—Loren, sinto muito sobre hoje...-

—Não. Não sente. E por favor, não tenta dar uma de quem se importa. Pra você Jackson é nada, e eu sei que você pensa assim. A única coisa que não é novidade é que eu sou exatamente como ele, só sou menos idiota, mas isso não me faz importante. O Alfa estar me seguindo por aí...Não é importante.- Falei

—Loren...-

—Eu só quero que você me deixe em paz. Porque não há nada comigo, tá legal? Não tem razão para...para isso. Isso que eu nem sei o que é.- Falei nos apontando. -Eu não sei...- Minha respiração começou a pesar. -Como você veio parar na minha vida...- Me levantei e ele também. Coloquei uma distância considerável entre nós. Eu abri a boca pra falar, mas fechei. Eu nem sabia mais o que falar. As palavras não vinham nas diversas vezes que tentei falar.

Por isso, eu simplesmente dei as costas e fui embora.

—--

De volta a minha casa, eu torcia para que meu tutor não estivesse, e ele não estava.

"Saí, vou ficar fora duas semanas."

O bilhete estava escrito num pedaço de papel qualquer, com uma letra merda quase ilegível e com manchas de...vinho?

Vinho...

Filho da mãe.

Corri para a dispensa e dei falta da coleção de vinhos chilenos Koreshkov.

Era do meu pai.

Eu nunca quis matar tanto o Kinney...

Subi para o meu quarto e peguei um livro para ler. Precisava relaxar, então peguei um de meus livros favoritos: O Grande Gatsby.

Li por alguns minutos e depois peguei no sono.

—--

POV. Scott

Eu estava saindo do supermercado com algumas coisas que a minha mãe pediu. Eu estava bem perdido, porque passei vários minutos tentando lembrar onde coloquei o carro. Atentei por destravar a porta, mas ouvi o click vindo acima da minha cabeça. Eu estava no andar errado.

Uma garrafa de leite caiu da sacola e foi parar em baixo de um carro.

—Não! Ah, droga..-

Eu já estava me baixando quando de repente a garrafa voltou rolando sozinha com três furos.

O alfa.

Corri em plenos pulmões enquanto ele me perseguia. Meu coração estava a mil e me escondi atrás de um carro.

"Gênio". Seria exatamente como a Loren zombaria de mim se estivesse aqui. Aliás, acho que Stiles diria o mesmo. A verdade é que os dois são parecidos.

Controlei meu medo e saí correndo por cima dos carros. Talvez se eu chamasse atenção, o Alfa não conseguisse o que queria.

Depois disso, corri novamente pra trás de um carro.

Parecia ter funcionado, mas então meu celular começou a tocar...

—Não, não! Pára!- Resmunguei.

De repente algo me puxou e me jogou com força contra um carro, mas não era o Alfa. 

—Você morreu.- Disse Derek. Estressado, pelo visto.

—--

—O que é que foi aquilo?- Esbravejei. 

—Eu disse que iria te ensinar, eu só não disse quando.-

—Mas você quase me matou de susto!-

—Ainda não-. Mas o que diabos aconteceu com ele?

—Tá, mas pelo menos eu fui rápido.-

—Não o suficiente.-

—Mas o alarme do carro foi inteligente...-

—Foi até seu telefone tocar...idiota.-

—Tá, mas aquilo...Tipo...Será que dá pra você parar? O que foi que eu fiz?-

—Você se distraiu- Falou pegando o meu celular e me mostrando o monitor. Tinha uma ligação perdida da Allison. -Está vendo isso? Eu te encontrei, o alfa te encontraria. Tem que se livrar dela.-

—Por que? Só por causa da família dela?- Perguntei e Derek jogou meu celular contra a parede.

—Você é louco?- Gritei.

—Ela é uma distração. Amor é uma distração.- Falou e sumiu por entre os carros.

—--

POV. Loren

Acordei depois de horas...Olhei o relógio e percebi que já estava de manhã e que eu estava quase atrasada para a escola.

Corri pra me arrumar e quando estava pronta desci as escadas quase caindo. Abri a porta pronta para encarar uma maratona, quando dei de cara com...

—Oi Stiles.- Disse surpresa

—Bom dia, Loren.-

—Você está aqui há muito tempo?-Perguntei

—Não acho que quarenta minutos seja muito tempo.- Meu Deus.... -Bem, estamos atrasados. Vamos?-

O caminho até a escola foi rápido. Não conversamos muito. As aulas passaram se arrastando no tempo, como se o dia fosse mais lento. Tudo era mais chato. A única conversa completa que tivemos foi sobre o Alfa. 

—Vocês sabem o que está acontecendo com Derek Hale?- Disse e fiquei intrigada. Stiles deu de ombros e Scott começou a reclamar de como ele estava "Pior do que antes", com um super mau-humor, quebrando tudo.

Comecei a imaginar se isso seria por causa do que aconteceu ontem ou sei lá. Eu realmente não consigo saber o que se passa com Derek. Ele é tão irritante quanto Stiles. Pelo menos eu sei qual é o nome do problema de Stiles: Lydia.

—...E você Loren?- Stiles me perguntou enquanto a minha cabeça estava longe.

—Hum, quê?-

—O que você acha. Sobre as atitudes de Derek Hale. Vocês tem passado muito tempo juntos, não é?- Scott Perguntou.

—Eu...É...Bem, eu não tenho passado tanto...Na verdade, é eu passei um tempo com...Não, é que...É, sei lá. Ele tem agido meio estranho. Nada que supere o de sempre.- Respondi gaguejando. Stiles e Scott me olharam surpresos. Scott mais do que Stiles. Talvez pelo fato de que ele pode sentir quando eu estou nervosa. Mexi a cabeça minimamente tentando dizer: "Não, não toque nesse assunto", e ele não falou nada.

Stiles tomou a árdua missão de ajudar Scott a "Entrar em contato com seu lado animal".

—Perai, ele quer que você entre em contato com seu lado animal, mas geralmente quando isso acontece você tenta matar alguém, que geralmente sou eu.- Stiles resumiu.

—Ou eu.- Levantei a mão.

Derek disse que Scott precisava aprender a se transformar e agora ele está obcecado com isso, por que só assim ele poderá voltar a falar com a Allison. Isso mesmo, Derek colocou ele de castigo. Disse que se ele queria a ajuda dele, Scott ia ter que evitar, ou melhor, "Se livrar", da Allison.

Estávamos saindo da escola quando Scott começou a tagarelar sobre o Alfa. Ele havia feito uma "visita" ao Scott.

—Eu estava no carro, aí ouvi um barulho. Ele fez um desenho! Com um galho! Fez uma espiral no vidro. Eu perguntei ao Derek o que significa e ele disse "Não vai querer saber". Sério, eu quero saber!-

—Eu posso fazer uma pesquisa.- Disse Stiles.

—Vendetta.— Falei.

—Quê?- Scott perguntou. Eu nem tinha me tocado do que acabara de dizer. Simplesmente saiu da minha boca.

—Vingança.- Disse constrangida. -Essa sua espiral significa "Vingança"- 

—Como sabe disso?- Stiles perguntou. "Espera, como eu sei disso?" Pensei.

—Ahm...Eu...Li na internet.- Falei e apressei o passo.

Eu sempre fui boa com simbologia e interpretações, mas eu nunca havia lido algo sobre a espiral. Pra mim, espirais dignificavam evolução. Pelo menos era o que eu havia lido na internet. Eu não sabia que era vingança...sabia?

Estávamos no gramado. Stiles pegou algumas coisas para ajudarmos Scott, que passou a usar o monitor cardíaco. Assim saberíamos se estava funcionando ou não.

Scott tem que aprender a controlar seus sentimentos. Quando está com a Allison, quando está com raiva, nervoso... Tipo o incrível Hulk.

Stiles amarrou as mãos de Scott pra trás e começou a atingir ele com as bolas de lacrosse. Eu estava sentada na grama ao lado de Stiles rindo muito. Aquele era o momento leve da minha vida que eu gostaria de guardar. Eu me senti parte de algo ainda que estivesse sentada no chão comendo uma maçã verde. Vi Jackson de longe. Ele estava rindo daquele nosso circo. Olhei e acenei pra ele, que sorriu pra mim.  Scott estava apanhando feio.

—Sabe, acho que estou melhorando a minha mira.- Stiles disse.

—Por que será???- Scott reclamou com dor.

—Posso tentar?- Perguntei animada e Stiles me passou o taco de Lacrosse. -Não com isso.- Sorri pra Stiles.

—Não, não!- Scott me olhou desesperado.

—Faça isso por ela. Por Allison.— Falei pra ele tentando passar confiança e Scott concordou com a cabeça receoso. - Lembre-se, tente ficar calmo. Esse é o seu objetivo.- Disse e dei um soco nele.

—A pressão aumentou. Foco Scott!- Stiles estava mais perto com o celular do treinador Bobby.

—Ok, continua.- Disse e dei outro soco nele. 

—Acredite, isso está doendo mais em mim do que em você.- Disse rindo.

—Eu acho que não.- Respondeu.

—É tem razão.- Disse e depois deferi mais dois golpes no rosto e um terceiro no estômago. O monitor começou a apitar mais alto e freneticamente.

Entramos na zona de perigo em plena luz do dia.

—Calma aí, Dr. Banner. Não vai se esverdear agora, né?- Falei com a mão em seu ombro, o massageando. -Jackson está na arquibancada olhando. Então pensa nela. Fica calmo.- 

Mas o monitor só gritava mais ainda. Scott conseguiu romper a fita que prendia suas mãos e eu precisei me afastar.

—Scott...- Stiles o chamou.

Ele se concentrou, respirou fundo e depois de um instante os batimentos se normalizaram. Vi Jackson indo embora com um olhar suspeito.

—Scott, você começou a se transformar.- Stiles o explicou.

—Eu fiquei com raiva, mas foi mais do que isso. Parecia que quanto mais raiva eu sentia, mais forte eu ficava...-

—Então é a raiva. Essa é a chave. O Derek tem razão.- Stiles assumiu.

—Eu não posso ficar perto da Allison.-

—Pode. Se você se controlar.- O encorajei.

—Não é isso. Não posso ficar com ela.- 

—Só porque ela te faz feliz?- Stiles perguntou.

—Não...Porque ela me faz fraco.

—--

Não acredito que Scott está seguindo a filosofia de vida do Hale.

Estávamos no vestiário.

—Tudo bem, então fique longe dela por alguns dias.- Stiles sugeriu.

—Tá mas, são só alguns dias ou vai ser pra sempre?- Scott perguntou.

—Aí depende de você.- Falei.

—Esse lance de "As mulheres enfraquecem os homens" é muito Guerreiro espartano pra mim.- Stiles comentou e revirei os olhos. Scott percebeu.

Lydia. Lydia enfraquece Stiles. Acho que ele nunca notou isso, mas ele é um poodle perto dela. 

—É, mas você já viu o Derek. O cara tá sempre sozinho.- Scott lamentou.

—É, mas na verdade isso foi antes da Loren.- Stiles soltou como se eu não estivesse ali.

—Tá bom...Eu me recuso a ficar aqui.- Falei e dei as costas. Encontrei Jackson por entre os armários. Ele estava com um cheiro estranho. Um cheiro doce. 

Tava cheirando à morte.

Ele estava suando frio e mal conseguia se manter encostado ao armário.

—Jackson?- O chamei.

—Ko-Koreshkov.- 

—Você foi a enfermaria?- Perguntei o ajudando a sentar em um banco.

—Não.-  

—Droga, Jackson! Você está mal. Precisamos ir agora mesmo. Você deveria ter ido ontem. Eu te deixei lá.- Falei e ofereci apoio. Andamos abraçados até a enfermaria. Declarei para a Sra. Carter que era estado de emergência e logo ela chamou um médico, que descobriu uma poderosa infecção.

—Meu jovem, não há mais nada aqui, mas essa infecção deve ser tratada com antibióticos. Vou passar uma receita para você.- Disse o senhor já receitando uma porrada de remédio.

Depois disso acompanhei Jackson até seu carro para que pudesse ir embora.

—Valeu, Koreshkov.- Agradeceu com orgulho ferido.

—Não há de que. Melhoras, Jackson.-

Depois disso corri para a aula de economia com o treinador Bobby. 

Eu não conseguia entender como ele exercia dois papeis fundamentais naquela escola. 

—Sentando, Koreshkov. Espero que seja tão boa em economia quanto é no Lacross.- "Tô ferrada" pensei.

—Ok, vamos começar com a leitura de hoje. Greenberg, baixa o braço, meu filho. Todo mundo sabe o que você leu. Eu vou tentar...McCall.-

—Eu?-

—Sim. Que tal a leitura de Gettysburg? Isso foi sarcasmo. Conhece o termo Sarcasmo, Sr. McCall?- 

—Claro, senhor.- Falou rolando os olhos para Stiles, que se sentiu honrado.

—A leitura. Você leu ou não?-

—Acho que esqueci.-

—Ah...Bom trabalho, McCall. Nem parece que tem um D na média. Vai lá garoto, não posso manter você no time se tirar um "D". Que tal você fazer um resumo da noite anterior?-

Ouvi o monitor cardíaco apitando e olhei pro lado. Stiles segurava o celular preocupado e Scott negou com a cabeça.

—Então que tal a anterior?- Bobby perguntou e Scott baixou a cabeça. Eu realmente não consigo acreditar como ele consegue. Quero dizer, eu entendo os problemas dele e tal, mas...Ele pisa muito na bola.

—Que tal fazer um resumo de qualquer coisa que você tenha lido na vida?- Bobby parecia a ponto de ter um ataque, mas Scott estava pior. O monitor fazia cada vez mais barulho e antes que o professor fizesse mais perguntas, levantei a mão.

—Senhor?- 

—O que é Koreshkov?-

—Eu li O Discurso de Gettysburg, que tal se eu recitasse pra sala?- Perguntei e antes que ele pudesse negar ou dizer que o McCall tinha que responder, comecei a falar tudo o que eu lembrava. - Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova nação, concebida na liberdade e consagrada no princípio de que todos os homens nascem iguais...— 

Uns cinco minutos depois eu estava sentada na mesa do treinador com os ouvidos atentos a minha voz e interpretação. 

—...E que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desapareça da face da terra.- Terminei. O treinador Finstock estava de queixo caído, Stiles dormindo e o resto da sala, atenta. Logo o treinador começou a aplaudir e a sala inteira estava me gritando elogios. 

—Está vendo, Greenberg? Por que você não é como a Koreshkov?- O treinador reclamou. -Parabéns, garota.- Falou dando tapinhas no meu ombro. 

Parece que o discurso foi o suficiente para ele esquecer de Scott.