomes veio à mente: sinônimos, adjetivos, pronome, verbos e advérbios, eu estava confuso e sabia que estava sentindo, emoções e razões voltaram, mas não tinha lembranças do que era antes de acorda no meio do deserto. É como se um ar enchesse um balão tão rapidamente que se estourou, era muita informação a processar, então fiz a pergunta mais sensata.

— Quem sou eu? — gritei em alto e bom tom.

“Tempus”; Ao fim do desafio você saberá quem é: “filho de Adão, você tem uma longa jornada para frente” “Palavras de amigos esteja em mente” “A espada do anjo precisa encontrar” “O Senhor das lorotas deve enfrentar” “Nas mãos do ladrão negociarão” “e a Porta do Caos abertos ou trancados, estarão”.

“profecia ou caminho?”.

O primeiro obelisco apagou-se, o seguinte a direita acendeu o seu símbolo, uma espécie de chama com um ponto, brilhou. Depois de ouvir aquelas frases que nada responderam as minhas perguntas: que amigos? Espada de anjo? Portas do caos? O que significava tudo aquilo?

— Caminho! — decidi.

O solo tremeu sob o altar, os obeliscos começaram a rodopiar e afundar em torno de mim, a areia se levantou sobre meu rosto, ferindo meus olhos. Pus a mão em frente à face, perdi equilíbrio novamente e cai sentado ao chão, depois que o terremoto cessou e o altar e os obeliscos afundaram ao chão, surgiu misteriosamente a minha frente, um vaso de planta.

Sim, um simples vaso de planta, ele era feito de cerâmica de barro, recheada com terra adubada e uma pequena muda de uma planta de folhas verdes e vivas, eu não tinha o conhecimento sobre botânica, mas parecia ter um pedaço de cada espécie de vegetal. Com cuidado e temendo qualquer ação depois do que houve antes, cautelosamente agarro o vasinho e o seguro entre minhas mãos.

O vaso aqueceu-se ao contato das palmas.

— Opa! — exclamei quase o deixando cair de minhas mãos, mas fui surpreendido quando um brilho azul se formou em torno da planta. — O que é isso?

“Magia”

Uma voz diferente das anteriores no conjunto de obeliscos, esta mais suave e amigável sussurrou em meus ouvidos.

— Quem está aí? — perguntei.

“Siga a trilha”

A voz respondeu.

— Qual trilha? — questionei procurando algum caminho em torno de mim, então machas do brilho azul surgiu ao chão, segui as luzes, relutante e com receio do que me esperava mais à frente, nem bem quanto tempo antes do obelisco se passou, mas agora eu sabia exatamente as horas. Era Sétimo dia do quarto mês lunar, mas o que pensei? O que é essa data?

Caminhei exaustivamente até minhas pernas sentirem mais dores, mas prossegui em frente incansavelmente; quando enfim cheguei a uma grande muralha, a trilha sumiu sendo absorvido pelas paredes da muralha como uma esponja absorve a água.

A arquitetura do grande muro era familiar aos olhos e parecia alterar com a compreensão, por um tempo era semelhantes aos fortes das cidades greco-romanas, em outro as grandes muralhas chinesas, e parecia conter hieróglifos, runas nórdicas ou os desenhos pictóricos maias.

— Quem vem de além do deserto ao Leste, o Grande Deserto dos Infinitos? — gritou alguém do alto de uma muralha em uma das torres de patrulha, um garoto oriental, ele trajava uma armadura de couro japonesa e mirava uma flecha no seu arco em minha direção.

Além dele havia outros guerreiros, alguns usavam armaduras greco-romanas, outro armaduras medievais, outro de fuzileiro das Guerras Mundiais. E armas eram bem variadas, espada em punho, espingarda engatilhadas, bestas apontadas.

— Eu... Eu não sei! — gritei assustado de volta.

Queria soltar o vaso e estender os braços para cima como sinal de rendimento, mas algo dizia que esta seria uma péssima ideia. O garoto oriental me encarou furiosamente, mas em seguida exibiu um sorriso largo e fez o comando a seus amigos para baixarem as armas, então se voltou a mim.

— Resposta certa! — respondeu.

Em um passe de mágica, luzes douradas brilharam a muralha, desenhando um arco e seu interior sumiu a solidez da parede e surgiu uma porta elevada de madeira, ela abaixou com muita rapidez. Corri para trás de costas, tropecei, levantei e afastei arfando, o portão derrapou logo atrás de mim quase me esmagando por um pé.

Os guerreiros riram, eles estavam gozando de mim. Através da passagem-portão, surgiu um grande castelo de mármore e cristal, reluzia a luz do céu, pedras preciosas surgiam do chão e formavam torres, através das paredes translúcidas vi alunos duelando, andando em uma biblioteca, somente isso era visível apenas do lado de fora da muralha.

— E como sabe? — Eu sei que a pergunta era idiota, mas como eu teria que confiar naquele lugar bizarro. — Como sabe que eu não possa ser perigoso?

— Primeiro: todo forasteiro que vem para o Solar não conhece o seu nome, segundo: Isto... — apontou ao meu vaso de planta que brilhava. — o vaso do Maat. Atravesse as Entradas do Julgamento, forasteiro.

Olhei à frente, era uma entrada simples, um arco de pedra, observei os tipos de letras em torno do arco, símbolo que não conhecia, mas consegui traduzir como: Solar dos Abençoados, atualmente: Cidade do Sol.

Caminhei com meu vaso de planta às mãos, o grupo que patrulhava a fronteira desceram ligeiramente a borda da entrada por dentro. Primeiro eu pensei que seria um comitê de boas vindas, mas nenhum deles resolveu transpor o arco até que eu atravessasse.

Em meio caminho o arco acendeu uma luz dourada, o brilho azulado da planta se misturou ao amarelo cintilante, a pequena planta desapareceu de minha mão foi substituído por um tipo de pulseira de cordão com oito contas de madeira, um bracelete. Cada conta exibiu símbolos brilhando, os mesmo dos obeliscos negros.

Mas apenas sete permaneceram a brilhar, o primeiro símbolo, o do relógio de sol, se apagara. Outra runa também se manifestou em seu brilho, a quinta conta, que parecia um graveto com ponta triangular, sua imagem surgiu a minha frente e uma palavra acima, na minha língua: MATIAS.

Esse era o meu nome?

Sobre o nome surgiu o que parecia ser uma frase, mas não eram direcionados a mim, mas para os garotos, olhei com mais clareza para entender a frase, só que os símbolos mudavam constantemente. Identifiquei os sinais bizarros japoneses, as letras curvilíneas das línguas do oriente e curiosamente o alfabeto latino, mas em ordem que não se podiam interpretar as palavras.

— Clã Arturiliano, forasteiro! Casa de Nicolaus, Cornelius, Merlin e outros feiticeiros. Seu nome é Marcus Miller, herdeiro da Magia, bem vindo ao Solar dos Abençoados!


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Notas finais do capítulo

Gente, primeiro capítulo *-* Que emoção.Seus lindos, deixem nos comentários o que acharam, se quiser, coupere e deem dicas de que ser vocês desejam ver na série, sua sugestão poderá aparecer na fic.Regras para pedido se seres sobrenaturais:



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